‘Efeito Viagra’: por que os brasileiros estão consumindo cada vez mais?

Médico alerta para riscos à saúde causados pelo consumo indiscriminado de Viagra (Foto: Reprodução de Internet)
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O assunto ainda é tabu… Mas cada vez mais um grande número de homens – mesmo os mais jovens – vem lançando mão de facilitadores de ereção, vendidos livremente nas farmácias, para garantir “aquela presença” na hora do ato sexual ou para “turbinar” seus relacionamentos.

Dados de 2014 do laboratório Pfizer, produtor do Viagra, mostram que os brasileiros já compraram mais de 114 milhões de comprimidos desde 1998, que foi o ano de início de sua comercialização no país. São comercializadas cerca de 11 pílulas de Viagra por minuto no país. Mas será mesmo que eles precisam mesmo? E mais: os efeitos colaterais do uso desses medicamentos e os riscos que representam realmente compensam?

Eduardo Barros, urologista e especialista em Andrologia – Medicina Sexual e Reprodutiva Masculina, confirma que o uso dos medicamentos facilitadores de ereção, cujo exemplar mais famoso é o Viagra, estão cada vez mais sendo utilizados, principalmente por jovens, que teoricamente não deveriam apresentar nenhum problema de ereção.

Acredita-se que isso se deva ao fato do jovem ter acesso ao sexo mais precocemente e a pressão da sociedade de que o homem sempre deve ter um desempenho exemplar, muitas vezes, acima da média em uma relação, o que faz o jovem buscar esses medicamentos para “garantir” o seu desempenho”, analisa.

Segundo ele, é comum a prescrição de medicamentos facilitadores de ereção para pacientes com queixas de disfunção erétil, no entanto muitos desses homens retornam ao consultório dizendo que não usaram por medo ou porque ouviram comentários de conhecidos dizendo que algum colega faleceu após o uso dessas drogas.  “É comum ouvir frases como ‘se eu tomar terei um infarto’ ou ‘se eu tomar terei um derrame’, porém elas não refletem a veracidade do que realmente ocorre”, destaca.

Para o especialista, no entanto, esse tipo de conceito se deve muitas vezes por uma falta de orientação médica ao paciente. “Toda vez que um medicamento é prescrito ao paciente, este deve ser informado sobre os efeitos colaterais da droga e dos possíveis riscos e benefícios envolvidos no seu consumo”, afirma.

Ainda segundo ele, os medicamentos facilitadores de ereção, também conhecidos como Inibidores da Enzima Fosfodiesterase tipo 5 (5PDEi), estão no mercado farmacêutico desde a década de 90 e têm se mostrado um método terapêutico eficaz para pacientes com queixas de disfunção erétil de origem não psicogênica, pois além de auxiliarem na ereção são extremamente seguros.

O especialista desmistifica o uso desses medicamentos, afirmando que existem inúmeros estudos que avaliaram sua eficácia e segurança. “Em sua grande maioria esses estudos foram realizados em diversos centros de referência médica no mundo e os pacientes participantes foram monitorados de forma bastante incisiva sendo observado todos os efeitos colaterais decorrentes do uso desses medicamentos sendo esses imediatamente suspensos quando suspeita de risco eminente”, ressalta.

Diversos estudos clínicos mostraram a segurança do uso dos 5PD ao risco dos pacientes apresentarem algum evento cardiovascular como um infarto agudo do miocárdio, por exemplo. “Nenhum deles mostrou maior risco de infarto em pacientes que fazem uso crônico dessas medicações e também mostrou segurança do seu uso em pacientes já com histórico de infarto prévio e que estão com a doença bem controlada”, explica o urologista.

Ainda segundo ele, assim como qualquer medicamento que hoje é comercializado, os facilitadores de ereção passaram por diversos testes de controle de segurança e qualidade e foi a partir deles que também conseguiu-se definir os pacientes que podem e os que não podem fazer uso desses medicamentos.

ViDA & Ação fez uma série de perguntas para o especialista a respeito. Confira:

1 – Qualquer homem pode fazer uso desses medicamentos?

