Infodemia: fake news espalha e mata mais que a Covid-19

7 em cada 10 brasileiros, ou 110 milhões de pessoas, acreditam em pelo menos uma notícia falsa sobre a pandemia. Seis em cada 10 internautas já recebeu uma fake news no WhatsApp. Nível de confiança em conselhos de políticos eleitos é baixo

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Quando o assunto é saúde, as fake news possuem consequências mais sérias, podendo colocar em risco a vida e bem estar da população, especialmente quando falamos sobre o uso de medicamentos sem prescrição médica. Com o início da pandemia, essas notícias falsas se espalharam tão rápido quanto a doença, preocupando profissionais da saúde e entidades.

A Organização das Nações Unidas (ONU) considera as fake news sobre o novo coronavírus “mais mortais que qualquer outra desinformação”. O assunto se tornou tão sério e grave que em fevereiro a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que não estava apenas combatendo o SARS CoV-2, o vírus que causa a Covid-19, mas também uma “infodemia“.

O neologismo foi criado para definir “uma superabundância de informações – algumas corretas e outras não -, o que dificulta que as pessoas encontrem fontes sérias e orientações confiáveis quando precisam realmente”. É uma junção dos termos “informação” e “pandemia” para descrever o fenômeno da pandemia de informações excessivas referentes à Covid-19.

A sobrecarga de informações provoca ansiedade. Se as pessoas obtiverem informações erradas de fontes não confiáveis, podemos ter problemas em retardar a propagação do vírus, alertam os especialistas.

No Brasil, a situação não é diferente. De acordo com um estudo realizado pela Avaaz, cerca de 110 milhões de pessoas acreditam em pelo menos uma notícia falsa sobre a pandemia, no Brasil. Esse número alarmante corresponde a sete em cada dez internautas brasileiros que acreditaram em pelo menos uma notícia falsa sobre a Covid-19.

Pesquisadores da Ensp (Escola Nacional de Saúde Pública), da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), levantaram denúncias de notícias falsas encaminhadas para o aplicativo “Eu Fiscalizo”. De março a abril, o crescimento foi de 65% e de abril a maio, 24,6%. Ou seja, após a chegada do coronavírus ao Brasil, as fake news relacionadas crescem junto com a doença.

Bolsonaro: desconfiança sobe para 64%

Um mapeamento feito pelo Instituto Reuters e pela Universidade de Oxford aponta que 70% das informações divulgadas sobre a Covid-19 tinham como fonte principal influenciadores digitais, incluindo políticos, celebridades e figuras públicas e redes sociais. Desse total, 20% das informações eram fake news.

Enquanto a Europa começa a reabrir suas portas, a disseminação da Covid-19 não mostra sinais de desaceleração na América Latina. Agora, um novo relatório descobriu que, quando se trata de obter informação sobre a pandemia, grande parte da região confia mais em um membro da família do que no presidente ou políticos, no Chile e na Argentina a desconfiança se estende até ao Ministério da Saúde.

relatório, publicado pela Sherlock Communications em colaboração com a plataforma de pesquisa Toluna Insights, entrevistou mais de 3.000 pessoas em seis países da América Latina. O objetivo do estudo é entender melhor como as pessoas no Brasil, México, Argentina, Colômbia, Peru e Chile estão consumindo informações sobre o novo coronavírus e quais veículos de mídia eles consideram credíveis.

Quando perguntados em quem confiam para obter conselhos sobre a pandemia atual, os entrevistados demonstraram maior confiança em profissionais médicos, cientistas e universidades. Dois terços dos entrevistados, no entanto, disseram ter pouca ou nenhuma confiança nos políticos, enquanto mais de 40% dos entrevistados expressaram desconfiança semelhante em seu presidente. No Brasil e no Chile, esse número aumentou para 64% em relação aos líderes Jair Bolsonaro e Sebastián Piñera.

Embora os Ministérios da Saúde em geral tenham se saído melhor, 45% dos entrevistados no Chile e 19% dos argentinos disseram desconfiar dos conselhos do Ministério da Saúde. Entretanto, apenas 18% e 16% disseram ter pouca ou nenhuma confiança em um membro da família. No Brasil, um país que atualmente não tem um ministro da Saúde, depois de passar por dois nos últimos três meses, quase 80% dos brasileiros disseram confiar no ministério responsável pelo bem-estar.

Quando se trata de obter informações sobre a pandemia na América Latina, o estudo mostra claramente que as pessoas estão mais dispostas a confiar em profissionais médicos e acadêmicos do que em seus líderes eleitos, políticos e, em alguns casos, ministérios da saúde. Apesar dessa falta de confiança no governo, 56% dos entrevistados disseram que foram os conselhos do governo que os convenceram a praticar o distanciamento social – embora os resultados também sugerem que mais de 10 milhões de brasileiros não o estão praticando.

Com o novo coronavírus já infectando mais de um milhão de pessoas na região, o número de mortos ultrapassando 50.000, o pico previsto ainda um pouco distante, e mensagens mistas vindas dos diferentes governos, os cidadãos estão sendo forçados a questionar quais fontes são confiáveis para obter notícias e conselhos.

