Conheça as histórias da Miss Cadeirante 2020 e de outras finalistas

As estudantes Karen Aguiar, de 22 anos, e Alice Bekker, 23, primeira e segunda colocadas, são entrevistadas em nossa live do Papo de Pandemia neste sábado (4/7)

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A cadeira de rodas nunca foi obstáculo para Karen Aguiar, de 22 anos, paraplégica desde os 8 por conta de um tumor neuro hecto-dérmico primitivo que lesionou sua medula. Estudante de Psicologia de Belo Horizonte (MG), ela é professora de dança, faz pilates, mergulho e adora esportes radicais – já saltou até de paraglider. Filha única, ela sempre contou com o apoio da família para ultrapassar todos os limites e barreiras próprios na vida de uma cadeirante. Karen também namora, vai para a faculdade sozinha de ônibus e tudo o mais que uma jovem da sua idade costuma fazer. Agora conquistou mais um feito: ganhar um concurso de beleza.

A mineira Karen Aguiar ficou paraplégica aos 8 anos após um tumor (Foto: Divulgação)

A jovem mineira é a vencedora da edição 2020 do Miss Cadeirante, que reuniu 157 candidatas de 19 estados brasileiros. “Foi uma emoção muito grande. Eram muitas candidatas lindas”, disse Karen, em entrevista à jornalista Malu Fernandes especialmente para o Portal ViDA & Ação (veja em nosso canal do Youtube). “Que menina linda por fora e por dentro”, contou Malu, voluntária na divulgação do concurso.

Alice Bekker, de 23 anos, sofreu uma lesão na coluna após ser baleada pelo ex-namorado (Foto: Divulgação)

Alice Bekker, de 23 anos, modelo e estudante de Lógica de Programação, foi a segunda colocada no concurso e sua história de vida também chamou a atenção de todos. A carioca perdeu os movimentos das pernas em 2018, após levar um tiro do ex-namorado, pai do seu segundo filho de 3 anos.

Órfã de mãe aos 11 anos e vítima de abuso sexual na adolescência, dentro de sua própria casa, Alice tem uma história marcada por muitas dores. Mas conseguiu vencer, mora sozinha com o filho caçula, cuida da casa, atua com modelo fotográfica e ainda voltou a estudar. “Meu sonho agora é fazer uma faculdade de Engenharia de Software”, conta ela, que hoje milita contra o machismo e a violência contra a mulher.

Na quinta live do projeto #PapodePandemia, o ViDA & Ação traz neste sábado (4) as histórias incríveis de superação e resiliência dessas duas campeãs. Saiba como elas venceram adversidades, conquistaram sua independência e cuidam da sua própria saúde e a dos outros, além do bem-estar e da beleza. Uma inspiração e tanto em tempos de pandemia, não é verdade?!

‘Todas nós somos mais que vencedoras’

Anteriormente, o desfile das candidatas selecionadas estava marcado para o glamouroso Theatro Municipal, no Rio de Janeiro. Mas devido à pandemia do novo coronavírus, o concurso, que está em sua quarta edição, foi realizado pelo Facebook, na noite de terça-feira, dia 30 de junho. A edição online também foi marcada por “um clima de entrega do Oscar”, com apresentação da atriz Bel Kutner.

Organizadora do evento há quatro anos, Lu Rufino (foto ao lado) vem quebrando tabus e barreiras com a iniciativa, na opinião das próprias participantes. “Sou muito grata pela oportunidade que a Lu está me proporcionando e dizer o que ela sempre diz: independentemente do resultado, todas nós somos e podemos sim ser uma Miss Cadeirante. E todas nós somos mais que vencedoras”, afirma Tatyane Sousa, uma das concorrentes.

A própria idealizadora do Miss Cadeirante é um case de superação. “Nosso objetivo é empoderar mulheres cadeirantes e mostrar à sociedade a beleza que cada uma tem e que deficiente é o olhar preconceituoso”, afirma. Aos 45 anos, Lu é líder do Comitê de Inclusão da Pessoa com Deficiência do Grupo Mulheres do Brasil e porta-bandeira da Embaixadores da Alegria, única escola de samba do mundo voltada a PCDs.

