100 mil mortos: ‘Não é um número que vai fazer a diferença’, diz general

Após 100 mil mortes pela Covid-19, ministro interino da Saúde defende isolamento social e faz críticas a protocolos de atendimento a pacientes

Pazuello conheceu o Centro Hospitalar Fiocruz para a Pandemia da Covid-19, projeto desenvolvido em parceria com o Ministério da Saúde (Foto: Peter Ilicciev / Fiocruz)
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Cem mil mortes depois e o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, resolveu defender o tratamento precoce da Covid-19, mesmo sem ainda um medicamento com eficácia comprovada cientificamente contra a doença.  Em coletiva de imprensa após a cerimônia de inauguração da Unidade de Apoio ao Diagnóstico da Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, ele disse o número de vítimas hoje não impacta diretamente na política de combate ao coronavírus.

Não é um número que vai fazer a diferença. Não é 95, 98 ou 101 que vai fazer a diferença. O que faz a diferença é cada brasileiro que se perde. Nós precisamos compreender como parar o sangramento com diagnóstico precoce, tratamento imediato e suporte ventilatório antes da UTI”, afirmou Pazuello, que não é médico e está há quase três meses no cargo, sem a designação de um titular pelo presidente Jair Bolsonaro.

Para ele, o foco do governo agora é buscar uma alternativa para conter a gravidade da pandemia e evitar mais mortes. De acordo com o último balanço do Ministério da Saúde, o país registra 3.035.422 diagnósticos de coronavírus e 101.049 mortes, mantendo-se como o segundo país do mundo em número de infectados e em número de vítimas fatais.

Pazuello também defendeu uma mudança nos protocolos de atendimento e admitiu que o país errou em não estimular o acesso imediato das pessoas às unidades de saúde, exceto quando sentissem falta de ar.

Já perdemos 100 mil brasileiros com nome, identidade, família e, podem acreditar, estamos todos os dias revendo nossos protocolos, procurando o que tem de melhor, e alterando aquilo que não estava dando certo. É nesse viés que posso afiançar: diagnóstico e testagem, que se encaixam com essa inauguração de hoje, são a base do tratamento precoce”, afirmou.

‘Esforço de guerra’, diz general do Exército

O ministro interino da Saúde disse que o Brasil vive um momento de esforço de guerra contra o novo coronavírus e que é preciso haver união no combate à pandemia.

Para isso, segundo ele, não devem existir diferenças partidárias ou ideológicas. “Somos todos brasileiros combatendo, dia a dia, da melhor forma para que não haja mais mortos em nosso país”, disse.

Pazuello ainda destacou o papel da imprensa disse que é importante contar com a participação dos jornalistas para fazer chegar informações corretas aos lugares de mais difícil acesso no país.

Estamos em um esforço de guerra, lutando contra uma pandemia. O Orçamento [da União] que foi liberado é um orçamento de guerra. Quando as empresas aceitam as requisições de equipamentos e materiais isso é esforço de guerra. Quando a mídia chega conosco para, juntos, aumentarmos a capacidade do país em chegar ao mais longe rincão, levando a informação correta e necessária, estamos todos juntos nessa missão”, comentou.

(Brasília - DF, 06/08/2020) Palavras do Ministro interino da Saúde,  Eduardo Pazuello.
Foto: Carolina Antunes/PR
Ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello (Foto: Carolina Antunes/Presidência da República)

Nova unidade da Fiocruz poderá processar 15 mil testes por dia

A nova unidade da Fiocruz vai ampliar a capacidade nacional de processamento de testes moleculares para detecção da covid-19 e está equipada com plataformas automatizadas. Em pleno funcionamento, a unidade terá a capacidade de liberar até 15 mil resultados de testes moleculares por dia.

O ministro destacou que a testagem inclui o acompanhamento e compreensão das curvas de casos, uma vez que o diagnóstico já foi feito anteriormente pelo médico. Pazuello acrescentou que dessa forma vai ser possível “parar o sangramento que representam as mortes diárias pela covid-19”.