E parece que, a internet vence. Mais de 80% dos entrevistados disseram confiar em notícias on-line e sites oficiais, enquanto os veículos de mídia tradicionais, como TV e rádio, são confiáveis para apenas 62%. 58% dos entrevistados confiam nos jornais, enquanto quase 50% dos entrevistados disseram confiar no que lêem em mídias sociais como Facebook, Instagram, WhatsApp e Twitter.

A internet é a vencedora clara da mídia tradicional quando se trata de ser considerada uma fonte de notícias credível na América Latina”, disse Patrick O’Neill, Managing Partner da Sherlock Communications. “O que é preocupante, porém, é que um em cada dois entrevistados confia ou até confia plenamente no que lê nas mídias sociais. Na Colômbia, por exemplo, a pesquisa mostra 19% dos entrevistados ‘totalmente confiam’ no que lêem no Facebook. ”

Outras principais conclusões

  • Cerca de 82% dos chilenos e 72% dos brasileiros não confiam nos políticos para dar conselhos confiáveis sobre a pandemia.
  • Os peruanos confiam mais em seu presidente (79%) do que em um membro da família (63%).
  • No Brasil, 18% dos brasileiros dizem ter pouca ou nenhuma confiança em sua família,
  • A Internet é considerada mais confiável nos seis países

Redes sociais são epicentro de contágio da infodemia

Um  estudo da Avaaz mostra que as redes sociais são o epicentro de contágio de uma verdadeira infodemia de coronavírus. No Brasil, o Whatsapp é líder em distribuição de fake news: 6 em cada 10 internautas receberam fake news sobre a pandemia pelo aplicativo de mensagens. O Facebook aparece em segundo lugar, 5 em cada 10 internautas viram informações falsas sobre a doença na rede social.

O número de pessoas que acreditaram nas fake news que receberam também é alarmante: 110 milhões ou 7 em cada 10 internautas brasileiros acreditaram em pelo menos uma notícia falsa sobre a Covid-19.

Para Laura Moraes, coordenadora de campanhas da Avaaz, essa crença afeta as decisões que as pessoas tomam para se proteger. “Isso pode levar cada indivíduo a contagiar centenas de pessoas com o coronavírus, anulando os esforços de médicos e do poder público”, alerta.

Os estudos mostram que:

  • 9  em cada 10 internautas brasileiros viram pelo menos uma fake news sobre o coronavírus, o que equivale a 141 milhões de pessoas
  • 8 em 10 viram 2 ou mais fake news sobre o coronavírus
  • 6 em 10 viram 3 ou mais fake news sobre o coronavírus
  • 6% viram todas as 7 fake news sobre o coronavírus (equivalente a 9 milhões de pessoas)

Resumo da investigação da Avaaz sobre notícias falsas

A pesquisa da Avaaz mostra que a maioria dos internautas brasileiros realmente quer receber correções para as fake news: 80% disseram que gostariam de receber informações corrigidas por verificadores de fatos quando forem expostos a fake news. Entre os que usam o Facebook como a principal fonte de informação sobre a pandemia, esse número chega a 83%.

Apesar de esforços recentes anunciados pelas redes sociais para combater a desinformação sobre o coronavírus, a pesquisa mostra que 57% dos internautas brasileiros não viram nenhuma correção ou mensagem de alerta sobre conteúdo falso ou enganoso no Facebook. Apenas 34% dos entrevistados afirmaram ter visto tais correções.

Os entrevistados pela pesquisa da Avaaz receberam nove afirmações sobre a Covid-19, sete delas eram afirmações já classificadas como falsas ou enganosas por checadores de fatos independentes. Essas afirmações foram construídas com base em fake news populares que os investigadores da Avaaz encontraram circulando nas redes sociais.

Os resultados mostram que o alcance das informações falsas sobre o coronavírus no Brasil é enorme. Das sete afirmações falsas apresentadas aos entrevistados, as três mais acreditadas foram:

O novo coronavírus foi criado em um laboratório secreto na China: 38% disse ser verdadeira ou provavelmente verdadeira.

Tomar grandes doses de vitamina C pode retardar ou até impedir a infecção do novo coronavírus: 36% disse ser verdadeira ou provavelmente verdadeira.

Especialistas em saúde recomendam beber água regularmente pois isso levará o novo coronavírus para seu estômago, onde a acidez irá matá-lo: 30% disseram ser verdadeira ou provavelmente verdadeira.

Brasileiros são mais crédulos que italianos e americanos

A pesquisa também foi conduzida nos Estados Unidos e na Itália, que estão entre as regiões mais atingidas pela pandemia da Covid-19. Na comparação entre os três países, os usuários de internet brasileiros acreditam mais nas informações falsas que os italianos e norte-americanos:

73% dos brasileiros entrevistados acreditaram em pelo menos uma fake news, seguidos por 65% dos norte-americanos e 59% dos italianos; 46% dos brasileiros entrevistados acreditam que amigos e familiares foram vítimas de fake news, seguidos por 41% dos italianos e 26% dos norte-americanos.

