Jovens obesos enfrentam maior risco de câncer

Incidência de 6 dos 12 tipos relacionados à obesidade aumentou entre pessoas de 24 a 49 anos. Excesso de peso também é relacionado a casos de câncer de mama, aponta outro estudo

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Um estudo recente realizado pela American Cancer Society (ACS) e pelo National Cancer Institute confirmou que o risco de desenvolver algum câncer relacionado à obesidade aumentou entre a população mais jovem, assim como as taxas de sobrepeso. Os dados foram publicados em fevereiro no periódico The Lancet e lançam um alerta neste Dia Mundial de Combate ao Câncer (8 de abril) para a importância da prevenção da doença desde cedo. ViDA & Ação inicia hoje uma série especial sobre Câncer.

Entre 1995 e 2014, cientistas analisaram a incidência de 30 tipos de câncer mais comuns, incluindo 12 ligados à obesidade, em pessoas de 24 a 84 anos. Ao todo foram estudados mais de 14,6 milhões de casos. Os resultados mostraram que a incidência aumentou significativamente em seis dos 12 casos de câncer relacionados à obesidade (mieloma múltiplo, colorretal, corpo uterino, vesícula biliar, rim e câncer pancreático) em adultos jovens (25 a 49 anos).

Estes números podem ter influência do rápido aumento da prevalência da população obesa, principalmente nos EUA, local onde o estudo ocorreu.

Aqui no Brasil também devemos lembrar que câncer já é segunda maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos, perdendo apenas para óbitos decorrentes de acidentes e violência. Numerosos cânceres estão associados ao excesso de peso corporal”, diz o Dr. Andrey Soares, oncologista clínico do Centro Paulista de Oncologia (CPO) – Grupo Oncoclínicas.

Devido à epidemia de obesidade nos últimos 40 anos, ainda segundo o estudo, gerações mais jovens em todo o mundo estão experimentando uma exposição mais precoce e duradoura ao excesso de adiposidade ao longo de sua vida útil do que gerações anteriores. Comparando com pessoas nascidas em 1950, as nascidas em 1985 tinham um risco de mieloma múltiplo 59% maior e mais do que o dobro de ter câncer pancreático.

Monitorar a ocorrência de câncer em adultos jovens, freqüentemente com menos de 50 anos, é informativo porque reflete frequentemente mudanças relativamente recentes na exposição a fatores carcinogênicos. “Esta pesquisa alerta para o fato de que estas tendências do câncer muitas vezes também servem como sentinelas para a futura carga de doenças em idosos, entre os quais a maioria casos de câncer ocorrem”, ressalta o especialista.

Geração millenial: mais risco de desenvolver tumores

Estimativas apontam que a cada ano são feitos 12 milhões de diagnósticos de câncer no mundo. Se considerarmos apenas o Brasil, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), foram registrados em torno de 600 mil novos casos em 2018 –índice que deve se repetir em 2019. Considerando o total global, a Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que uma grande parte dos casos estão relacionados ao nosso modo de vida.

E mais: a entidade destaca a perigosa relação entre hábitos pouco saudáveis da nova geração e o aumento nos índices de tumores entre jovens com menos de 30 anos, os chamados Millenials. De acordo com a pesquisa, entre 1980 e 2014, a prevalência de sobrepeso ou obesidade nos EUA aumentou mais de 100% (de 14,7% para 33,4%) entre crianças e adolescentes e de 60% entre adultos de 20 a 74 anos (de 48,5% a 78,2%).

Para o Dr. Andrey, a somatória destes dados resulta em um alerta importante: é preciso rever nossos hábitos de vida – ou a falta deles – para frear as estatísticas.

“O incentivo à prática constante de exercícios físicos, dieta equilibrada, consumo moderado de bebidas alcoólicas e outras medidas simples surgem não apenas como iniciativas essenciais para frear os índices aumentados do câncer como uma maneira de promoção à qualidade de vida e bem estar geral. Essas medidas contribuem também para a potencialização do processo de tratamento para pessoas diagnosticadas com a doença e outras condições como diabetes e hipertensão”, finaliza oncologista do CPO.

Excesso de peso pode causar câncer de mama

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer de mama atinge 1,5 milhão de mulheres ao redor do mundo todos os anos. E mesmo com os avanços nas tecnologias para detecção precoce e tratamento da doença, esse ainda é o tipo de tumor mais incidente e uma das causas mais comuns de morte entre essa parcela da população global.

Um novo estudo conduzido nos EUA e apresentado durante o encontro anual da Sociedade Americana de Endocrinologia (ENDO 2019) tenta agora lançar luz sobre medidas eficazes de prevenção que poderiam ajudar a frear um dos fatores evitáveis de risco relacionados aos tumores mamários: o excesso de peso.

A análise mostrou que restringir os horários das refeições, permitindo a ingestão de alimentos dentro de um período de oito horas diárias, ajudaria a acelerar o metabolismo corporal e, com isso, reduzir drasticamente o sobrepeso e a possibilidade de surgimento do câncer de mama entre mulheres no período pós-menopausa. Essa seria ainda uma alternativa mais eficaz do que as dietas baseadas no corte de calorias.

