Pandemia da Covid-19 provoca redução no tratamento do HIV

Entre janeiro e maio de 2020, houve uma redução de 17% no número de pacientes que iniciaram a terapia antirretroviral (TARV)

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A pandemia por Covid-19 vem impactando, desde o início do ano, nos processos de diagnóstico e tratamento às pessoas com HIV.  Entre janeiro e maio de 2020, houve uma redução de 17% no número de pacientes que iniciaram a terapia antirretroviral (TARV), em comparação com o mesmo período em 2019. Com a sobrecarga do sistema de saúde para atendimento às vítimas de coronavírus, houve uma redução expressiva na testagem de muitos casos.

Já o Ministério da Saúde informou que o enfrentamento à doença não parou durante a pandemia da Covid-19 e que expandiu a estratégia de dispensação ampliada de antirretrovirais (ARV) de 30 para 60 ou até 90 dias. Hoje, 77% dos pacientes em tratamento tem dispensação para 60 e 90 dias, em 2019 eram 48%.

Além disso, o uso de auto-testes foi ampliado com o objetivo de reduzir o impacto na identificação de casos de HIV por conta da pandemia. A pasta também garantiu a oferta de teste anti-HIV para pacientes internados com síndrome respiratória. Neste ano, até outubro, o Ministério da Saúde distribuiu 7,3 milhões de testes rápidos de HIV, 332 milhões de preservativos masculinos e 219 milhões femininos. 

Queda nos casos de infecção ou subnotificação?

O Ministério da Saúde informou nesta terça-feira (1º/12), Dia Mundial de Combate à Aids, que o Brasil tem registrado queda no número de casos de infecção pelo vírus HIV nos últimos anos. Desde 2012, observa-se uma diminuição na taxa de detecção da doença no país, que passou de 21,9/100 mil habitantes em 2012 para 17,8/100 mil habitantes em 2019, representando um decréscimo de 18,7%.

A taxa de mortalidade por Aids apresentou queda de 17,1% nos últimos cinco anos. Em 2015, foram registrados 12.667 óbitos pela doença e em 2019 foram 10.565. A pasta ressalta que ações como a testagem para a doença e o início imediato do tratamento, em caso de diagnóstico positivo, são fundamentais para a redução do número de casos e óbitos. 

De acordo com o Boletim Epidemiológico de HIV e AIDS, atualmente, cerca de 920 mil pessoas vivem com HIV no Brasil.no Brasil. Dessas, 89% foram diagnosticadas, 77% fazem tratamento com antirretroviral e 94% das pessoas em tratamento não transmitem o HIV por via sexual por terem atingido carga viral indetectável. Em 2020, até outubro, cerca de 642 mil pessoas estavam em tratamento antirretroviral. Em 2018 eram 593.594 pessoas em tratamento. 

No Brasil, em 2019, foram diagnosticados 41.919 novos casos de HIV e 37.308 casos de Aids. O Ministério da Saúde estima que cerca de 10 mil casos de Aids foram evitados no país, no período de 2015 a 2019. A maior concentração de casos de Aids está entre os jovens, de 25 a 39 anos, de ambos os sexos, com 492,8 mil registros. Os casos nessa faixa etária correspondem a 52,4% dos casos do sexo masculino e, entre as mulheres, a 48,4% do total de casos registrados. 

Transmissão de mãe para filho aumenta 21,7%

Em um período de 10 anos, houve um aumento de 21,7% na taxa de detecção de HIV em gestantes que pode ser explicado, em parte, pela ampliação do diagnóstico no pré-natal e a melhoria da vigilância na prevenção da transmissão vertical do HIV. Em 2019 foram identificadas 8.312 gestantes infectadas com HIV no Brasil. O maior número de gestantes infectadas com HIV (27,6%) está entre jovens de 20 a 24 anos. 

De 2015 a 2019, houve redução de 22% na taxa de detecção de Aids em menores de 5 anos. Passando de 2,4 em 2015 (348 casos) para 1,9 casos (270 casos) por 100 mil habitantes em 2019. A taxa de detecção de Aids em menores de 5 anos tem sido utilizada como indicador para o monitoramento da transmissão vertical do HIV, quando a transmissão acontece durante a gestação, o parto ou amamentação. 

O Ministério da Saúde atualizou o protocolo para prevenção de transmissão vertical do HIV, ou seja, quando é passado de mãe para filho. O Brasil é signatário do compromisso mundial de eliminar a transmissão vertical do HIV e optou por adotar uma estratégia gradativa de certificação de municípios.

A eliminação da transmissão vertical do HIV, assim como a redução da sífilis e da hepatite B, é uma das seis prioridades do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI) da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.

