Obesidade infantil tende a aumentar por causa do período de confinamento

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Três em cada dez crianças, entre 5 a 9 anos de idade, estão acima do peso, e das crianças menores de 5 anos, 15,9% têm excesso de peso. É o que apontam os dados do Ministério da Saúde. A realidade não atinge somente o Brasil, em todo o mundo são mais de 158 milhões de crianças e adolescentes, entre 5 e 19 anos, convivendo com o excesso de peso, segundo estimativa da organização internacional World Obesity .

A obesidade na infância e adolescência é um dos mais sérios desafios de saúde pública do século XXI. O problema é global e está afetando muitos países de baixa e média renda, particularmente em ambientes urbanos. As taxas de sobrepeso e obesidade nesta faixa etária aumentaram em todo o mundo, de menos de 1% (equivalente a 5 milhões de meninas e seis milhões de meninos) em 1975, para quase 6% em meninas (50 milhões) e quase 8% em meninos (74 milhões) em 2016. O número cresceu mais de dez vezes. De 11 milhões em 1975 para 124 milhões em 2016.

Os dados sobre a obesidade infantil são tão alarmantes, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que em 2025 o número de crianças obesas no planeta chegue a 75 milhões. Os registros do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que uma em cada três crianças, com idade entre cinco e nove anos, está acima do peso no País. As notificações do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, de 2019, revelam que 16,33% das crianças brasileiras entre cinco e dez anos estão com sobrepeso, 9,38% com obesidade, e 5,22% com obesidade grave. Em relação aos adolescentes, 18% apresentam sobrepeso, 9,53% são obesos e 3,98% têm obesidade grave.

O tema é tão relevante que ganhou até data: 11 de outubro Dia Nacional de Prevenção da Obesidade e o Dia Mundial da Obesidade, acendendo o alerta à importância da prevenção e conscientização da doença. O problema, que ao longo dos anos se tornou alvo de grandes preocupações de autoridades de saúde e, principalmente dos pais, ganhou ainda mais dimensão à medida que os índices de casos aumentaram por causa da mudança na rotina dos pequeninos desde que começou a pandemia do novo coronavírus.

O distanciamento físico imposto pela pandemia provocou inúmeras transformações sociais e, como se sabe, por segurança, ficar em casa foi uma delas. São mais de sete meses de pandemia mudando rotinas e, sem sombra de dúvidas, os pequeninos foram os mais afetados neste processo de adaptação. Se não é fácil para adultos, imagina para as crianças?”, questiona a médica endocrinologista pediátrica do Grupo Sabin, Georgette Beatriz de Paula.

Oito em cada 10 pacientes apresentaram ganho de peso

Um breve levantamento feito pela médica, mostra que cerca de 80% dos pacientes atendidos neste período apresentaram ganho de peso significativo. “Essa mudança aliada à falta de uma rotina alimentar mais saudável, com ingestão de produtos mais calóricos, ociosidade, diminuição de atividade física, levaram à esta realidade. Ficando mais em casa, as crianças precisaram internalizar seus hábitos, arranjar maneiras de gastar energia, os jogos eletrônicos, por exemplo, viraram válvulas de escape. Até mesmo as atividades escolares exigiram mais tempo em frente às telas”, pontua a especialista.

Vilã da saúde dos pequeninos, a obesidade infantil é uma doença séria e requer atenção especial de pais e responsáveis. A médica destaca que o ganho de peso além de aumentar índices de colesterol, promove aumento da pressão arterial e ainda provoca transtornos alimentares que podem durar a vida inteira, se não forem observados e tratados a tempo.

Hoje em dia as crianças apresentam cada vez mais cedo problemas em relação à glicose. Nos consultórios médicos, diagnósticos apontam altas taxas de insulina, problemas de gordura no fígado. Então, o primeiro passo é retirar, de forma gradativa, o excesso de doce, o acesso aos industrializados, evitar consumo de frituras, gordura e associar esta mudança à atividades físicas no dia a dia”, afirma a médica.

Dormir bem e a volta ao ambiente escolar podem ser aliados nesta etapa de recuperação do peso anterior à pandemia, segundo a médica, que se apoia no estudo britânico divulgado na última semana que mostra que cada hora a menos de sono, pode aumentar em 23% o risco de obesidade infantil. “Investir em momentos de diversão e brincadeiras, como pular corda, que podem ser feitas em casa mesmo, ajudam reduzir o sedentarismo, gastar energia e dormir melhor”, orienta.

