Muito antes e bem além dos cuidados no fim de vida

Dia Mundial de Cuidados Paliativos ressalta importância de oferecer atendimento adequado a pacientes terminais, pessoas em estado grave ou doenças crônicas

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Aretha Franklin
Aretha Franklin morreu de câncer de pâncreas, um tumor raro mas muito agressivo (Foto: Divulgação/2012)

Aretha Franklin, que faleceu em agosto deste ano, foi diagnosticada em 2010 com um câncer de pâncreas neuroendócrino em estágio avançado, um tipo de tumor raro, que evolui lentamente, difícil de ser diagnosticado. Os cuidados com foco na qualidade de vida da paciente, e não necessariamente no tempo, ofereceram assistência para a cantora e sua família e tornaram mais leve o período.

O cuidado paliativo trabalha com a afirmação da vida e trata a morte como um evento natural. O objetivo é não acelerar ou retardar este momento, mas oferecer ao indivíduo uma morte digna, no local de sua preferência, auxiliando na resolução dos problemas concentrados no encerramento da vida e na identificação de seu legado. A equipe tem que estar apta a identificar as prioridades do paciente neste momento e enfatizar sua participação em atividades prazerosas, como, por exemplo, passar um tempo com seu animalzinho de estimação mesmo quando internado.

No segundo sábado de outubro é comemorado o Dia Mundial de Cuidados Paliativos, iniciativa proposta pela World Hospice and Palliative Care Alliance (WHPCA), organização internacional não governamental que tem como objetivo o desenvolvimento dos cuidados paliativos no mundo. De acordo com especialistas, hoje o conceito de cuidados paliativos está se ampliando.

Antes, o tratamento era entendido como um acompanhamento quando o paciente está sem alternativa de cura. Agora, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que o monitoramento das necessidades do paciente e o acolhimento à sua família devem ser feitos a partir do diagnóstico, como parte de uma necessidade humanitária urgente para pessoas com doenças graves.

Neste ano, o tema escolhido pela organização foi ‘Porque eu importo’. Segundo a WHPCA, o que motivou a escolha do tema foi por centrar-se na experiência vivida por pessoas com doenças crônicas, olhando para o que é mais importante, incluindo o impacto financeiro e as necessidades de cuidados paliativos em pacientes e seus familiares. O tema também envolve elementos sobre direitos humanos e justiça, perguntando: Se eu importo, então por que não estou recebendo os cuidados de que preciso?

Realidade para poucos no Brasil

No Brasil, essas terapias ainda são realidade para poucos. Segundo um estudo da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), há só 177 equipes atuando na área e uma delas é no Hospital Santa Paula, na zona sul da capital paulistana. As ações incluem medidas terapêuticas para o controle dos sintomas físicos, intervenções psicoterapêuticas e apoio espiritual ao paciente que demanda um ritual de fé. Para os familiares, as ações se dividem entre apoio social e psicológico, além de abordagens frequentes sobre o enfrentamento da finitude e luto.

A área de cuidados paliativos atua no ‘conceito de dor totall do indivíduo. Isso contempla as dores física, emocional, social e/ou espiritual. O papel da equipe de cuidados paliativos é assegurar que o paciente passe por este processo da forma menos dolorosa possível, de forma digna e cuidadosa”, explica a médica paliativista Milena Reis, do Hospital Santa Paula.

Segundo ela, isso pode ser desde um paciente em fase final de vida até uma pessoa que não corra risco de morte, mas que enfrente um sofrimento intenso advindo do tratamento ou tenha sua qualidade de vida comprometida. É o caso, por exemplo, de uma pessoa que sofre um acidente de carro e tem as pernas amputadas. Ela pode não correr risco de morte, mas passa por um período de sofrimento que desestabiliza todas as áreas da vida.

A equipe de cuidados paliativos tem um papel fundamental na melhora da qualidade de vida deste paciente, tanto no aspecto físico como no psicológico, no qual o indivíduo precisa lidar com mudanças profundas e dolorosas.

Cuidados paliativos podem representar economia de até 40%

Além de ser bom para o paciente, os cuidados paliativos podem representar uma alocação de recurso mais inteligente e economicamente viável para o sistema de saúde do que tratamentos tradicionais. Pesquisas apontam que o cuidado integral com equipe especializada podem representar uma economia de até 40%, visto que os insumos tecnológicos considerados desproporcionais são descartados, como ventilação mecânica e UTI, por exemplo.

