Novo remédio para obesidade chega ao mercado

Lorcasserina começa a ser comercializada no Brasil em outubro. Sociedade médica garante que medicamento não aumenta risco de infarto ou AVC

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Pessoas que sofrem com obesidade ou sobrepeso poderão contar com um novo aliado no tratamento, além da Sibutramina e do Orlistat, que costumam ser receitados na maior parte dos consultórios de endocrinologia. Aprovada em dezembro de 2016 pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para tratamento de sobrepeso associado a doenças e à obesidade, a lorcasserina está prevista para chegar no país nos próximos dias.

Disponível em todo o país, o produto promete ser um aliado a mudança no estilo de vida, com dieta e atividade física, para a perda e manutenção do peso, de acordo com a Eurofarma, fabricante do Belviq® (cloridrato de lorcasserina).

A lorcasserina é um agonista, ou seja, um ativador de um receptor dos neurônios POMC, que são neurônios que produzem uma substância redutora do apetite. “Esse medicamento tem uma ação anorexigênica, de diminuir o apetite e, com isso, o paciente come menos”, comenta o endocrinologista Marcio Mancini, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP).

Segundo ele, estudos com esse medicamento avaliaram a segurança cardiovascular e concluíram que ele é seguro para os pacientes que sofrem de obesidade e têm riscos cardiovasculares associados.

A lorcasserina não aumenta risco de infarto ou acidente vascular cerebral (AVC). Além disso, os estudos verificaram que os pacientes não diabéticos ou pré-diabéticos tiveram menor incidência de diabetes tipo 2 com uso do medicamento. As complicações microvasculares, como retinopatia, nefropatia e neuropatia também foram reduzidas”, explica.

Poucos efeitos colaterais

A lorcasserina foi aprovada porque  pelo menos 35% dos pacientes perderam 5% do peso, e essa perda foi mais do que o dobro em relação aos pacientes que tomaram o placebo. Segundo o endocrinologista, essa nova linha terapêutica para tratamento do sobrepeso e obesidade tem poucos efeitos colaterais e baixo potencial de interação medicamentosa.

Nos estudos feitos com 12 mil pacientes seguidos por uma média de 3,3 anos, cefaleia e tontura ocorreram apenas em 1% deles. A continuação do tratamento com a lorcasserina deve ser mantida se o paciente perder pelo menos 5% do peso nas primeiras 12 semanas de tratamento.

A melhora do diabetes ocorreu logo nas primeiras semanas de tratamento mesmo quando a perda de peso ainda não havia sido significativa. “Uma hipótese é que a lorcasserina tenha um efeito melhorando a glicose no sangue dos diabéticos diminuindo a glicemia por ativação desses neurônios, levando a maior secreção de insulina”, explica o médico que é especialista em tratamento da obesidade.

A lorcasserina vai ser comercializada em caixas com 60 comprimidos, suficientes para 30 dias de tratamento. Durante os estudos para liberação do medicamento ficou estabelecido que a melhor dose para o tratamento seria um comprimido de 10 mg pela manhã e outro à noite.

Sibutramina e Orlistat são recursos atualmente

No Brasil, a obesidade já é uma realidade para 18,9% dos brasileiros e o sobrepeso atinge mais da metade da população (54%), de acordo com o último levantamento divulgado pelo Ministério da Saúde. Em 10 anos, as taxas mais que dobraram entre os jovens e chegaram a uma média de aumento de 60% nas demais faixas etárias.

Um desafio se coloca diante da comunidade científica: como encontrar os mecanismos que modificam os centros de fome e/ou saciedade dos seres humanos. Na opinião do médico Antônio Carlos do Nascimento esse deve ser o principal objetivo dos pesquisadores que buscam a fórmula para controlar a epidemia de obesidade que castiga o mundo.

O médico lembra que nenhum fármaco ou procedimento cirúrgico demonstrou sucesso pleno no emagrecimento de todos os pacientes obesos ou com sobrepeso. Mas cita que em situações bem individualizadas a Sibutramina, medicamento inicialmente desenvolvido para tratar a depressão, mostrou-se eficaz como emagrecedor, estimulando o centro da saciedade e diminuindo a ingestão calórica.

