Pacientes oncológicos devem se vacinar contra a Covid-19? Tire as dúvidas sobre o tema

Neste Dia Mundial de Luta contra o Câncer (4 de fevereiro), oncologistas defendem imunização contra a Covid-19 entre pessoas em tratamento

Imagem de Triggermouse por Pixabay
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Este Dia Mundial de Combate ao Câncer (4 de fevereiro) ganha ainda mais importância desde que a data foi criada há 20 anos com o objetivo de levar informações e conscientização à população. Números mostram que o medo que as pessoas têm da pandemia da Covid-19 tem feito aumentar a epidemia global de câncer. E com a emergência da vacinação contra a Covid-19, a discussão sobre imunização de pacientes oncológicos ganha mais relevância, trazendo à tona muitas incertezas. Mas pacientes oncológicos em tratamento podem se vacinar contra o novo coronavírus?

Não só podem como devem, dizem oncologistas, garantindo que os benefícios são maiores que os riscos. “Pacientes mais graves têm até cinco vezes mais chances de desenvolverem infecções graves se forem contaminados pelo novo coronavírus”, afirma o oncologista Gustavo Advincula, diretor médico da OHB, uma empresa de gestão oncológica.

Segundo ele, não há nenhum dado na literatura médica que contraindique as vacinas, independentemente da tecnologia usada para produzi-las. Seja por vírus morto (Coronavac), vetor (Oxford/AstraZeneca, Jansen e Sputnik) e RNA mensageiro (Pfizer/BioNTech e Moderna). “A vacina é uma forma de colocar a pessoa em contato controlado com o vírus, além de lavar as mãos, usar álcool gel e máscaras são muito importantes. Evitar aglomerações também”, diz ele.

Imunizar é preciso

Apesar de haver poucos estudos clínicos que avaliem a eficácia e segurança da vacinação contra o novo coronavírus em pacientes oncológicos, Carlos Teixeira, oncologista do Hospital Oswaldo Cruz, também avalia o risco x benefício, e afirma que o malefício da não vacinação é significativamente maior quando comparado com as potenciais reações das vacinas.

Muitos grupos de risco ficaram de fora dos estudos da vacina, como os pacientes com câncer. Ainda assim, considerando as fragilidades imunológicas desta população, a imunização é importante”, alerta o médico.

Apesar de não terem sido incluídos pelo Ministério da Saúde no Plano Nacional de Vacinação como um dos grupos prioritários para receber a vacina contra a Covid-19, pacientes com câncer têm diversas dúvidas sobre a relação entre seus tratamentos contra a doença e as vacinas que estão sendo aprovadas para lutar contra a pandemia causada pelo novo coronavírus. Afinal, o tratamento oncológico afeta, muitas vezes, o sistema imunológico.

Vacinas são imprescindíveis, diz SBOC

Para a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), a crescente disseminação de fake news impactou a confiança da população na vacinação, mas as vacinas aprovadas no Brasil são eficazes e imprescindíveis para a proteção daqueles que vivem com câncer e no combate à pandemia de forma geral.

Segundo a presidente da SBOC, Clarissa Mathias, a entidade está comprometida em transmitir informação confiável para a população. “Temos o intuito de esclarecer questões e recomendar condutas baseadas em evidências científicas.  Queremos ainda fazer um alerta para a necessidade da cooperação de todos, profissionais de saúde e população em geral, para que a vacinação aconteça por completo. Todos nós temos um papel decisivo no combate dessa crise, seja na vacinação, seja cumprindo os protocolos de segurança.”

Para enfatizar as condutas médicas baseadas em evidências científicas, a SBOC organizou um grupo técnico especializado para desenvolver recomendações sobre a aplicação da vacina contra a Covid-19 em pacientes oncológicos. O documento, disponível no site da entidade, responde algumas das principais dúvidas relacionadas à imunização de pacientes com câncer. Veja abaixo:

1. Por que vacinar pacientes oncológicos contra a COVID-19?

Pessoas com câncer foram classificadas como grupo de risco para complicações da Covid-19. Estudos mostraram maior gravidade da infecção em pacientes oncológicos, com mortalidade variando de 6 a 61%, com risco de óbito por volta de 26%, muito acima do que na população geral (2 a 3%). Portanto, o intuito da vacinação é diminuir a morbidade e mortalidade da Covid-19 nos pacientes oncológicos.

