Alerta: sintomas da dengue podem ser semelhantes aos da Covid-19

Biólogo, médico e enfermeiras explicam como identificar sintomas e procurar ajuda médica. Saiba também o que fazer para prevenir a dengue

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A pandemia do novo coronavírus ofuscou outro grave problema de saúde pública no Brasil: a dengue. Endêmica no país, a doença é uma ameaça e merece atenção pelo crescimento no número de casos e por seus sintomas iniciais serem semelhantes à Covid-19, o que acaba confundindo os pacientes. Também requer cuidados por sua gravidade, já que é uma infecção viral que pode levar à morte.

Febre alta, dor de cabeça e atrás dos olhos, perda de apetite, cansaço e manchas vermelhas pelo corpo são alguns dos sintomas que caracterizam a dengue, que pode se agravar conforme a condição de saúde de cada paciente. Por ser de origem viral, o tratamento foca no controle dos sintomas até que o corpo se recupere.

O professor Lucas Macedo, do curso de Medicina da Universidade de Franca (UNIFRAN), explica que as manifestações clínicas podem ser muito semelhantes, porém, habitualmente na evolução da doença causada pelo coronavírus, há sintomas respiratórios semelhantes a um resfriado, como tosse, coriza, obstrução nasal e dor de garganta, o que praticamente não ocorre nas doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.

“Por sua sintomatologia semelhante à da infecção pelo agente viral SARS-CoV-2, responsável pela Covid-19, os pacientes ficam em dúvida na hora de procurar atendimento médico”, comenta o biólogo Carlos de Almeida Barbosa, professor do UniCuritiba, instituição de ensino superior que faz parte da Ânima, e especialista em Biologia Celular.

Mestre em Ciências e doutorando em Tecnologia em Saúde, Barbosa explica que a infecção provocada pelo vírus da dengue pode apresentar um espectro clínico variado, desde quadros assintomáticos até eventos graves como hemorragia, choque e risco de morte.

Não existe tratamento específico para a dengue e os cuidados terapêuticos consistem em tratar os sintomas, combater a febre e, se necessário, fazer a hidratação por via intravenosa. O atendimento rápido para a identificação dos sinais e a intervenção médica ajudam a reduzir o número de óbitos”, alerta o especialista.

Alguns países já utilizam uma vacina contra a dengue, aplicada em indivíduos entre 9 e 45 anos previamente infectados e que habitam áreas endêmicas ou de risco. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a vacinação seja feita somente em regiões nas quais as condições epidemiológicas indiquem alto índice da doença. No Brasil, o imunizante está em uso desde 2015.

Principais diferenças entre dengue e Covid

Os primeiros sintomas da dengue podem ser quadros febris variando entre 39ºC e 40ºC de início repentino, com persistência de dois a sete dias, acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo e nas articulações, prostração, fraqueza, dor atrás dos olhos e erupções cutâneas, podendo ocorrer náuseas e vômitos. No caso da Covid-19, os pacientes costumam apresentar febre, cansaço, dores no corpo, congestão nasal, dor de cabeça, de garganta, diarreia, perda de paladar e olfato, conjuntivite e erupção cutânea.

Uma das diferenças entre a dengue e a Covid-19 está na forma de transmissão. Enquanto o coronavírus é transmitido de pessoa para pessoa, a dengue depende de um vetor, o mosquito da espécie Aedes aegypti. “Neste caso, dizemos que é um arbovírus, um vírus transmitido por artrópodes”, explica o professor.

A evolução do quadro apresenta particularidades de sintomas e é fundamental o acompanhamento por um profissional habilitado, que realize exames laboratoriais pertinentes, capazes de diagnosticar a doença e iniciar o tratamento adequado para cada caso”, alerta o médico Lucas Macedo.

