55% dos homens não procuraram os médicos durante a pandemia

Sidney foi diagnosticado com câncer de próstata em meio a pandemia, fez a cirurgia e já está curado (Foto: Divulgação)
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“Fiquei 30 segundos sem reação, não era um diagnóstico esperado”, relata Sidney Quintino Mariano, de 57 anos. O paciente foi diagnosticado com câncer de próstata quando procurou o Hospital São Camilo, em São Paulo, para exames de rotina. Em meio à pandemia, Sidney fez o exame laboratorial, que identificou nível de PSA (antígeno prostático específico) alto. O médico, na ocasião, informou que a doença ainda estava em estágio inicial. “Não era urgente, mas queria resolver rapidamente”, recorda o paciente.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o tumor maligno da próstata é o segundo mais comum entre esse público (atrás apenas do câncer de pele não-melanoma), com mais de 65 mil novos casos estimados até o fim do ano. Apesar do perigo, os homens continuam ignorando os riscos e evitando ir ao médico, ainda mais em tempos pandêmicos.

Dados de uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) indicam que 55% dos homens acima de 40 anos deixaram de fazer alguma consulta ou tratamento médico. “Esse número é preocupante”, destaca o urologista Davi Abe, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo. “Já conseguimos identificar que tivemos uma redução de 70% dos exames laboratoriais de PSA e de toque retal durante este período de isolamento social”, explica.

Segundo o médico, a pandemia e o isolamento fizeram com que muitos homens deixassem de fazer o exame preventivo. “Vimos que o medo da Covid-19 foi o principal fator para a diminuição da procura de muitos pacientes, dificultando a detecção da doença em seu estágio inicial”, afirma.

Além da pandemia, outro fator que faz com que os pacientes não procurem o urologista é o preconceito que a doença e o exame de toque retal carregam. “Ainda hoje vemos uma dificuldade por parte dos homens de procurarem os exames, pois a supervalorização da atividade sexual e o medo da impotência ainda são um peso para muitos pacientes”, afirma o Dr. Davi.

Para Sidney, manter o foco foi o principal sentimento no começo do tratamento. “Meu pai faleceu de câncer no intestino e eu tinha um pensamento igual ao dele, tanto que não realizava os exames regularmente. O apoio da minha família, dos amigos e o acolhimento que tive com o Dr. Davi foram o que me motivaram a seguir adiante”, relata.

“Desde o início do tratamento, o Dr. Davi foi atencioso e tranquilo. Ele me passou todos os protocolos e, pelo quadro clínico apresentado, informou que eu tinha 80% de cura”, ressalta Sidney, que realizou a cirurgia recentemente. Para ele, a doença foi resolvida de forma rápida, antes mesmo de surgir qualquer sintoma. “Por isso, hoje sou uma mais centrado, não renuncio à ajuda médica e não deixo o preconceito tirar meu foco.”

O câncer de próstata tem maior incidência na terceira idade, atingindo, em 75% dos casos, homens a partir dos 65 anos. De acordo com o especialista, quanto mais cedo o exame for realizado, maiores as chances de cura. “O autocuidado é primordial, pois a doença raramente apresenta sintomas em estágio inicial. Se detectada rapidamente, o câncer de próstata pode ser, estatisticamente, curado em 90% dos casos”, explica.

Apesar de elevar as possibilidades de cura se identificada em sua fase inicial, segundo o urologista, a doença também pode ser curada em estágio avançado. “A medicina está tão avançada que hoje há várias novidades de tratamento, mesmo para casos mais complexos. Além disso, trabalhamos para que o diagnóstico não abale o paciente, pois sabemos que as incertezas poderão causar outros tipos de doenças, como depressão e ansiedade, e não queremos isso”, explica o especialista.

