Nem a mais, nem a menos: sal na medida certa

Excesso de iodo pode causar tireoidite de Hashimoto e câncer da tireoide. Já a carência dele pode levar a complicações obstétricas, parto prematuro e até aborto

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Presente no sal de cozinha, o iodo é a matéria-prima que a tireoide utiliza pra produzir os hormônios T4 e T3. A falta ou carência desta substância pode causar uma diminuição na síntese dos hormônios tireoideanos, levando ao hipotireoidismo em variados graus (subclínico e clínico). Também implicarem maiores chances de bócio endêmico (o aumento do volume da tireoide).

O hipotireoidismo em gestantes pode levar a sérias complicações obstétricas, parto prematuro e até aborto. O excesso de iodo também é prejudicial para saúde: aumenta o riso de Tireoidite de Hashimoto, que é uma doença autoimune da tireoide. Além disso, está correlacionado com o aumento dos casos de câncer da tireoide.

“Para o feto, há consequências neurológicas muitas vezes irreversíveis, além de retardo no crescimento e no desenvolvimento do sistema nervoso central”, explica o , endocrinologista Helton Estrela Ramos. Ele aprensenta o panorama do estado nutricional de iodo no Brasil e mostra onde é preciso avançar durante o 18° Encontro Brasileiro de Tireoide, realizado de 19 a 22 de abril, em Campos do Jordão (SP).

“A ingestão adequada de iodo durante a gestação é essencial para a síntese dos hormônios tireoidianos, que são importantes para as funções fisiológicas da mãe e para uma adequada maturação do sistema nervoso central do feto”, afirma a presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – regional RJ (Sbem-RJ), Flávia Conceição.

Perigos durante a gravidez

Uma pesquisa realizada com gestantes incluídas no primeiro trimestre gestacional, atendidas durante consultas pré-natais em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado do Rio de Janeiro mostrou que elas apresentam suficiência de iodo, sendo assim, o benefício da suplementação de iodo neste cenário não é claro e deve ser considerado com muito cuidado.

O estudo foi apresentado em março deste ano na UFRJ como dissertação de mestrado da aluna Débora Ayres, orientada pelos endocrinologistas  e membros da SBEM-RJ Patrícia de Fátima dos Santos Teixeira e Mário Vaisman. O objetivo principal é estimar, através da mensuração do conteúdo de iodo na urina se a atual situação do programa de iodação do sal oferecido à população gestante é capaz de fornecer a quantidade necessária de iodo para prevenir e controlar possíveis complicações decorrentes de sua insuficiência.

Esse é o maior estudo brasileiro avaliando o status nutricional de iodo em mulheres no primeiro trimestre gestacional e o primeiro conduzido após a resolução de 25 de abril de 2013, que recomenda a redução da faixa de iodação do sal de cozinha para 15-45mg de iodo por Kg de sal. Além disso, se destaca por realizar ultrassonografia de tireoide nas gestantes e por medir a concentração de iodo no sal de cozinha consumido por elas.

Os resultados dessa dissertação reforçam a necessidade de se conduzir estudos em diferentes regiões do Brasil, já que nosso país é muito heterogêneo e com grandes diferenças sociodemográficas, geográficas e climáticas que podem explicar a coexistência de áreas com suficiência e insuficiência iódica dentro desse vasto território” (Flávia Conceição, presidente da Sbem-RJ)

Pesquisa aponta excesso de iodo no Nordeste

O Nordeste brasileiro apresenta dados próximos do excesso de consumo de iodo. É o que revela a Pesquisa Nacional para Avaliação do Impacto da Iodação do Sal, publicada em dezembro de 2016, que traça o panorama do estado nutricional de iodo no Brasil.

“São considerados cálculos medianos para afirmar se a população de determinada região tem deficiência ou excesso de iodo. O que apresentou a maior mediana foi a região Nordeste, com 298.80µg/l (microgramas por litro), que é o número que se aproxima do valor de referência de 300µg/l. Acima disso já é considerado excesso de consumo de iodo. A região que apresentou menor mediana foi o Sul, com 248µg/l”, explica o Dr. Helton .

Com dados coletados entre 2008 e 2014, a pesquisa percorreu 477 municípios, avaliando 18.978 crianças escolares de seis a 14 anos, provenientes de colégios públicos e particulares de todo Brasil. A mediana nacional foi de 276,75 µg/l de iodo na urina. Esse valor permite concluir que a situação do iodo no país em crianças avaliadas está no nível ‘mais que o adequado’.

Já no Norte do país, há deficiência de iodo

Mas a pesquisa releva uma prevalência alta de deficiência de iodo na região Norte, especialmente no Amazonas e Maranhão, que chega a ter 23,8% da população exposta à deficiência de iodo. “Com esses dados podemos desenvolver planos e estratégias para combater deficiência de iodo nessas regiões. Como o Brasil tem dimensão continental, vários outros fatores podem interferir no consumo de iodo. Na minha opinião, as estratégias devem ser diferentes para cada região”, declara o médico.

Para os endocrinologistas, ainda há necessidade de mais estudos que tenham representatividade nacional e que possam fornecer dados relevantes sobre o estado nutricional de iodo em populações específicas como crianças, gestantes e idosos. A maioria dos estudos foi realizada antes de 2013 quando a Resolução RDC reduziu a iodação do sal de cozinha brasileiro. “É preciso avançar nos projetos de pesquisa para medição de iodo urinário na população para sempre monitorar o panorama do estado nutricional”, conclui o médico.

Onde achar iodo

A principal fonte de iodo é o sal de cozinha, encontrado nas refeições, cuja iodação é fiscalizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). E atenção: o sal deve ser adequadamente guardado e armazenado, pois o calor e a umidade elevados podem levar à perda de concentração de iodo.

Alimentos derivados do mar, como peixes e crustáceos, também são boas fontes além do sal. Populações que crescem longe de áreas litorâneas ou cujos alimentos são cultivados em solo pobre vão apresentar maior de deficiência de iodo.

Encontro sobre tireoide

‘Avanços na Genética dos tumores pediátricos e implicações clínicas’, ‘Disfunção tireoidiana no idoso – Quando e como tratar’, ‘Efeitos dos hormônios tireoidianos no metabolismo lipídico, glicídico e no coração’, ‘Reflexos moleculares e metabólicos da ação dos desreguladores endócrinos’, são alguns dos temas que estarão em discussão durante o 18° Encontro Brasileiro de Tireoide.

O encontro será aberto para profissionais e estudantes de graduação e pós-graduação e para atuantes nas áreas de Ciências Biológicas e da saúde, que tenham interesse na glândula tireoide. As inscrições para o XVIII Encontro Brasileiro de Tireoide já estão abertas e podem ser realizadas no site do evento www.ebt2018.com.br.

Da Redação, com Assessorias

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