Psicologia explica principais mitos e verdades sobre o tabagismo

Ainda sobre o Dia Mundial sem Tabaco, a psicóloga Juliane Verdi Haddad fala sobre a doença que afeta mais de 20% da população do mundo

brasileiros fumam menos cigarros
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De acordo com o último relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso de tabaco é um fator de risco para desencadear doenças cardiovasculares e respiratórias, estando associado a mais de 20 tipos ou subtipos diferentes de câncer e outras condições de saúde debilitantes. Em 2020, estima-se que 22,3% da população mundial, considerando pessoas com 15 anos ou mais, eram usuárias de alguma forma de tabaco. Mas e a saúde mental? Será que de alguma forma ela também é prejudicada pelo uso do tabaco?

Criado pela OMS, o Dia Mundial sem Tabaco é comemorado anualmente no dia 31 de maio, tendo como propósito promover o tema e principalmente brigar pelo fim do tabagismo, uma doença causada pela dependência química da nicotina. A ideia da iniciativa é que toda a sociedade se mobilize em prol da causa, que ao contrário do que muitos podem pensar, não é só algo relacionado a saúde física, mas a vários setores da sociedade. Dando a sua contribuição para o tema, a psicóloga Juliane Verdi Haddad, comenta alguns mitos e verdades sobre o tabagismo:

– Verdade: “Gatilhos psicológicos podem fazer uma pessoa iniciar no tabagismo”

Uma pessoa pode começar a fumar por vários motivos, pode estar em um momento de tristeza, seja um adolescente ou um adulto, e um amigo oferecer um cigarro e ela entender aquilo como um “acolhimento”. Ela pode começar a ter memória emocional daquele momento, onde foi amparada por um amigo e o cigarro fazia “parte da história”. Um outro exemplo que podemos citar, são as pessoas mais tímidas, que ao fumar, sentem que de repente começam a fazer parte de um grupo, se sentem mais aceitas.

Além disso, temos também os casos de famílias de fumantes, onde o tabagismo é um comportamento aprendido de criança, desde cedo ela vai assistir o pai, a mãe ou outros parentes fumarem.  A pessoa pode ir desenvolvendo esse hábito sem perceber, é algo que traz uma carga afetiva e os motivos podem ser variados.

Vale reforçar que ninguém inicia no tabagismo, assim como em outras drogas, achando que vai se viciar, mas a nicotina, assim como outras substâncias, vicia de fato. A forma/tempo com que isso pode acontecer, vai depender muito do contexto de vida do indivíduo, podendo ser além de uma dependência química, também uma dependência psicológica, onde a pessoa acaba ficando dependente daquele hábito, começa a ser algo automático.

– Mito: “Fumar diminui o estresse”

Como todo vício envolve questões psicológicas, há uma falsa impressão de que o uso do tabaco pode trazer a sensação de relaxamento, fazendo o stress diminuir. Quando o indivíduo deixa de fumar ou consumir qualquer outra droga que seja, é aquela substância que vai saindo do corpo dele, vem a abstinência. O corpo começa a sentir e é comum até ter uma sensação de vazio. Então quando a pessoa voltar a fumar e suprir aquela necessidade, ela entende aquilo como algo que está fazendo bem, está deixando-a mais calma.

Do ponto de vista fisiológico todos têm a consciência dos maus que o tabagismo pode fazer, mas ainda existe a “falsa impressão”, talvez por ser uma droga lícita, de que o cigarro pode ser uma forma de relaxar, podendo trazer algum tipo de benefício. Mas é importante reforçar que não, o tabaco não oferece vantagem nenhuma, seja fisiológica ou psicológica.

– Verdade: “Quadros de ansiedade levam a um agravamento no tabagismo”

Quando uma pessoa está muito ansiosa ou se ela tem um diagnóstico de um transtorno de ansiedade, normalmente fica mais vulnerável e por isso é comum que aja mais por impulso, tenha ações automáticas. Então se ela vai fumar um cigarro para “relaxar”, ela não necessariamente está fazendo isso de forma consciente, está apenas usando uma estratégia comportamental que não foi criada por ela, mas por uma “convenção” que as pessoas construíram em torno do hábito de fumar.