Segundo Sandro Cavallero, diretor da SBOC e coordenador do Comitê de Tumores do Sistema Nervoso Central, há vários riscos envolvidos entre a associação do câncer e do novo coronavírus. “Além do impacto mais severo, a infecção pelo Sars-CoV-2 pode ter desdobramentos também no cuidado oncológico, levando a atrasos em exames diagnósticos, de triagem, tratamentos e monitoramento da doença, podendo levar a consequências devastadoras”, alerta.

Apesar de o grupo não ter sido incluído em estudos clínicos, as evidências de dados clínicos de outras vacinas apontam que o malefício de não vacinar é significantemente maior, dada a mortalidade associada ao vírus nessa população, do que àqueles associados a potenciais reações vacinais. “É importante lembrar que as vacinas contra Covid-19 aprovadas no Brasil são definitivamente seguras.

A única vacina contraindicada para pacientes imuno-suprimidos, ou seja, quando a eficácia do sistema imunológico é reduzida, é a vacina de Oxford, por conter vírus vivo. De qualquer forma, é imprescindível a avaliação médica individual de cada paciente quanto a possíveis restrições à vacinação”, afirma.

2. As vacinas contra a Covid-19 são eficazes nesses pacientes?

A princípio, sim. Dados de vacinação em pacientes oncológicos em outros contextos, como influenza, doença pneumocócica e herpes, sugerem haver um efeito protetor. “A vacinação contra influenza (o vírus da gripe) reduziu hospitalizações relacionadas à doença, interrupção de quimioterapia ou risco de morte”, explica Dr. Sandro.

Baseados nesses dados e de outras vacinas, associado à interpretação dos mecanismos de ação das vacinas contra a Covid-19 (com agentes não vivos), pressupõe-se que a eficácia e a segurança da vacinação contra o Sars-CoV-2 seja similar à população geral. “A eficácia pode variar em diversos contextos, como tipo de tumor, extensão da doença, tratamento imunossupressor, entre outros. Entretanto, os benefícios da vacinação parecem ultrapassar substancialmente e significativamente os riscos”, complementa.

3. A equipe de saúde envolvida no tratamento oncológico deve ser vacinada?
Sim, desde que não haja contraindicação à vacinação ou componente da vacina. “A vacinação da equipe de saúde contra influenza mostrou reduzir a transmissão da infecção em ambientes hospitalares. Além disso, alguns pacientes imuno-comprometidos podem não adquirir resposta imune suficiente à vacinação. Dessa forma, podemos evitar que a equipe, que trabalha em um cenário de alto risco, contamine esses pacientes”, esclarece Dr. Sandro.

4. Pacientes com história prévia de Covid-19 ou que já possuam anticorpos devem ser vacinados?

Sim. Alguns pacientes já infectados por Sars-CoV-2 foram incluídos em estudos clínicos e mostraram melhorar a resposta imune sem nenhum acréscimo à toxidade da vacina. Segundo Ignez Braghiroli, diretora da SBOC e coordenadora do Comitê de Tumores Gastrointestinais, não existe garantia de que a presença de anticorpos seja sinal de proteção futura.

Até o momento, não existe experiência suficiente relacionando a já existência deles no organismo com a proteção futura, e a duração da imunidade não está claramente estabelecida. O teste sorológico antes da vacinação não é recomendado, assim como não é utilizado para guiar o momento da vacinação, completa.

5. Quem se vacinou ainda precisa usar máscara e seguir o distanciamento social?

Sim. Mesmo após a aprovação das vacinas e o início da vacinação no Brasil, temos um longo período até toda a população estar vacinada. “Não podemos deixar de lado os protocolos de segurança: mantenha o isolamento social, caso precise sair utilize a máscara correta cobrindo boca e nariz, desinfete objetos e roupas quando voltar para casa, lave as mãos e os punhos com bastante frequência, e utilize o álcool em gel”, conclui Dra. Ignez.

