Abril marrom: para enxergar a luz no fim do túnel

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cegueira

Em ‘Ensaio sobre a Cegueira’, José Saramago convida os leitores a enxergar mais sobre “a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam”. Mas não é dessa cegueira social epidêmica de que tratamos neste post, mas de um problema de saúde pública que muitos insistem em não ver.

Aproximadamente 80% dos casos de cegueira são evitáveis e/ou tratáveis, ou seja, 700 mil brasileiros cegos poderiam estar enxergando caso tivessem sido tratados a tempo. E mais: estas ocorrências poderiam ser evitadas se a população consultasse um oftalmologista pelo menos uma vez ao ano.

O número de cegos que poderiam estar enxergando total ou parcialmente, mas são vítimas do descuido e da negligência, é muito alto. A projeção leva em conta dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) que estimam haver no Brasil cerca de 1,2 milhão de casos de cegueira e mais de 5 milhões de pessoas com perda visual grave. O mesmo relatório mostra que no país mais de 33 mil crianças são cegas devido a doenças oculares tratáveis ou evitáveis.

Para abrir os olhos para o problema, o mês de abril foi escolhido para conscientizar a população brasileira sobre a cegueira por meio do movimento “Abril Marrom”. Para especialistas, buscar esclarecimentos sobre os motivos que podem levar uma pessoa a ficar cega é o primeiro grande passo para vencer o problema. “Ter informações a respeito das doenças que podem levar a cegueira é o primeiro passo para a população adotar medidas preventivas e de atenção para a busca de diagnóstico e tratamentos adequados”, afirma o médico oftalmologista, doutor em Ciências Visuais pela Unifesp, Paulo Augusto de Arruda Mello Filho.

Ele reforça que campanhas informativas como a do “Abril Marrom” são importantes para a promoção de conhecimento da população para que ela entenda a importância da consulta anual ao médico. “A regularidade nas consultas é o modo de prevenção mais efetivo, bem como o compromisso com o tratamento quando uma doença é diagnosticada.”

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Cegueira não tem idade

Entre as doenças que podem levar à cegueira, estão a catarata, a retinopatia diabética e o glaucoma. No caso da Retinopatia Diabética, se não for tratada corretamente, pode evoluir para a cegueira. No Brasil, o diabetes teve um crescimento de 61,8% nos últimos 10 anos, atingindo cerca de 18 milhões de pessoas (8,9% da população), em 2016, segundo dados da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), divulgada dia 17 de abril pelo Ministério da Saúde.

Mas, ao contrário do que muita gente pensa, a cegueira não acomete apenas pessoas idosas. De acordo com Marcela Barreira, oftalmologista pediátrica, neuroftalmologista e especialista em estrabismo, há muitos mitos em torno da cegueira na infância, sobretudo a respeito da perda visual causada pelos erros refrativos (miopia, astigmatismo e hipermetropia) não corrigidos.

Segundo ele, o sistema visual da criança não nasce pronto. Ele precisa de estímulo para terminar seu desenvolvimento fora do útero, e tudo que impeça ou atrase esse processo pode levar à baixa visão.  “Temos a cegueira reversível e a irreversível. Os erros refrativos são responsáveis por 43% ou mais dos casos de cegueira ou baixa visão. Uma criança com um alto grau de miopia que não usa óculos, por exemplo, é considerada legalmente cega. Mas, é uma cegueira reversível, já que, com o uso de lentes corretivas, a visão volta ao normal. Por isso, é muito importante fazer o acompanhamento com um oftalmopediatra desde a infância, principalmente nas crianças em idade escolar”, explica Marcela.

“Ainda na infância temos as causas de cegueira por cicatrizes de córnea, cicatrizes retinianas causadas por infecções congênitas intrauterinas e retinopatia da prematuridade, sendo essas causas evitáveis. Já as doenças como catarata congênita e glaucoma congênito são quadros genéticos não evitáveis, porém tratáveis, e, quando tratados de forma precoce, e associados a um bom programa de reabilitação visual, consegue-se garantir um bom desenvolvimento visual”, afirma a médica.

Cegueira x baixa visão

Nem todas as pessoas consideradas cegas legalmente enxergam tudo preto. “Quem tem perda importante do campo visual também é considerado cego. Nestes casos, é adotado o conceito de baixa visão, que ocorre quando há comprometimento do funcionamento visual, mesmo após tratamento ou correção de erros refrativos (miopia, astigmatismo e hipermetropia)”, afirma.

Para isso, é fundamental para esclarecer e conscientizar a população sobre a importância de cuidar da visão desde o nascimento. “O ideal é que todos os pais consultem um oftalmopediatra no primeiro ano de vida do bebê, para prevenir e tratar qualquer condição que possa afetar o desenvolvimento visual normal, afinal, a visão é responsável pela captação de 85% das informações enviadas ao cérebro e, desta maneira, torna-se fundamental para o desenvolvimento saudável de nossas crianças”, conclui a especialista.

 

Conheça as doenças que podem levar à cegueira

Dentre algumas das doenças que podem levar à cegueira, algumas são bastante frequentes no cotidiano da população, mas bastante negligenciadas devido à falta de conhecimento sobre as suas consequências em longo prazo. São elas:

Catarata – Doença caracterizada pela perda de transparência (opacidade) do cristalino (lente localizada atrás da íris), a catarata pode ser classificada como secundária ou senil. A primeira pode estar relacionada a inúmeros fatores, tanto oculares quanto problemas sistêmicos; a segunda ocorre devido ao envelhecimento natural do cristalino. Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, 85% das cataratas são classificadas como senis, com maior acometimento na população acima de 50 anos.

Por se tratar de uma doença progressiva, somente a facectomia, cirurgia de substituição do cristalino, gera resultados efetivos e definitivos para a recuperação da visão. Ao notar qualquer sinal de embaçamento na visão, dificuldade para dirigir à noite por conta do brilho dos faróis, visão com feixes de luz e sensação de melhora da visão ao aproximar os objetos, com piora logo em seguida, é necessário buscar ajuda do oftalmologista.

Retinopatia Diabética – De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, a doença atinge mais de 15 milhões de brasileiros. Se não for tratada corretamente, pode interferir diretamente na função dos vasos sanguíneos que levam sangue e oxigênio para as células da retina, desencadeando a retinopatia diabética, com evolução para a cegueira. Trata-se de uma doença assintomática no início, ou seja, que não apresenta sintomas. Porém, em estágio avançado, surgem alterações visuais súbitas e indolores. Para não ter de chegar a este estágio, é importante que os portadores de diabetes visitem regularmente o oftalmologista para realizar o mapeamento de retina, além de manter o diabetes sob controle.

O tratamento para retinopatia diabética, junto com o controle do diabetes, impede sua evolução, tornando o diagnóstico precoce fundamental para impedir a perda de visão.  Os tratamentos são compostos por medicamentos ou procedimentos cirúrgicos. A terapia mais recente e inovadora no momento é a aplicação injetável intravitreo de dexametasona, recentemente incluída no ROL da ANS.

Glaucoma – É caracterizada por danos no nervo ótico que podem levar à perda total de visão devido ao aumento da pressão intraocular (PIO). Como o nervo ótico é o responsável por levar as informações que vemos ao cérebro, qualquer dano nessa região pode interferir na qualidade da visão. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que 1 a 2% da população acima de 40 anos é portadora de algum tipo de glaucoma, que causa cegueira irreversível.

Da Redação, com assessorias

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