Atendimento

O ministro recomendou que as pessoas que tiverem sintomas da doença que não esperem a situação se agravar para buscar atendimento. Segundo ele, não está correto ficar em casa até passar mal, com sintomas de falta de ar. Esse protocolo já foi alterado pelo Ministério da Saúde, explicou. “Isso não funciona, não funcionou e deu no que deu. Nós, há dois meses, já mudamos esse protocolo.

A qualquer sintoma, procure imediatamente a unidade básica de saúde, as triagens da UPA, procure o médico, que tem poder soberano de diagnosticar de forma clínica e epidemiológica, com exame laboratorial, com exames de imagens e testes para definir o diagnóstico”, disse o ministro,

Na sua visão, com esse procedimento, o paciente não vai ter o quadro agravado e necessitar de uma UTI. “O risco de morrer aí é muito pequeno, a partir do tratamento correto, do diagnóstico precoce e da compreensão de que não é ficar em casa aguardando a piora dos sintomas”, completou.

Ele também tentou pacificar os ânimos. “Não existem, neste momento, diferenças partidárias ou ideológicas. Somos todos brasileiros combatendo, dia a dia, da melhor forma para que não haja mais mortos em nosso país”, disse Pazuello. 

Gestão

De acordo com Pazuello, cabe aos municípios e estados a gestão de medidas preventivas e de afastamento social. Todas têm o apoio do governo, mas precisam ser seguidas de ações para identificar o diagnóstico da população. “Nós apoiamos todas, porque quem sabe o que é necessário naquele momento precisa de apoio, e nós apoiamos.”

Legado

Com o início das operações da Unidade de Apoio ao Diagnóstico da Covid-19, segundo o ministro, a Fiocruz dá mais um passo em sua estrutura interna, deixando um prédio que ficará como legado, o centro de testagem. A logística nacional de testagem do Brasil não é simples por ser um país continental, explicou. “Nossos Lacens [Laboratório Central de Saúde Pública] não têm estrutura e capacidade de fazer toda a demanda de testagens, processamentos. Cabe à Fiocruz, aqui e em São Paulo, receber a demanda para reforçar os Lacens . O que o Lacen não puder fazer no seu estado, faremos a logística, traremos para cá, e com isso, a gente aumenta nossa capacidade de testagem”.

“Espero ter sido claro nessa posição, claro que estou falando para que a imprensa divulgue. Esse é o papel que espero de todos nós. Fica clara a missão: é preciso que todos compreendam o que tem que ser feito para que possamos parar o sangramento e as perdas. Todos os dias nós sofremos as perdas. Não é um número. Não são 95 mil, 98 mil, 100 ou 101 que vão fazer a diferença. O que faz a diferença é cada brasileiro que se perde. A gente precisa compreender como parar o sangramento e parar o sangramento é diagnóstico precoce, tratamento imediato, compreensão do suporte ventilatório antes da UTI”, afirmou.

Fiocruz

A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, disse que a entidade tem atuado em diversas frentes no combate ao novo coronavírus, desde os testes moleculares, ações educacionais e de pesquisa, uma vez que ainda há muitas questões sem respostas, que afligem o país e o mundo. Nísia lembrou que a Fiocruz está à frente do desenvolvimento da vacina de Oxford.

A presidente agradeceu à Iniciativa Todos pela Saúde, que conta com recursos do Itaú Unibanco e participa do projeto de início da operação da Unidade de Apoio ao diagnóstico da Covid-19. Agradeceu também ao ministério da Saúde pelo apoio a esta ação fundamental no enfrentamento à pandemia, com a ampliação da capacidade de realização dos testes.

“A política e capacidade de testagem é fundamental hoje em todas as etapas, por isso, a Fiocruz nos seus 120 anos, com os importantes apoios aqui mencionados, com muito compromisso, faz ela faz essa entrega hoje. Lamentamos as perdas de vidas durante essa pandemia e reforçamos o nosso compromisso com ações de saúde pública, de ciência e tecnologia que nos permitam nosso país superar este quadro e caminhar no sentido de fortalecimento do nosso Sistema Único de Saúde e da base científica e tecnológica tão importante para isso”, disse.

