Obesos têm 55% mais chances de desenvolver depressão

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Quem nunca se sentiu um pouco deprimido e atacou a geladeira, carregando depois aquele sentimento de culpa? Essa tristeza momentânea pode passar, mas quando a depressão se instala, o risco de repetir essa atitude é muito maior. Como resultado, a pessoa pode ganhar mais peso. E, sem estímulo para reagir, praticar atividade física, acaba engordando cada vez mais.

Um problema de saúde pública que vem crescendo em todo o mundo e que ainda é cercado de estigma traz não apenas impactos psicológicos, mas também físicos. Pesquisas indicam que pessoas com depressão têm um risco 58% maior de desenvolver obesidade. Na contramão, pessoas com obesidade têm 55% mais chances de desenvolver depressão. Ou seja, vira um círculo vicioso: você engorda mais porque está deprimido e fica mais deprimido porque está acima do peso.

Estima-se que cerca de 30% das pessoas que procuram tratamento para perda de peso apresentem depressão. Em artigo publicado no site americano Obesity Action, especialistas da área de política para saúde dos Estados Unidos relatam o desafio interligado entre a obesidade e a depressão, já que 10% da população americana enfrentam pelo menos alguns sintomas de depressão e dois terços têm excesso de peso ou obesidade.

Comida vira antidepressivo, ansiolítico e até companhia

De acordo com um estudo publicado recentemente no Journal of the American Medical Association, um quarto dos candidatos à cirurgia bariátrica apresentam algum distúrbio mental. Os dados foram coletados por meio de uma revisão de 68 artigos científicos e mostram que a incidência da depressão e da compulsão alimentar em obesos é duas vezes maior do que na população em geral.

“A comida não é somente alimento para essas pessoas.  Ela cumpre, com frequência, a função de antidepressivo, ansiolítico e até de companhia. A mudança é mesmo difícil e precisa ser feita para que a operação aconteça num corpo saudável, para que a recuperação seja rápida, dentro de um processo integrado de consciência e saúde”, destaca a psicóloga Jacqueline Machado, que coordena o atendimento psicológico a pacientes que se submetem a cirurgia bariátrica no Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes (RJ).

“Isso comprova a importância do acompanhamento psicológico de candidatos a cirurgia bariátrica, assim como das pessoas que já se submeteram ao tratamento cirúrgico da obesidade”, reforça Caetano Marchesini, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). Como depressão e obesidade são doenças que caminham juntas, a entidade recomenda a avaliação pré-operatória e o acompanhamento psicológico ou psiquiátrico de todos os pacientes com indicação da cirurgia para redução de peso. “O diagnóstico psicológico do paciente é fundamental para o tratamento da obesidade”, afirma.

Recentemente o Conselho Federal de Medicina (CFM) ampliou o número de comorbidades para indicação de cirurgia bariátrica e incluiu a depressão como uma delas. “É importante ressaltar, que tanto a obesidade quanto a depressão podem resultar no isolamento do paciente. Pessoas obesas muitas vezes se isolam ou se sentem excluídas do convívio social, assim como quem sofre de depressão”, destaca Marchesini.

Apoio psicológico a pacientes com distúrbios mentais

A boa notícia é que, ainda de acordo com o estudo, estes distúrbios mentais não impedem que os pacientes tenham uma perda de peso significativa. Apesar de estarem em uma condição psicológica desfavorável, o desempenho dos pacientes com estes quadros costuma ser satisfatório. Parte deste fato pode ser explicado justamente pelo apoio psicológico ou psiquiátrico recebido durante o pré e o pós-operatório.

Por isso o combate à obesidade deve ser feito de forma multidisciplinar, sempre contando com a presença de um psicólogo na equipe. O Programa Estadual de Cirurgia Bariátrica (RJ), criado em 2010, implementou o acompanhamento de psicólogos no período pré-operatório e por pelo menos dois anos após a cirurgia. “É um trabalho de resgate desses pacientes, realizado com muita dedicação e seriedade por toda a equipe. Devolvemos à sociedade o paciente antes obeso que não trabalhava, que tinha vergonha de comprar roupas e que não tinha mais vida afetiva”, conta o coordenador do programa, o médico Cid Pitombo.

Assim como a OMS recomenda falar mais e coletivamente sobre depressão para aprender a detectá-la, os encontros dos pacientes candidatos a cirurgia bariátrica pelo SUS no Rio de Janeiro são feitos em grupo, para que todos se apoiem, uma vez por semana. A média mensal de atendimentos ambulatoriais do Programa é de 2.000 pacientes, sendo 40 operados a cada 30 dias. Ao todo, mais de 1.600 pessoas já passaram pelo procedimento, com taxa de sucesso de 99% – eficiência equivalente aos principais centros mundiais de cirurgia.

