Minha filha quer virar youtuber. E agora?

Quando a brincadeira na intermet vira coisa séria: mãe de youtuber e pediatra falam dos limites a crianças e adolescentes que atuam nas redes

Maju Rodrigues, de 12 anos. começou aos 9 no Youtube. Hoje trilha uma carreira de sucesso na TV (Fotos: Flávia Canavarro)
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Eles já sonharam ser professores, médicos, bombeiros, engenheiros, cientistas e até astronautas. Houve também aquele período em que meninas queriam ser modelos e meninos, jogadores de futebol. Era quase uma unanimidade. Mas nessa segunda década do século 21, as crianças querem mesmo é ser youtubers, atraindo curtidas, cultivando milhares de seguidores e usufruindo da fama. E agora, como lidar?

Essa é a pergunta recorrente entre mães, pais e professores dessa turma que nasceu e está crescendo no mundo digital influenciada por nomes como Felipe Neto e Kéfera, celebridades da “telinha” contemporânea – a dos smartphones e tablets, que vem substituindo em ritmo acelerado a tela da TV e dos já antigos “computadores pessoais” (os PCs ou desktops). 

E engana-se quem imagina que esse comportamento seja apenas uma “nova onda”. Segundo a pesquisa “Geração YouTube: um mapeamento sobre o consumo e a produção infantil de vídeos para crianças de zero a 12 anos no Brasil”, o crescimento da audiência de canais de youtubers mirins cresceu quase seis vezes em um ano no  país.

Entre agosto de 2015 e agosto de 2016, o número de visualizações dos canais produzidos pela garotada na plataforma aumentou 564%. Já existe até uma rede de franquias de cursos – são 76 unidades no Brasil e em Portugal – que preparam as crianças para produzir os próprios vídeos como gente grande.

Se o universo da internet – com ataques de hackers, redes de pedofilia, vazamento de dados pessoais e a enxurrada sem fim de notícias falsas -, assusta até adultos mais experiemtes, como evitar que crianças se exponham e se coloquem em risco ao brincar de fazer vídeos? E se a brincadeira virar mesmo profissão? Como conciliar escola e o trabalho como youtuber? Há, ainda, aspectos psicológicos como frustração, superexposição, estresse…

Maju Rodrigues (Foto: Flávia Canavarro)

advogada Lilian Rodrigues conhece bem essa realidade. A filha de 12 anos, Maju Rodrigues, começou a gravar vídeos e publicar no Youtube quando tinha apenas nove. Com milhares de seguidores nas redes sociais, a adolescente conseguiu realizar seu maior sonho: ser atriz de tv. Junto com o orgulho de ver a menina se desenvolvendo na carreira, crescem as preocupações:

A Maju sempre foi muito madura para a idade, aos cinco anos já queria ser artista. Sempre a apoiei, deixando claro que a escola e o (curso de) inglês são prioridade. É importante os pais deixarem a criança escolher, tem que ser o sonho delas, não deles, pois nem sempre aquela atividade se tornará uma profissão. E os pais, os responsáveis pela criança (que expõe nas redes sociais) devem estar sempre muito atentos”, conta a mãe.

Lilian sempre monitora as redes da Maju. “Olho tudo o que ela publica, para ver se o conteúdo está de acordo com a realidade. Ela sabe que não tolero mentira. No Instagram, por exemplo, nenhuma mensagem direta chega até ela sem que seja “filtrada” antes. Temos uma equipe – quatro pessoas da família – que verifica o que chega. E nem tudo é inocente, não. Tem adultos que escrevem coisas inapropriadas, pedem o telefone”, conta a advogada.

Outra atitude da família em relação à segurança de Maju. “Oriento para que ela evite postar fotos indicando o local onde está, digo a ela para publicar depois. Há ainda o assédio das empresas, é outra questão que temos de lidar. Nunca aceitei que a Maju aparecesse em fotos usando biquínis ou roupas que não sejam adequadas à idade dela. São cuidados que os pais precisam ter”, reforça.

Ter o acompanhamento dos responsáveis é fundamental para que a aventura na internet deixe apenas boas recordações na história dessas crianças e adolescentes conectados 24h por dia. Segundo o médico Thyago Azevedo, responsável técnico do setor de Psiquiatria Infantil do Hospital Prontobaby, no Rio, é importante estar ciente que “o tempo virtual não é o tempo real”.

Segundo ele, o imediatismo e a velocidade das informações na internet e redes sociais podem se transformar em problema quando, por exemplo, uma criança produz e divulga algum conteúdo e espera receber em poucos minutos a aprovação do público sob a forma de curtidas e seguidores.  

Ela (a criança) acaba se frustrando por coisas que não existem na realidade. E quando o sucesso que ela acha que tem passar? O impacto sobre essas crianças acontece em segundos. Por isso é tão importante que os pais estejam próximos. Hoje o que observo é o distanciamento das famílias. A criança é colocada sob a responsabilidade de babá, do colégio…filho tem que ser filho”, destaca o especialista.

Socorro, meu filho não sai da internet!

Estabelecer regras e limites é princípio básico para a entrada e permanência na internet. Proibir o uso da mesma não adianta. Monitorar o que estão fazendo também não ajuda, A psicóloga Fatima Caseiro, especialista em Psicomotricidade e Dinâmica de Grupo, mostra como Youtube pode prejudicar o desenvolvimento de crianças e adolescentes. Confira:

1) Sob o ponto de vista da Psicologia, uma criança ou pré-adolescente que leve a sério uma “carreira” como youtuber, blogueiro etc. pode ter seu desenvolvimento afetado? De que forma?