Segundo ela, um grande passo para evitar o desenvolvimento da obesidade já na primeira fase da vida. “Uma rotina de cuidados, acompanhamento médico e diagnósticos realizados por meio do Cálculo do Índice de Massa Corpórea (IMC), podem detectar casos de obesidade e ajudar no tratamento da doença, mas é fundamental fazer um acompanhamento correto. Contar com o apoio de uma equipe multidisciplinar, com médicos, nutricionistas, preparadores físico, e até psicólogos”, explica a médica.

Alimentação infantil saudável é responsabilidade dos pais

“O maior presente que os pais podem dar a seus filhos é cuidar da saúde deles”, afirma o médico especialista em obesidade e cirurgia bariátrica Cid Pitombo. “E esse cuidado significa oferecer a eles desde muito cedo apenas alimentos saudáveis. Eu visitei muitas creches e escolas e lá sempre vejo alimentação de qualidade, quem estraga o hábito das crianças é a família”, complementa.

O mundo está com cerca de 43 milhões de crianças obesas e 92 milhões estão com sobrepeso. Não é raro, por exemplo, a mãe determinar que não se ofereça nada com açúcar para a criança pequena, mas uma avó, babá ou irmão mais velho dar escondido para fazer um pequeno agrado.

“Qual o problema de oferecer a primeira vez? A criança vai adorar aquele sabor e vai passar a rejeitar os legumes que vinha aceitando desde bebê. É comum crianças chorarem na hora do almoço ou jantar pedindo biscoitos ou sorvetes, que são cheios de gordura, sal ou açúcar. Eles fazem substituições porque não entendem que faz mal, e alguns pais acabam cedendo com muita facilidade para acabar com a choradeira”, reforça o médico.

E a obesidade vai se instalando aos poucos, a criança engorda dois quilos a mais num ano, dois a mais no outro, e quando passam os anos, está com o excesso de peso e enfrentando muito mais dificuldade para perder tudo que acumulou em todo esse tempo.

E, além de enfrentar os problemas de saúde associados à obesidade, como hipertensão, diabetes, gordura no fígado, problemas renais e cardiovasculares, a criança e o adolescente enfrentam o preconceito entre amigos, o conhecido bulliyng. Desse problema, surgem os outros emocionais, como ansiedade e depressão.

“O que eu recomendo aos pais: sejam duros, imponham limites sem pena às crianças. O ideal é que não comprem alimentos cheios de gordura, farinha, açúcar, sal, conservante, como os industrializados. Porque se eles comem na frente das crianças, uma hora elas vão pedir. O exemplo tem que partir da família”, destaca o médico.

Segundo ele, “alimento é carne, preferencialmente branca, legumes, frutas, verduras, arroz e feijão. Batata doce, milho ou aipim cozido podem substituir o pão. Banana com ovo e aveia faz uma excelente omelete. As crianças podem auxiliar na preparação das comidas saudáveis”.

Cuidar da saúde dá um pouco mais de trabalho, mas também pode ser divertido. Os pais podem brincar de correr com os filhos, andar de bicicleta e ajudar os pequenos a deixarem de lado o entretenimento audiovisual em ampla oferta na tv e na internet, além dos vídeos games. “O que fazemos hoje vai se refletir lá na frente”, finaliza.

Obesidade está associada a outras comorbidades, diz nutricionista

A obesidade é considerada uma doença crônica, sendo o resultado do balanço energético positivo entre a síntese de gordura (lipogênese) e a degradação (lipólise), devido a um descontrole na ingestão de calorias em relação ao gasto energético. Porém, por ser multifatorial, a obesidade sofre influência de fatores combinados como hereditariedade, meio ambiente, hábitos e fatores socioculturais. Sobrepeso e obesidade constitui o sexto fator de risco mais preocupante das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), pois está associada a várias outras comorbidades.

Para a nutricionista Adriana Stavro, o crescente número da obesidade na infância e adolescência está associado ao surgimento de comorbidades, anteriormente consideradas doenças “adultas”. Estas condições incluem, apneia do sono, diabetes mellitus tipo 2, asma, esteatose hepática (doença hepática gordurosa não alcóolica), doença cardiovascular, hipercolesterolemia, colelitíase (cálculos biliares), resistência à insulina, problemas de pele, hipertensão, anormalidades menstruais, equilíbrio prejudicado e problemas ortopédicos.