A sibutramina chegou ao mercado brasileiro em 1996 e mantém-se até os dias de hoje mesmo depois de ser retirada dos mercados europeu e americano. A sibutramina encontra-se em nossa farmacopéia e em condutas responsáveis e é sem dúvida um ótimo aliado no tratamento da obesidade”, garante. 

O especialista cita ainda o Orlistat, medicamento de ação exclusivamente intestinal que desde 1998 é utilizado no mercado brasileiro. “A ação do medicamento se dá pela inibição de uma enzima atuante na absorção de gorduras, tal interferência faz com que 30% da gordura ingerida não seja absorvida, o que patrocina ainda um efeito de catarse, com eventuais diarreias ou eliminação involuntária de gordura líquida”, destaca. 

Injetável, Saxenda apresenta benefícios

Segundo ele,  as anfetaminas, especialmente a lisdexanfetamina, podem ser recurso em alguns casos, mas no momento, a medicação de melhor resultado quanto à diminuição e sustentação da perda ponderal é a liraglutida (Saxenda), um medicamento injetável. “Inúmeros estudos apontam segurança e benefícios com seu uso, incluindo sua capacidade de regeneração e reestruturação de células pancreáticas no prefácio de suas falências”, esclarece.

Antes usado apenas para tratar diabetes, o Saxenda foi aprovado pelo FDA e pela Anvisa e chega ao Brasil en junho de 2016. O medicamente tem como princípio ativo a liraglutida, mesmo do Victoza, já usado no país, mas para tratamento de diabetes tipo 2. O Sazenda foi o terceiro remédio aprovado no pais para tratar obesidade, junto com a sibutramina e o orlistat.
O saxenda é indicado para adultos com IMC maior que 30 ou maior do que 27 no caso dos que têm ao menos um problema de saúde relacionado ao peso, como pré-diabetes, diabetes tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemia ou apneia obstrutiva do sono. Os benefícios da medicação são além de perda de peso de cerca de 2 a 4 kg por mês, melhora de parâmetros metabólicos como a glicose , o colesterol ruim (LDL), e diminuição da pressão arterial.

Dr Antônio Carlos ressalta que nas situações de obesidade grave nas quais foram tentados todos os recursos fármaco-dietéticos e não foram alcançados resultados substanciais deve ser utilizado o recurso da cirurgia bariátrica.  

Estudo britânico mostra eficácia dos medicamentos antiobesidade

Um levantamento publicado em julho de 2018 no jornal britânico Clinical Obesity Wiley analisou a situação da obesidade no Reino Unido e mostrou o potencial dos medicamentos antiobesidade, com base em evidências clínicas de estudos de países como Estados Unidos, França, Alemanha e do próprio Reino Unido. Segundo a pesquisa, quando uma abordagem básica, que inclui dieta e mudança comportamental, não surte efeito, os medicamentos são auxiliares no combate à doença, principalmente a Liraglutida 3,0 mg e a Naltrexona combinada com a Bupropiona.

Ao todo, 53 sites acadêmicos e de centros de cuidados básicos de saúde americanos foram checados quanto à combinação da Naltrexona e Bupropiona. Um estudo realizado nos Estados Unidos com 1.742 participantes foi considerado diferencial nessa análise. Ele avaliou três grupos: um tratado com placebo, um com doses de Naltrexona de 16mg e outro com 32mg. Após um período de 56 semanas, o grupo placebo apresentou uma redução de 1,3% no peso corporal enquanto o grupo de 32mg apresentou uma redução de 6,1%.

“No Reino Unido, um quarto da população adulta é obesa, o que impacta na saúde das pessoas e, consequentemente, no Sistema Público de Saúde. No Brasil não é diferente. Além de ser uma doença crônica degenerativa (DCD), é multifatorial, e traz consigo uma série de complicações, como hipertensão, diabetes, hipercolesterolemia e outras”, afirma Durval Ribas Filho, médico nutrólogo e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

Quanto à Liraglutida, que é um medicamento também utilizado para combate ao diabetes, foram analisados 191 sites em mais de 27 países da Europa, América do Norte e do Sul, Ásia, África e Austrália. Uma pesquisa publicada no periódico britânico The Lancet foi destaque no levantamento da Wiley ao investigar a utilização do medicamento durante três anos.

