Fumo e álcool: um perigo para o câncer de cabeça e pescoço

Inca lança campanha de conscientização no Julho Verde, que foca nos cânceres de boca, garganta e tireoide. Especialistas detalham tipos de câncer

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Assim como ocorre com o Outubro Rosa e o Novembro Azul, o mês de julho ganhou a coloração verde para levar informação e conscientização à população sobre a importância do diagnóstico precoce para aumentar as chances de cura. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil registra cerca de 41 mil novos casos de câncer de cabeça e pescoço a cada ano. Dentre esse conjunto de doenças, as mais comuns são os tumores de boca, garganta e tireoide.

Hoje, cerca de 60% dos casos são descobertos tardiamente, aumentando as possibilidades de sequelas no paciente e diminuindo as possibilidades de cura. Para mudar essa realidade, há oito anos, a campanha Julho Verde foi criada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, buscando conscientizar sobre a doença e esclarecer sobre prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação.

No Brasil, os dados referentes ao diagnóstico de cânceres de cabeça e pescoço, com exceção da tireóide, são alarmantes. Em média, 76% dos casos só são diagnosticados em estágio avançado, o que dificulta o tratamento, além de elevar a taxa de mortalidade. Para enfatizar as maneiras de mudar esse cenário, o Inca promove campanha de conscientização sobre os diversos tipos de cânceres de cabeça e pescoço, principalmente os relacionados ao consumo de álcool e de tabaco, durante o mês de julho.

Em 2019, segundo dados do Inca, foram 20.722 mortes por câncer de cabeça e pescoço. O cirurgião Fernando Dias, chefe da Seção de Cabeça e Pescoço do Inca, explica que o alto índice de mortalidade é, especialmente, devido aos pacientes chegarem para o tratamento já com a doença avançada. Quando o diagnóstico é realizado na fase inicial, o paciente tem, em média, 80% de sobreviver. “Uma das recomendações para obter o diagnóstico precoce é consultar periodicamente um dentista, profissional que pode identificar lesões em estágios iniciais na cavidade oral”, ressalta.

Álcool e cigarro: risco 20 vezes maior

Murilo Neves, médico especialista em cirurgia de Cabeça e Pescoço pela Unifesp

Murilo Neves, médico especialista em cirurgia de Cabeça e Pescoço pela Unifesp, afirma que esses tipos de câncer (boca, garganta e tireoide) são preveníveis, uma vez que estão ligados ao estilo de vida. Tabagismo, etilismo e infecção pelo Papilomavírus (HPV) são os motivos mais comuns para o surgimento dessas enfermidades.

O consumo de álcool e o tabagismo são grandes fatores de risco para o câncer de cabeça e pescoço. O hábito de beber e fumar pode multiplicar em até 20 vezes a possibilidade de uma pessoa saudável desenvolver a doença. Contudo, a infecção pelo HPV tem contribuído com o aumento na incidência desse tipo de tumor nos últimos anos”, elucida.

Os cânceres de cabeça e pescoço englobam tumores da cavidade oral, faringe, laringe e cavidade nasal. Esses tipos de cânceres ocorrem predominantemente em homens acima de 40 anos, como destaca a coordenadora de Prevenção e Vigilância do Inca, Liz Almeida. Ela afirma também que o tabagismo e o excesso de álcool são grandes fatores de risco.

O cigarro e a bebida alcoólica são responsáveis por 70% dos casos dessa neoplasia. Por isso, a principal forma de prevenção é evitar o consumo de álcool e produtos do tabaco. Além disso, proteger os lábios do sol com o uso do protetor solar, é muito importante. A infecção pelo HPV é outro fator de risco para esse tipo de câncer. Conhecer e ficar em alerta aos sinais e sintomas também faz toda diferença na detecção precoce da doença e, consequentemente, no melhor resultado do tratamento”, destaca Liz.

 

Dentre as medidas de prevenção, a médica Luzia Abrão, cirurgiã de cabeça e pescoço do Hospital Icaraí, em Niterói (RJ), recomenda não fumar, não consumir bebida alcoólica, a vacinação contra HPV, a utilização de protetor solar e cuidados com a exposição solar, além da manutenção da higiene bucal e da rotina de uma alimentação saudável.

Os tipos mais frequentes

Luzia Abraão explica que o câncer nessas regiões são tumores malignos que se manifestam na cavidade oral, nariz, seios da face, faringe, laringe, glândulas salivares, tireoide, vasos, músculos, nervos e linfonodos do pescoço, correspondendo a 3% de todos os tipos de câncer.

