Maio Amarelo: a cada 12 minutos, um brasileiro morre no trânsito

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Prédio-sede do Detran no Rio é iluminado de amarelo para lembrar campanha mundial (Foto: Divulgação)
Prédio-sede do Detran no Rio é iluminado de amarelo para lembrar campanha mundial (Foto: Divulgação)

Para quem como eu, já perdeu uma pessoa querida em acidente – meu irmão tinha apenas 24 anos quando morreu instantaneamente ao bater com sua moto de frente em um ônibus numa curva perigosa da vida – o trânsito é tão perigoso quando a violência urbana. Dirigir pelas ruas e estradas do Brasil significa risco constante aos motoristas e pedestres. É o que aponta o Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), sinalizando que entre 2010 e 2014, foram contabilizadas, em média, cerca de 43 mil mortes por ano no país, chegando a mais de 215 mil óbitos em cinco anos. É como se uma pessoa perdesse a vida a cada 12 minutos em colisões ou atropelamentos nas vias do país.

A taxa por aqui é de 23,4 mortes no trânsito para cada 100 mil habitantes, segundo estimativas divulgadas pela  OMS (Organização Mundial de Saúde) no ano passado. O país registrou ainda o quarto pior desempenho do continente americano, atrás de Belize, República Dominicana e Venezuela – campeã de acidentes na região com 45,1 mortes por 100 mil habitantes.

No Rio, em 2016, 36.726 pessoas foram vítimas (entre feridos e mortos) nas estradas e ruas do estado, conforme dados do Detran e do ISP (Instituto de Segurança Pública).  Os números alertam para o risco que as pessoas correm no trânsito. Os pedestres representam 44% das mortes de acidente de trânsito no estado.  São, em média, 43 mil mortes por ano e quase R$ 50 milhões de impacto financeiro.

Aproximadamente 1,25 milhão de pessoas morrem a cada ano em vias de todo o mundo. Até 2030, a OMS estima que o número de mortos nas estradas em todo o mundo poderá chegar a 1 milhão por ano. Somente em 2009, cerca de 1,3 milhão de mortes por acidentes de trânsito foram registradas em 178 países, além de outras 50 milhões de pessoas que ficaram com sequelas. No cenário global, o trânsito mata 3 mil pessoas diariamente, sendo a nona maior causa de morte no mundo.

Jovens são as principais vítimas

O ONSV destaca que o Brasil tem uma frota de aproximadamente 91 milhões de veículos, ante quase 30 milhões que havia em 2000 – crescimento de 205% em 15 anos. No mesmo período, os registros de acidentes avançaram 50,9%. Os acidentes de trânsito continuam a ser a principal causa de morte entre os jovens com idade entre 15 a 29 anos. O total de óbitos na faixa etária entre 19 e 29 anos, alcançando 33,35% no total de óbitos por Acidentes de Transporte Terrestres (ATT), dado que tem como referência o ano de 2012, conforme o Datasus – 2013.

E quando se observa o impacto da violência no trânsito nas finanças públicas, constata-se que, considerando o mesmo período de 2010 a 2014, foram gastos, em média, R$ 49,5 milhões anuais no atendimento às vítimas de acidentes em ruas e estradas, no custeio de reparos em vias públicas danificadas pelas ocorrências e tendo ainda como reflexo a perda de cidadãos que estavam em idade economicamente ativa, ainda segundo dados do ONSV, com base em informações do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Estima-se que custam aos países entre 3% e 5% do PIB e empurram muitas famílias para a pobreza.

Excesso de velocidade e de bebida alcoólica

Estudos indicam que 40 a 50% dos motoristas ultrapassam os limites de velocidade impostos. Motoristas homens, jovens e sob influência de bebidas alcoólicas são mais propensos a estarem envolvidos em acidentes relacionados à velocidade. Etienne Krug, diretor de Prevenção da Violência, Lesões e Incapacitações da OMS, explica que, quanto maior a velocidade, maior a probabilidade de lesões e mortes no trânsito. “Se um veículo anda a 50 km/h e toca em um pedestre, a probabilidade de morte vai ser de 20%”, afirma. No entanto, se a velocidade de uma via for de 80 km/h, a probabilidade de óbito acaba triplicando (quase 60%). “É por isso que dedicamos a Semana das Nações Unidas sobre Segurança no Trânsito à velocidade, porque é tempo de agir e sabemos o que temos que fazer”, comenta Krug.