Femama também responde principais dúvidas

Muitas dúvidas são feitas diretamente para organizações de apoio a pacientes. Com o propósito de contribuir com o esclarecimento da população, a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), que reúne 70 dessas ONGs, compilou e respondeu às principais perguntas que suas associadas têm recebido de pacientes sobre a vacinação.

Reunimos nosso time de especialistas do Comitê Científico-Técnico da Femama para auxiliar a comunidade do câncer a entender como agir em relação à vacina contra a Covid-19. Os pacientes não precisam ter medo”, destaca Maira Caleffi, mastologista e presidente voluntária da Femama.

No dia 4 de fevereiro de 2021, Dia Mundial do Câncer, a Femama vai reunir alguns desses especialistas em um bate-papo sobre as vacinas em pacientes oncológicos em uma live às 17h em seu canal do YouTube, como parte da campanha “Eu sou e eu vou”.  

Confira as principais dúvidas sobre a vacinação contra a Covid-19 de pacientes com câncer e as respostas da Femama em seu site:

1 – Devo me vacinar?
Sim, na maioria dos casos, a recomendação é de vacinar-se.

2 – Posso tomar a vacina antes da quimioterapia? E durante?
Como cada caso é único e particular, é essencial conversar com seu médico a respeito. No entanto, não há contraindicações para a vacina da Covid-19 antes ou durante o tratamento de quimioterapia. Caso esteja concluindo o protocolo e for aceitável em sua região, é indicado que pacientes aguardem três semanas após a última a quimioterapia.

3 – Se eu estiver usando tamoxifeno, posso fazer a vacina?
Sim, pode. Não há contraindicações para a vacina durante o uso do tamoxifeno ou outros inibidores de hormônios, medicamentos que inibem o crescimento do tumor em casos de câncer de mama. É importante salientar que a conversa com seu médico antes é essencial, pois cada paciente possui necessidades diferentes e específicas.

4 – A radioterapia me impede de tomar a vacina?
O tratamento com radioterapia não impede a realização da vacina contra a Covid-19.

5 – Há diferenças nas vacinas, com relação às pacientes com câncer?
Não há contraindicação para as vacinas disponíveis hoje, as quais são feitas por uso do vírus inativado, fragmentos do vírus, RNA mensageiro e/ou veículo adenovírus.

6 – Se tomar a vacina, devo continuar usando a máscara facial?
Com certeza, a máscara continua sendo necessária mesmo depois da vacinação, para pacientes com ou sem câncer.

7 – Devo esperar a segunda dose da vacina para fazer a quimioterapia?
Não, os tratamentos de quimioterapia permanecem ocorrendo após a primeira dose da vacina contra a Covid-19.

8 – Pacientes com câncer são considerados parte do grupo prioritário para a vacinação?
O Plano Nacional de Vacinação do Ministério da Saúde não contempla pacientes oncológicos como prioritários. Porém, o Comitê Científico-Técnico da Femama entende que deveria haver prioridade para pacientes com câncer em tratamentos imunossupressores, não se enquadrando pacientes com histórico de câncer que não estão em tratamento e não têm câncer ativo.

9 – A vacina pode aumentar as complicações da imunoterapia contra o câncer?
Hoje, não há evidências de que a imunoterapia contra o câncer aumente as complicações de qualquer administração anterior de vacina viral. Assim como em outras infecções virais, as vacinas de vírus vivo ou atenuado são contraindicadas para pacientes oncológicos. Vacinas recombinantes inativadas, subunidades proteicas e de ácido nucleico, como DNA ou RNA, podem ser administradas com segurança.

Mais de 50 mil casos deixaram de ser diagnosticados

O oncologista Gustavo Advincula calcula que mais de 50 mil novos casos tenham deixado de ser diagnosticados e muitos outros tiveram o tratamento interrompido. Estes números foram levantados pela OHB junto a 45 prestadoras de serviços especializados no tratamento de câncer, em todo o Brasil. Os números representam uma redução de 27% em 2020 comparado ao ano anterior.

Os tipos de câncer mais frequentes no país são o de pele, próstata (29,2%) e na mama (29,7%). “Deixo aqui o alerta para que façam o autoexame, observem seu corpo e, se preciso, procurem atendimento médico em hospitais ou clínicas e façam suas consultas periódicas. Quando diagnosticado na fase inicial o câncer tem cura. Cuidem-se”, finaliza.

