E o Corona derrotou o corona: jornalista vence batalha contra a Covid-19

Alberto Eduardo Corona, de 69 anos, conta como enfrentou 16 dias internado, 10 deles isolado numa UTI. A receita? Fé, bom humor e confiança nos ‘anjos’ que cuidaram dele

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Até a pandemia da Covid-19 se tornar uma realidade no Brasil, seu sobrenome – que profissionalmente é mais conhecido que seu prenome – sempre foi associado a uma antiga marca de chuveiro e, mais recentemente, à de uma cerveja. Agora, seu nome de guerra virou a abreviação mais popular do novo vírus que vem assombrando o mundo. Mas não parou por aí. O corona também bateu à porta do Corona. E nem de longe foi brincadeira enfrentá-lo.

O jornalista Alberto Eduardo Corona, mais conhecido como Corona, passou 16 dias internado no Hospital Samaritano, 10 deles numa UTI, vítima da “doença traiçoeira”, como a Covid-19 já vem sendo chamada por muita gente. Aos 69 anos, estava duplamente no chamado “grupo de risco”: além da idade, já enfrentou – e venceu – um câncer de intestino bravamente há 10 anos. Hoje, Corona virou super-herói no combate ao seu homônimo inimigo. E não poupa elogios aos “coadjuvantes” da luta que protagonizou contra a doença: a equipe de profissionais de saúde.

Jornalista com texto sensível e primoroso, Corona  escreveu uma bela carta de agradecimento à equipe de ‘anjos da guarda’ que, mais do que aliados para vencer o ‘inimigo invisível’, aqueceram seu coração naqueles dias em que passou sozinho e isolado no ambiente gelado da UTI, cercado de aparelhos por todos os lados e sob proteção máxima o tempo todo. O texto que ele compartilhou com a gente você pode ler após a entrevista exclusiva do nosso ‘Corona do bem’ ao ViDA & Ação.

Os sintomas

Corona começou a sentir os sintomas uma semana antes de ser internado, no dia 28 de março. “A doença vem muito silenciosa e vai te minando na parte respiratória, com todos aqueles sintomas que começam com  tosse, falta de ar e coisas do tipo. Só que eu achava que estava com outra coisa”, conta ele. Por orientação de médicos conhecidos, o jornalista começou a se tratar de uma infecção bacteriana. Depois de uma semana tomando antibiótico sem efeito – “e não era para dar resultado mesmo porque já estava com o coronavírus” -, ele não estava mais comendo, nem bebia água direito. Começou a enfraquecer até que o fôlego ficou tão curto que resolveu procurar direto um hospital.

A internação

No Samaritano, em Botafogo, uma referência no tratamento da Covid-19 na rede particular do Rio, foi imediatamente submetido a uma bateria de exames. “Eles têm um andar com 13 leitos de UTI fechados. Ali passei por exame de tomografia e fizeram em seguida exames de sangue, para diversos tipos de gripe, e foi detectado mesmo que era coronavírus. Fiquei logo na UTI com respirador. Foram oito dias no soro e 10 dias na UTI”, conta o jornalista.

O tratamento

Corona foi colocado num tipo de respirador que não estava dando muito certo com ele. “Aí me deram um respirador novo, que poucos hospitais têm, que é de alto fluxo de oxigênio. E foi esse aparelho – junto com antibióbicos, cloroquina e outros remédios – que me ajudou”, afirma. Segundo ele, o tratamento foi “espetacular”, do ponto de vista profissional e humano. “Eu via aquele movimento de enfermeiros, fisioterapeutas, médicos e outros profissionais de saúde atuando ali com todos os 13 leitos de UTI ocupados. E aos poucos, esse novo aparelho foi dando resultado na oxigenação”.

Os medos

Nosso Super-Corona confessa que passou alguns medos. “Por mais otimista e corajoso que eu me ache – afinal, estava ali, tinha que enfrentar -, só pedia a Deus para sair da UTI. Meu maior medo era ser entubado, ficar uma ou duas semanas ali, dormindo, sem nada”, revela. “Mas, graças a Deus, com esse novo aparelho, foi dando certo. Minha oxigenação estava em 84, muito ruim. E aí foi passando para acima de 95. A partir dali, eu senti que eu ia sair”, recorda-se.

