‘Mais importante que passar de ano é estar saudável’, diz especialista

#PapodePandemia traz especialista em desenvolvimento infantil para explicar a pais e educadores quando a dificuldade pode ser um transtorno durante o período de isolamento

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Nesses tempos de coronavírus, com as aulas online, muitos problemas relacionados à aprendizagem acabaram vindo à tona. Longe dos olhos dos professores e mais próximos dos filhos em casa, muitos pais, mães e responsáveis notam suas dificuldades em lidar com as tarefas escolares e o ambiente virtual. Mas quando essas dificuldades podem ser classificadas como birra, estresse ou um transtorno de aprendizagem? E será que eles estão prontos para voltar às aulas presenciais?

Na 15ª live do projeto #PapodePandemia a jornalista Rosayne Macedo, editora do Portal ViDA & Ação, conversa com a pediatra e neuropsiquiatra Gesika Amorim. Ela alerta para o grande número de crianças e adolescentes que estão adoecendo mentalmente durante a quarentena e precisando urgentemente de avaliação e tratamento psicoterápico e até psiquiátrico. E garante que é mais importante cuidar da saúde mental das crianças do que exigir que elas passem de ano: “Mais importante que passar de ano é estar saudável”.

Especializada em saúde mental e desenvolvimento infantil, Dra Gesika Amorim também explica quando reconhecer se a criança está enfrentando uma dificuldade de aprendizagem ou, de fato, um transtorno. E mostra como a falta de diagnóstico correto desse problema pode levar a doenças como depressão, ansiedade, pânico.

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Transtorno de Aprendizagem aumenta durante a pandemia

Especialista em saúde mental e neurodesenvolvimento, a Dra Gesika tem enfrentado estes problemas junto com os pais diariamente em seu consultório em Campos dos Goytacazes e Itaperuna e nos atendimentos online. Ela alerta que estes transtornos têm se agravado desde que a pandemia começou, em março deste ano.

isolamento social tem trazido muitos problemas para todos nós devido às adaptações que acabam nos desestruturando de alguma forma. Agora, se formos falar sobre as famílias que tem filhos na escola, estas mudanças e adaptações tem sido bem estressantes. E, para as famílias que têm filhos com qualquer transtorno de aprendizagem, o isolamento social e a não adaptação de suas crianças com os métodos de educação à distância, tem trazido um adoecimento geral em toda família”, esclarece a especialista.

Em casa, a criança não tem sala de recursos e mediadoras e muitas vezes, as atividades não são diferenciadas e adaptadas para suas necessidades, não tornando possível que estas, acompanhem o ritmo dos demais colegas de turma. Assim, ao se sentirem inferiorizadas e excluídas, estas crianças se deprimem, gerando outros transtornos comportamentais que mexem com toda a família, que por sua vez, se vê perdida e sem saber como agir.

O fato é que é difícil que a escola esteja realmente preparada para atender de forma correta as crianças com qualquer transtorno de aprendizagem, nem de forma presencial e principalmente de forma online. Então, estas crianças, quando não conseguem desenvolver as atividades em tempo real, junto com a turma online se decepcionam, o que causa sofrimento e frustração. E se pensarmos  que no dia seguinte terão que passar por tudo de novo , isso e um estopim para  muita ansiedade, baixa autoestima e depressão nestas crianças e por conseguinte nas famílias”, explica a Dra Gesika.

Dificuldade ou transtorno de aprendizagem? (Foto: Banco de Imagens/Divulgação)

As consequências para a criança e para toda a família

O problema não para por aí. O desgaste vem para toda a família e, principalmente, para as mães ou pais, que além de terem que cuidar dos afazeres de casa, ainda têm que ajudar seus filhos nas tarefas escolares, na maior parte das vezes sem saberem como lidar com isso.

Todos estão sem nenhum apoio, as crianças estão sem os mediadores que os acompanhavam em sala de aula e sem suas terapias de apoio, como fonoaudióloga, psicólogas, pedagogas, entre outras, no caso das crianças já diagnosticadas com algum transtorno de aprendizagem”, ressalta a especialista.