 

Ela sonhava em ser médica. E se realizou como assistente social

Dierlane: “Sempre tive um sonho desde que andava – ser modelo” (Foto: Divulgação)

Representante do Maranhão no concurso deste ano, Dierlane de Carvalho Vasconcelos, de 35 anos, sofreu um acidente de carro dia 30 de outubro de 1997 quando viajava de sua cidade natal, Imperatriz (MA), para Belém (PA), onde faria o vestibular de Medicina

Era meu sonho fazer esse curso desde pequena. Meu pai deu o carro para um rapaz sem habilitação dirigir um pouco e ele perdeu o controle do veículo. Fui removida do carro de maneira errada pelas pessoas que estavam no local, ocasionando assim uma lesão na coluna T9″, recorda-se.
Após um mês ainda debilitada, ela conta que conseguiu uma vaga no Hospital Sarah, em São Luís (MA), onde ficou internada por três meses. Após a alta, começou a fazer cursinho, prestou o vestibular para Biologia na Universidade Estadual do Maranhão (Uema) e passou. “Fiz o curso porque quem faz Biologia aproveita algumas disciplinas para o curso de Medicina. Mas nada de vir o curso tão sonhado de Medicina para minha cidade”, conta.

Foi então que Dierlane resolveu fazer o vestibular para o curso Serviço Social, concluído em 2011. Em 2012 fez o primeiro concurso público e passou, conquistando seu emprego na área. “Foi aí que entendi que os planos de Deus para mim eram ajudar o próximo. Gosto muito de ajudar as pessoas”, diz a agora assistente social. Sobre a participação no Miss Cadeirante, ela resume:  “Sempre tive este sonho desde quando andava: ser modelo”, reela loira maranhense de olhos verdes, que ficou em terceiro lugar no concurso.

‘Um acidente de carro mudou minha vida para melhor’

Tatyane Sousa, cadeirante há 7 anos: “Todas nós somos mais que vencedoras” (Fotos: Divulgação)
Tatyane Souza tem 33 anos e no ano de 2013 sofreu um acidente automobilístico que mudou sua vida totalmente. “E pode acreditar que foi pra melhor”, garante ela, que representou, com muito orgulho, a cidade de Brazilândia (DF) no concurso que já reuniu centenas de mulheres lindas e empoderadas de vários estados brasileiros desde 2017.
Sou mãe e dona de casa, faço tudo que uma mulher que anda faz e com muito amor.Minha cadeira não me limita em nada até porque a limitação está na cabeça de cada um. Hoje, mesmo em uma cadeira de rodas com todas as adversidades, sou uma mulher completa e feliz. Descobri e conheci coisas que antes da lesão jamais teria a satisfação de ter conhecido. Um dos prazeres que conheci foi estar em um desfile de moda e ser uma miss (risos)”, conta.

‘A cadeira não me aprisiona, ela me liberta’

Após um acidente de carro no dia 17 de maio de 2004, Fabiana Silva, moradora da cidade de Sítio Novo do Tocantins (TO), sofreu uma lesão medular na T7 que a deixou paraplégica. Mas isso não foi impedimento para ela prosseguir e conquistar muitas coisas na vida, “Nunca deixei de fazer o que quero por estar em uma cadeira de rodas de rodas. Pelo contrário, depois que passei a ser cadeirante faço coisas que antes não fazia. A cadeira de rodas me permite ir a lugares que sem ela seria impossível ir. Ela não me aprisiona, me liberta”, resume.

Não importa a condição em que me encontro, não importa o grau a que cheguei. As minhas condições ou limitações não me impedem de viver, de ser feliz e seguir em frente. Não paro de caminhar só porque minhas pernas não me permitem andar. Posso não andar com minhas próprias pernas, mas ando de cadeira de rodas, de carro, de ônibus, de avião. Ando feliz, ando com meus pensamentos, ando nos caminhos de Deus”, afirma.

