Biblioterapia: combate aos tempos difíceis pode estar nos livros

Para especialista, Biblioterapia é abraçar com palavras. Em homenagem ao Dia Mundial do Livro, entenda como funciona a terapia com livros

Biblioterapia: a terapia com livros é indicada para vencer dias difíceis (Foto: Divulgação)
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Vamos combinar que esses tempos não têm sido nada fáceis. A restrição social, a imposição de uma nova rotina e as mudanças em hábitos, padrões e estilos de vida afetam a todos indistintamente e provocam alterações significativas, aumentando a ansiedade, a insegurança, a tristeza e causando até mesmo depressão.

Quatro em cada dez brasileiros têm sofrido de ansiedade como consequência do surto do novo coronavírus, segundo pesquisa da Ipsos realizada em 2020 em 16 países, mostrando que o Brasil é o país mais afetado pelo transtorno. Outro dado é que as mulheres são as mais prejudicadas: enquanto 49% delas se declaram ansiosas, 33% dos homens apontaram que lidam um pouco melhor com o sintoma.

Um dos caminhos para suavizar essa realidade é ampliar histórias e cenários positivos, o que só uma leitura traz. É o que recomenda o jornalista Carlos Tramontina, que já leu mais de 40 livros durante a longa quarentena que vivemos e dá dicas imperdíveis de leitura para todos os gostos. As recomendações fazem parte também da Jornada de Biblioterapia, que acontece esta semana (veja abaixo).

Atualmente, devido à pandemia, as rodas de biblioterapia funcionam on line e, muitas vezes, segundo duas bibliotecárias, se tornam momentos de afago à pessoas que se sentem solitárias e cansadas. “Um bom exemplo é a roda com idosos, uma experiência de muitas trocas e aprendizados”, comenta Silvia Fortes. “Biblioterapia é abraçar com as palavras”, diz Katty Anne Nunes.

As duas têm capítulos no livro ‘Quintais da Biblioterapia: experiência na poética do cuidado’, uma obra organizada por Cristiana Seixas, e publicada pela Editora Cândido, onde relatam suas experiências. Em homenagem ao Dia Mundial do Livro, celebrado em 23 de abril, Ler Faz Bem explica o que é a Biblioterapia, como funciona, os diferentes tipos e gêneros literários que podem ser trabalhados. Confira!

O que significa a Biblioterapia?

Mas, afinal, o que é mesmo Biblioterapia? Se levarmos em consideração o significado literal da palavra, é o significado de terapia por meio dos livros, junção das palavras de origem grega: BIBLIO + THERAPY. Mas, na atualidade e, na prática, esse processo pode ser realizado com os mais variados materiais literários, embora, o mais comum de fato seja o livro. É um termo que tem se propagado ultimamente, mas seu uso e benefícios datam da Grécia Antiga.

É o que afirma Katty Anne Nunes, facilitadora de círculos de biblioterapia e bibliotecária da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas. “É fácil perceber se você já teve contato com a Biblioterapia, basta se perguntar se algum livro ou mesmo um pequeno texto já falou profundamente com você? Ou se você já teve uma experiência literária (livro, teatro, ouviu uma história) que mexeu com você de tal forma que após esse momento você não foi mais o mesmo? Se sim, você já teve contato com a Biblioterapia”, diz Katty Anne.

Para a bibliotecária Silvia Fortes, a Biblioterapia é o cuidado através dos livros. “A literatura por ela mesma, sem a utilização de artifícios didáticos, buscando o seu leitor, fazendo com que ele se sinta acolhido dentro de uma história”, explica. Para Sílvia, a Biblioterapia não é um remédio para curar doenças, mas um cuidado com o ser. “É apresentar ao outro um momento de reflexão, aguçando a vontade de se conhecer e de se auto-cuidar. É abraçar com palavras”, conclui Silvia.

Mas qual o gênero literário deve ser utilizado em uma roda de Biblioterapia? A resposta é: todos os gêneros literários! Particularmente, na maioria das rodas que apresento utilizo a Literatura Infantojuvenil, por ser um gênio do qual venho aperfeiçoando o conhecimento e envolvimento, percebendo a cada dia a qualidade das obras”, conta Silvia. 

Esse tipo de literatura, apesar de dita para as crianças, pode ser apresentada aos grupos de todas as idades, pois, na verdade são feitas para todas as infâncias, já que a criança interior de cada um permanece presente e esses livros através da profundidade das histórias e da beleza das ilustrações fazem com que haja um envolvimento independente de se ter cinco ou noventa anos”, conclui a biblioterapeuta.