O suporte de uma equipe composta por vários profissionais como nutricionistas, psicólogos, médicos, fisioterapeutas, farmacêuticos e enfermeiros, é responsável pela promoção da qualidade de vida e controle de sintomas desagradáveis. Estudos também mostram que cuidados paliativos podem aumentar o tempo de vida dos pacientes. E tudo isso está provocando mudanças na forma de pensar e praticar a medicina. Segundo a ANCP, quase metade dos pacientes clínicos em critério de terminalidade não precisavam estar no hospital.

Para o presidente do Hospital Santa Paula, George Schahin, “um paciente mais satisfeito e menos deprimido apresenta menos sintomas”. Ele lembra que em outros países que muitos indivíduos internados preferem suas casas a hospitais.

No Santa Paula, possuímos uma equipe de cuidados paliativos que tem como objetivo proporcionar ao paciente um cuidado que envolve controle da dor, suporte nutricional e conforto térmico, além de acolher seus familiares nos momentos mais difíceis de aceitação dentro e fora do ambiente hospitalar”, ressalta.

Segundo ele, o Hospital tem investido na capacitação de seu corpo clínico com reuniões semanais sobre Cuidados Paliativos. No final de outubro, a instituição fará o I Simpósio sobre Cuidados Paliativos com uma abordagem multidisciplinar. O evento, fechado para colaboradores, abordará questões como controle da dor, experiência do paciente no ambiente hospitalar e ambulatorial, sedação, morte digna, abordagem familiar e luto.

Bate-papo gratuito sobre Cuidados Paliativos

A sensibilização diante do sofrimento do outro e o olhar médico sobre pacientes à beira da morte serão temas de um bate-papo gratuito no dia 23 de outubro, das 14h às 16h, no prédio do Instituto Tomie Ohtake, zona oeste da capital paulistana. Médicas paliativistas e um consultor de Desenvolvimento Humano vão tirar dúvidas sobre cuidados paliativos. A ação é uma comemoração ao Dia Mundial de Cuidados Paliativos e vai abordar os cuidados paliativos em três pontos de vista: o paciente em fase terminal, o paciente em sofrimento – sem risco de morte, e o familiar.

Para falar de terminalidade, o Hospital Santa Paula convidou a médica paliativista referência no setor, Ana Claudia Quintana Arantes, formada em Geriatria e Gerontologia com pós-graduação em Psicologia – Intervenções em Luto. Entre suas publicações estão “A morte é um dia que vale a pena viver” (2016), Manual de Cuidados Paliativos – ANCP (2009 e 2012) e Cuidado Paliativo – Cremesp (2008).

Ana foi responsável pela elaboração e implementação das políticas assistenciais e treinamentos institucionais em Cuidados Paliativos e Terapia da Dor, segundo as recomendações da Joint Comission no Hospital Israelita Albert Einstein em 2006. É idealizadora de cursos e eventos sobre a morte para desvendar o tabu do tema, além de trabalhar em consultório particular no atendimento de pacientes na Geriatria, Cuidados Paliativos e Suporte ao Luto.

‘Cineclube da Morte’: filmes que tratam da temática

Sob o ponto de vista do familiar, o consultor Tom Almeida vai falar de sua experiência com conversas sinceras, escuta verdadeira e sem julgamento para auxiliar seu primo a morrer. Uma parte do tratamento foi feita no Hospital Santa Paula e o estimulou a criar o Cineclube da Morte, com filmes que tratam da temática.

Para abordar o alívio da dor e sofrimento nas diferentes fases de doenças e de seus tratamentos, Milena Reis, responsável pela área de Cuidados Paliativos no Hospital Santa Paula, vai contar sua experiência com pacientes e treinamento do corpo clínico.

A médica é pós-graduada pelo Pallium LatinoAmerica – Oxford University e participou da implementação e coordenação do Programa de Residência Médica de Medicina Paliativa entre os anos de 2011 a 2018 no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Além disso, é tesoureira da Academia Nacional de Cuidados Paliativos e coordenadora da equipe de controle de sintomas e cuidados paliativos do HSP.

Mais informações no site www.santapaula.com.br/eventos.

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