‘Não há nada mais dolorido que a gordofobia. Sofri com a rejeição’

Ele já pesou 135 quilos e após cirurgia bariátrica, perdeu 45kg. Conheça a história de superação do empresário carioca Alexandre Knoploch

Alexandre, hoje aos 31 anos, conta como foi enfrentar o preconceito com seu peso (Foto: Acervo pessoal)
Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!

Ele já pesou 135 quilos e, atualmente, graças a uma cirurgia bariátrica realizada há sete anos, está com 90. O jovem empresário carioca Alexandre Gomes Knoploch dos Santos, de 31 anos, teve uma infância conturbada, com a separação dos pais, aos quatro anos. Mas o que mais o fez sofrer foi o preconceito que teve que enfrentar por ser gordo. Brincadeiras de mau gosto como “a cadeira que vai quebrar” ou comentários maldosos como “você já tentou fazer dieta?”, “fecha a boca”, “gordo é gordo porque é sem vergonha”, “você come como um porco” foram alguns exemplos.

Empreendedor na área de Tecnologia da Informação, Alexandre criou sua primeira empresa aos 19 anos. Hoje, milita em movimentos sociais, em favor da segurança no bairro da Tijuca, à frente da recém-criada associação de moradores e empresas da região, e também para ajudar a manter o trabalho realizado pelo IBRM – Instituto Brasileiro de Reeducação Motora, que sofre com a falta de recursos.

Para ele, obesidade não tem cura, mas é preciso saber conviver com a doença e deve-se cobrar políticas públicas para o tratamento da população. “A obesidade é uma doença incurável e você terá que lutar contra ela todos os dias”, afirma ele. Veja o depoimento exclusivo de Alexandre para a seção SuperAção, do ViDA & Ação.

 ‘Decidi fazer bariátrica para ter qualidade de vida’

Desde a adolescência convivi com a obesidade. Fui portador desta triste e incurável doença até 2011, quando fiz operação bariátrica. Estava obeso grau II, meus índices de IMC (índice de massa corporal) atingiam taxas altíssimas e de carona sofria com outras doenças decorrentes do sobrepeso como hipertensão, diabetes e lombalgia. Não há nada mais dolorido que a gordofobia. Sofri com a rejeição e sentia na pele o preconceito da sociedade. É bem cruel.

Alexandre Knoploch antes da bariátrica (à esquerda) - Foto: Acervo pessoal
Alexandre Knoploch antes da bariátrica (à esquerda) – Foto: Acervo pessoal

O obeso encontra dificuldades a todo o momento. Ao andar de carro por causa do espaço pequeno para se acomodar, ao subir e descer as escadas em uma estação de metrô, ao precisar entrar no ônibus através de roletas que não cabemos e ao ocupar dois assentos.

Temos que lidar com a discriminação em uma entrevista de emprego, com as brincadeiras durante o trabalho sobre “a cadeira que vai quebrar” e até mesmo lidar com as pessoas que fiscalizam o prato que você monta em um self-service. O mais complexo é que a todo o tempo as pessoas veem a doença como gula. Os comentários do tipo “você já tentou fazer dieta?”, “fecha a boca”, “gordo é gordo porque é sem vergonha”, “você come como um porco” são alguns exemplos do preconceito do dia a dia.

Em 2011, a minha filha nasceu e me fez repensar no estilo de vida que levava. Como não haveria ajuda de políticas públicas para que conseguisse tratar esta doença, decidi fazer uma cirurgia bariátrica para ter qualidade de vida e poder criar a minha filha da melhor maneira. Eu precisava mesmo da cirurgia pois, diferente do que muitos pensam, para mim o pior momento do dia era durante as refeições. Sentia uma triste sensação de impotência por não ter comido menos e muitas vezes essa sensação é fatal para quem não consegue lidar com isso.

Depois da cirurgia foram dois meses difíceis passando sede, com dreno e me alimentando à base de suplementos, mas também achava sensacional ver meu corpo se modificando, roupas gigantes serem doadas, autoestima ressurgindo como fênix e uma grande alegria de me ver saudável. Ao fim dessa década, posso afirmar: engana-se quem acredita que apenas a cirurgia é a solução. Se não fortalecer a mente e fazer uma reeducação alimentar, o “ex-obeso” pode voltar a engordar de novo. A obesidade é uma doença incurável e você terá que lutar contra ela todos os dias.

Importante pensarmos que temos uma sociedade doente que engloba tanto os obesos quanto os “gordofóbicos”. Precisamos lutar para atenuar esses dois fatos. Cabe ao governo criar políticas públicas sérias contra a obesidade, principalmente em relação à obesidade infantil. Para os já obesos, precisamos de políticas eficientes que possam criar equipes multidisciplinares para ajudar no tratamento. É preciso aumentar o número das cirurgias bariátricas pelo SUS.