Saída da UTI

Um dos muitos médicos que o atenderam entrou no quarto e falou: ‘Olha, Corona, você está muito forte, está um aço”. Ele respondeu: “Me traduz isso aí”. O médico: “Você está indo muito bem e logo vai sair da UTI”. Corona o questionou: “Quando?”. O médico: “Não sei. Vai depender do seu organismo, da sua reação”. Corona, imediatamente: “Se depender de mim, eu vou sair é logo”. E foi logo depois que depois retiraram o tal aparelho de alto fluxo e Corona passou a usar outro ventilador mecânico menos potente. “Nesse dia foi muita emoção. Eu chorei de alegria”, disse ele, aplaudido pela equipe do terceiro andar onde ficava a UTI, enquanto era transferido para o quarto, onde ficou seis dias, em completo isolamento.

A recuperação

Já no segundo dia no quarto, retiraram a oxigenação e Corona já respirava espontaneamente. Primeiro fizeram teste de fisioterapia e outros procedimentos. Mandaram que ele fizesse alguns exercícios, levantando da cama sem apoio da mão durante um minuto, sem parar. E todo mundo ao seu lado com oxímetro, aparelho de pressão arterial e outros equipamentos já preparados para ampará-lo, se fosse necessário. Foi a segunda grande batalha vencida: Corona conseguiu fazer o exercício. A médica perguntou: “Qual é o seu cansaço, de um a 10?” Ele falou: “Uns quatro, no máximo!”. Era a ‘senha’ que faltava.

A alta

A médica então saiu e depois voltou, anunciando: “Eu queria dar uma notícia para o jornalista mais querido do Hospital Samaritano”. Corona perguntou: “Tem mais algum jornalista aqui?”. Ela falou: “Estou brincando. É só você mesmo. E vim te dar a notícia da sua alta”. Corona quase não acreditou e perguntou quando seria. “Você vai embora hoje mesmo”, respondeu a médica. O paciente, que já havia se tornado fã da comida do hospital, ainda pediu para fazer a última refeição. “A médica: “Pode sim. Almoça e depois fala para virem te buscar”. O dia 8 de abril certamente ficará marcado para sempre na vida de Corona. Sua alta foi cercada de grande emoção, com aplausos de toda a equipe do Samaritano – o que já se tornou uma merecida tradição nos hospitais em todo o mundo sempre que “despacham” mais um super-herói curado.

Volta para casa

A volta para casa, no bairro do Leblon, foi outra enorme emoção. Durante os 16 dias que passou no hospital, Corona não levantava nem caminhava, apenas fazia a fisioterapia. Mas quando chegou ali em frente do seu prédio, fez questão de descer do carro e entrar no elevador, andando sozinho. O andar inteiro aplaudiu sua chegada. (Pena somente que ele não registrou esses momentos pelo celular para compartilhar com a gente!). “Fui recepcionado pelos meus vizinhos ao abrir a porta do elevador. Quando entrei na minha casa e vi o sorriso da minha mulher e de uma amiga dela que é médica e estava lá… Todo mundo com aquele sorrisão…  Eu voltei a sorrir, estava no meu porto seguro, na minha casa e voltando a viver muito bem. Estou muito feliz de estar de volta”, revela.

Sua Diva

Mas como merece um grande guerreiro, o coração do Corona tem uma guardiã há 39 anos. E o nome dela é Diva. Ela viveu dias de grande angústia, longe de Corona. Cumpriu sua quarentena em casa pelos 16 dias em que o marido ficou internado. Por sorte – ou mais um milagre, para quem acredita – ela não apresentou qualquer sintoma de Covid-19. Essa foi, aliás, a segunda notícia mais importante que a médica lhe dera: sua esposa não teve nenhum problema com o vírus. Pelo tempo que passaram afastados, se ela tivesse sido infectada, a doença já a teria levado para o mesmo quadro que ele teve. “Minha emoção foi impressionante. Chorei de alegria e de saber que estava curado, que ela estava fora de perigo e eu podia pisar novamente em casa para abraçar quem mais sofreu com meu afastamento”, conta.