A pesquisa inicialmente avaliou o comportamento de ratos obesos submetidos à limitação no horário de acesso à comida. O efeito ‘anti-tumor’ dessa medida seria justificada pela redução nos níveis de insulina no sangue, promovendo uma resposta efetiva tanto para a prevenção quanto para melhores respostas ao tratamento do câncer de mama, afirmou o pesquisador que liderou a análise, Manasi Das, da Universidade da Califórnia (Estados Unidos).

Para o oncologista Daniel Gimenes, do Centro Paulista de Oncologia (CPO), unidade do Grupo Oncoclínicas em São Paulo, ainda é cedo, contudo, para assegurar a eficácia desse tipo de medida, já que ainda não há registro de resultados do teste em humanos.

Apesar de ainda tratarmos como uma hipótese, é fato que existem diferentes maneiras pelas quais a obesidade pode aumentar os riscos de câncer em mulheres. Essa nova pesquisa mostra que, assim como outros cientistas já vinham apontado, estabelecer uma janela de tempo reduzida para o consumo de alimentos é efetivo para manter os níveis de insulina do corpo baixos. Quando isso ocorre, as nossas células de gordura começam a queimar seu estoque de açúcar como fonte de energia. Assim começa a acontecer a perda de peso”, contextualiza.

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75% ignoram relação com sobrepeso

Uma outra pesquisa, realizada no final de 2016 pelo Cancer Research UK, do Reino Unido, constatou que três em quatro pessoas desconhecem a relação entre o excesso de peso e o diagnóstico de ao menos 10 tipos de câncer: esôfago, vesícula, fígado, pâncreas, rins, intestino, útero, ovário, mama e próstata.

O estudo destaca ainda que indivíduos de origem socioeconômica mais baixa e homens, em especial, representam a maior parte entre aqueles que desconhecem os riscos aumentados de desenvolver tumores em decorrência da obesidade e que este mesmo grupo tem o maior número de pessoas obesas.

No Brasil, segundo os dados mais recentes do IBGE, quase 60% da população está acima do peso. Considerando-se apenas os impactos na incidência de câncer, estimativas do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), indicam que pelo menos 15 mil dos casos de câncer registrados por ano no país – uma fatia que representa 3,8% do total – poderiam ser evitados a partir de medidas voltadas ao combate ao sobrepeso e à obesidade. Destes, 10 mil atingiriam mulheres e os outros 5 mil homens.

E essa é uma realidade que tende a evoluir de forma negativa: até 2025 serão 29 mil novos casos de câncer causados pelo excesso de peso (4,6% do total) segundo o estudo epidemiológico, feito em colaboração com a Harvard University (Estados Unidos) e publicado em 2018.

“A obesidade é a segunda maior causa evitável da doença, perdendo apenas para o tabagismo. E além do câncer, vale lembrar que problemas como diabetes, acidentes vasculares cerebrais (AVC) e doenças cardiovasculares podem ser evitadas a partir de medidas simples para controle desse excesso de quilos”, comenta o Dr. Daniel.

O oncologista do CPO reforça que manter uma alimentação equilibrada é a chave para a diminuição da progressão dos casos de câncer. “A dieta saudável é aquela que o indivíduo tem a orientação de um nutricionista ou nutrólogo e que tenha um cardápio composto de alimentos integrais, frutas, verduras, proteínas de carne branca, além de limitar o consumo de carne vermelha, carnes defumadas e processadas e a ingestão de bebidas alcoólicas”, finaliza o especialista.

DIA MUNDIAL DE COMBATE AO CÂNCER

câncer é a segunda maior causa de mortes no mundo e estima-se que tenha surgido mais de 18 milhões de novos casos no último ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).  Catorze milhões de pessoas descobrem a doença todos os anos. A entidade calcula que este número deve crescer 70% até 2038.

Só no Brasil, esse número é em torno de 582 mil. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que em 2019 serão 600 mil novos diagnósticos, sendo 295.200 em homens e 300.800 em mulheres.  Os cânceres de próstata, pulmão, mama feminina e colorretal são atualmente os mais frequentes entre os brasileiros e brasileiras.

Diante deste cenário assustados, o Dia Mundial do Combate ao Câncer, lembrado nesta segunda-feira (8 de abril) pela OMS, visa conscientizar a população sobre a doença. Questões como prevenção e detecção precoce se tornam primordiais, principalmente quando se considera que cerca de 85% dos cânceres são considerados potencialmente evitáveis.

Daniel Gimenes é enfático em afirmar que mais do que pensar em períodos adequados para o consumo de refeições, é imperativo o desenvolvimento de políticas públicas focadas em orientar a sociedade sobre hábitos alimentares pouco saudáveis, como ingestão de gorduras, açúcares e produtos industrializados em excesso.

Fast food, salgadinhos de pacote, embutidos, refrigerantes e ultraprocessados em geral são os responsáveis pelo aumento da incidência de sobrepeso e obesidade entre a população nos mais diversos países, inclusive o nosso. Estes sim fatores que sabidamente elevam os riscos de incidência de câncer e devem ser diretamente evitados em todas as fases da vida e independentemente do gênero”, explica o Dr. Daniel.

Fonte: Grupo Oncoclínicas, com Redação

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