Jovens em liberdade assistida visitam Palácio Tiradentes

Objetivo de projeto criado pelo Serviço de Psicologia da Justiça do Rio é dar voz e cidadania a adolescentes privados da liberdade

Jovens privados de liberdade Jovens privados de liberdade visitam Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Rio (Foto Divulgação)
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Cerca de 1 mil jovens entre 12 e 17 anos do Rio de Janeiro que cometeram algum delito e foram privados de liberdade terão a chance de aprender, na prática, o que é cidadania, democracia e política e poder expressar o que sentem em seus processos judiciais. É o que prevê um projeto criado pelo Serviço de Psicologia da Vara de Execuções Socioeducativas da Capital (Vemse) para aproximar esses menores infratores de espaços culturais e educativos.

“O que é democracia?”, questionou o jovem J.S., de 16 anos, ao visitar pela primeira vez o Palácio Tiradentes, a suntuosa sede da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). “É uma pergunta que eu ainda tento responder”, disse o deputado Wanderson Nogueira (PSol), coordenador do Parlamento Juvenil, que apoia o Programa Eu Apoio.

“Normalmente, esses adolescentes aprendem, infelizmente, a ficar de cabeça baixa e em silêncio como uma forma de recriminação. Esse adolescente é objeto de intervenção e a nossa proposta é que eles tenham algo a falar, não sobre os atos infracionais em si, mas sobre questões que eles considerem relevantes para a comunidade deles ou até mesmo para a cidade”, explicou Marlise Eugenie, coordenadora do Serviço de Psicologia da Vara.

No corredor do palácio, cada um teve um pouco a contribuir com respostas que iam além do “poder que emana do povo”. “A democracia é uma luta que sempre travamos para que os nossos direitos se concretizem e, às vezes, ela não acontece, como no Estado Novo”, exemplificou Juliana Valladas, guia que estuda História na Universidade Federal Fluminense.  Já o deputado Eliomar Coelho (PSol), que encontrou os visitantes quando seguia para o Plenário, foi mais direto. “Você tem que lutar pelos seus direitos e não deve naturalizar as desigualdades sociais”, disse ao jovem J.S.

Nós apostamos que essas atividades irão sensibilizar os jovens e fazê-los se expressar. Eles poderão fazer registros (escritos ou desenhados) que poderão ser anexados ao processo judicial de cada um deles. Isso é novo, pois, normalmente, eles são objeto de uma análise técnica e não falam sobre questões como a da cidadania”, acrescentou a psicóloga.

Para o presidente em exercício da Casa, deputado André Ceciliano (PT), ações como o Programa Eu Apoio são um investimento no futuro. “A gente precisa ter mais iniciativas como esta, trazendo esses jovens para conhecer o trabalho do Parlamento e levando-os em outros espaços públicos para que haja, de fato, cidadania. Eles são o futuro, o amanhã”, declarou logo após o grupo de adolescentes conhecer a Sala da Presidência, ponto que não faz parte do roteiro usual da visita guiada do palácio.

Uma aula de História fluminense

Durante a tarde, os adolescentes conheceram um pouco da história política do estado. A exposição permanente da Casa, “Palácio Tiradentes: Lugar de História do Parlamento Brasileiro”, faz uma retrospectiva desde o período democrático até o século XVIII, quando, no lugar do palácio, havia a chamada Cadeia Velha, que teve entre os presos, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

Ao conhecer a história da deputada Almerina Faria Gomes, que participou da Assembleia Constituinte em 1933, L.H, de 17 anos, disse: “Achei legal que ela era uma moça negra e conseguiu escrever uma nova história mesmo com tanto preconceito”.

Projeto Parlamento Juvenil

Os jovens também conheceram o projeto Parlamento Juvenil, um capítulo mais recente da história do Rio de Janeiro. Luana Benevides, de 18 anos, e André Vinicius, de 17, foram eleitos em suas escolas para representar, respectivamente, os municípios de Duque de Caxias e São João de Meriti na Alerj, produzindo propostas legislativas. Eles falaram sobre a importância da juventude na política e como pequenas ações podem influenciar a realidade de cada um deles.

Benevides disse que espera que a sua experiência influencie o grupo. “Normalmente, a gente que é jovem não pensa muito no que faz e toma decisões precipitadas, principalmente por não conhecer o outro lado. E eu acho que eles tiveram esse conhecimento hoje, de que podemos ajudar outras pessoas da maneira certa”, declarou.

O programa

O Programa Eu Apoio conta com a parceria do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Unirio) e tentará alcançar os mil jovens da capital que se encontram em liberdade assistida. “Esses meninos precisam de outras alternativas, como o que aconteceu aqui, com eles conhecendo essa outra realidade. É importante que eles tenham voz e não que a gente dite o que é melhor para eles”, contou Lúcia Perez, professora da Escola de Educação da Unirio.

O circuito do programa ainda contará com atividades do setores educativos do Museu Histórico Nacional e do Centro Cultural Museu da Justiça. Na Alerj, além do Parlamento Juvenil, a ação conta com o apoio da Subdiretoria de Cultura da Casa. As visitas guiadas dos jovens em liberdade assistida acontecerão sempre às quartas-feiras.

Fonte: Alerj

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