Além de serem transmitidas pelo mesmo vetor, dengue, zika e chicungunya apresentam sintomas parecidos. Indisposição, dor pelo corpo e nas articulações, febre, dor atrás dos olhos, cefaleia e até manchas no corpo são sinais das enfermidades. Por isso, é importante a avaliação médica para um diagnóstico diferencial.

São considerados sinais de alerta para a ocorrência de dengue:

– Febre alta com início súbito

– Dor de cabeça

– Dor atrás dos olhos

– Dor no corpo

– Perda do apetite

– Manchas vermelhas na pele

– Náuseas

– Vômitos

– Tonturas

– Extremo cansaço

– Dores nas articulações

Quanto buscar assistência médica?

De acordo com Simone Prado, enfermeira da equipe de Vigilância em Saúde do Cejam – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”, a orientação às pessoas é para que procurem a unidade de saúde mais próxima caso notem a ocorrência de sintomas da dengue. alguns desses sintomas podem ser confundidos com os da Covid-19, em uma análise superficial. Por isso, o encaminhamento a um serviço de saúde para diagnóstico e tratamento correto é essencial.

O professor Carlos Barbosa explica que ao apresentar febre alta é importante buscar o serviço de saúde o quanto antes. “É difícil diferenciar inicialmente os sintomas, mas os profissionais de saúde estão habilitados a fazer a triagem. Um teste preliminar para o diagnóstico da dengue é a ‘prova do laço’, que serve como um indicativo.”

Segundo Patrícia Ishida, enfermeira da Vigilância da Saúde do Cejam, o teste rápido de dengue, realizado após o quinto dia de suspeita da doença com amostras de sangue, é disponibilizado em todas as Unidades Básicas de Saúde gerenciadas pela OS, na zona sul de São Paulo, e possibilita um diagnóstico rápido e seguro em até 10 minutos.

Dependendo do caso, segundo Barbosa, são realizados outros exames como detecção de anticorpos, IgG e IgM, hemograma, coagulograma e testes com técnicas moleculares, como a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR).

Em função da pandemia, a orientação é que as pessoas com febre persistente ou qualquer sintoma com características semelhantes à dengue ou Covid-19 entrem em contato com o serviço de saúde para uma triagem prévia, antes do deslocamento para atendimento presencial – em Curitiba o telefone é 51 3350-9000.

Depois da avaliação inicial, a central fará o direcionamento do paciente para o local adequado: uma unidade de atendimento Covid ou uma “unidade limpa”, para onde são encaminhados pacientes com outras doenças. No caso das consultas presenciais, os atendimentos são feitos nas Unidades Básicas de Saúde (UBs) (casos com sintomas leves e moderados) ou Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), em situações graves.

“Para casos leves, recomenda-se repouso e ingestão de bastante líquido. Na presença de qualquer sinal de alarme, no entanto, deve-se procurar o serviço de saúde imediatamente”, afirma Simone. Pessoas que usam anticoagulantes, por exemplo, estão mais predispostos a desenvolver a dengue hemorrágica, que é mais severa”, completa Patrícia.

Os 4 tipos diferentes de dengue

Segundo a organização Médicos Sem Fronteira, há quatro tipos diferentes de dengue e , atualmente, todos circulam no Brasil. Os primeiros sintomas aparecem entre quatro e dez dias depois da picada do mosquito infectado. A doença começa bruscamente e se assemelha a uma síndrome gripal grave, com febre elevada, fortes dores de cabeça e nos olhos, além de dores musculares e nas articulações.

Sinais clínicos que podem indicar dengue hemorrágica incluem dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, desmaios, aumento de tamanho do fígado, sangramento na gengiva e no nariz, além de desconforto respiratório. Por existirem quatro tipos diferentes de vírus, alguém que tenha contraído um dos tipos não está imune aos demais. Pior do que isso: a cada contágio, os sintomas se mostram mais intensos e o risco de desenvolver a forma grave de dengue aumenta.