Além de tudo, o governo precisa criar campanhas publicitárias sobre o que é a obesidade e que possam combater a gordofobia. Aliás, o respeito deve vir para todos, inclusive em campanhas contra o racismo, homofobia, intolerância religiosa, que cada vez mais vem ganhando destaque na mídia por conta de uma Guerra que pode acontecer a qualquer momento, entre outros preconceitos.

Para finalizar, deixo um recado para quem lê este artigo: cabe a você olhar um obeso e entender que ele não vive desta forma porque gosta. Ele com certeza quer ajuda para ter uma vida saudável e para que isso aconteça precisa de um órgão que olhe por ele, precisa de amor e principalmente de compreensão”.

Uma infância turbulenta, com vários endereços

Alexandre Gomes Knoploch dos Santos nasceu no dia 23 de julho de 1986 no Hospital dos Italianos do Grajaú, no Rio de Janeiro. É filho do bancário Maurício Knoploch e da dona de casa Márcia Gomes, um casal classe média e que descende dos Knoplochs. Membros da família de origem polonesa e judaica vieram da Polônia em meio ao início da grande tragédia da perseguição aos judeus e da 2ª Guerra Mundial.

Seus pais se separaram quando ele tinha somente quatro anos de idade e, durante três anos, disputaram sua guarda na Justiça. Alexandre chegou a morar com as avós materna e paterna, a tia materna e com o pai. Mas foi com a mãe que conviveu por mais tempo na infância e adolescência. Alexandre morou em diversos lugares do Rio de Janeiro, da zona norte à zona sul,  como Quintino, Piedade, Pavuna, Maria da Graça e Copacabana.

Também passou ainda por outras cidades como São João de Meriti, na Baixada Fluminense, e também em Manaus/AM e Joinville/SC. Devido às inúmeras mudanças em sua vida, estudou em diversos colégios como o extinto Nossa Senhora da Piedade, Colégio Santa Mônica, Colégio Mercúrio, Escola Municipal Souza da Silveira, Colégio SESI, Colégio Objetivo, entre outros.

O primeiro empreendimento na área de TI

Logo no início de sua adolescência, o menino criado entre a zona norte carioca e a sul chamava atenção pelo seu interesse por telejornais e política. Aos 15 anos, seu pai – que era sócio de uma empresa de tecnologia – o convocou para trabalhar nela com o intuito de inseri-lo o mais cedo possível no mercado de trabalho. E foi justamente ali que nasceu a sua vida profissional no setor de Tecnologia da Informação.

Aos 19 anos, foi em busca do seu primeiro passo como empreendedor: criou a sua própria empresa de Tecnologia da Informação. Nesta mesma idade, se casou pela primeira vez com a sua colega de trabalho. O primeiro ato de empreendedorismo do carioca teve vida curta (quatro anos), mas não tão curto quanto seu casamento, que viria a durar apenas um ano.

Após um ano e meio conheceu a sua esposa atual. Foi quando ele recebeu dois amores de uma só vez: a esposa e a filha dela, que imediatamente ganhou mais um pai.  Os anos seguintes foram de grandes novidades: tornou-se pai pela segunda vez, submeteu-se a uma cirurgia bariátrica e iniciou a sua segunda jornada como empreendedor com a Cloud Technology & Security, empresa focada em Segurança da Informação.

Ativismo na sociedade civil organizada

Em 2014 Alexandre participou ativamente da campanha à eleição presidencial e no ano seguinte, por aclamação, foi eleito o primeiro presidente da Associação Brasileira de Profissionais e Empresas de Segurança da Informação e Defesa Cibernética, a Asegi.

Em três anos, a Asegi passou a ser a principal referência do Brasil no tema de ataques cibernéticos, sendo inclusive consultada pelo Congresso Nacional para temas ligados à cibernética. Alexandre Knoploch também foi um dos autores da primeira Norma Brasileira de Segurança da Informação, a NBSI.

Em 2017, após conviver com o aumento expressivo da violência na grande Tijuca, convocou moradores da região e fundou a Associação de Moradores e Empresas da Grande Tijuca (Amoti), elegendo-se presidente. Uma de suas iniciativas foi transformar o Tijuca Presente em um projeto de segurança pública, com doação de itens junto ao setor privado para o 6º Batalhão da PM

Entre os projetos sociais, Alexandre integra o time do IBRM, que já ajudou milhares de pessoas a ser reabilitadas. “No momento, o instituto sofre com a crise e falta de investimento. Estou me aliando a mais pessoas para mudar esse quadro. Minha missão é ajudar este instituto a voltar a ser referência para a população”, conta, animado, sobre sua nova empreitada.

Escreva ou grave um vídeo contando a sua história para a gente e envie para superacao@vidaeacao.com.br.

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!

You may like

In the news
Leia Mais
× Fale com o ViDA!