Covid-19: com ações da Fiocruz, cobertura vacinal chegou a 91% na Maré

Mortalidade por Covid-19 na comunidade reduziu em 53%. Dados fazem parte de balanço da Fiocruz sobre ações durante a pandemia

Vacinação na Maré contra a Covid-19 atingiu 91% de cobertura com projeto da Fiocruz (Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil)
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A pandemia acentuou iniquidades, afetando principalmente indivíduos e populações vulneráveis. Diante disso, como dar respostas a essa população? Graças a ações realizadas pela Fundação Oswaldo Cruz e parceiros, a cobertura vacinal contra a Covid-19 chegou a 91% no Complexo do Alemão, sendo considerada uma das maiores do mundo. A mortalidade por Covid-19 na comunidade reduziu em 53% e o número de casos de Covid-19 notificados por semana aumentou 26% após o início dos projetos Conexão Saúde – De Olho na Covid, Vacina Maré e Coortes da Maré.

“A intervenção foi efetiva em aumentar a detecção de casos e reduzir o número de mortes e contou com alta adesão da população, a partir de estratégias efetivas de comunicação e engajamento”, comentou o pesquisador Fernando Bozza, do Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz), ao detalhar as intervenções feitas em favelas do Rio de Janeiro para o controle da pandemia.

O Conexão Saúde ofereceu testes rápidos e gratuitos para o diagnóstico da Covid-19 e disponibilizou o atendimento dos sintomáticos por telemedicina; apoio para isolamento seguro de pessoas com Covid-19 e ações de comunicação e articulação no território, além de produzir boletins. “O projeto representa um modelo integrado e participativo, de atenção e vigilância em saúde para o enfrentamento da pandemia, numa parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro, Redes da Maré, Conselho Comunitário de Manguinhos, Dados do Bem, SAS Brasil, União Rio e Fiocruz”, explicou.

Os dados foram apresentados durante um webinar para avaliar as principais atividades realizadas pela Fundação Oswaldo Cruz durante a pandemia do novo coronavírus. Presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima abriu o encontro lembrando que a Fundação atuou em diversas frentes e que essa visão abrangente e transdisciplinar foi extremamente enriquecedora e deve servir de modelo para outras emergências que venham a surgir. 

Nísia observou que o desenvolvimento de produtos como a vacina contra a Covid-19 (originalmente desenvolvida pela Universidade de Oxford e a biofarmacêutica Astrazeneca) foi fruto de maciços investimentos. “Não foi exatamente em tempo recorde, como comumente se diz. A vacina é resultado de uma história de investimentos em pesquisa visando incorporar novas tecnologias, que salvam vidas, ao âmbito dos sistemas de saúde”.

Vacinação na Maré foi uma das ações realizadas por projeto da Fiocruz (Foto: divulgação)

Saúde indígena: cobertura vacinal entre crianças ainda é baixa

A pesquisadora Ana Lucia Pontes, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), abordou as vulnerabilidades e estratégias de enfrentamento da pandemia. Ela fez um histórico da trajetória do campo da saúde indígena na Fiocruz desde que o então presidente da Fiocruz, Sergio Arouca, participou da 1ª Conferência Nacional de Proteção e Saúde do Índio, em 1986, até os dias de hoje.

Ana Lucia discorreu sobre a organização de barreiras sanitárias e ações de isolamento voluntário, as campanhas para distribuição de alimentos e outros insumos, a produção de materiais educativos, a valorização e retomada da produção, nos territórios indígenas, alimentos e medicinas tradicionais e traçou uma linha do tempo da pandemia entre os povos indígenas. 

Apesar dos avanços da mobilização, ainda há muito a ser feito. “A cobertura vacinal entre crianças é baixa, de cerca de 20%. Contando toda a população, o índice chega a 70%, inferior ao total nacional”.

Situação dos profissionais de saúde é precária

A intervenção da pesquisadora Maria Helena Machado, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), tratou da situação dos profissionais de saúde na pandemia. Ela afirmou que embora o SUS seja tido como um patrimônio do país, os seus trabalhadores não são vistos dessa maneira. 