Ainda segundo Barbosa, a pessoa que já teve dengue não está livre de sofrer uma nova infecção. Isso porque existem quatro sorotipos do vírus em circulação no Brasil e, para estar totalmente imune, seria necessário entrar em contato com todos eles. “O problema é que a cada contágio com um novo sorotipo, os sintomas podem ser mais intensos e os riscos de desenvolver uma forma mais grave de dengue são altos”, adverte o biólogo.

Cuidados com a dengue devem ser tomados o ano todo

Lucas Macedo afirma que doenças virais, ou também conhecidas como viroses, são mais frequentes em estações quentes. O cenário favorece a uma maior proliferação de pernilongos, em especial o Aedes aegypti. O acúmulo de água parada em ambientes residenciais, por exemplo, potencializa a reprodução desse mosquito, responsável pela transmissão desses vírus”, explica.

Embora mais presentes durante as chuvas de verão, é importante lembrar que os casos de dengue são registrados em todo o ano, com a proliferação do mosquito Aedes aegypti nas residências. Por isso, apesar da pandemia de Covid-19, que naturalmente tem dominado o debate nacional sobre saúde, os cuidados com prevenção, diagnóstico e tratamento da doença não podem diminuir.

Atualmente, a principal forma de prevenção é o combate aos mosquitos – eliminando os criadouros de forma coletiva com participação comunitária – e o estímulo à estruturação de políticas públicas efetivas para o saneamento básico e o uso racional de inseticidas. Barbosa diz que o combate à dengue exige um esforço coletivo, uma cooperação comunitária para a prevenção.

Por todo o país, cidades reforçaram o combate e as políticas de conscientização para evitar que os números de infectados sigam crescendo na estação, como no caso do Estado do Paraná, que teve um aumento de 5% nos casos da doença somente entre as duas primeiras semanas de fevereiro.

Agentes comunitários de saúde

De acordo com Simone Prado, enfermeira da equipe de Vigilância em Saúde do Cejam – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”, a população tem sido orientada de forma periódica e presencial por Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Promoção Ambiental das unidades de saúde sob gestão do Cejam.

Eles realizam busca por focos nas residências da comunidade, verificações de ambientes com entulhos e busca ativa em residências com casos confirmados de dengue. Durante as visitas, famílias recebem informações de combate à doença e sobre os cuidados necessários para impedir a reprodução do mosquito.

O isolamento provocado pela pandemia fez com que muitas pessoas passassem a trabalhar de casa, facilitando as visitas e orientações diretas promovidas pelos agentes. “A presença do usuário em sua residência no ato da visita facilita a inspeção dos profissionais e reforça a importância de sua colaboração em relação ao cuidado necessário para evitar risco de novos focos do mosquito”, explica Simone.

Além das visitas presenciais, os cidadãos contam com ampla presença de cartazes informativos e com orientações nas unidades de saúde, ressaltando o cenário de agravo da dengue durante o Verão.

Prevenção começa dentro de casa

Cada um pode fazer a sua parte

A melhor forma de prevenção da dengue é evitar a proliferação do mosquito transmissor, eliminando os criadouros do Aedes aegypti, que se prolifera em locais com água parada, como vasos de plantas, pneus velhos, telhas, piscinas sem uso e lixos. A orientação é inspecionar esses recipientes, manter o quintal limpo, evitando o acúmulo de entulhos que possam reter água.

Deve-se sempre adotar hábitos como armazenar lixo em sacos plásticos fechados, manter reservatórios e caixas d’água sempre limpas e bem tampadas e não deixar água acumulada em calhas. Também é importante encher com areia os pratinhos dos vasos de plantas e tratar a água de piscinas e espelhos d’água com cloro.

Não basta apenas não ter água parada. Mesmo nos locais em que a água secou, os ovos do mosquito podem se reproduzir se houver um novo contato com a água. Portanto, é necessário limpar e esfregar as áreas”, recomenda Ishida. Outras medidas, como uso de repelentes, também são recomendadas.

Fonte: UniCuritiba, Unifran, Cejam e MSF

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