A coordenadora de Segurança Viária da WRI Brasil, Marta Obelheiro, destaca que, muitas vezes, a redução da velocidade esbarra na “ideia equivocada” de que pode haver aumento no tempo de congestionamentos.“Isso não acontece. Na Austrália, por exemplo, a velocidade foi reduzida de 60 km/h para 50 km/h e essa redução foi associada a um aumento dos tempos médios de viagem de apenas 9 segundos por deslocamento, ao mesmo tempo em que evitou quase 3 mil acidentes com vítimas por ano. Ou seja, as cidades podem reduzir os limites de velocidade sem aumentar os congestionamentos”.

David Duarte Lima, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), explica que a ideia de aumentar a velocidade para ganhar tempo não passa de uma ilusão. “Foi feita uma experiência na Alemanha, com dois motoristas, e para um foi dito: ‘Olha, corra o máximo que você puder’ e para o outro, ‘Dirija na velocidade da via, se adapte às normas de segurança’. O motorista rápido e intrépido freou muito mais, correu muito mais risco e ganhou apenas 3% do tempo. É um ganho absolutamente irrisório”, afirma.

Um ponto importante sobre a discussão relacionada à velocidade excessiva é como as lesões e mortes no trânsito impactam nos sistemas de saúde pública. “Isso drena recursos que poderiam estar sendo utilizados em muitas outras áreas necessitadas”, pontua o representante da OPAS/OMS no Brasil, Joaquín Molina. Segundo ele, as mortes e a quantidade de pessoas feridas também têm um grande impacto em outros setores da sociedade, como a previdência social.

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Maio Amarelo: campanha pela segurança no trânsito

Até 2020, estamos vivendo a chamada “Década de Ações para a Segurança no Trânsito”, conforme resolução da Organização das Nações Unidas (ONU). Na tentativa de chamar a atenção da sociedade e do poder público para o tema, o quinto mês do ano é o período escolhido para concentrar ações e campanhas de conscientização. É o movimento Maio Amarelo, manifestação mundial de cuidado com a vida no trânsito.

No marco da 4ª Semana Mundial das Nações Unidas sobre Segurança no Trânsito, de 8 a 14 de maio, a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) convidou diversos especialistas para responderem dúvidas frequentes sobre os perigos e consequências da velocidade excessiva no trânsito. As respostas estão disponíveis em vídeos curtos dos especialistas na página da OPAS/OMS no Facebook.

A Semana das Nações Unidas é uma oportunidade única de advocacy, que contribui para atingir as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável relacionadas à segurança viária. Por ocasião da Semana, a OMS lançou também a publicação “Save LIVES: a road safety technical package”, que detalha 22 medidas fundamentais baseadas em evidências consideradas mais prováveis de ter impacto nas mortes e lesões no trânsito, incluindo um item relacionado à gestão da velocidade.

Rio se pinta de amarelo

Durante  o mês de maio, o Detran vai pintar o Rio de amarelo para chamar atenção para os altos índices de acidentes no trânsito.  O prédio-sede do departamento, na Avenida Presidente Vargas, e o Palácio Guanabara, estão iluminados de amarelo. O Cristo Redentor ganhou a cor amarela no dia 2. O órgão também promove ações educativas em escolas e em pontos de grande concentração durante o mês de maio.

Uma parceria entre o Detran e a concessionária BRT Rio coloriu de amarelo a estação Ricardo Marinho na Barra da Tijuca nesta terça-feira (9). A primeira ação da campanha do Maio Amarelo nas estações do BRT mobilizou as pessoas para ações mais seguras no trânsito. Foram distribuídos panfletos com informações sobre colisões, conversões proibidas, atropelamentos e outros tipos de acidente.

