Acesso a mamografia cai entre mulheres de 50 a 69 anos

Com isso, risco de câncer de mama aumenta. É o que revela estudo apresentado durante Simpósio Internacional de Mastologia, que termina neste sábado (14) no Rio

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Mais uma notícia nada agradável para nossa saúde pública, especialmente quando o assunto é atendimento à mulher. O número de mulheres que fazem mamografia na faixa dos 50 aos 69 anos de idade pelo SUS está caindo. Para se ter ideia, no ano passado, eram esperadas 11,5 milhões de mamografias e foram realizadas apenas 2,7 milhões, uma cobertura de 24,1%, bem abaixo dos 70% recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). É o menor índice dos últimos cinco anos.

Convertendo esses números em cifras, o estudo mostra que o governo federal investiu apenas R$ 122,8 milhões dos R$ 510,7 milhões previstos para atender ao número esperado de mulheres nessa faixa etária, a que mais acomete as mulheres com o câncer de mama, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

É o que revela um estudo da Sociedade Brasileira de Mastologia, realizado em parceria com a Rede Brasileira de Pesquisa em Mastologia, divulgado nesta quinta-feira (12) durante o 9º Simpósio Internacional sobre Mastologia (Sim Rio 2018), que termina neste sábado (14), no Rio de Janeiro.

Estamos diante de um grave declínio que reflete o cenário caótico do câncer de mama no país. A dificuldade para agendar e realizar a mamografia ainda é o principal motivo para o baixo número de exames, além da triste realidade encontrada nos hospitais com equipamentos quebrados e falta de técnicos qualificados para operá-los”, alerta o mastologista Ruffo de Freitas Junior, coordenador da pesquisa.

Maior dificuldade é o acesso

As dificuldades no acesso ao diagnóstico e tratamento dominaram o painel de abertura do evento, que tem previsão de reunir cerca de 400 congressistas nos três dias. ViDA & Ação estava lá e entrevistou alguns desses nomes.

Diretora do Inca (Instituto Nacional do Câncer), Ana Cristina Pinho disse que o principal desafio hoje no Brasil é aumentar o acesso ao diagnóstico e conseguir cumprir a “lei dos 60 dias,” que determina este prazo limite para o devido atendimento dos pacientes de câncer desde a descoberta da doença até o início do tratamento.
É preciso diminuir o preconceito, o medo de descobrir a doença, desvincular o câncer do conceito de sentença de morte” (Ana Cristina Pinho, diretora geral do Inca)
Ela também critica o que chama de “denuncismo da imprensa”, gerando alarmismo e um desserviço à população, além dos altos índices de judicialização da saúde no país, que acabam sobreccaregando o sistema e gerando altos custos. “O direito individual não pode se sobrepor ao direito do coletivo”, diz Ana Cristina.  Ainda segundo ela, aumentar a eficiência do sistema e a otimização dos recursos disponíveis pode ajudar a conquistar melhor resultados.

Rastreamento é indicado a partir dos 40 anos

Antônio Luiz Frasson,  presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), disse que os tratamentos atuais minimizam o sofrimento das pacientes e os efeitos colaterais. Cirurgia, quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e terapias alvo avançaram, mas é preciso melhorar o acesso da população. Hoje a cirurgia da mama usa técnicas da cirurgia plástica e resultados são quase imperceptíveis. Para obter este resultado, no entanto, o diagnóstico precoce deve ser precoce.
Tempo é fundamental” (Antônio Luiz Frasson, médico mastologista, presidente da SBM)
A SBM  preconiza a realização da mamografia anualmente para todas as mulheres a partir dos 40 anos de idade. “Isso significa que, se fôssemos ampliar a abrangência do estudo, o cenário é ainda bem mais complexo, desesperador”, diz Antônio Frasson. Por isso, segundo ele, o acesso é uma das principais bandeiras que a Mastologia brasileira tem levantado nos últimos anos.

Outubro Rosa ajuda na conscientização

Presidente da Fundação Laço Rosa, que realiza a campanha Outubro Rosa, Marcelle Medeiros  diz que as campanhas de conscientização têm ajudado a informar a população sobre os riscos do câncer de mama. No entanto, confirma que a maior dificuldade é o acesso aos exames de alta complexidade para o diagnóstico. Outra dificuldade é a adesão da população às medidas preventivas, como controle do peso, alimentação saudável e atividade física.
O mastologista Carlos Vinícius Leite explicou que é necessário desfazer o estigma em torno da doença. Ele falou sobre o programa adotado em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, que capacitou profissionais e agentes de saúde para levar informações sobre prevenção às comunidades. Isso também tem contribuído para melhorar o  acesso da população aos tratamentos nas unidades de saúde, evitando o dignóstico tardio.

Piores índices estão no Norte e Centro-Oeste

As regiões Norte e Centro-Oeste continuam apresentando as menores coberturas quando comparadas às demais. Os três piores estados foram Amapá, que realizou apenas 260 exames em detrimento dos 24 mil esperados, seguido do Distrito Federal, com 5 mil realizados quando eram esperados 158,7 mil, e Rondônia, cuja expectativa era de realizar 76,9 mil, mas somente 5,7 mil foram realizados.

Os dados referentes ao número de exames realizados em 2017 foram coletados do Sistema de Informações Ambulatorial (SIA) do DATASUS, de acordo com os códigos de procedimento 0204030030 (Mamografia) e 0204030188 (Mamografia Bilateral para Rastreamento). Já o número de exames esperados foi calculado de acordo com o número de mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos e as recomendações do INCA para rastreamento bienal (BRASIL, 2017). Para o cálculo do número de exames esperados considerou-se 58,9% da população alvo, tendo em vista as recomendações do Inca.

Da Redação, com apoio da estagiária Fabiane Muniz, aluna do 8º período da Unigranrio, e edição de Rosayne Macedo, com informações da Sociedade Brasileira de Mastologia.

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