Maioria dos brasileiros tem vergonha de admitir depressão na família

Psiquiatras recomendam ouvir sem julgar para quebrar o tabu em torno da doença e ajudar a reverter possíveis tentativas de suicídio

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De acordo com pesquisa realizada pelo Ibope, 63% das pessoas entre 25 e 34 anos teriam vergonha de admitir um quadro depressivo à sua família. A mesma pesquisa mostra que 23% dos adolescentes entre 13 e 17 anos enxergam a depressão como um “momento de tristeza” e não uma doença grave.

Do total, 39% dos adolescentes pesquisados ainda afirmaram que, caso recebessem diagnóstico de depressão, também não a revelariam a familiares. Já os jovens entre 18 e 24 anos não falariam do diagnóstico no ambiente de trabalho ou acadêmico. Porém, 58% das pessoas com 55 anos ou mais acreditam na eficiência do medicamento.

Segundo a OMS, nove em cada dez mortes por suicídio podem ser evitadas, por meio da prevenção, ajuda e atenção adequadas. Os dados são preocupantes. A depressão não pode ser apontada como única causa do suicídio, porém, é uma das doenças mentais mais negligenciadas, por preconceito ou falta de informação.

O tabu sobre a depressão aponta para outras causas. Estamos em uma sociedade em que pouco se fala ou discute sobre transtornos e doenças mentais, que são estigmatizados de muitas formas. Quando alguém manifesta estar desesperado quanto a vida, não ver mais sentido ou não ter mais expectativas, é comum ouvir coisas como ‘seja mais positivo’, ‘não diga bobagens’ ou ‘faça algo para ocupar a mente’.

Esse tipo de resposta padrão é dada especialmente a pessoas jovens, que tendem a não receber a devida atenção. O suicídio não escolhe idade”, afirma a psiquiatra Marília Capuço, Mestra em Ciência da Saúde na Área de Neuromodulação e profissional, sobre a importância da campanha ao brasileiro.

Segundo ela, muitas vezes problemas psíquicos caminham com problemas físicos. “A angústia, o quadro de ansiedade, são dores comparáveis à dor física. Nesta campanha de conscientização, incentivamos às pessoas, no geral, a compreenderem que ninguém escolhe estar por muito tempo em uma situação incômoda.  Recomendamos a empatia, a escuta, a paciência e o respeito”, destaca.

Ouvir sem julgar é a melhor forma de ajudar

As pessoas têm vergonha de manifestar sua dor, pois temem o que podem ouvir. O ouvir sem julgar, com compreensão e recomendações de cuidado é uma atitude nobre e amiga. E pode salvar vidas. “Com carinho e cuidado, você pode também recomendar o tratamento adequado. Passar com os profissionais da Saúde Mental é tão necessário como o passar com outras especialidades médicas”, ressalta a psiquiatra Ana Carolina Olmos, que também é especialista em Saúde Mental na Infância e Adolescência, pela Famerp (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto).

O Setembro Amarelo é uma Campanha de Prevenção ao Suicídio, criada no Brasil em 2015, idealizada pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria). Anualmente, empresas, pessoas e profissionais estampam a cor amarela, dando visibilidade e importância à causa.

É extremamente importante uma conscientização pública sobre o tema. É por isso que vestimos o amarelo. As questões de saúde mental ainda são desvalorizadas por muitas pessoas. Quando alguém não está bem, quando o estado de infelicidade é recorrente, é preciso ter atenção. Questões de saúde podem estar em jogo e ouvir é a melhor forma de cooperar”, afirma a Dra Marília.

“Neste Setembro Amarelo, vestiremos a clínica da cor. Incentivamos o sentimento comum de atenção. Vamos ouvir as angústias do outro. Vamos dar ouvidos, demonstrar presença. É um gesto solidário e amigo. Vamos também falar mais sobre saúde mental. Você orientaria alguém com constante dor de estômago ao Gastroenterologista, não? Porque não incentivar quem está em um estado de angústia, a uma consulta?”, questiona.

É importante buscar ajuda profissional

Depressão, transtorno de ansiedade, síndrome do pânico entre outros problemas por vezes são confundidos como mal-estares emocionais, como se o emocional não fosse um sintoma. Por isso é importante ouvir e aconselhar. Mas é importante também a busca por ajuda profissional. “Em nossos atendimentos, realizamos a escuta Especializada, o Acolhimento em um atendimento humanizado. Como qualquer tratamento médico, questões de transtornos e doenças mentais também tem sua prescrição medicamentosa. Acompanhe seu amigo (a), colega (a) e familiar ao Consultório. Isto é amor, é cidadania, é a mensagem do Setembro Amarelo!”, incentiva Marília Capuço.

Outra questão importante, durante a Campanha do Setembro Amarelo é o prestar apoio a famílias que perdem um ente querido devido ao suicídio. “A solidariedade por conta da família e comunidade, é fortalecedor às famílias que sofreram a perda de alguém. O acompanhamento terapêutico, por conta dos familiares, também é essencial. O suicídio é uma questão de saúde pública. Todos devemos estar engajados. Da prevenção ao cuidado com entes queridos que perderam alguém.”

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