Vinicius Farah, presidente do Detran, destacou a importância da parceira na conscientização dos cariocas. “Devemos conscientizar as pessoas para continuarmos diminuindo o número de acidentes no trânsito. Esta parceria entre o BRT Rio e o Detran é muito importante. O BRT transporta milhares de pessoas diariamente e alcança muita gente. Essas campanhas educativas servem para alertarmos sobre a atenção que devemos ter no trânsito. A responsabilidade é de todos: pedestres, motoristas, ciclistas,…. Precisamos educar para transformar”, disse Farah.

Indústria de multas ou imprudência crescente?

“O ato de dirigir requer responsabilidade e prudência para não colocar em risco a própria vida e daqueles que compartilham o mesmo espaço. Por isso, é necessário despertar essa consciência na sociedade com ações como mudança na legislação, punição para quem comete infrações e investimento em educação e ações de engenharia capazes de melhorar a mobilidade e segurança das pessoas. Esses são movimentos que vêm se consolidando ao longo dos últimos anos no país”, ressaltou a especialista em segurança e educação no trânsito, Roberta Torres.

O coordenador-geral de Educação do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) do Brasil, Francisco Garonce, desmistifica também a crença de que existe uma “indústria da multa” no Brasil e no mundo. “É uma grande mentira. Até porque, para que essa ‘indústria’ sobreviva, você precisa cometer infrações”, argumentou. Para Garonce, seguindo a legislação e os limites de velocidade, as pessoas podem tornar o trânsito mais seguro e salvar milhares de vidas.

Victor Pavarino, consultor sobre segurança no trânsito da OPAS/OMS no Brasil, ressalta que essa fiscalização é importante, mas deve vir acompanhada de outras medidas de gestão da velocidade. “De forma resumida, as medidas propostas pela OPAS/OMS são basicamente projetar ou modificar as vias com elementos de moderação de tráfego; limites de velocidade compatíveis com a função e com o entorno das vias; fazer cumprir os limites de velocidade; incorporar tecnologias como assistente de velocidade e frenagem autônoma de veículos; e ações de educação sobre a velocidade”.

“Esse cenário mostra o quanto é importante trabalhar a formação do futuro motorista para começar a mudança dessa realidade. O caminho é modernizar a formação do condutor, aproveitando-se, inclusive, dos recursos oferecidos pela tecnologia”, completou Roberta.

Simulador de direção veicular ajuda a evitar acidentes

Pesquisa do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) revela que no ano de 2015, dos candidatos que iniciaram o processo de obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), 13,6% estavam na faixa etária entre 18 e 25 anos. E entre as modificações na formação do condutor que pretendem trazer mais segurança e ganhar o engajamento desse público está a inserção do simulador de direção veicular. No Brasil, as autoescolas devem garantir ao candidato que busca a habilitação cumprir um mínimo de 5 horas/aulas no simulador, das 25 aulas práticas que são exigidas.

“O simulador permite o treino da mente para reagir de forma correta e segura em situações extremas, como dirigir sob neblina e em dias chuvosos, além de treinar a utilização dos comandos básicos do veículo antes de ir às ruas. O simulador ainda possibilita que o cérebro entenda e absorva a situação vivida sem a pressão do medo e reaja como se estivesse na vida real, pois trabalha todos os sentidos”, ressaltou a especialista em simuladores de direção e diretora de produtos da ProSimulador, Sheila Borges.

A ProSimulador faz parte do Grupo Tecnowise, que atua há 30 anos no mercado de tecnologia, infraestrutura e desenvolvimento de soluções para os segmentos de trânsito, veículos, simulação e mobilidade humana, e é responsável pela produção de equipamentos de simulação profissional, como os simuladores de direção veicular. A empresa integra a Associação Nacional de Fabricantes de Simuladores Profissionais (ANFASP) e é apoiadora do Movimento Paulista de Segurança no Trânsito – programa do Governo do Estado de São Paulo que busca reduzir pela metade o número de vítimas nos acidentes de trânsito no estado até 2020 – e do Observatório Nacional de Segurança Viária.

 Da Redação, com assessorias

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