A certificação possibilita a verificação da qualidade da assistência ao pré-natal, do parto, puerpério e acompanhamento da criança e do fortalecimento das intervenções preventivas. 

Confira a íntegra do Boletim Epidemiológico 2020 – HIV/Aids. 

Dezembro Vermelho: campanha alerta para testagem

Dia Mundial de Combate à Aids dá início ao Dezembro Vermelho, campanha para conscientizar a população para as medidas de prevenção, assistência e direitos da pessoa com HIV. Com o slogan “HIV/Aids. Faça o teste. Se der positivo, inicie o tratamento”, o Ministério da Saúde lançou a campanha de prevenção, em celebração à data. O objetivo é incentivar a busca pelo diagnóstico e tratamento da doença, reforçando que a camisinha é a forma mais fácil e simples de se prevenir contra o HIV.

Caso não tenha utilizado camisinha, é de extrema importância realizar o teste de HIV, gratuito no Sistema Único de Saúde. Em caso de diagnóstico positivo, a orientação é iniciar o tratamento o mais rápido possível para evitar o adoecimento por Aids. Com o tratamento adequado, o vírus HIV fica indetectável, ou seja, não pode ser transmitido.  A campanha terá filme para TV, peças de mídia, internet e mídias sociais, cartazes e spot para rádio. 

O secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, ressaltou o esforço do Sistema Único de Saúde (SUS) no tratamento e no diagnóstico da doença e destacou que as ações não param mesmo durante a pandemia da Covid-19. “Garantimos tratamento mesmo em época pandêmica. Não faltou medicação, testes rápidos de HIV ou preservativos. Garantimos a contínua dispensação de medicamentos para o tratamento desse paciente”. 

Na ocasião, o diretor do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, Gerson Pereira, reforçou os ganhos do diagnóstico precoce da doença. “Em 2019, cerca de 135 mil brasileiros não conheciam seu diagnóstico. Hoje esse número reduziu a menos de 100 mil. Isso mostra que estamos buscando cada vez mais o diagnóstico”. 

Gerson destacou ainda a redução da mortalidade por Aids e a redução vertical não apenas do HIV, mas também da sífilis e das hepatites virais, ressaltando a importância da testagem. “Em 1995 as pessoas morriam em 5 meses, nós demorávamos um mês para ter o resultado do teste de Aids. Hoje o resultado sai em 15 minutos e a sobrevida de um paciente é de uma pessoa normal, desde que faça o tratamento”, afirmou o diretor. 

A representante da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde OPAS/OMS no Brasil, Socorro Gross, parabenizou o governo brasileiro que é referência nos avanços e na acessibilidade ao tratamento da doença. “O Brasil tomou a decisão certeira de ter um tratamento e um sistema único de saúde de forma gratuita para todas as pessoas. Além disso, avançou em testes enquanto havia países em que se debatia se podia ou não ofertar um tratamento para suas populações. O Brasil foi referência com os cientistas e fez história em Aids junto ao SUS”, disse. 

Veja a apresentação do lançamento da Campanha.

Diagnóstico precoce é fundamental, garante infectologista

Victor Bertollo, médico infectologista do Hospital Anchieta de Brasília, explica que a detecção precoce é fundamental, pois pode evitar que o paciente evolua para o estágio de imunodeficiência, ou seja, para a Aids propriamente dita. “Descobrir o HIV cedo muda muito a perspectiva e a qualidade de vida desses indivíduos. Aqueles infectados pelo HIV podem não desenvolver aids (imunodeficiência) caso sejam tratados de maneira precoce”, ressalta o médico.

O especialista reforça, também, os cuidados para evitar a contaminação pelo vírus. “É muito importante termos em mente que, hoje em dia, a Aids é uma doença completamente evitável, por meio de medidas como uso de preservativo e cuidados com relação à transfusão de sangue, o não compartilhamento de agulhas e seringas, e entre outras”, pontua.

Bertollo acrescenta que o tratamento para o HIV é muito eficaz. “É possível tornar a carga viral no sangue indetectável e, dessa forma, preservar a imunidade do indivíduo, mantendo uma qualidade de vida compatível com o restante da população”, diz.

Outra grande vantagem do tratamento é que o risco de uma pessoa com carga viral indetectável transmitir o vírus para outra é praticamente zero, então ele não só protege o indivíduo HIV positivo de complicações e infecções oportunistas, como também evita a transmissão da doença, sendo parte de um conjunto de intervenções capaz de reduzir a ocorrência da Aids no país e no mundo”, conclui.

Com Assessorias

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