Segundo ela, o fato de as crianças com transtornos de aprendizagem não conseguirem acompanhar a turma, já gera bullying, o que não é bom e no mais, elas precisam se socializar, ainda que de forma online. Por isso, converse com o médico, peça orientação e se preciso for, ele encaminhará laudos e sugestões de como lidar com o caso do seu filho à escola dele.

Como e quando procurar ajuda?

Gesika Amorim, em seu consultório (Foto: Divulgação)

Então, se você que é mãe ou pai de uma criança que tem transtorno de aprendizagem e que está sofrendo com tudo isso agora, neste isolamento social, a neuropsiquiatra infantil, Dra. Gesika Amorim, deixa três medidas que você precisa tomar urgentemente:

  • Diagnóstico Correto. Leve seu filho ao neuropsiquiatra infantil para verificar se existe algum transtorno de aprendizagem e qual é este transtorno para iniciar ou adequar o tratamento correto. É importante que seja feito um diagnóstico diferencial e preciso.
  • Tratamento correto : Verifique junto ao médico, mediante suas observações durante este período em casa, se a criança tem algum transtorno comportamental associado. É preciso identificar se a falta de acompanhamento do transtorno de aprendizagem levou ao desenvolvimento de algum transtorno comportamental que precise de diagnóstico para que se comece imediatamente o tratamento.
  • Estratégia individualizada: Muito importante! Família, Médico e Escola precisam traçar uma estratégia de tratamento e de acompanhamento escolar dessa criança, mesmo online, para que estes problemas não piorem. O que não pode acontecer é a exclusão destas crianças do colégio.

No mais, isso vale para qualquer pessoa que esteja com sinais de esgotamento e sinais de que não vai dar conta: busque ajuda! Isso vai passar! E quando passar, todos precisaremos estar emocionalmente sãos”, esclarece a Dra Gesika Amorim.

Transtorno de Aprendizagem x Dificuldade de Aprendizagem

Embora seja muito falado, ainda existe um grande número de pais que não sabem o que é o Transtorno de Aprendizagem (T.A), um problema que está diretamente relacionado ao desenvolvimento, à aquisição de conhecimento escolar. Trata-se de transtornos de habilidades escolares, ou seja, é a dificuldade de aprender a ler, escrever e dificuldade com a matemática. Segundo Gesika, o sintoma do TA é a Dificuldade de Aprendizagem: é quando esta criança não está indo bem na escola, ou apresenta qualquer dificuldades no aprender.

Neste caso, torna-se necessário entender qual o contexto em que a criança está inserida; ela pode ter uma vulnerabilidade social, pode estar passando por um momento de estresse, por um problema familiar, ou pode até mesmo existir algum problema de visão ou audição. Portanto, a dificuldade de aprendizagem é um sintoma que pode carregar inúmeras causas”, explica a especialista.

O primeiro passo é descobrir se essa dificuldade de aprendizagem é específica do Transtorno de Aprendizagem, ou seja, a dificuldade na leitura, na escrita e na matemática, ou se esse problema na aprendizagem se manifestou por outras causas, familiares, sociais ou de saúde.

São classificados como Transtornos de Aprendizagem a Dislexia, a Discalculia, a Disgrafia e a Disortografia. A especialista, Pediatra e Neuropsiquiatra Infantil, Dra Gesika Amorim, destaca que precisa-se verificar se a falta de acompanhamento do transtorno de aprendizagem levou ao desenvolvimento de algum transtorno comportamental, tais como depressão, pânico, ansiedade, baixa autoestima, etc. Daí a importância de entender cada um destes transtornos e a importância de um diagnóstico minucioso e preciso.

DISLEXIA

A dislexia é um transtorno que afeta habilidades básicas de leitura e linguagem, fazendo com que as crianças encontrem dificuldade para processar os sons das palavras e associá-los com as letras.

É um transtorno específico de aprendizagem, já que seus sintomas afetam o desempenho acadêmico e não existe nenhuma outra alteração (neurológica, sensorial, cognitiva ou motora) que justifique as dificuldades observadas.

Geralmente, o diagnóstico preciso da dislexia vem em torno dos 7 anos de idade, mas como hoje, as crianças estão sendo alfabetizadas cada vez mais cedo, os sinais também aparecem mais cedo.

