Autotransfusão de sangue pode ajudar a enfrentar a queda nas doações

Sangue perdido em cirurgia pode ser transfundido no próprio paciente. Técnica seria segura e de baixo custo, segundo especialistas

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Com o rápido aumento de casos de Covid-19 no Brasil e às vésperas do feriadão de Carnaval, com muitas pessoas viajando, os estoques dos bancos de sangue estão reduzidos. No Rio de Janeiro, onde os números de infectados permanecem altos, os bancos de sangue lidam com a baixa nas doações. É o caso do Banco de Sangue Serum, que está apelando à torcida do Flamengo para repor seus estoques.

O problema é que muitas pessoas deixaram de doar sangue por medo de contrair o coronavírus com a ação, mas a doação é segura e os bancos seguem os protocolos necessários. Ao mesmo tempo, algumas cirurgias eletivas, aquelas sem muita urgência, que tinham sido postergadas devido à pandemia, vêm sendo retomadas desde o final do ano passado. Já as cirurgias emergenciais não podem ser adiadas.

Felizmente, várias cirurgias que necessitam de transfusões de sangue – caso de traumas, alguns transplantes, cirurgias cardiovasculares e cirurgias para pacientes em tratamentos oncológicos, entre outras – podem ser realizadas sem utilização de bancos de sangue, por meio da autotransfusão.

Solange Pais Messias trabalha como representante de autotransfusão na região de Campinas e teve de ser submetida a uma cirurgia cardíaca em julho de 2018. Para a realização de sua cirurgia ela escolheu a equipe do cirurgião cardíaco Orlando Petrucci Junior, pois sabia que esse médico utiliza autotransfusão em praticamente todos os seus pacientes. 

A cirurgia da Solange teve duração de cerca de 5 horas e foram recuperados 695mL de seu sangue, o equivalente a quase três bolsas de sangue. “O uso do meu próprio sangue me deu muito mais segurança em realizar a cirurgia e minha recuperação foi muito rápida. Minha preocupação se restringiu à cirurgia em si, e não a complicações que poderia ter tido relativas à utilização de sangue doado. Hoje não sinto mais nada, a cirurgia foi um sucesso!”

Técnica é indicada em cirurgias com perda sanguínea

Equipamento permite que o sangue seja retransfundido durante a cirurgia (Foto: Divulgação)

Já para o cirurgião Walter Gomes, professor titular de cirurgia cardiovascular da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV), nas cirurgias onde os pacientes têm risco de perda sanguínea prevista, a utilização do equipamento de autotransfusão é o mais indicado.

Não estou falando que a técnica deva ser utilizada apenas em casos de possível falta de sangue nos bancos de sangue ou devido ao pânico que a infecção por sangue contaminado por coronavírus ou outras doenças infectocontagiosas poderiam gerar. A autotransfusão deve ser utilizada sempre, pois o próprio sangue perdido pelo paciente durante a cirurgia é processado e reinfundido no paciente, evitando qualquer infecção que possa não ter sido detectada nos testes e triagem dos doadores de sangue”, explica.

Ainda segundo ele, a relação custo-benefício é muito melhor, mesmo sem contar que a utilização de sangue doado pode, eventualmente, causar várias complicações, como problemas pulmonares e renais, e a recuperação do paciente com a autotransfusão é melhor e mais rápida. “É uma pena que muitos planos de saúde não percebam o potencial benefício ao paciente e não cubram a utilização da técnica, e acabam tendo muito mais custos no final”, completa. 

Sangue perdido em cirurgia pode ser retransfundido

Uma das técnicas, também conhecida como recuperação de sangue intra-operatório, permite que o próprio sangue “perdido” pelo paciente durante a cirurgia seja processado e retransfundido, evitando-se assim, as transfusões de sangue de doadores e as suas possíveis complicações e reações adversas. 

Segundo Celso de Freitas, diretor médico da LivaNova, empresa que produz o equipamento XTRA para autotransfusão, o melhor sangue que o paciente pode receber em uma transfusão é o seu próprio sangue. “Essa é a possibilidade que este equipamento oferece em um grande número de situações, como em épocas de baixa do estoque de sangue nas instituições, período de carnaval, final de ano etc, ou em quaisquer situações nas quais a população por algum motivo não se apresenta para doar sangue, “como o que está ocorrendo agora durante esta epidemia”, destaca.

No entanto, Sérgio Domingos Vieira, vice-presidente médico do grupo GSH, que atende inúmeros hospitais em todo o Brasil, o paciente deve discutir essa técnica com a equipe cirúrgica e optar pelas instituições que a utilizam. “Não existe transfusão com sangue doado com risco zero, mesmo com todas as triagens sorológicas feitas nos bancos de sangue. “A maioria dos pacientes desconhecem as vantagens da autotransfusão, e muitos nem sabem que a técnica foi utilizada na sua própria cirurgia”, pondera.

Segundo ele, em época de dúvidas em relação à triagem do sangue em relação à presença do coronavírus e ao próprio desabastecimento dos bancos de sangue, a utilização da autotransfusão é ideal. “Na nossa rede utilizamos há bastante tempo a autotransfusão, e atualmente estamos utilizando o equipamento mais moderno que existe hoje em dia, o sistema XTRA, bastante intuitivo e fácil de usar, e que ainda tem a vantagem de ter as instruções em português”, ele afirma.

Vantagens da autotransfusão 

Segurança: a autotransfusão é mais segura e eficiente, pois reduz o risco de infecções, já que muitas vezes nem todas as infecções do sangue doado podem ser detectadas; ela evita problemas de compatibilidade sanguínea, já que o sangue utilizado é do próprio paciente.

Disponibilidade: imediata disponibilidade do próprio sangue, já que em poucos minutos o sangue recuperado é processado e retornado ao paciente, mesmo para pacientes sensibilizados (presença de anticorpos) ou com tipos raros de sangue.

Custo-benefício: reduz a demanda por sangue doado e suas sorologias de alto custo para doenças transmissíveis, e consequentemente a utilização da autotransfusão pode ter custo inferior ao da transfusão com sangue estocado de bancos de sangue.

Como é feita a autotransfusão durante uma cirurgia? 

A recuperação intra-operatória de sangue é feita por meio de um equipamento automatizado de autotransfusão específico para este fim. O sangue é aspirado do campo cirúrgico e enviado para a máquina onde são recuperados e concentrados os glóbulos vermelhos (componente mais importante de sangue: células responsáveis por levar oxigênio aos tecidos).

O sangue recuperado é então automaticamente lavado para eliminar fragmentos de células rompidas, substâncias nocivas presentes no plasma, fármacos e o anticoagulante que precisa ser utilizado para utilização do equipamento. Após a lavagem, o sangue está pronto para ser reinfundido no paciente. 

Ciclo do Processamento do Sangue

Aspiração: o sangue é aspirado do campo cirúrgico, simultaneamente misturado à solução de anticoagulante e estocado temporariamente no reservatório.

Preenchimento / Prime: o sangue é bombeado do reservatório para o bowl (recipiente de centrifugação). Os componentes do sangue são separados, as hemácias são concentradas e o sobrenadante é descartado. 

Lavagem / Wash: lavagem das hemácias com soro fisiológico. Eliminação de fatores de coagulação ativados, hemoglobina livre no plasma, contaminantes, debris etc.

Esvaziamento / Empty: envio do concentrado de hemácias lavadas do bowl para a bolsa de reinfusão.

Reinfusão: o sangue que foi encaminhado a essa bolsa é transfundida na sala cirúrgica, repondo assim, a massa eritrocitária do paciente.

Fonte: LivaNova

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