Sim. O uso excessivo do computador nessa fase do desenvolvimento da infância e, especialmente na adolescência, se torna prejudicial principalmente pelo fato de estar se formando um novo conceito do ego corporal, com consequente elaboração das perdas do mundo infantil com um importante descompasso entre o crescimento do corpo e a aceitação psicológica dos fatos pertinentes à idade. Brincar está intrinsicamente ligado à habilidade de se adaptar a diversas situações, de desenvolver a inteligência emocional, a criatividade, a saúde mental, perspicácia social.

2) Buscar sempre ser o centro das atenções por meio das curtidas pode gerar estresse, ansiedade e frustrações? É possível equilibrar essa atividade com uma vida normal, no mundo real?

Sim. A dependência de tecnologia pode desencadear um Transtorno de Ansiedade. Quando o comportamento é controlado pela rede social, algumas pessoas podem ficar extremamente ansiosas ao esperar por curtidas em uma postagem ou mesmo foto publicada, ou até mesmo entristecer-se por receber poucas curtidas e determinados comentários. Precisamos viver plenamente o mundo real com a ajuda das facilidades virtuais. Aproveitar ao máximo os resultados positivos proporcionados pela tecnologia, tais como o aumento da atenção e coordenação motora, memória, informação, comunicação entre outros. Mas sempre com os cuidados necessários às fases de maturação cerebral e mental de cada um. O equilíbrio das nossas ações é fundamental para dar resposta às transformações que o mundo contemporâneo exige.

3) Como devem agir pais, professores, responsáveis?

Existe uma nova geração digital que já nasceu e cresceu com um computador em sua casa simplificando a vida, resignificando e ajudando no cotidiano, inclusive no ambiente escolar, que cada vez mais cedo os apresenta enquanto recurso de aprendizado. Direitos, leis, valores de vida, respeito social e códigos de conduta existem com ou sem internet. Estabelecer regras e limites é princípio básico para a entrada e permanência na internet. Proibir o uso da mesma não adianta. Monitorar o que estão fazendo
também não ajuda, pois quebra uma relação de confiança, além de ser ineficiente porque as crianças/adolescentes têm acesso a outros dispositivos eletrônicos.
A melhor estratégia continua sendo o diálogo, a verdade, a transparência e a relação de confiança que deve existir entre pais/educadores e filhos/alunos

4) Como identificar sinais de que essa atividade intensa na internet, como produtor de conteúdo, pode estar sendo prejudicial?

O vício em internet é apenas um subconjunto do vício em tecnologia em geral. Como o nome indica, trata da compulsão com a Internet. Pode causar danos físicos, emocionais e comportamentais. Os sintomas físicos mais comuns são taquicardia, boca seca, sudorese, tremedeira, insônia, comprometimento da postura, lesões por esforço repetitivo, prejuízo para a visão, ganho ou perda de peso, má higiene pessoal (não querer perder tempo para ficar online), nutrição deficiente… Os sintomas psíquicos podem ser déficit de atenção, depressão, sentimento de culpa, isolamento, incapacidade de priorizar ou manter horários, mudanças de humor, tédio com tarefas de rotina, procrastinação, perder a noção do tempo, dificuldade para se organizar, e angústia por estar longe do computador.

Saiba mais sobre a carreira de Maju Rodrigues

Maju Rodrigues (Foto: Flávia Canavarro)

Modelo, manequim, youtuber, influenciadora digital, cantora e atriz. Com uma média 166 mil seguidores no Instragram e dez mil curtidas, Maju Rodrigues, de apenas 12 anos, vem de Belo Horizonte (MG), cidade em que nasceu, e aporta na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, para realizar seu maior sonho: um contrato na televisão. Carisma e determinação não faltam à pequena, que acaba de assinar um contrato com Record TV e gravou a webserie musical Tocando o Barulho, sob direção de Andréa Avancini.

Não é de hoje que Maju se envolveu na vida artística. “Quando eu tinha cinco anos, assistia a uma novela com a minha avó. Fiquei fascinada com a interpretação dos atores e perguntei como seria fazer aquele trabalho. Ela respondeu que teria que fazer curso de teatro, TV e muitas outras coisas. Então, pedi pra minha mãe para estudar arte e não parei mais. Depois que comecei a cursar, tive a absoluta certeza que é isso que eu amo e quero para minha vida. Faço aulas de canto, violão, expressão corporal, Krav Magá, fono, curso de TV e Inglês, língua que sou fluente”, conta Maria Julia.

No currículo, Maju coleciona cinco peças amadoras e uma profissional, “Histórias que a música conta”, musical encenado no Rio e em BH, além do curta-metragem “Aparentes”. “Também fazia muitos eventos de moda e me apresentava em um canal do Youtube, só que agora não estou com tempo para gravar os vídeos. Mas ainda quero retomar este projeto”, acrescenta a artista, que dá muito valor aos fãs que conquistou e os chama de “lovinhos”.

Quando questionada sobre a frase que pudesse definir o seu diferencial, a menina aponta um pensamento do mestre Walt Disney: “Por que se preocupar? Se você fez o seu melhor, se preocupar não irá ajudar em nada.”. Outra citação indicada por ela, do mesmo autor, fala “Eu gosto do impossível porque lá a concorrência é menor”. Parece que ela realmente está decidida a mostrar  a que veio, vamos aguardar as cenas do próximo capítulo.

Com Assessoria

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