Tuberculose: ‘doença do passado’ que continua assombrando

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Campanha esclarece sobre a doença em Macaé (Divulgação/Ana Chaffin)

Você acha que a tuberculose é uma doença do passado, que não existe mais? Pois a realidade é bem diferente. Anualmente são notificados cerca de 6 milhões de novos casos em todo o mundo, levando mais de um milhão de pessoas à morte, principalmente em países pobres. Após décadas de negligência, a tuberculose ultrapassou a Aids e atualmente é a doença infecciosa mais mortal do mundo, matando 1,8 milhão de pessoas por ano.

No Brasil, a doença representa um sério problema da saúde pública, com profundas raízes sociais. O país ocupa o 17º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos de tuberculose no mundo. A cada ano, são notificados aproximadamente 70 mil casos novos e ocorrem 4,5 mil mortes em decorrência da doença.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio, a doença atinge principalmente as populações que vivem em áreas carentes e insalubres, mas que pode ser transmitida também entre moradores de regiões mais urbanizadas e dotadas de infraestrutura básica.  Na Rocinha, maior comunidade do Rio,  são registrados 372 casos por 100 mil habitantes, índice 11 vezes maior do que o do Brasil (33,8 casos por 100 mil).

Diante do grande número de pessoas vitimadas pela tuberculose no Rio, foi criada na Câmara de Vereadores a Frente Parlamentar Suprapartidária de Combate à Tuberculose. “É inadmissível que a Rocinha tenha uma das maiores taxas de incidência de tuberculose da América Latina”, justificou o vereador Alexandre Arraes, médico e presidente da Frente.

Especialistas destacam que o surgimento do vírus HIV e o aparecimento de focos de tuberculose resistente aos medicamentos agravam ainda mais esse cenário. De acordo com especialistas o grande índice de pessoas infectadas pela bactéria tem relação direta com o aumento de indivíduos com HIV positivo que têm em sua baixa imunidade uma porta aberta para a bactéria.

“Pacientes infectados pelo HIV, diabéticos, em tratamento com diálise ou com drogas imunossupressoras são mais vulneráveis ao desenvolvimento da doença. O tabagismo, a desnutrição ou qualquer fator que gere baixa imunidade também favorecem o estabelecimento da tuberculose”, afirma o infectologista Marcelo Gonçalves, do Hospital Barra D’Or.

A tuberculose tem cura e o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza gratuitamente o tratamento. Contudo, é fundamental o diagnóstico precoce. “O conjunto de sintomas e a radiografia de tórax são avaliados, mas o diagnóstico definitivo é fechado após exame que analisa a secreção excretada pelos pulmões. Com o avanço da técnica utilizada para análise é possível rastrear o DNA da bactéria para rastreamento precoce”, explica o pneumologista do Hospital Barra D’Or, Renato Azambuja.

Dia Mundial da Tuberculose – ações nas cidades

Ações na Praça Mauá, no Rio, lembram a data (Divulgação/Mariana Rios)
Ações na Praça Mauá, no Rio, lembram a data (Divulgação/Mariana Rios)

O vendedor Carlos Alberto Venâncio de Araújo, de 40 anos, passou por um tratamento de tuberculose durante seis meses. Nesta sexta-feira (24), ele ajudou a levar informações sobre a doença em Macaé, junto a profissionais de saúde, para conscientizar a população sobre o problema da tuberculose, além da oferta de exames com coleta de material para análise.

“Tive tosse, febre, suava muito durante a noite e sentia dor no peito. Quando descobri a doença senti um pouco de medo, mas hoje sou consciente que ela tem cura. Não tinha informações sobre a tuberculose antes de descobri-la. Esse tipo de ação é fundamental para que outras pessoas possam ser direcionadas para realizar exames”, explica o vendedor.

As ações fazem parte da programação pelo Dia Mundial de Combate à Tuberculose (24 de março), criado em 1992 em homenagem aos 100 anos do descobrimento do bacilo da doença pelo médico Robert Koch, em 24 de março de 1882. A data é voltada a ações de conscientização e prevenção da doença para alertar a população sobre este grave problema de saúde pública.

A ideia é sensibilizar pessoas que apresentem tosse há mais de três semanas a buscar logo um diagnóstico. É o caso da auxiliar de serviços gerais Mariana Porto Bastos, 53 anos. Ela recebeu o material informativo e avisou: “Vou logo fazer esse exame, pois tenho uma tosse seca que persiste sempre”.

No Rio, o Programa Academia Carioca promove atividades para lembrar a data na Praça Mauá, próximo ao Museu do Amanhã. Professores e  alunos do programa realizam várias atividades físicas e jogos educativos, como mito e verdade, quebra-cabeça e quiz, todos eles abordando causas, sintomas, tratamento e cura da tuberculose.

A programação conta com atividades lúdicas e educativas em cinco tendas armadas, abordando o os sinais e sintomas da tuberculose. Também são dadas orientações sobre arboviroses (dengue, zika e chikungunya) e DST/Aids e feitas avaliações e orientações sobre tabagismo. Participam ainda do evento a Rede de Jovens e Adolescentes Promotores da Saúde (RAP da Saúde) e a bateria mirim da escola de samba Vila Isabel.