O tipo mais frequente é o de boca, que representa 40% dos casos. Na faringe, corresponde a 15% e, na laringe, a 25 %. E o restante, nos demais sítios. “O tipo histológico mais frequente é o carcinoma epidermóide (espinocelular/escamoso), presente em mais de 90% dos casos”, relata.

Murilo Neves, médico especialista em cirurgia de Cabeça e Pescoço pela Unifesp, conta que o tumor de boca é o quinto mais comum dentre todos os cânceres no Brasil e se caracteriza pelo surgimento de machucados na mucosa que nunca cicatrizam completamente.

No início as pessoas confundem com aftas, mas a lesão tem aspecto variável. Pode ser uma placa mais elevada do que a mucosa normal, pode ter um buraco no centro como as aftas, ser branca ou mais avermelhada. Raramente sangram e só doem quando estão maiores. A lateral da língua e a parte inferior, atrás dos dentes, são os locais mais frequentes em que essas lesões surgem”, detalha.

Outro tumor de cabeça e pescoço muito comum é o câncer de garganta, que apresenta lesões difíceis de serem visualizadas. “Por isso, a atenção fica nos sintomas – em especial quando duram mais de sete dias”, diz Dr. Murilo. Dentre os principais indícios de que algo não vai bem estão as alterações de voz, como rouquidão, e dificuldade ou dor para engolir, além da sensação de algo preso no fundo da garganta. Esse tipo de tumor pode causar ínguas na lateral do pescoço e causa muita dor desde os primeiros sinais.

Já o câncer de tireoide tem se tornado mais frequente nos últimos anos e isso, segundo o médico, pode ser explicado por fatores como o aumento dos casos de obesidade e de exames radiológicos, como a tomografia. Dr. Murilo também ressalta a importância da realização de exames de rotina. Como este é um tumor assintomático, muitas vezes ele é descoberto na realização de ultrassonografias da tireoide. “Mas apenas 15% dos nódulos diagnosticados são malignos”, tranquiliza, lembrando que o tratamento inclui cirurgia e iodoterapia.

Imunoterapia no câncer de cabeça e pescoço

De acordo com Luzia Abrão, o principal avanço no tratamento do câncer nos últimos anos é a imunoterapia, com novos imunoterápicos sendo lançados recentemente. Nem todos os casos de câncer de cabeça e pescoço são cirúrgicos, e o modelo de tratamento é definido pelo estadiamento, localização e tipo histológico da doença.

As principais opções terapêuticas para pacientes com câncer de cabeça e pescoço incluem cirurgia, radioterapia, quimioterapia e terapia-alvo. Em muitas situações, ocorre a combinação deles. Na maioria dos casos da doença é empregada a cirurgia acompanhada ou não de radioterapia. O tratamento segue diretrizes mundiais e nacionais oncológicas”, salienta Dra Luzia.

Quanto mais precoce o diagnóstico, maiores as chances de cura. O tratamento inclui cirurgia, quimio e radioterapia. Diversos casos de carcinoma papilífero de tireóide são tratados semanalmente de forma cirúrgica no Hospital Icaraí. “Além disso, pacientes com tumores malignos de parótida, língua e laringe são operados neste hospital e são curados de suas patologias”, conclui.

Inca apresenta desafios e perspectivas da doença

Um panorama epidemiológico do Brasil sobre câncer da cavidade oral e orofaringe no momento do diagnóstico é apresentado em evento online promovido pelo Inca para marcar o Julho Verde – veja aqui. Para a diretora-geral do Inca, Ana Cristina Pinho, o Instituto tem um importante papel para incentivar a prevenção e o controle de todos os tipos de canceres. “Sabemos que muitos casos de tumores podem ser evitados com informação e ações estratégicas preventivas. Por isso, o webinar do Inca tem o objetivo de alertar sobre atos do cotidiano, que podem vir a evitar uma doença grave no futuro”, conclui.

Especialistas analisam e debatem informações detalhadas extraídas dos Registros Hospitalares de Câncer (RHC). Planejamentos e estratégias necessárias, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), para o controle do câncer de cabeça e pescoço no País também serão discutidos. A Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede do Inca mostra a relevância da promoção de ações de capacitação dos profissionais da atenção básica de saúde para atuarem na prevenção e diagnóstico precoce dessas neoplasias. 

Com Assessorias (atualizado em 15/7/21)

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