Embora a maioria das condições físicas e de saúde associadas à obesidade sejam evitáveis, e possam desaparecer quando uma criança ou adolescente alcança um peso saudável, algumas continuam tendo consequências negativas ao longo da vida adulta.

É importante entender que o sobre peso e a obesidade pode atingir profundamente a saúde física, o bem estar social, emocional e a autoestima dos adolescentes

Complicações emocionais e sociais


● Estudos mostram que crianças com sobrepeso ou obesas têm quatro vezes mais probabilidade de ter problemas de aprendizado em relação seus pares com peso normal. Elas também são mais propensas a faltar na escola, especialmente aqueles com condições crônicas de saúde, como diabetes e asma.

● A obesidade tem sido descrita como sendo uma das condições mais estigmatizantes, e menos socialmente aceita da infância. Estas crianças são frequentemente provocadas, intimidadas, estereotipadas, marginalizadas e discriminadas por seu estado. Discriminações foram relatadas em crianças a partir dos 2 anos de idade.

● Crianças e adolescentes obesas são excluídas de atividades competitivas na escola. Muitas vezes é difícil para elas participarem de atividades físicas, pois tendem a ser mais lentas que as de seus pares, além disso enfrentam falta de ar.

● Estas consequências sociais negativas contribuem para dificuldades permanentes no controle do peso, baixa autoestima, baixa autoconfiança e imagem corporal negativa de muitas crianças.

● As crianças e adolescentes tendem a se proteger dos comentários e atitudes negativas, retirando-se para lugares seguros, como suas casas, onde podem buscar comida como um conforto.

● Além disso elas também têm menos amigos, o que resulta em menos interação social e brincadeiras ativas, gastando mais tempo em atividades sedentárias (tempo de tela)

Prevenção é a chave do sucesso no controle da obesidade, por isso:
● Siga uma dieta balanceada
● Exercite-se
● Coma no mínimo 400g de frutas, legumes e verduras ao dia
● Coma grãos como lentilhas, grão de bico e feijões regularmente
● Beba água.
● Durma no mínimo 8 horas ao dia
● Evite bebidas açucaradas (sucos de frutas, refrigerantes, leites aromatizados)
● Mastigue bem os alimentos
● Use óleos vegetais insaturados (azeite de oliva, soja, girassol ou milho), em vez de gorduras animais ou óleos ricos em gorduras saturadas (manteiga, ghee, banha de porco)
● Escolha carnes brancas sem pele e gordura (frango, peixe, porco)
● Evite alimentos processados, assados e fritos que contenham gordura trans, sódio, corantes, conservantes e aromatizantes
● Ao cozinhar, limite a quantidade de sal e condimentos com alto teor de sódio (molhos prontos), e priorize o uso de ervas frescas
● Evite alimentos com alto teor de sal, gordura e açúcar

Por quê? Pessoas cujas dietas são ricas em sódio (incluindo sal) têm maior risco de hipertensão, o que pode aumentar o risco de doenças cardíacas e derrames. Da mesma forma, aqueles cujas dietas são ricas em açúcares, têm maior risco de ficarem com sobrepeso ou obesos, e um risco maior de cáries. Pessoas que reduzem a quantidade de açúcar em sua dieta, também podem reduzir o risco de doenças não transmissíveis como diabetes e hipertensão.

Programa Crescer Saudável busca a prevenção da obesidade infantil sem reproduzir preconceitos

A obesidade é uma doença crônica que atinge 20,8% dos brasileiros maiores de 18 anos, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2013, e tem efeitos não só sobre o corpo físico da pessoa obesa, como também psicossociais. Nesse contexto, o Dia Nacional de Prevenção da Obesidade (11/10), também comemorado mundialmente, é uma oportunidade para falar sobre a gordofobia, algo que ocorre em pessoas com excesso de peso, criando estereótipos negativos e caricaturais.

Atitudes gordofóbicas podem partir da incompreensão do que é a obesidade, em geral, que traria uma espécie de culpa para o obeso por sua condição física, sem levar em conta os fatores por trás da doença.