“Esses trabalhadores estão desamparados, o que é inaceitável. Uma situação que já existia antes da pandemia e que com ela se agravou. Houve um crescimento expressivo da precarização do trabalho, com salários baixos, falta de estrutura e de equipamentos, equipes muito reduzidas e excesso de trabalho”, destacou. 

Ainda segundo Maria Helena, cerca de 25% desses profissionais têm comorbidades, o que os deixa ainda mais vulneráveis. “E grande parte tem dupla ou tripla jornada de trabalho. Eles estão numa pré-cidadania profissional”, comentou. Maria Helena disse que é urgente a construção de uma agenda positiva que inclua os direitos trabalhistas e previdenciários. “É fundamental recompor a força de trabalho e estabelecer um piso salarial, além de reconhecer a carreira do SUS”, ressaltou.

Observatório Covid Fiocruz: mais de 400 documentos

Foi destacado também o papel do Observatório Covid-19, criado pela Fiocruz logo no início da pandemia. O pesquisador e coordenador do Observatório, Carlos Machado, disse que o grupo, formado por cientistas de áreas diversas, foi idealizado em março de 2020 e logo no mês seguinte já estava produzindo informação e tornando-a disponível à sociedade. No total foram publicados cerca de 400 documentos, entre notas técnicas, boletins, cartilhas e informativos. E foram realizados mais de 80 eventos científicos. “Não é possível enfrentar emergências sem comunicação com a sociedade”, disse Machado.

“O Observatório Covid-19 contribuiu fortemente no conjunto das ações da Fiocruz, oferecendo análises de qualidade à sociedade e mantendo com esta uma relação de transparência na comunicação científica, assim como nossas redes de pesquisa clínica, assistência, educação, estudos sobre vacinas, ciências sociais e outras”, comentou a presidente da Fiocruz. 

O infectologista Júlio Croda apontou que o apagão de dados no Ministério da Saúde, que afetou o acompanhamento dos números da pandemia, foi de certa forma mitigado pelo bom trabalho feito pelo Observatório Covid-19 Fiocruz, que vem acompanhando toda semana o número de casos de SRAG e Covid-19. “O Observatório cumpriu bem esse papel e se tornou uma referência para a sociedade e para a imprensa, que passou a consumir os boletins publicados regularmente pelo grupo”. 

A dicotomia saúde x economia

Júlio Croda, que teve uma rápida passagem pelo Ministério da Saúde, avaliou que faltou uma melhor coordenação dos entes governamentais na condução do enfrentamento da pandemia. “A comunicação foi inadequada e a articulação com estados e municípios poderia ter sido muito melhor e mais eficiente. Infelizmente criou-se uma falsa dicotomia entre saúde e economia, o que ajudou a levar o Brasil a figurar entre os cinco países com excesso de óbitos”.

Para o infectologista, instituições como a Fiocruz e o Instituto Butantan cumpriram muito bem o seu papel e precisam continuar na liderança das respostas às emergências sanitárias. “No futuro teremos uma Covid-19 com menor letalidade. Mas é importante aprender com as lições desta pandemia, para que as respostas que serão dadas à frente sejam mais assertivas”. 

A pneumologista Margareth Dalcolmo saudou o reconhecimento, por parte da sociedade, que as instituições públicas da saúde e os pesquisadores brasileiros obtiveram com a pandemia, lembrando que a Fiocruz assumiu o protagonismo de informar e dar tanto as boas quanto as más notícias durante estes mais de dois anos de pandemia.

Dalcolmo, que se tornou uma das principais vozes da pandemia, representando a Fiocruz, disse esperar que o novo voluntariado que surgiu permaneça e se fortaleça. “Torço para que projetos como o Todos pela Saúde e o Unidos pela Saúde, que contaram com o apoio da iniciativa privada, tenham criado um embrião”, comentou durante o webinar, realizado justamente no Dia do Pneumologista (2 de junho).

Da Agência Fiocruz, com Redação

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