Úrsula

Pai orgulhoso da atriz Úrsula Corona, que atua em uma novela da TVI, em Lisboa, ele não vê agora a hora agora de rever a filha e poder abraçá-la. Nesses tempos de pandemia, Úrsula ficou dois meses no interior de Portugal, num sítio de amigos, para fugir da possibilidade de contágio. Levou o marido e o cachorro juntos.  “Ela sempre me liga, mas nesse período de internação, ela mandava mensagens carinhosas e falava com a minha esposa todos os dias”, relembra Corona, mostrando recortes de jornais com notas sobre a filha – coisas de pai coruja, assessor de imprensa.

Quarentena

Em casa desde o dia 13 de abril, o jornalista teve que cumprir a quarentena de 14 dias, como manda o figurino, e tem realizado exercícios de fisioterapia. “A médica falou que depois da quarentena eu poderia sair, ter vida normal. Mas sigo agora os protocolos da OMS e das autoridades de saúde porque sou duplamente grupo de risco”, afirma Corona, que não precisou voltar ao hospital durante a convalescência. Agora é acabar de recuperar sua força pulmonar – “essa caixa tão importante do nosso corpo” –  antes de voltar a plenos pulmões às atividades profissionais. A alimentação também foi reforçada, graças ao tempero de Diva. “Já ganhei cinco dos 10 quilos que eu perdi”, conta ele, satisfeito.

A força da fé

O período de incertezas e de tratamento sobre a Covid-19 parecia longo demais, mas ele jamais perdeu a fé, o otimismo e a serenidade. Católico, “mas com o maior respeito por outras religiões”, como faz questão de ressaltar, Corona atribui primeiro a Deus a sua recuperação. “Eram muitas pessoas rezando por mim. A minha fé também ajudou. Se tinha alguém que estava comigo, sempre do meu lado, sem máscara, sem luva, sem avental, não estava preocupado com nada e não me abandonou em nenhum instante foi Deus. Eu conversava com ele, tive essa fé e isso me passava muita segurança”, conta. “Foi muito difícil este período, mas Deus me deu mais uma prova de seu amor por mim. Fui abençoado por Deus, com certeza”, diz ele.

Superação

Para Corona, além da fé, a superação vem com a vontade de vencer as adversidades, de achar que pode ganhar o jogo e de não se fazer de vítima. Manter o bom humor também ajuda. “Tem que arrumar forças e manter o pensamento positivo”, destaca, ressaltando também a confiança na equipe médica e o apoio recebido dentro do hospital. “A recuperação vem com o trabalho profissional que é feito, mas muito também pelo lado humano. Aquele carinho que você recebe, uma pessoa que vem e conversa, isso ajuda muito. Porque você fica muito isolado. Enquanto está na UTI, é aquele esquema, sem monitorado o tempo todo. Depois que passa para um quarto, você fica sozinho, não pode receber visitas, é tudo muito triste. Ainda bem que eu conversava com os faxineiros e eles comigo”, comenta.

O mundo lá fora

Para não se aborrecer nem se impressionar com informações negativas, Corona optou por focar totalmente no seu processo de cura enquanto esteve internado. Decidiu que não queria ver nenhuma notícia sobre a pandemia durante o tempo em que ficou no hospital. (Fez muito bem, porque aqui fora adoecíamos a cada dia vendo tantas bizarrices e fake news). “Eu não assistia noticiário absolutamente de nada sobre a Covid-19. Eu já estava no ambiente da Covid-19. Aquilo não seria bom para a minha superação, para a minha melhora”, sentencia.

Passatempo

Corona, então, ficava vendo filmes e jogos de futebol antigos numa TV tanto na TI quanto no quarto, ara passar o tempo e permitir que seu organismo expulsasse o danado do inimigo. Não tinha livro para ler, mas usava o celular, mandando mensagens para a família e os amigos. “Durante o tempo de UTI eu não conversava, não tinha força ainda para falar porque minha oxigenação estava muito baixa. Então, usava mais o celular”, relembra. Aos que ainda duvidam da gravidade da doença – e tem muita gente por aí ainda achando que é só “uma gripezinha” -, Corona é categórico: “Isso aconteceu comigo e muita gente que eu conheço também passou a acreditar que a doença está próxima de todos”.