Para abordar a obesidade com seriedade como problema de saúde pública e evitar a reprodução de preconceitos, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) tem atuado não só na promoção de hábitos alimentares saudáveis, mas também na conscientização sobre a complexidade do tema do sobrepeso, sobretudo entre crianças e adolescentes.

Segundo Katiana Teléfora, coordenadora da Área Técnica de Alimentação e Nutrição da Superintendência de Atenção Primária à Saúde (SAPS) da SES-RJ, deve-se entender a obesidade como uma doença crônica inserida dentro de um contexto biopsicossocial. Esse quadro envolve aspectos biológicos (genéticos e bioquímicos), sociais (culturais, familiares, socioeconômicos e médicos) e psicológicos (estado de humor, de personalidade e de comportamento).

“Precisamos discutir a obesidade na Atenção Primária à Saúde, logicamente, não culpabilizando o indivíduo. O resultado de um peso adequado não está centrado unicamente na pessoa, e a escolha do tratamento pelo paciente deve ser respeitada”, afirma Katiana.

Nesse sentido, a Área Técnica tem ampliado a discussão sobre o tema ao desenvolver ações articuladas entre a rede estadual de saúde, as escolas públicas e as unidades de Atenção Primária. Com foco na prevenção à obesidade infantil, o programa Crescer Saudável, que faz parte do Programa Saúde na Escola do Ministério da Saúde, promove nos municípios os cuidados relativos à boa alimentação e nutrição, estímulo à atividade física e proteção à saúde das crianças e adolescentes.

No âmbito do Crescer Saudável, trabalhamos alguns componentes, como o incentivo às práticas corporais e o tratamento da obesidade. Damos orientações às coordenações municipais de como lidar com o tema sem que as crianças com sobrepeso fiquem resistentes por medo do bullying”, diz Katiana.

Para a coordenadora, as políticas públicas voltadas à alimentação devem repensar o ato de comer como um aspecto social. Assim tanto as equipes de saúde como os profissionais da educação, contam com o Crescer Saudável para comunicarem sobre novos hábitos alimentares saudáveis sem reproduzir gordofobia. Segundo Katiana, quando os profissionais de Saúde e os professores vão discutir a questão das práticas saudáveis, muitas crianças se veem identificadas com o tema do excesso de peso e podem se sentir expostas.

“A abordagem, muitas vezes, centralizada na culpa faz com que as crianças se retraiam”, comenta Katiana.

Preconceito também pode vir de profissionais de saúde

A abordagem mais abrangente do problema da obesidade busca também combater preconceitos internalizados por alguns profissionais de Saúde no atendimento a pessoas com sobrepeso. Para a psicanalista Cristiane Marques, professora do Internato em Nutrição e Saúde Coletiva da UERJ, a gordofobia nesse setor impacta o próprio tratamento contra a obesidade.

“O que vemos em relação aos profissionais de saúde são casos de pacientes que, quando chegam a uma consulta em unidades públicas e privadas, não têm expectativa de sucesso no atendimento. Isso pode levar o indivíduo a deixar de voltar a esse profissional de saúde porque ele sabe que será culpabilizado”, relata Cristina.

A psicóloga chama a atenção para a continuidade dos efeitos da discriminação sobre as crianças durante a adolescência e a vida adulta. De acordo com ela, as pessoas deixam de se propor a determinadas experiências. Isso geram um impacto especialmente nas crianças, que deixam de participar de atividades lúdicas e escolares, o que pode se desdobrar na adolescência, fase em que as mudanças físicas estão em destaque.

Cristiane Marques também acredita que, para criar novos hábitos alimentares, é imprescindível o combate a estereótipos sobre o corpo, e isso deve ser feito por meio de políticas públicas inclusivas de conscientização. Para ela, uma das formas de promover uma boa relação com a comida em pessoas que sofrem gordofobia é justamente trazer para a discussão de que isso é um preconceito social.

“Temos que desconstruir essa ideia de que, para perder peso, é preciso apenas ter força de vontade. Poder interrogar a gordofobia como algo que é socialmente construído é também reencontrar um caminho de bem-estar físico e emocional”, completa Cristina.

Guia Alimentar – Para ajudar a esclarecer sobre os riscos da obesidade infantil, o Ministério da Saúde lançou em agosto deste ano o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos e o Guia Alimentar para a População Brasileira , com sugestões e orientações que ajudam na rotina alimentar do dia a dia e melhorar a relação entre os alimentos e as crianças.

Com Assessorias

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