‘Sempre sofri bullying na infância porque era diferente’

Paranaense Anie Kesseli conta ao Vida & Ação como foi abandonar a escola aos 11 anos para se ver livre dos ataques de bullying

Hoje, aos 46 anos, Anie revela com exclusividade ao Vida & Ação como foi sofrer com o bullying (Foto: Acervo pessoal)
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Anie, aos 11 anos, sofria bullying por ser ruiva, alta, magra e dentuça (Foto: Acervo pessoal)
Anie, aos 11 anos, sofria bullying por ser ruiva, alta, magra e dentuça (Foto: Acervo pessoal)

Rolha de iodo, pudim de ferrugem, espiga de milho, Visconde de Sabugosa… Aos 11 anos de idade, a menina ruiva, magrela e dentuça da foto que ilustra este depoimento deixava a escola porque não aguentava a ‘zoação’ dos colegas. Na época, não se chamava bullying, mas a zombaria dos colegas contra aqueles com algum traço “diferente” era tão implacável quanto nesses tempos de redes sociais.

Anie Kesseli sofria calada. E passou três anos longe da escola, para tentar aplacar a ferida na alma que as piadas sem graça dos colegas lhe causavam. Hoje, aos 46 anos, a bela, madura e bem resolvida paranaense, mãe de Rebeca, de 11 anos, relata com exclusividade ao Vida & Ação como foi conviver com o bullying. “Hoje eu acho graça dos apelidos que me davam, mas naquela época foi muito doído pra mim”, conta. Confira o depoimento de Anie:

“Meu nome é Anie, tenho 46 anos, sou do litoral do Paraná e estou morando no Rio há 18 anos. Quando vejo ou leio relatos sobre bullying sempre me volta um filme de terror na minha cabeça sobre minha infância e adolescência. Naquele tempo não existia essa palavra BULLYING, mas a sensação terrível de sofrer com ele, ah, essa sempre existiu, não mudou!

Sempre sofri bullying na infância, pois eu era diferente das pessoas do meu lugar. Apesar de ser no Paraná, terra de imigrantes europeus, eu morava no litoral do estado, uma região povoada pela maioria descendente de índios carijós, que têm estatura pequena e são morenos de pele.

Hoje, aos 46 anos, Anie revela com exclusividade ao Vida & Ação como foi sofrer com o bullying (Foto: Acervo pessoal)
Hoje, aos 46 anos, Anie revela com exclusividade ao Vida & Ação como foi sofrer com o bullying (Foto: Acervo pessoal)

Querendo ou não, quando  somos crianças ou adolescentes tudo o que desejamos é nos encaixar em um grupo, fazer amigos, ter a nossa turminha da escola. Eu era completamente diferente deles no aspecto físico. Era alta, magra, ruiva, sardenta e – para fechar – dentuça.

Vivi verdadeiros momentos de horror na escola. Durante as aulas até era normal. Os ataques de bullying aconteciam mais na entrada e na saída da escola. E no recreio a coisa ficava pior. Me lembro de muitos recreios que passava trancada no banheiro, chorando.

Os apelidos eram os piores possíveis. Iam desde rolha de iodo, pudim de ferrugem e espiga de milho até ‘Visconde de Sabugosa’, aquele personagem do Sítio do Pica Pau Amarelo. A situação chegou a tal ponto que aos 11 anos, exatamente na idade dessa foto, de tanto chorar e meus pais, acompanhando meu drama, me tiraram da escola.

Na época, acho que era quarto ou quinto ano do Ensino Fundamental. Fiquei 3 anos sem ir para a escola, acreditem! Maluquice dos meus pais em permitir isso? Não sei. Só sei que eu, como mãe, hoje em dia, entenderia o sofrimento da minha filha também.  Hoje em dia, existem profissionais especializados nesse tipo de atendimento. Naquela época, acho que não.

Bem, três anos depois, retornei meus estudos, já uma adolescente, e com a cabeça melhor. Já admirava minha vasta cabeleira ruiva e o corpinho magrelo de criança já não existia. O apoio dos meus pais, da minha mãe, principalmente, foi fundamental. Ela fez o que achou o melhor para mim, e eu não a julgo.

Hoje em dia, tudo o que me levou a me odiar um dia, hoje eu amo – menos dentuça, pois isso eu arrumei com um aparelho odontológico usando muitos anos. Meu conselho é: Vamos olhar mais para os nossos filhos, prestar atenção nos mínimos detalhes. Às vezes, a criança não conta que sofre bullying, por vergonha etc. Mas os sinais, ah, esses dizem tudo!”.

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