Não. Existem pacientes que estão proibidos de fazer uso dos 5PDEi, como aqueles que fazem uso de medicamentos compostos por Nitratos. Isso se deve ao fato de os 5PDEi potencializarem os efeitos dos nitratos, o que pode promover uma hipotensão arterial severa (“baixa de pressão”) e assim propiciar um novo evento cardiovascular. Portanto, por mais que os 5PDEi sejam medicamentos seguros, eles não devem ser consumidos sem prescrição médica e sem acompanhamento do médico especialista, como um urologista ou cardiologista. Aqueles que têm disfunção erétil e desejam fazer uso de medicamentos facilitadores de ereção, devem procurar um urologista para avaliar a real necessidade e acompanhar os resultados do tratamento.

2 – Existe uma faixa etária mais “apropriada” para quem o medicamento deve ser recomendado?

Os medicamentos facilitadores de ereção devem ser indicados para homens com disfunção erétil (DE) de origem orgânica. Sabe-se que a prevalência da DE é maior em homens a partir dos 50 anos de idade podendo atingir até 50% dos homens aos 70 anos. Porém, cerca de 10% de homens com DE têm menos de 40 anos e também podem ser beneficiados com o uso desses medicamentos.

3- Em que circunstâncias deve ser feita a indicação do uso do medicamento? 

A indicação formal do uso dos medicamentos facilitadores de ereção seria para pacientes com quadro de disfunção erétil que é definida como a incapacidade persistente em obter e manter uma ereção suficiente, que permita uma atividade sexual satisfatória. Na maioria dos casos, isso se dá por uma dificuldade na chegada de sangue no pênis o que dificulta o processo de ereção, devido principalmente a obstruções vasculares por doenças decorrentes do mal controle do colesterol e do diabetes, além de maus hábitos como o tabagismo e o sedentarismo.

4 – E por quanto tempo podem ser administrados?

Pacientes com DE (dificuldade de ereção) podem fazer o uso da medicação sob demanda, ou seja, no momento do ato (ideal 30 a 60 minutos antes) ou de forma diária, normalmente com dosagens mais baixas da medicação. Se não controlados os fatores causadores da DE, provavelmente esses pacientes irão fazer uso desses medicamentos por toda sua vida sexual com risco de diminuição dos seus efeitos se piora dos fatores causadores de DE.

5- Quais as consequências e efeitos colaterais desses remédios? Infarto e AVC estão incluídos?
Os principais efeitos colaterais do uso desses medicamentos são: dor de cabeça, hiperemia facial, dispepsia (“dor no estômago”), congestão nasal, vertigem e alterações visuais. Infarto e AVC não são efeitos colaterais esperados desde que o paciente não apresente a contra-indicação absoluta para o uso desses medicamentos que é o uso de medicamentos compostos por nitrato, que são utilizados normalmente por pacientes com histórico de Infarto Agudo do Miorcárdio e que apresentam dor torácica aos esforços ou em repouso.

6– Qual incidência de óbitos e outras complicações nestes casos?

A incidência de óbitos com o uso desses medicamentos, quando bem indicados, é praticamente zero. O fato de existirem relatos de homens que faleceram após o uso desses medicamentos deve estar relacionado com o uso por conta própria pelos pacientes ou a uma má indicação. Por isso, esses pacientes devem ser acompanhados pelo urologista ou um cardiologista.

7- É verdade que a ereção termina após a ejaculação, inibindo o início de uma nova ereção e nova relação?

Na maioria das vezes que o homem ejacula ele atinge o orgasmo, que nada mais é que o clímax do ato sexual. Ao atingir esse estado inúmeros eventos hormonais e neurológicos levam o homem a um estado de prazer e ao mesmo tempo se inicia um quadro de latência que leva ao relaxamento e a um detumescimento peniano. O tempo de duração dessa fase pode levar alguns minutos mas também pode durar algumas horas, porém nada impede que o homem adquira uma nova ereção com um bom estímulo sexual.

8 – Em alguns casos, a ereção pode durar mais do que o tempo da relação sexual e da ejaculação, causando constrangimento a quem usa? Por até quanto tempo é considerado normal? e como os pacientes devem  lidar com isso?

No caso do uso dos medicamentos facilitadores de ereção de uso oral é bem difícil a ereção se manter após a ejaculação, devido principalmente ao quadro de latência que se instala. A persistência da ereção após a ejaculação é mais comum quando alguns homens (principalmente os sem problemas de ereção) fazem uso de medicação injetável no pênis e essa sim pode levar a uma ereção por tempo prolongado. Caso a ereção dure por mais de 3 horas sem cessar, chamamos isso de priapismo e esse homem deve procurar atendimento médico com urgência devido ao risco de deterioração do tecido peniano.

Fonte: Eduardo Barros

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