Como as Olimpíadas mexem com os nossos sentimentos

Psicólogos analisam como esportes comovem a população e trazem sentimentos de solidariedade, além de despertar nossa brasilidade perdida

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Considerados o maior evento esportivo do planeta, os Jogos Olímpicos 2020 – que começaram nesta sexta-feira, 23 de julho, com um ano de atraso, em Tóquio – têm como principal objetivo incentivar uma competição leve e entreter pessoas de todos os continentes no mundo e, claro, a quebra de recordes e a socialização dos povos. Mas de que forma eventos como este, além Copas do Mundo, corridas, dentre outras modalidades, despertam o interesse e as emoções dos espectadores?

Para Eduardo Fraga, professor do curso de psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, inúmeros países se veem representados pelos seus atletas e isto cria um laço afetivo. “Tem um ideal, um campo de afeto e de sentimentos depositados nesses atletas, então quando um atleta de algum time ou seleção ganha um evento é como se uma comunidade tivesse ganhando também”. Segundo ele, há também o despertar da coletividade durante a competição.

Pensando no atual contexto pandêmico, Fraga faz uma reflexão. “Essa coletividade vale também com o número de mortes pela covid-19, nós esperamos que gere, embora nem sempre aconteça, esse sentimento de solidariedade, de dor por um sentimento que une a todos”. O especialista acredita que neste ano, a Olimpíada terá como tema muitas mensagens envolvendo a pandemia, solidariedade, o âmbito político e a fraternidade, sendo os atletas os representantes de tudo isto, aliado ao ideal do esporte, que transmite perseverança, luta e potência.

Para Leonardo Luiz, psicólogo e professor da pós-graduação da Mackenzie em Alphaville, nos jogos de um modo geral, o espectador se sente fazendo parte. “Somos a nação do futebol que se une em busca de um único objetivo em comum. E nessa situação pandêmica, momentos desportivos são momentos de união”, exemplifica. Segundo ele, a expectativa de vitória e conquista são uma das emoções despertadas nestas competições como a Olimpíada. “A felicidade se apresenta como uma marca de conquista mesmo que não seja no individual, pois neste momento o coletivo se faz mais presente”, afirma.

A possibilidade de viver a brasilidade nas Olímpiadas

Marcelo Alves dos Santos*

A possibilidade de viver a brasilidade, por este povo carente de figuras importantes, se fez presente durante muito tempo, principalmente, nas manhãs de domingo. As corridas de Fórmula 1 traziam um representante brasileiro que fazia questão de apresentar ao mundo o orgulho de sua nacionalidade, pois toda vez que vencia, erguia a bandeira brasileira. Estamos falando do nosso falecido herói, Airton Senna do Brasil.

Em jogos, sejam eles olímpicos ou mundiais, nossa representatividade coletiva se faz presente, ao vermos o time de futebol, ou mesmo, de vôlei vencer, assim como, todas as outras modalidades. As cores de seus uniformes, elevam as cores de nossa pátria, ao devido lugar de orgulho, ainda mais quando é alcançado o pódio. Isso, traz a brasilidade ao senso coletivo, algo novamente importante, para este povo carente que luta para deixar de lado, o que muitos pesquisadores deram o nome de “síndrome de vira-lata”.

A vida com tantos problemas sociais, somada ao momento pandêmico, traz adicionais para o sofrimento deste povo, que apesar de sua carência, é batalhador e trabalhador, independentemente das mais diversas dificuldades. Os merecedores de medalhas se espalham em meio à multidão, pois cada dia batalhado é um dia de um vencedor. Contudo, como não é possível levar a população ao pódio, nosso orgulho se faz presente e se torna representado, em nossos atletas olímpicos. Pois, choramos juntos cada medalha conquistada e, também, cada medalha perdida, trazendo a representatividade do senso de coletivismo, o verde e amarelo nos torna um só, nosso patriotismo se faz presente ao dizermos “o brasileiro não desiste nunca”.

A Identidade brasileira, o ser brasileiro (a) que é apresentado nesses momentos de competições mundiais, nos une, mesmo que por pouco tempo, na vontade de que sejamos melhores, de que sejamos reconhecidos, na esperança de vencermos, conjuntamente. No entanto, esta brasilidade poderia ser constante, mesmo fora destas competições, afinal nos unimos na torcida para vencermos os adversários, algo que poderíamos fazer também, para vencermos nosso maior adversário, o cotidiano individualista, que nos impede de subirmos ao pódio.

A edição desta Olímpiada, para a maioria dos países, se tornou sinônimo de superação, pois a pandemia levou não apenas a liberdade das pessoas, levou o toque, levou o abraço, levou a festividade tão presente em outras edições. Este momento nefasto da humanidade, a covid-19 também levou vidas. A terra do sol nascente, o Japão, sedia hoje esperança, resistência, perseverança e, principalmente, unicidade dos povos, apesar das competições. Não devemos nos esquecer que lutar é preciso, vencer é preciso, afinal “Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança à terra desce […]”. Tudo passará, só não poderá passar nossa torcida por tempos melhores.
Marcelo Alves dos Santos é doutor em Psicologia Social e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, no curso de Psicologia

Como as Olimpíadas de 2021 entrarão para a História?

Por Sérgio Ribeiro*

De uma forma ou outra, os Jogos Olímpicos sempre deixam algum tipo de legado. Desde os primeiros, na Antiguidade, eles eram capazes de promover uma trégua nas guerras tão comuns à época. Por sua vez, as Olímpiadas modernas também têm a sua trajetória, confundindo-se em muitos momentos com a própria história universal. Tendo a sua primeira edição de 1896, em Atenas, por iniciativa do Barão de Pierre de Coubertin, o maior espetáculo esportivo do planeta pode ser discutido sob diversos aspectos.