Os tipos de Biblioterapia

A Biblioterapia não é uma atividade exclusiva dos bibliotecários e bibliotecárias, mas de vários profissionais que inserem a atividade, como psicólogos, psiquiatras, psicanalistas, professores, contadores de histórias, assistentes sociais, entre outros. “É um campo multi e interdisciplinar. Requer um debruçar sobre a temática e pede, especialmente, que você tenha obras que lhe tocaram, essas poderão também tocar o outro”, comenta Katty Anne Nunes.

Silvia explica que existem dois tipos de Biblioterapia: a clínica, que é aplicada por psicólogos, com o intuito de corrigir patologias em pessoas com problemas comportamentais, e a Biblioterapia do Desenvolvimento, que é utilizada por bibliotecários e também por profissionais de outras áreas, com a finalidade de oferecer a Literatura como suporte no desenvolvimento pessoal na prática de um autoconhecimento e autocuidado.

Para desenvolver a função de biblioterapeuta, é fundamental que o bibliotecário tenha uma escuta atenta e sensível, pois os participantes muitas vezes trazem para a roda suas angústias e o simples fato de ter alguém que o escute já ameniza bastante as suas aflições”, diz Silvia.

Onde aplicar a Biblioterapia?

Assim como o campo de atuação do bibliotecário tem sido cada vez mais amplo, os espaços para a realização das rodas de biblioterapia também, podendo o profissional adaptar a prática em seu ambiente de trabalho.  Katty Anne conta que trabalha a biblioterapia em vários contextos.

Voluntariamente, com alunos de Ensino Médio de uma escola da rede pública; na Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas, com encontros e uma podcast com leituras compartilhadas entre servidores; e também na Kuau Experiências Formativas, um empreendimento no qual Katty Anne oferece círculos de biblioterapia e oficinas para quem deseja conhecer mais do assunto.

Já a bibliotecária Silvia Fortes trabalha na biblioteca escolar e conta que lá, os encontros são semanais, divididos por turma e idades. “Para a seleção dos livros convém observar se existe a necessidade de trabalhar algum tema específico com o grupo, o gosto literário da turma. Os encontros costumam ser leves e muitas vezes divertidos. Algumas vezes após a leitura, são oferecidas atividades coletivas, como dramatização, esquetes e dinâmicas focadas no tema selecionado do dia”.

Carlos Tramontina dá dicas de leitura para todos os gostos

O jornalista Carlos Tramontina há leu mais de 40 livros durante a quarentena (Reprodução do Facebook)

O jornalista Carlos Tramontina chega a se emocionar ao indicar obras que o marcaram profundamente, como “O que ela sussurra”, romance de uma das autoras consideradas mais originais da literatura brasileira, Noemi Jaffe. Ou “O peso do pássaro morto”, de Aline Bei. “Uma surpresa de nova jovem escritora”, comenta ele, que é âncora de um dos telejornais da TV Globo.

Outra sugestão é “O leitor do trem das 6h27”, de Jean-Paul Didierlaurent. “Uma delícia de história, que encanta e surpreende”, diz Tramontina, ao confessar que recebeu a dica do ator Antônio Fagundes. “Não pararei de gritar”, a poesia contra o racismo e a opressão do poeta Carlos de Assumpção é outro pitaco, assim como “Pelão, a revolução pela música”, de Celso de Campos Jr.

“É um tributo a um dos maiores produtores musicais do país”, diz ele, que também é escritor e autor dos livros “Entrevista – Arte e história dos maiores apresentadores da TV Brasileira”, “A morada dos deuses – um repórter nas trilhas do Himalaia” e “Tietê – presente e futuro”.

Jornada da Biblioterapia

Quem está atrás de boas indicações de literatura para ajudar a lidar com dificuldades que só fizeram crescer durante a pandemia da Covid-19 e o isolamento social poderá encontrar muitas dicas na sexta edição da Jornada da Biblioterapia, que começa na segunda-feira (26) e termina na quinta (29). E o panorama atual chama a atenção.

Um dos convidados da Jornada, organizada pelo Observatório do Livro e da Leitura, é o neurocientista comportamental Maurício Brás, com MBA em Psicologia Positiva e radicado nos EUA. Ele fará uma demonstração ao vivo, com sofisticados aparelhos testados e utilizados pela Nasa, de como o cérebro humano reage diante da leitura de um livro diante de várias situações e estímulos.

A 6ª Jornada da Biblioterapia acontece sempre às 19 horas, em formato online e gratuito no Facebook e Youtube. Especialistas estarão na tela do computador, tablet ou celular, conversando sobre o papel dos livros e das leituras nos dias atuais. As vagas são limitadas e as inscrições podem ser feitas pelo link.

Com Assessorias

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