Cirurgia pode resultar na remissão da depressão

O médico psiquiatra e membro da Comissão de Saúde Mental da Coesas (Comissão de Especialidades Associadas à SBCBM, Hélio Tonelli, explica que existem diferentes tipos de depressão, sendo um deles diretamente relacionado à obesidade. “Este tipo de depressão está relacionado a processos inflamatórios sistêmicos no organismo, inclusive no cérebro, e que levam ao aumento de peso. Com diagnóstico e tratamento adequado, ao emagrecer, acontece uma remissão da depressão no paciente tratado”, explica.

Mas também existem, segundo o médico psiquiatra, casos de pessoas obesas com outro tipo de depressão, o que decorre de uma tendência genética. “Neste caso, a pessoa precisa, primeiramente tratar a depressão para depois fazer a cirurgia. O tratamento psicológico e psiquiátrico irão contribuir para que a nova condição clínica do paciente operado não piore o quadro de depressão”, reforçou Tonelli.

Perder peso é desafio mais difícil

Por ser uma doença crônica, muitas vezes a obesidade está relacionada a fatores genéticos que fazem com que a perda de peso se torne um desafio muito difícil de ser superado. Os aspectos psicológicos também devem ser considerados, já que não é fácil mudar de hábitos de um dia para o outro. “Infelizmente, muitas pessoas ainda recorrem a métodos radicais para perder peso, e esses métodos não estão relacionadas a uma mudança real de hábitos, mas sim à privação. Com isso, a perda de peso pode até acontecer, mas esses quilos acabam retornando no curto prazo – o conhecido ‘efeito sanfona’”, explica Rocio Riatto Della Coletta, gerente médica de Obesidade da Novo Nordisk.

Segundo ela, tanto a obesidade quanto a depressão podem acontecer a partir de alterações bioquímicas no cérebro em resposta ao estresse. “Em pessoas com depressão, há níveis um pouco mais elevados do hormônio cortisol, que podem alterar as células de gordura e resultar em um aumento do acúmulo de gordura (principalmente abdominal) no corpo”, explica. O oposto também pode acontecer: ”Em uma sociedade em que as pessoas associam estar magro com estar adequado para o padrão de beleza da atualidade, a questão da baixa autoestima em pessoas com obesidade pode levá-las a desenvolver depressão”.

Ainda segundo Rocio, a decepção com o fracasso desses métodos imediatistas também pode levar as pessoas com obesidade a desenvolver depressão. “É muito importante deixar de lado o mito de que só tem obesidade quem quer, ou que basta comer bem e fazer exercícios para perder peso. A obesidade é uma doença crônica e complexa, necessitando de tratamento crônico individualizado”, completa.

Exercícios físicos são aliados

A prática regular de atividades e exercícios físicos é considerada pelos especialistas uma das melhores formas de prevenção e controle de diversos problemas de saúde, principalmente quando se trata de doenças crônicas, como obesidade e diabetes. No caso da depressão, não é diferente. Pesquisadores da Universidade do Texas, em Dallas, fizeram uma revisão dos dados sobre o assunto e descobriram que, se praticados de três a cinco vezes por semana, exercícios aeróbicos podem amenizar os sintomas da depressão após cerca de quatro semanas. O estudo foi publicado no periódico Journal of Psychiatric Practice.

“A prática de atividades físicas não só acelera o metabolismo, como também contribui para um maior gasto energético. Estudos demonstram que, independentemente do peso inicial, uma perda de peso de 5-10% em pessoas com obesidade traz benefícios expressivos à saúde, incluindo melhoras dos níveis de glicemia sanguínea, da pressão arterial, dos níveis de colesterol e da apneia obstrutiva do sono. Além disso, a prática de exercícios libera substâncias como endorfina e serotonina, responsáveis por , responsáveis por melhorar o humor, proporcionando distração do convívio social e dos problemas, aliviando os sintomas da depressão”, completa a especialista.

Relação com outras doenças e suicídio

A depressão é a principal causa de problemas de saúde e deficiência em todo o mundo. A OMS identificou fortes ligações entre a depressão e outras doenças e distúrbios não transmissíveis. A doença aumenta o risco de transtornos de uso de substâncias e doenças como diabetes e doenças cardíacas. O oposto também é verdadeiro, o que significa que as pessoas com estas outras condições têm um maior risco de depressão.

A depressão também é um fator de risco importante para o suicídio, cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano – sendo a segunda principal causa de morte entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos. A falta de apoio para as pessoas com transtornos mentais, juntamente com o medo do estigma, impedem muitos de ter acesso ao tratamento de que necessitam para viver vidas saudáveis e produtivas.

Para mais informações, acesse www.nacoesunidas.org.

Da Redação, com assessorias

 

 

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