Nísia Trindade afirmou ainda que a inauguração é um fortalecimento de todo o sistema de vigilância no qual os Laboratórios Centrais dos estados têm papel relevante. “Nosso objetivo é somar, contribuir e em um momento tão delicado somarmos forças”, disse, acrescentando, que após a pandemia a Unidade de Apoio será certamente uma contribuição fundamental no campo da vigilância sanitária do país.

Recursos

A vice-presidente do Banco Itaú e representante da instituição no Comitê Gestor da Iniciativa Todos pela Saúde, Claudia Politanski, lembrou que a instituição colaborou com a construção do Hospital de Campanha de Manguinhos, estrutura permanente que pertence a Fiocruz. Além do centro de testagem da Fundação o banco também destinou recursos para o centro de testagem do Ceará.

“A gente sabe a importância da testagem no combate à pandemia e no controle da gestão epidemiológica dessa doença. Temos também a oportunidade de ajudar na estruturação do projeto de vacinação. Sabemos também da importância no contexto todo”, informou, destacando que a Unidade de Apoio ao Diagnóstico permanecerá depois da pandemia e vai atender a outros desafios no âmbito da saúde pública que possam se apresentar.

O presidente da Comissão Externa do Coronavírus na Câmara Federal, Luiz Antônio Teixeira Júnior, o deputado Luizinho (PP/RJ), disse que Pazuello vai marcar a gestão dele como ministro, pelo apoio à Fiocruz, que é a mola da saúde pública brasileira.

“Sai daqui, desses cérebros, dessas equipes, a possibilidade de transformação da saúde pública brasileira. Cada investimento aqui dentro é uma decisão de legado”, observou, acrescentando que está na Fiocruz a esperança de libertação dos brasileiros com o desenvolvimento da vacina contra a doença.

“Daqui vai sair a libertação do povo brasileiro nesse momento tão difícil. É daqui, dessa casa de 120 anos que vai nascer a vacina, que com certeza absoluta, vai devolver a normalidade às nossas vidas.”

Na ocasião, ele visitou o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), onde são produzidos testes e vacinas, e o Centro Hospitalar Fiocruz para a Pandemia da Covid-19 – INI, que recebeu investimento de R$ 140 milhões do Ministério da Saúde para sua construção, em março deste ano.

No Centro Hospitalar Fiocruz para a Pandemia da Covid-19, Pazuello teve a oportunidade de conhecer o projeto desenvolvido em parceria com o Ministério da Saúde, que tem auxiliado os governos estadual e municipal no combate à Covid-19. A unidade hospitalar de montagem rápida tem 195 leitos exclusivos de tratamento intensivo e semi-intensivo para pacientes graves infectados pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). O centro faz parte do Global Founding, que financia pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o tratamento da Covid-19.

Já na visita à Bio-Manguinhos, o ministro da Saúde conheceu o processo de produção do teste RT-PCR (biologia molecular) para diagnóstico da Covid-19 e a capacidade da Fiocruz para realização do processamento dos testes. Hoje, a instituição tem uma capacidade instalada de realização de 14 mil testes por dia. O objetivo da visita foi acertar questões logísticas sobre a utilização dos testes necessários para acompanhar o desenvolvimento da doença no país.

Durante a visita, o ministro também foi informado sobre o projeto do Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde (Cibs) no campus Santa Cruz, que foi concebido com o objetivo de ampliar a oferta de vacinas e biofármacos. No Complexo serão produzidas vacinas como a Tetra e Tríplice Viral e a contra meningite A e C, por exemplo. O objetivo do Cibs será atender não só aos programas públicos de saúde como também a demanda externa das Nações Unidas (Opas, Unicef e OMS). Além disso, o complexo trabalhará para garantir a autossuficiência brasileira na produção desses insumos.

Vinculada ao Ministério da Saúde, a Fiocruz é uma das principais instituições de pesquisa em saúde pública do mundo, atuando no desenvolvimento em ciências biológicas e sendo responsável pela produção de insumos, como testes e vacinas. Estiveram com o ministro na visita a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima; o diretor de Bio-Manguinhos, Maurício Zuma; e a diretora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), Valdilea Veloso.

Com Agências

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