Quando desconfiar de um diagnóstico de dislexia:

  • Ela apresenta dificuldade de fala, isto é, ela demora para falar ou não conseguem falar de forma fluente, precisando de tratamento com fonoaudiólogo.
  • Apresenta dificuldade em formar palavras;
  • Leitura lenta, silabada com falta de entendimento do que lê̂;
  • Escrita em espelho com troca de fonemas; entre outros.


A dislexia pode vir acompanhada de disgrafia e nesse caso, a criança tem dificuldade também em fazer a cópia escrita, além de dificuldade de organização, de reconhecer os lados direito e esquerdo incoordenação motora.

Identificando estes sinais no seu filho, leve-o o quanto antes a um Neuropsiquiatra Infantil. Embora a dislexia não tenha cura, o médico te orientará quanto ao tratamento que envolvem estratégias para que ele possa ler e entender.

Curiosidade: Você̂ sabia que Whoopi Goldberg e Steven Spielberg são disléxicos?

DISGRAFIA

A Disgrafia é um transtorno da escrita em que os problemas podem estar relacionados com componente grafo motor, ou seja, o padrão motor da escrita. Ela acontece em crianças com capacidade intelectual normal e afeta a forma das letras, o espaçamento entre as palavras e às vezes, a pressão no traço é forte demais ou muito suave, quase não dando para enxergar.

As crianças com disgrafia apresentam também lentidão na hora de escrever, pouca orientação espacial no papel, por exemplo, ela escreve, como dizemos, “subindo morro” e “descendo o morro”,  não respeita a margem,  às vezes não fecha o “o”, não corta o “t”,  não coloca o pingo no “i”, não faz o traçado da letra de forma correta, chegando muitas vezes a ser ilegível.

A criança costuma misturar a letra maiúscula com minúscula, letra de forma com letra cursiva, enfim, ela apresenta uma dificuldade viso-motor; Na hora de copiar ela olha para a lousa e quando vai escrever, ela pula linha, pula palavras, o tamanho das letras pode ser ora muito grande, ora muito pequeno. É uma escrita não uniforme.

Vale dizer que no diagnóstico as alterações tônico posturais da criança, são avaliadas, por exemplo: A maneira que ela pega o lápis e sua postura diante da mesa.

DISORTOGRAFIA

Na Disortografia, os tipos de erros que a criança comete estão relacionados com  a ortografia das palavras. É muito comum que até o 2º ano, as crianças façam essas confusões ortográficas, principalmente entre os sons e as palavras, pois ainda não estão dominados por completo. São erros bem mais sistemáticos, totalmente voltados para a ortografia; por exemplo: O uso do L e do LH, troca o X pelo CH, troca o J pelo G , erra o uso dos “S´s” e “ss”, comete erros na acentuação.

Ou seja, tudo está relacionado aos erros ortográficos, bem diferente por exemplo da dislexia, onde as alterações da escrita são muito mais inconsistentes e isso só consegue ser diferenciado a partir do 3º ano, quando estas crianças estão com 8 anos, mais ou menos. Quando esses erros persistirem em uma frequência muito grande, aí conseguimos avaliar e fazer o diagnóstico”, explica a especialista.

DISCALCULIA

Como a dislexia, que está relacionada aos déficits de aprendizagem, a discalculia também não é uma doença. Ela é uma dificuldade que as algumas crianças têm no aprendizado da Matemática, quando lidam com números.

Efetuar equações, entender os seus princípios e tudo que envolve o trabalho com números. É uma desordem de aprendizagem que tem a ver com a formação dos circuitos neurológicos e não tem relação alguma com QI -Quociente de inteligência.

Ela é uma dificuldade única e exclusivamente relacionada ao cálculo matemático. A Discalculia não é fácil de diagnosticar, pois requer uma avaliação multidisciplinar com o envolvimento de especialistas nas áreas de psicopedagogia, neuropsicologia e neuropediatria”, destaca a especialista.

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Atendimento especial em casos de autismo

Gesika também é especialista em
Autismo (Foto: Divulgação)

Pós-graduada em psiquiatria e neurologia clínica, Gesika também é referência no Tratamento de TEA – Transtorno do Espectro Autista. Ela vem utilizando com sucesso a chamada Homeopatia Detox (HDT) e outros recursos da Medicina Integrativa no tratamento integral do autismo. Saiba mais em seu Instagram @dragesikaautismo.

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