Fabiana conquistou sua independência e autonomia: tem sua carteira de habilitação, dirige sozinha, faz transferências para o carro, para a cadeira de banho, da cadeira de rodas para o chão, do chão para a cadeira de rodas e muito mais, sem depender de ninguém. Apaixonada por música, ela toca violão e está aprendendo a tocar teclado. E ainda canta e atua como locutora. Em sua rotina do dia a dia, faz as muitas atividades e tarefas domésticas como tantas outras pessoas: arruma a casa, lava roupa, troca roupa de cama, faz comida…

Não tenho vergonha de andar em uma cadeira de rodas. Ela prova que sou bem mais forte do que aquilo que me aconteceu. Não tem tristeza que roube minha alegria, dificuldades que diminuam a minha fé, nem dor que tire o amor que eu tenho pelo meu Senhor. Se as dificuldades vêm pensando que vão me fazer desistir, elas que vão desistir de mim porque eu não desisto do que quero”, afirma, autoconfiante.

Vitória na luta contra a esclerose múltipla

O mês de novembro de 1997 foi o divisor de águas na vida de Ana Paula de Souza, moradora de Seropédica (RJ). “Foi tudo muito repentino, sem explicação. Apenas senti uma dor no pescoço e tudo começou a enfraquecer. Das 17 horas em diante deitei no chão e não sentia mais nada. Perdi o movimento das pernas por completo, do seio para baixo não sentia mais nada”, relembra.
Ana Paula foi levada para o hospital da vizinha cidade de Angra dos Reis. Daí em diante foi só piorando, perdeu a respiração, ficou quatro dias no CTI, depois foi transferida para o Hospital do Andaraí, no Rio, onde ficou internada 30 dias. Foi ali que os exames de ressonância magnética acusaram o diagnóstico: esclerose múltipla. Após a alta do hospital, começou outra luta, com apoio da mãe, para ganhar movimentos, ficar sentada, respirar melhor, comer sozinha.
Foram muitos dias de muitas batalhas, mas hoje olho para trás e vejo que venci. Não foi fácil, tive ajuda de muitos amigos, conheci novos amigos, vivi momentos bons, vivi momentos ruins, mas todos os dias foram de aprendizados. A minha vida foi um misto de emoções, foi uma eterna canção do Roberto Carlos: ‘Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi'”, comenta Ana Paula.
Ela conta que chegou a sentir vergonha de usar a cadeira de rodas. “Hoje eu tenho orgulho e olhar para ela e ver que lutei e consegui vencer. Agradeço por cada momentinho, sejam eles bons ou ruins, mais ou menos, sejam eles chorando ou sorrindo. Mas foram bons, foram de aprendizados que nenhuma escola no mundo poderia me ensinar. Pra chegar até aqui foram muitas lutas. Agradeço cada dia a Deus por cada movimento, cada respiração, porque não foi fácil”, conta.

Batalha há 21 anos, desde que nasceu

Bruna nasceu com hidrocefalia e hoje se tornou uma mulher independente (Foto: Álbum de família)

Participante do Miss Cadeirante 2020, Bruna de Mello Fredel Biondo, de 21 anos, nasceu com mielomeningocele e precisou ficar um mês na UTI para colocar uma válvula por conta da hidrocefalia causada pela doença. O irmão gêmeo nada sofreu, assim como os outros dois irmãos. Com dois meses de idade, ela teve que substituir a válvula porque não estava drenando o líquido direito. A partir daí começou sua jornada. Ao longo da vida, precisou passar por vários procedimentos cirúrgicos e sempre teve que ser acompanhada por fisioterapeutas, fonoaudiólogas, terapeutas ocupacionais e médicos, aos quais é muito grata até hoje.

“Sofri muito no meu período escolar com o preconceito, justamente pelo fato de estar numa cadeira de rodas. Mas hoje consigo lidar bem mais fácil com o julgamento dos outros porque sou muito mais confiante e empoderada”, afirma a jovem. Hoje ela se orgulha das muitas conquistas, como por exemplo, conseguir nadar sozinha e ser independente pra quase tudo, tomar banho sozinha, cozinhar sozinha etc.

