Mulheres estão morrendo mais por causas cardiovasculares

No Brasil a cada 12 minutos, duas mulheres morram em decorrência de cardiopatias. Mas elas ainda temem mais o câncer

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre as mulheres no mundo (Foto: Banco de imagem)
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No início de fevereiro, ganhou notoriedade o caso da médica Ana Carolina Borges Gorga, de 30 anos, encontrada morta dentro de um banheiro do Pronto-Socorro de Cubatão, em São Paulo. O laudo indicou que ela sofreu um infarto agudo do miocárdio e faleceu no local. Ela entrou para uma estatística assustadora. Mais de 8,5 milhões de mulheres morrem por ano, sendo 23 mil por dia, por causas cardiovasculares. Estima-se que no Brasil a cada 12 minutos, duas mulheres morram em decorrência de cardiopatias.

“Ela deveria ter uma vida atribulada, vivenciando plantões exaustivos sem dormir. O estresse emocional também acomete a mulher de uma forma que pode levar ao aumento de risco de mortalidade e isso acontece porque temos as coronárias mais finas, mais estreitas e por isso têm mais reatividades, dão mais espasmos e predispõem a ter eventos isquêmicos”, disse Maria Cristina Costa de Almeida, presidente do Departamento de Cardiologia da Mulher (DCM) da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC),

Segundo ela, as doenças cardiovasculares lideram as causas de mortes no sexo feminino, contudo ainda se acredita que se morre mais por câncer ginecológico ou, mais ainda, por câncer de mama. Durante sua trajetória, as mulheres costumam estar em dia com suas consultas com o ginecologista e, muitas vezes, nem sequer fazem um check-up com o cardiologista, o que é um deslize que pode ser fatal. A prevenção é fundamental. São números alarmantes e uma questão de saúde pública, necessárias ações de conscientização”, completou.

“O jovem não está voltado para as doenças e não tem a conscientização dos riscos que corre em relação às doenças cardiovasculares, principalmente a mulher, porque a doença coronariana tem características no sexo feminino distintas nos homens. Percebemos que as mulheres estão morrendo mais por causas cardiovasculares. Quando falamos de jovem, nos referimos a um evento agudo, súbito, que ninguém está esperando, por isso é algo que não faz parte da rotina, logo não se faz a prevenção adequada”, alerta Maria Cristina.

“A mulher jovem, que tem em média 30 anos, entra na idade reprodutiva; tem uma gestação que pode ser complicada; pode desenvolver diabetes gestacional; pode ter uma hipertensão gestacional culminando com uma pré-eclâmpsia, isso tudo aumenta o risco cardiovascular. As jovens não têm essa consciência, por isso são tão importantes momentos de esclarecimento nas diversas mídias, onde possamos conversar e esclarecer sobre esse assunto”, destaca Maria Cristina.

Coração da mulher é menor que o do homem

O coração da mulher é ligeiramente menor do que o do homem (cerca de dois terços do tamanho) e sua fisiologia é um tanto diferente. Pesquisas já atestaram que as suas frequências cardíacas médias, por exemplo, são mais aceleradas. As mulheres também têm artérias coronárias mais finas e maior tendência a sofrer com obstruções não apenas nas artérias principais, mas também nas menores, que fornecem sangue ao coração, e da microcirculação. Por isso, quando infartam, descrevem a dor no peito como uma pressão ou aperto, “falta de ar”, “mal estar” e não como uma dor típica.

Mesmo sem ter doença aterosclerótica, as mulheres jovens podem ter arterites. Às vezes na infância elas podem ter uma inflamação nas artérias e isso vai levar a um estreitamento destas artérias com o avançar da idade. Além de todas essas manifestações dos fatores de riscos que as mulheres jovens podem ter, ainda há problemas ginecológicos, como a insuficiência ovariana prematura, a síndrome do ovário policístico e tudo predispõe a diabete, obesidade e a dislipidemia”, explica a presidente do DCM/SBC.

As mulheres em todas as fases da vida podem ter risco aumentado de doenças cardiovasculares e não sentir nada. Por vezes, a primeira manifestação pode ser um infarto, que nelas pode ser mais fatal do que nos homens.

A literatura confirma que a prevalência de infarto do miocárdio em mulheres está aumentando. Segundo relatório de 2021, da Associação Americana de Cardiologia, a sobrevida depois do infarto é de 8,2 anos para homens e apenas 5,5 anos para mulheres. Elas sobrevivem menos tempo. Nos indivíduos que infartaram, a porcentagem de ser recorrente é de 17% para homens e 21% para mulheres, e são as mulheres jovens que necessitam de atenção.

Segundo a Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil (Arpen-Brasil), entre 2019 e 2021, o número de infartos em mulheres de 20 a 29 anos cresceu 23%; na faixa etária de 30 a 39 anos, o aumento foi de 38%. Se comparado ao sexo masculino, as porcentagens de alta já se assemelham. Homens de 20 a 29 anos foram a óbito por infarto 25% mais; entre os que têm idade entre 30 e 39 anos, o aumento foi de 38%.

O infarto do miocárdio está bastante relacionado a sintomas atípicos e que as mulheres apresentam com mais frequência, como ardência na pele, dor no pescoço, nos ombros, no rosto, na mandíbula, e, posteriormente, falta de ar, fadiga incomum e até mesmo palpitações. Nelas, a doença se associa ao estresse mental, emocional e psicossocial.

“Costumo fazer uma analogia da mulher com o polvo, aquele animal com vários ‘braços’. Temos várias funções, várias responsabilidades, muito mais ‘stress’ que o homem. Assumimos a responsabilidade em casa, com os filhos, com marido e com o trabalho. As mulheres estão mais competitivas no mercado, sendo mais demandadas e, consequentemente, ficando mais estressadas, cuidando mais dos outros e menos de si próprias”, evidencia Maria Cristina.

Conforme a presidente do DCM/SBC, a prevenção das doenças cardiovasculares, especialmente nas mulheres mais jovens, é fundamental. Isso perpassa pelo hábito de praticar atividades físicas regularmente; controle do peso com uma dieta saudável; evitar excesso de consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo e uso de drogas ilícitas como a cocaína.

“A cocaína leva ao espasmo coronariano e isso é o maior impacto na mulher. Ela precisa se preocupar na prevenção em todas as faixas etárias. A incidência tem aumentado e é um fator muito preocupante que devemos abordar em todas as esferas da sociedade”, afirma Maria Cristina.

Cardiopatias em mulheres permanecem pouco estudadas, pouco reconhecidas, sub-diagnosticadas e subtratadas, especialmente o infarto do miocárdio. A maioria dos ensaios clínicos realizados para o tratamento das doenças cardiovasculares foram realizados com pouca representatividade feminina. Por isso, a SBC reconhece e reitera a necessidade de estimular pesquisas que sejam feitas para e por mulheres, para aumentar a participação delas nos estudos clínicos de modo  que se consiga melhores diagnósticos e tratamentos adequados para enfrentar as doenças do coração no sexo feminino com maior eficiência.

 

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