As 7 afirmações falsas selecionadas

  1. O novo coronavírus foi criado em um laboratório secreto na China
  2. Tomar grandes doses de vitamina C pode retardar ou até impedir a infecção do novo coronavírus
  3. Em apenas um dia, centenas de crianças morreram vítimas do novo coronavírus na Itália
  4. Prender a respiração por 10 segundos todas as manhãs ajuda a identificar se você está infectado com o Covid-19
  5. Especialistas em saúde recomendam beber água regularmente pois isso levará o novo coronavírus para seu estômago, onde a acidez irá matá-lo
  6. O novo coronavírus é como qualquer gripe, tem os mesmos sintomas e uma taxa de mortalidade igual ou inferior à gripe comum
  7. A inalação de ar ou vapor quente pode matar o novo coronavirus

As 2 afirmações verdadeiras selecionadas

1. Distanciamento social é uma medida eficiente para prevenir a disseminação do novo coronavírus

2. Lavar as mãos com sabão regularmente e meticulosamente mata o novo coronavírus

O estudo completo pode ser encontrado no Hub de relatórios da Avaaz. O conjunto de dados do estudo pode ser conferido aqui e aqui.

Sobre o trabalho da Avaaz

A Avaaz é um movimento global democrático, com mais de 50 milhões de membros em todo o mundo. Todos os recursos que financiam a organização são provenientes de pequenas doações individuais. Esse estudo faz parte de uma campanha contínua da Avaaz para proteger a sociedade dos perigos da desinformação e defender a liberdade de expressão nas redes sociais.

O trabalho da Avaaz no combate à desinformação se baseia em uma profunda crença de que as notícias falsas que proliferam nas redes sociais representam uma grave ameaça à democracia, à saúde e ao bem-estar das nossas comunidades e à segurança das pessoas mais vulneráveis.

A Avaaz divulga abertamente as suas pesquisas sobre a desinformação para que elas possam servir de alerta e educar as plataformas de redes sociais, os legisladores e o público em geral, além de ajudar a sociedade a avançar em soluções inteligentes para defender a integridade das nossas eleições e das nossas democracias.

Os esforços e as investigações da Avaaz já:

· Apoiaram a aprovação do Marco Civil da Internet em 2014, garantindo a neutralidade da rede para todos os cidadãos brasileiros;
· Defenderam a educação para todos no Brasil – essencial para que as pessoas possam se informar e expressar com qualidade – em 2014;
· Colaborou para garantir que meio bilhão de cidadãos europeus terão acesso a uma internet aberta e democrática garantida por lei;
· Expuseram uma enorme rede de desinformação durante as eleições no Brasil em 2018;
· Desmascaram redes brasileiras de distribuição da desinformação sobre vacinas para obtenção de lucro com venda de curas “alternativas” em 2019;
· Desmascararam grandes redes de desinformação com mais de meio bilhão de visualizações antes das eleições da União Europeia, em 2019;
· Revelaram que o YouTube estava transmitindo desinformação sobre o clima para milhões de usuários em janeiro deste ano;
· Lançaram um estudo mostrando que milhões de pessoas foram expostas à desinformação sobre o coronavírus, o que levou o Facebook a alertar usuários que interagiram com fake news sobre a COVID-19 no mês passado;
· Revelaram que as notícias políticas falsas no Facebook na corrida eleitoral de 2020 nos Estados Unidos já ultrapassam mais de 150 milhões de visualizações;

Uma pesquisa apontou que 21 estados brasileiros estão propondo projetos de multa para quem divulgar essas informações erradas. Fora do Brasil, profissionais de saúde de 17 países assinaram carta contra as fake news.

Para 94% dos jovens, grupos de whatsapp contribuem para fake news

Em tempos de temor por conta da pandemia de coronavírus, a desinformação pode ser uma das piores inimigas da população. Não existe vacina com eficácia comprovada, o vírus não morre a 26°C, banho frio ou chá quente não combatem a Covid-19 e não há risco de se comprar produtos chineses “infectados” com o coronavírus. Ou seja, se você acreditou em alguma dessas histórias, você caiu em fake news.

A rede social de opinião e debate QUINTO quis saber do seu público mais fiel, os jovens, o que pensam sobre fake news. É possível observar que a maioria dos usuários entre 12 a 24 anos consideram que os aplicativos de mensagem representam um grande perigo no que se refere à disseminação de conteúdo falso.

Para nada menos que 94% dos jovens que votam no Quinto, os grupos de WhatsApp contribuem sim para a propagação de notícias falsas. A crença nesse perigo é maior entre as mulheres: 96%. Enquanto os homens totalizam 91%. A preocupação é tão grande que o próprio WhatsApp lançou um site para combater as fake news que envolvem o novo coronavírus.

Outro dado obtido é que 84% dos jovens ouvidos checam as notícias antes de repassar no app de mensagens.  O resultado está pautado na opinião de mais de 1.500 pessoas e se mostra bastante homogêneo, já que há pouca variação entre os sexos e as faixas etárias (de 12 a 17 e de 18 a 24 anos).

Com Assessorias
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