Contrariando o objetivo do congraçamento e união entre os povos, os XI Jogos Olímpicos, em 1936, na cidade de Berlim, ficou marcada pelo seu uso político, quando Hitler tentou fazer dele uma propaganda da superioridade racial e da estética nazista. Coube ao atleta negro norte-americano, Jesse Owens, com suas vitórias, silenciar o Führer. Ainda na Alemanha, em Munique, em 1972, as questões políticas também tomaram o primeiro plano da XX edição dos Jogos Olímpicos. Conhecido como o Massacre de Munique, a Vila Olímpica foi alvo de uma ação terrorista do grupo palestino Setembro Negro, em que 11 membros da delegação israelense foram mortos, entre atletas e comissão técnica.

Já os Jogos da XXII e XXIII Olimpíadas, Moscou e Los Angeles, respectivamente, ficaram marcados pelos boicotes liderados pelos EUA e URSS e seus aliados. Mais uma vez as diferenças políticas marcaram os jogos que deveriam ser uma referência de confraternização mundial. Quanto aos Jogos Olímpicos de Tóquio, realizados neste ano de 2021, certamente farão parte da antologia esportiva.

Adiado por um ano, por conta da pandemia do coronavírus, ele será disputado sob o receio da contaminação, a opinião pública e de especialistas divididos e tendo o comitê organizador e sua capacidade de garantir a segurança dos participantes sob suspeita. Será uma edição dos Jogos Olímpicos sem o tradicional desfile das delegações, a presença do público durante os eventos e a agitação de turistas das edições anteriores.

Contudo, pode ser essa a edição dos Jogos Olímpicos de Verão em que a resiliência, a esperança e a superação fiquem como sua maior marca, a despeito de todas as críticas e considerações possíveis. Em outras ocasiões, os inimigos estavam no mesmo palco ou boicotando-se mutuamente. Os adversários eram políticos e humanos. Desta vez, o inimigo a ser combatido é outro e, provavelmente, estes Jogos Olímpicos possam e, talvez devam, entrar para a História como o momento em que a humanidade se reuniu por uma causa comum.

Sérgio Ribeiro é professor de História da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

O xeque-mate no esporte gerado pela pandemia

Por Anderson Gurgel*

A pandemia ocasionou o atraso dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Além de preocupações com protestos e terrorismo, a covid-19 trouxe uma necessidade de implantar medidas sanitárias para que megaeventos possam ser realizados. Eventos como este já são complexos por si só, tendo em vista a logística envolvida, mas agora chegamos ao ponto de termos uma regulamentação até na forma como os atletas receberão suas medalhas e de que forma poderão comemorar suas vitórias.

Megaeventos, de modo geral, estão passando por uma crise em seu modelo e os próximos contratos terão de ser repensados, pois as marcas estão começando a perceber que tal modelo existente é problemático. Historicamente, os megaeventos esportivos, como Copa do Mundo e Olimpíadas, são o auge das grandes iniciativas de marketing esportivo, no entanto, esses grandes eventos vêm passando por muitas dificuldades em relação a estratégias. As ativações ficaram mais tímidas ao compararmos com a perspectiva inicial, agravadas, inclusive, pela covid-19.

Um exemplo de mudança de comportamento é a Toyota, que avisou que não vai fazer ativações nas Olimpíadas de Tóquio 2020, o que está conectado a um cenário extremamente distópico. Associamos ao marketing esportivo e a eventos esportivos a euforia e a empolgação, mas o contexto de pandemia e o consequente mau humor da opinião pública dificultou ainda mais o engajamento do público, fazendo com que as marcas acendam um alerta sobre os riscos envolvidos. Foi assim com a Copa América. É uma relação inversamente proporcional: quanto maior forem as hostilidades, as reclamações, os protestos, as críticas em redes sociais, menos as marcas ativarão suas ações durante o evento.

Importante salientar que o esporte é uma mídia e, por isso, ele pode ser usado de várias maneiras, inclusive para manifestações políticas. Ele ganhou uma nova dimensão com movimentos de atletas discutindo questões humanitárias, inclusive marcas passaram a se engajar. Portanto, é muito difícil para o Comitê Olímpico manter sua tradição de despolitizar o momento esportivo. Um novo capítulo está sendo firmado.

Os próximos megaeventos tendem a rejuvenescer. Isso está sendo discutido com as Olimpíadas de Tóquio. Esportes nesta edição como skate, escalada vertical, surfe e novas formas de basquete já são tentativas de rejuvenescer os jogos, de atrair um público mais jovem. Vemos um cenário de aumento de custos a cada edição, denúncias de corrupção, problemas envolvendo crises econômicas que se sucedem no mundo e que chegam ao auge da pandemia. O modelo esportivo atual precisa ser renovado.

Não podemos ignorar o fato de que os Jogos de Tóquio, de 2020 indo para 2021, são os primeiros após as Olimpíadas do Rio 2016 que, do ponto de vista de público, foi um sucesso muito grande, porém, teve um processo extremamente deprimente e infeliz de gestão posterior. A última Olimpíada ocorreu no contexto de impeachment do Governo Dilma, que passou por uma mudança radical que veio de lá para cá com Michel Temer e Jair Bolsonaro. O esporte deixou de ser uma política de estado prioritária, até deixou de existir o Ministério do Esporte, e isso comprometeu o projeto de longo prazo de fazer o Brasil uma potência olímpica.

*Anderson Gurgel é professor de Marketing Esportivo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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