Mitos e verdades sobre saúde mental e suicídio

‘Grande parte das pessoas que tirou a própria vida deu sinais de que o faria algum tempo antes’, afirma psicóloga. Conversar sobre suicídio não influencia a pessoa a cometê-lo

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Assunto cercado de tabus, o suicídio tira a vida de 800 mil pessoas por ano em todo o mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, é a segunda causa de morte entre jovens com idades de 15 a 29 anos. São cerca de 12 mil casos por ano no país, taxa que preocupa no Brasil, uma vez que já cresceu 7% nos últimos seis anos, na contramão do índice mundial que caiu 9,8%.

Doenças como a depressão, ansiedade, esquizofrenia, transtorno bipolar e estresse pós-traumático, são comumente relacionadas a pensamento suicidas, porém, cada uma destas doenças pode apresentar diferentes aspectos e suas devidas particularidades, com isso, demanda bastante atenção e sensibilidade para ser notado e cuidado.

Ainda há muito preconceito em torno da saúde mental. Muitas pessoas negligenciam as condições alheias e até mesmo as próprias, por acreditar que depressão, por exemplo, é ‘falta de esforço’, ‘frescura’, ‘pouca fé’, uma ‘maneira de chamar a atenção’, entre outros absurdos, totalmente não condizentes com a realidade de uma doença mental”, pontua Melina Lopes Ferreira Brandão, psicóloga membro da plataforma Doctoralia.

A professora do curso de Enfermagem da Faculdade Santa Marcelina, Grasiella Bueno Mancilha,  enfatiza que familiares e amigos devem atentar-se para os 4 Ds: depressão, desamparo, desespero e desesperança.

Os comportamentos relacionados à tendência suicida são variados. O fundamental é perceber o outro, o que ele diz e demonstra. Todas as pessoas que tentam suicídio avisaram sobre o problema, direta ou indiretamente. Uma dica importante consiste na observação cuidadosa e escuta qualificada. E, principalmente, acolher a pessoa sem julgamento. Caso precise de ajuda especializada, no Brasil, há o Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece atendimento gratuito pelo Disque 188”.

Para desmitificar o assunto, Melina esclarece os principais mitos e verdades sobre saúde mental e suicídio:

Depressão e ansiedade não são doenças – Mito

Depressão não é apenas uma tristeza passageira, assim como transtorno de ansiedade não tem nada a ver com aquele frio na barriga que antecede um evento esperado pelo indivíduo. Ambas são consideradas doenças mentais pela OMS e apresentam diferentes graus. A psicoterapia, aliada à exercícios físicos e um estilo de vida saudável, podem ser suficientes para tratar casos leves. Já em casos moderados e graves, há maior probabilidade que o paciente também seja acompanhado por psiquiatras, para orientação e prescrição de medicamentos.

Pessoas que pensam em suicídio não falam sobre o assunto – Mito

Lidar com o comportamento suicida com base na suposição de “quem muito fala, nada faz” é negligenciar a vida. Grande parte das pessoas que tiraram a própria vida deu sinais de que o faria algum tempo antes. Os sinais são diversos e variam, mas alguns dos mais comuns são:

  • Isolamento – caracterizado pela ausência em compromissos, diminuição de interação nas redes sociais, ignorar telefonemas e mensagens, e excesso de tempo solitário.
  • Falta de esperança/perspectiva de vida – normalmente notamos esse sintoma por meio de conversas recorrentes em tom pessimista sobre sentir-se perdido, sem saber o que fazer da vida.
  • Apatia – a ausência de sentimentos pode ser mais perigosa do que a tristeza excessiva. Sentir-se apático por um longo período coloca o paciente mais próximo da desvalorização da vida.

Suicídio é evitável – Verdade

Segundo a OMS, 9 em cada 10 mortes por suicídio poderiam ter sido evitadas. A chave é a prevenção. Especialistas defendem a importância de falar sobre transtornos psíquicos sempre, a fim de incentivar crianças e jovens a falar também sobre casos de bullying, abusos e outras angústias. Isso serve também para adultos, por isso é interessante que as empresas e escolas abracem a causa e disseminem conteúdos sobre o tema.

Falar sobre o assunto influencia a pessoa a cometer suicídio – Mito

Conversar e, principalmente, colocar-se à disposição para ouvir a pessoa com pensamento suicida tem inúmeros benefícios. Não tira a necessidade de um acompanhamento profissional, mas é importante para que o paciente saiba que pessoas ao seu redor estão presentes e se importam com ele.

Brasil quer reduzir em 10% a mortalidade por suicídio até 2020

Os números são alarmantes: a cada 40 segundos uma pessoa morre no mundo, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde. Com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância de debates qualificados sobre o tema, a OMS em parceria com entidades globais ligadas ao tema estabeleceu, em 2003, o dia 10 de setembro como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Em 2015, o Brasil abraçou a causa e criou o Setembro Amarelo, uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Grasiella reforça a atenção em relação aos demais meses do ano, quando o tema não está tão em evidência. Para ela, não devemos deixar apenas para conversar sobre essa e outras questões do adoecimento mental em um único mês do ano.

O ‘Setembro Amarelo’ é muito importante para a visibilidade do tema, mas também se torna essencial, inclusive para transformar o olhar da sociedade, a busca, durante todo o ano, por novas formas de compreensão e ajuda às pessoas que tentam contra a própria vida e que consideram não suportar mais a dor”, explica Grasiella.

Com base no material divulgado este ano pelo Ministério da Saúde, o Brasil está entre os países que fazem parte do Plano de Ação em Saúde Mental 2015-2020, lançado pela Organização Pan Americana da Saúde (OPAS), que visa acompanhar os índices anuais de mortes, que atualmente tem uma média de 11 mil pessoas por ano no País, e o desenvolvimento de programas de prevenção.

Segundo a Cartilha contra o Suicídio, o País trabalha com uma meta de reduzir em 10% a mortalidade por suicídio até 2020. De forma geral, para alcançarmos esse índice, demandamos de um planejamento de um conjunto de ações. Inclusive, pensando na criação de espaços de debate sobre o tema e construindo ambientes de acolhimento e atenção às pessoas que adoecem mentalmente”, cita a professora.

Com assessorias

 

 

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