A Secretaria Municipal de Saúde informar que todas as unidades de Atenção Primária do município (clínicas da família e centros municipais de saúde) estão aptas ao diagnóstico e tratamento da doença e fornecem gratuitamente toda a medicação necessária ao paciente.

No Rio,  a Frente de Combate à Tuberculose da Câmara dos Vereadores também realiza, das 9h30 às 12h, seu primeiro evento de mobilização. Por iniciativa da Frente, o Palácio Pedro Ernesto, no Centro, sede do legislativo carioca, foi iluminado com luz vermelha, na semana de 20 a 24 de março e, por iniciativa da Fiocruz, o Castelo de Manguinhos, sede da fundação, prédio de estilo neomourisco, e o Cristo Redentor também receberam iluminação especial nesse período.

O debate público no Palácio Pedro Ernesto contará com a presença de representantes dos governos estadual e municipal,  especialistas do Centro de Referência Hélio Fraga (Fiocruz), da sociedade civil, por meio do Observatório Tuberculose Brasil e do  Fórum ONGs TB RJ, e de pessoas que se curaram da doença. No hall será realizada a exposição ‘Imagens da Peste Branca’, cujo objetivo é mostrar por meio de painéis informações sobre a tuberculose a partir do século 19, e exibidos vídeos sobre a doença.

Confira um vídeo que mostra o drama de Rita de Cássia Smith, agente comunitária de saúde curada há 20 anos de uma tuberculose, e de Barbara Fiuza, que descobriu recentemente a doença e teve alta semana passada.

Raio X sobre a doença

Com ajuda dos especialistas, o Blog Vida & Ação listou uma série de informações que você precisa saber sobre o problema:

O que é

A tuberculose é uma doença infectocontagiosa causada por uma bactéria que atinge principalmente os pulmões, mas que também pode afetar outros órgãos, como rins, meninges e ossos. É possível que a pessoa seja infectada, mas não desenvolva a doença. Uma pequena parcela tem a manifestação clínica da tuberculose, enquanto que a maioria nunca terá conhecimento de que em algum momento adquiriu a bactéria.

Como transmite 

A transmissão da tuberculose é direta, de pessoa para pessoa. Ao falar, tossir ou espirrar, o indivíduo infectado expele pequenas gotas de saliva ou secreção respiratória com o agente infeccioso que, se aspiradas por outras pessoas, pode contaminá-las. O contato direto entre uma pessoa com tuberculose em ambientes fechados, com pouca ventilação e ausência de luz solar também favorecem a transmissão pela bactéria causadora da doença.

Quais os sintomas 

O principal sintoma da tuberculose pulmonar é a tosse seca ou com secreção por duas semanas ou mais, podendo evoluir para tosse com pus ou sangue. Este sintoma pode estar associado ou não a febre  baixa geralmente no período da tarde,cansaço excessivo, suor intenso à noite, falta de apetite e emagrecimento acentuado e rouquidão.

Como diagnosticar

É fundamental que o paciente procure assistência médica ao perceber os primeiros sinais.  A melhor forma de prevenir a transmissão da doença é fazer o diagnóstico precoce e iniciar o tratamento adequado o mais rápido possível. Com 15 dias após iniciado o tratamento, a pessoa já não transmite mais a doença.

Como tratar

O tratamento para a doença é feito com antibióticos, mas para a cura completa é preciso que o paciente siga com a medicação durante todo o tempo indicado pelo médico, geralmente de seis meses. A interrupção antes desse período pode fazer com que o paciente adquira tuberculose multirresistente, que exige tratamento mais agressivo.

Quem é mais vulnerável

Pessoas com Aids, diabetes, insuficiência renal crônica, desnutridas, idosos doentes, alcoólatras, dependentes de drogas e fumantes são mais propensos a contrair a tuberculose.

Como prevenir

A vacina BCG, obrigatória para menores de um ano, protege as crianças contra as formas mais graves da doença.

Teste clínico

A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF), o movimento Partners in Health – PIH (Parceiros em Saúde, na tradução livre para o Português)e outras das principais organizações médicas lançaram um teste clínico que busca revolucionar o tratamento para as cepas mais resistentes da tuberculose (TB), a doença infecciosa que mais mata no mundo. O primeiro paciente iniciou o tratamento na Geórgia há 15 dias.

O teste é parte de um projeto transformador financiado pela Unitaid, chamado endTB (fim da TB, em tradução livre para o português), que visa acelerar e expandir o acesso a tratamentos melhores e mais curtos para as formas da TB resistentes a medicamentos. O projeto de quatro anos, com custo de 60 milhões de dólares, está sendo implantando pela PHI, por MSF e pela Interactive Research and Development (IRD) em 15 países distribuídos por três continentes.

Fonte: Médicos Sem Fronteiras, Hospital Barra D´Or, Secretarias Municipais de Saúde do Rio e de Macaé

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