Um total de 2.254 pacientes com pré-diabetes e obesidade foram acompanhados e divididos em dois grupos: um tratado com Liraglutida 3,0 mg e outro com placebo. Foi comprovado no grupo da medicação que, além de promover uma redução do peso (6,1% do peso), apenas 2% das pessoas desenvolveram diabetes tipo 2, contra 6% do grupo de placebo.

A abordagem terapêutica da obesidade deve seguir a pirâmide de tratamento das DCD’s, que começa pela mudança comportamental, passando por dietoterapia e atividade física. Se não houver resultado, antes da cirurgia bariátrica devem ser utilizados medicamentos. “Esses remédios reduzem o consumo de energia, inibindo a fome e o desejo pelo consumo de gordura, aumentando a saciedade e diminuindo a absorção de gorduras e carboidratos, em alguns casos. Eles ainda aumentam a taxa metabólica, que é o mínimo de energia necessária para manter as funções do organismo em repouso. Fazendo, assim, com que haja um maior gasto energético.”

Remédio deve levar a perda de 10% do peso no mínimo

Por Patrícia Ceolin Grassi *

Em uma revisão bibliográfica de um artigo científico**, publicado em 2016, foram avaliados a eficácia e os efeitos adversos dos cinco medicamentos aprovados para o tratamento da obesidade: Orlistat, Lorcaserina, Naltrexona + Bupropiona, Pentamina + Topiramato e Liraglutida. Qual seria a eficácia e o melhor medicamento para o controle do peso corporal?

Cientificamente, o “tratamento da obesidade” é considerado de sucesso quando leva a perda de, pelo menos, 10% do peso corporal. Nessa revisão, foi observado que enquanto 9% das pessoas do grupo placebo conseguiam atingir essa perda, 54% das pessoas que consumiram Pentamina + Topiramato atingiram essa meta. Já nos demais medicamentos a taxa de sucesso variou entre 20 e 34%.

Após um ano de tratamento, os medicamentos que contribuíram para a perda de peso mais significativa foram: Topiramato, Liraglituda e Bupropiona. Os dois últimos também são os que apresentaram maior frequência de interrupção do tratamento por efeitos adversos, que incluíram hipoglicemia, complicações cardiovasculares, diverticulite, colecistite (inflamação da vesícula biliar), colelitíase (pedra na vesícula), pancreatite, entre outras.

Interrompendo a análise por aqui, poderíamos ter a impressão única de que os medicamentos parecem, de fato, efetivos para a perda de peso. Mas, analisando mais criticamente os dados, vemos que, de acordo com a pesquisa, a média de perda de peso depois de um ano de tratamento foi de 4,9kg! Um ano inteiro tomando remédio com muitos efeitos adversos reportados!

Em uma conta rápida, isso significa uma perda de 400g por mês. Resultado que pode ser conseguido com outros métodos que, ao contrário dos remédios, não possuem qualquer contraindicação, seja por meio da atividade física (cujos efeitos vão muito além da perda de peso) ou de uma alimentação mais saudável, que respeite as necessidades, preferências e limites de cada pessoa (e não mais uma “receita de bolo”).

Além disso, é importante ressaltar que medir o sucesso de intervenção por meio do peso corporal é extremamente superficial. Os efeitos de qualquer intervenção na composição corporal são muito mais relevantes! Por isso, o ideal é comparar a composição corporal, mas, infelizmente, muitos estudos não apresentam esses dados. Por isso, é fundamental entender a limitação de cada estudo antes de simplesmente extrapolar seus resultados. E, depois dessa breve análise do estudo publicado, você acha que tomar remédios para perda de peso realmente vale a pena?

A melhor conduta é sempre levar uma vida saudável com atividade física e alimentação rica em nutrientes essenciais. É essencial procurar um profissional habilitado para ajudar a alcançar seus objetivos!

* Patrícia Ceolin Grassi é mestre em Metabolismo e professora dos cursos de Nutrição e Medicina da Unic.

Com Assessorias

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