Prevenção é o melhor remédio

Gisele Marinho, oncologista e especialista em tumores geniturinários do Americas Oncologia do Rio de Janeiro, dá o alerta com algumas recomendações importantes para que eles estejam em dia com a saúde.   Embora os cuidados com a prevenção de um tipo de tumor que, se diagnosticado precocemente, têm elevadas chances de sucesso no tratamento, a oncologista informa que algumas decisões também precisam ser tomadas, a exemplo de hábitos simples, como a ida regular ao médico, prática de exercícios físicos, além de uma alimentação mais regrada.

É sempre bom reforçar que prevenir é melhor do que remediar. No mês em que chamamos a atenção para que os homens procurem se cuidar mais e melhor, ainda mais em um cenário desafiador de pandemia, os costumes que trazem benefícios para o bem-estar são ferramentas importantes e devem ser seguidos dentro dos protocolos recomendados para o momento”, diz a médica.  

A especialista informa ainda que essa atenção deve ser redobrada no caso de quem tem histórico familiar com parentes próximos, como pai, irmãos e avôs, que tiveram a doença. “Os homens que possuem casos na família não podem se descuidar, pois o fator hereditário requer atenção. Além disso, quanto mais avançada a idade, maior é o risco para o câncer de próstata”, pondera. 

Quanto aos sintomas, a médica afirma que nas fases iniciais não apresenta sinais e que é importante não aguardar por eles para ir ao urologista. “Também vale ressaltar os outros problemas que podem afetar os homens, como o aumento benigno da próstata (hiperplasia benigna de próstata) e as prostatites (inflamações), que também exigem tratamentos específicos”, observa.  

Sobre os exames recomendados, o ideal é realizar avaliações regulares com o urologista a partir dos 50 anos de idade e, a partir dos 40 para aqueles que tem histórico na família. “As análises para rastreamento são o toque retal e a pesquisa do PSA, exame de sangue feito em laboratório. Ambos são complementares, o que significa que um não dispensa o outro. O de toque é rápido e permite ao médico avaliar se existe a presença de nódulos e endurecimento local”, explica.  

Por fim, Gisele Marinho afirma que com o avanço dos procedimentos, hoje, os tratamentos têm menos efeitos colaterais e estão bem mais focados na localização exata do tumor. “Estamos evoluindo bastante nesse aspecto e, nos últimos anos, a terapêutica avançou muito, com novos medicamentos hormonais e técnicas de radioterapia e cirurgia, que combinam efetividade e minimizam riscos de impotência ou incontinência urinária. Atualmente, é possível conseguir a recuperação completa do paciente, mantendo a qualidade de vida, inclusive, a sexual”, finaliza.  

Saiba mais sobre o câncer de próstata  

O câncer de próstata é o segundo tipo de tumor mais comum entre os homens brasileiros, ficando atrás apenas do câncer de pele não-melanoma, segundo o Inca. 

A doença é uma das que menos apresentam sintomas, podendo ser totalmente silenciosa. Muitos sinais passam despercebidos, como incômodo ao urinar e dificuldades de ereção, que podem ser confundidos como sinais comuns ao avanço da idade. 

O envelhecimento e a hereditariedade são os principais fatores para o desenvolvimento dessa enfermidade, elevando a necessidade de realizar exames regularmente. 

Para quem tem histórico familiar, é recomendável fazer o exame de toque retal a partir dos 45 anos, cinco anos antes em comparação a quem não tem casos na família.

O câncer de próstata é a formação e multiplicação desordenada de células anormais nessa glândula, que é responsável pela produção do líquido seminal, que conduz os espermatozoides na ejaculação. Vale pontuar que a próstata não tem interferência na ereção.  

Após os 50 anos, é bem comum o aumento benigno dessa glândula, a chamada hiperplasia prostática benigna, que não tem relação com câncer.

Existem diversos tipos de câncer, sendo o mais comum o adenocarcinoma, que responde por mais de 90% dos casos. Mas há outros, como carcinomas de pequenas células, sarcomas e tumores neuroendócrinos, estes bastante raros, porém, agressivos.   

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