Uma conquista grande que tive foi conseguir trabalhar, primeiramente em um estágio de dois anos como auxiliar de veterinária e recentemente como atendente de telemarketing. Na minha vida tive muitos obstáculos, mas todos serviram de aprendizado para me tornar a mulher que sou hoje e mostrar que nada na vida é fácil, mas tudo pode ser conquistado com muita persistência e resiliência”, ressalta.

Distrofia muscular tirou movimentos de Cristiane há 20 anos

O nascimento de seu segundo filho foi sinônimo de muita alegria para Cristiane Ribeiro, de 48 anos, que mora no litoral gaúcho na cidade de Tramandaí. Mas foi logo depois que ele nasceu que ela passou a sofrer de uma distrofia muscular de cintura há 20 anos. “Quando ele tinha 3 meses de idade foi quando descobri que eu tinha algo de errado, mas só depois de um ano fazendo uma biópsia é que vim a descobrir a doença”, recorda-se.
Neste ano, Cristiane passou por muitas internações, precisou ficar 15 dias no oxigênio por infecção pulmonar e perdeu todo o cabelo. “Engordei 20 kg por tomar 80 MG de cortisona sem precisar e tive várias fraturas por enfraquecimento dos ossos. Nessa época morava no estado de Florianópolis e pediram para eu voltar para o Rio Grande do Sul para morar perto dos familiares porque eu só tinha mais um mês de vida”, comenta.
Em Porto Alegre, no hospital da PUC, um médico neuromuscular descobriu numa biópsia que Cristiane tinha era uma distrofia muscular. “Tive todos esses problemas em um ano devido a muitas medicações erradas, servindo de estudo para os médicos. Hoje faço só fisioterapia e todo dia tenho que agradecer a Deus por estar viva e por ter criado meus dois filhos, vê-los casados, formados, com suas famílias. Este ano recebi uma benção em dose dupla: cada um deles me deu uma neta. Então, só tenho que agradecer a Deus”, conta a participante do Miss Cadeirante 2020.

Mulher trans, cadeirante e portadora de doença rara

Maria Fernanda, mulher trans de 30 anos: concurso mostra ‘pluralidade e exuberância’ (Foto: Divulgação)

Entre as concorrentes, estava Maria Fernanda, de 30 anos, mulher trans, cadeirante, portadora de uma doença rara chamada Atrofia Muscular Espinhal tipo 3 (AME3). Formada em Letras, com licenciatura em Português / Inglês, a representante de Sorocaba (SP) explica por que resolveu se candidatar no concurso Miss Cadeirante 2020.

Quero apoiar esse projeto maravilhoso de empoderamento e resgate da auto estima, que traz mais visibilidade à beleza da mulher cadeirante em toda a sua pluralidade e exuberância”, escreveu.

A bela Lara, de 16 anos: “Estou me tornando uma mulher melhor” (Foto: Divulgação)

Natural de Restinga (SP), Lara Mariany Teixeira, de 16 anos, também se inscreveu na disputa. Assim como Bruna, ela nasceu com mielomeningocele e hidrocefalia com bexiga neurogênica e atualmente faz tratamento na AACD de Rio Preto (SP).

Sou muito grata a Deus por estar viva participando desse concurso. Agradeço a Lu Rufino pela oportunidade. Tenho muita admiração pela sua luta e estou me tornando uma mulher melhor por ela. Obrigada de todo o meu coração”, postou Lara.

Jocilaine é psicóloga e sexóloga: ‘sou uma mulher realizada” (Foto: Divulgação)
Independentemente de ganharem o prêmio máximo, elas já são vencedoras. Psicóloga e sexóloga, Jocelaine destaca que é feliz fazendo as mesmas coisas como antes, só que na cadeira de rodas. “Hoje sou uma mulher realizada e independente. Tenho meu carro e a vida que tanto amo”, resume.
E se depender de torcida e animação das candidatas, o evento tem tudo para continuar um sucesso e, quem sabe até, se tornar global. “A palavra que fica é gratidão por Deus até aqui ter nos permitido chegar. Que continue dando forças e recursos pra nossa querida Lu Rufino continuar com esse projeto não só nacional, mas também internacional”, afirma Tatyane.
Com Assessoria

 

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