A SBOC lidera um dos maiores estudos do país sobre o impacto do novo coronavírus entre as pessoas com câncer, o ONCOVID-19.1. O projeto foi aprovado em tempo recorde pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), em abril do ano passado, e tem coletado informações de todas as regiões do país com o propósito de servir como base para a elaboração de estratégias, protocolos e políticas de combate à Covid-19 entre as pessoas com câncer.

A SBOC também desenvolveu a campanha Contra o Câncer e Sem COVID-19, cujo objetivo tem sido divulgar sugestões de condutas técnicas a serem tomadas pelos oncologistas clínicos para protegerem seus pacientes contra o novo coronavírus, encorajando-os a seguir os cuidados necessários contra o câncer.  A entidade criou uma seção exclusiva sobre coronavírus sem seu site, onde tem publicado com frequência informações relacionadas as duas doenças.

Ações pelo Dia Mundial de Combate ao Câncer

Uma série de ações vai marcar no Brasil o Dia Mundial de Combate ao Câncer, quando o mundo todo se une realizando diversas ações com o objetivo de reduzir o impacto global da doença, a segunda que mais mata no planeta. A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) inicia uma campanha de conscientização da população a partir desse dia 4 e ao longo de todo o mês de fevereiro. Durante este período, as Linhas 4-Amarela e 5-Lilás de metrô irão disponibilizar folhetos com informações produzidas por médicos da SBOC sobre câncer na mulher, bem como o impacto positivo da vacinação contra o HPV.

A parceria entre a SBOC e a ViaQuatro começará tendo como foco os tumores ginecológicos, mas será estendida nos meses seguintes para outros tipos de câncer, como câncer de pulmão, câncer de mama, câncer de pele, câncer de próstata e câncer de cabeça e pescoço. O conteúdo que será distribuído no metrô também está disponível para download no site da SBOC.

Presidente da SBOC, Clarissa Mathias afirma que, ao se aproximar da população por meio de uma ação em uma das estações mais movimentadas do metrô de São Paulo, a entidade visa impactar toda a cadeia de cuidado oncológico, contribuindo assim para que os brasileiros se apropriem de medidas efetivas de prevenção.

Acreditamos que a conscientização promovida por iniciativas como essa pode levar ao diagnóstico precoce de diversos tipos de cânceres, ampliando as oportunidades terapêuticas oferecidas pelo oncologista e o diálogo do profissional com seus pacientes, que estarão cada vez mais apropriados de informações a respeito do câncer e de sua saúde”, explica.

O lançamento da campanha ocorrerá na Estação Paulista (Linha Amarela) e contará com um Balcão Informativo da SBOC, das 10h às 16h, mas o material sobre prevenção do câncer poderá ser retirado até o final de fevereiro (ou assim que acabar o estoque) em qualquer um dos 27 nichos de leitura espalhados pelas Linhas 4 e 5 de  metrô.  

Já a Femama, sua rede de 70 ONGs associadas, Instituto Oncoguia, Melanoma Brasil e Projeto Camaleão dão as mãos e conduzem o último ano da campanha trianual “Eu sou e eu vou” promovida pela União Internacional de Controle do Câncer (UICC). Como parte da campanha de conscientização, a entidade criou um hotsite com conteúdos a respeito de fatores de risco, tipos de câncer mais incidentes e formas de engajamento.

Para disseminar a mensagem de que o diagnóstico precoce ainda é a melhor ferramenta contra o câncer – a segunda principal causa de morte em todo o mundo – a Femama também ilumina diversos pontos pelo Brasil com as cores azul e laranja, que marcam a campanha do Dia Mundial do Câncer. Muitos são ligados ao esporte, já que atividade física é uma das ações que diminuem os fatores de risco da doença.

Em Porto Alegre, onde fica a Femama, o azul e o laranja vão iluminar a Arena do Grêmio, Estádio Beira-Rio e a Ponte do Guaíba. Em Canela, também no Rio Grande do Sul, quem recebe iluminação é a turística Catedral de Pedra. A Ponte Estaiada, em Teresina (PI), fecha a lista.

Fonte: SBOC e OHB e Femama

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