Lições

Certo de que tudo na vida vem para um aprendizado, Corona acha que recebeu uma nova oportunidade para conhecer uma nova forma de viver. “Isso faz a gente refletir sobre o que estamos fazendo aqui. Quem nós somos até sabemos. Mas qual é a nossa missão nesse mundo?”,  questiona-se. Para ele, a grande lição é de solidariedade, de ajudar o próximo, ter mais empatia. “Eu já me achava uma boa pessoa, mas agora eu vejo o mundo diferente. Estou valorizando cada coisa. Nunca valorizei tanto o amor da minha esposa e a minha casa”, diz ele. “A cada vez que conto essa história eu me emociono. Esse é um momento importante. Há dez anos me curei de um câncer no intestino. Deus me deu uma nova chance. Papai do céu me dá essa nova luz no meu caminho”, conclui, com a voz embargada.

Carta ao Samaritano

Corona sem vírus agradece cura e atendimento dos profissionais de saúde

Amigos heróis e heróis amigos do Hospital Samaritano. Sou Alberto Corona, que fui tratado de coronavírus por vocês. Talvez seja difícil que alguns se lembrem de mim, mas um paciente com nome desse xará inimigo, sempre é difícil de esquecer.

Não tenho capacidade de lembrar de todos vocês, mas quero expressar minha gratidão pelos médicos (Dr Daniel e seus colegas, além da Dra Kiara Ayres, que foi quem me deu alta do hospital), dos enfermeiros e técnicos. Muitos que até não consigo lembrar, porque as máscaras impediam de eu gravar os rostos gentis e o enorme carinho que recebi de todos, mas que me alegraram, como Sérgio e Renato, que fizeram meus dias tão mais leves, ao lado de seus colegas tão profissionais como humanos.

E também não esqueceria de Jaqueline Dutra, que me conduziu de cadeiras de rodas até a saída na recepção do Samaritano. Deixo aqui também meu reconhecimento aos laboratoristas e aos funcionários que faziam exames de imagem por volta de 4 horas. Era o ‘bom dia’ dessa turma da madrugada, sempre com aquele sorriso no rosto. A nota 10 é para todos, inclusive para os nutricionistas e o pessoal da cozinha. A comida era sempre muito boa. E ainda tive a oportunidade de escolher o cardápio!

Os fisioterapeutas respiratórios, todos excelentes também, foram importantes em minha recuperação. Quero agradecer ao Dr Toshiro e Dra Paola, que utilizaram de tudo para que eu tivesse oxigenação ideal para meus pulmões voltarem a funcionar. O aparelho de alto fluxo de oxigênio (não sei se é esse o nome) deu o gás necessário para que eu pudesse respirar adequadamente.  Esse aparelho foi muito importante até a minha alta da UTI.

Mas não poderia deixar de agradecer aos funcionários da faxina, sempre muito presentes na UTI e no quarto onde permaneci, muitos com palavras de incentivo à minha recuperação. E eu sabia que outros 12 pacientes estavam em tratamento na UTI, embora não os visse, mas presenciava o carinho dos funcionários, que sempre nos atendiam a cada sinalização do botão de emergência, sempre com aventais brancos impermeáveis, máscaras e luvas, antes de nos atender, para evitar infecção entre eles.

Tanto na UTI como no quarto pude ver muitos filmes e assistir a jogos antigos de futebol, enquanto nossos heróis do Samaritano atuavam de forma brilhante, seja nas reuniões ou nos muitos atendimentos. O tratamento que recebi na UTI e no quarto deixam a certeza de que há uma equipe muito bem preparada profissionalmente. Nunca senti medo – somente quando tive que passar pelo exame de tomografia -, depressão ou estresse, porque minha fé e confiança na ‘equipe do terceiro andar’ sempre foi enorme.

Mesmo com dois drenos, sensores pelo peito, aparelho de controle de pressão, máscara e aparato em quartos isolados de UTI, mantive-me sereno, mesmo nos oito dias sob soro e remédios. Quando comecei a ganhar a primeira papa dos nutricionistas, imaginei que meu calvário estava com dias contados. Dali para frente, comecei a ouvir dos médicos: “Você está um aço”, ou “Você tem um soldadinho aí que te ajudou demais”, referindo-se ao meu coração.

Esse coração alado me faz lembrar que acreditei muito no pulsar das minhas veias, na oportunidade de sair do hospital, depois de 16 dias, com a sensação de que os anjos do Samaritano fizeram soar a trombeta para anunciar: “Corona derrotou o coronavírus .Você está curado. Você vai para casa hoje”. 

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