Não podemos colocar isso como uma regra, mas também existem teorias que dizem que os fumantes normalmente quando estão sem o cigarro sentem-se mais inseguros. Por isso, para conseguir lidar com a insegurança, podem criar o hábito de acender um cigarro, dependendo da situação.

– Mito: “O tabaco causa menos dependência do que outros tipos de drogas”

De certa forma o tabaco não causa tantas sensações, quanto outras drogas e por isso acaba sendo mais aceito e visto como algo “normal” na sociedade. Mas a nicotina, que é o princípio ativo do tabaco, causa tanta dependência quanto outras substâncias. Ela é, inclusive, uma droga de ação muito mais rápida. Logo que a pessoa apaga o cigarro, a nicotina começa a sair do seu corpo e então o organismo começa a sentir a sua falta, levando-o a logo querer acender um outro e assim vai se consumindo cada vez mais.

E por ser uma “droga camuflada”, por mais que algumas propagandas e rótulos de cigarros mostrem doenças e os maus que ele pode causar, ainda assim o fumante está a todo momento exposto e sendo influenciado a consumir cada vez mais. Dessa forma, a dependência da nicotina acaba sendo algo muito mais fácil e rápido de acontecer.

– Verdade: “Terapia pode ajudar no processo de abandonar o tabagismo”

A terapia de maneira geral, sempre vai buscar investigar os gatilhos que levam uma pessoa a ter um determinado problema, a ideia é fazer com que ela se conheça mais a fundo. No caso do tabagismo, a função da terapia será encontrar o que ela associa ao ato de fumar, entender qual o papel do cigarro na sua vida e fazer uma relação das vantagens e desvantagens do hábito de fumar, para que a pessoa entende se de fato ela está no momento de parar de fumar, ela precisa ter consciência do mal que faz na vida dela, pois é uma escolha dela.

Um dos principais métodos que podem ser utilizados é a Terapia Comportamental Cognitiva (TCC), trata-se do trabalho de conscientização do indivíduo, fazendo-o entender a relação do que ele pensa, como ele se sente e o seu comportamento. O paciente aprende a fazer uma “investigação” nos seus pensamentos e corrigir aqueles que são disfuncionais. O que também pode ajudar nesse processo, é o Biofeedback, que traz respostas “fisiológicas” para a pessoa, fazendo com que ela entenda como o corpo reage em relação ao cigarro, como fica por exemplo o seu batimento cardíaco. A partir daí é possível entrar nas técnicas de como ela pode controlar isso, como trazer seu organismo para o equilíbrio.

Sendo uma técnica inovadora dentro da psicologia, é possível também contar com o uso de Realidade Virtual nesse processo. Em seu consultório, a psicóloga Juliane Verdi Haddad, é uma das profissionais que já realizam este tipo de tratamento, usando algumas imagens da plataforma que possui, para “ambientar” o paciente em uma determinada cena e fazer com que trabalhe por exemplo, a ansiedade.

– Mito: “Ao contrário de outras drogas, o tabagismo não interfere nas relações pessoais”

Se compararmos o tabaco com outras drogas, de modo geral pode-se dizer que ele é mais “inofensivo” e que causa menos danos dentro do convívio familiar. Mas podemos citar alguns exemplos de como ele pode interferir nas relações, seja pelo fato de algumas pessoas acabam tendo problemas de saúde e mesmo assim não conseguindo deixar o vício, causando danos psicológicos a todo o resto da família. Ou ainda outras situações como uma crise no casamento, pelo parceiro não aceitar que você esteja fazendo algo que te prejudique, que influencie os filhos, ou ainda que se incomode com o cheiro e o gosto do cigarro. E até mesmo no trabalho, que também pode trazer a questão do cheiro incômodo, além de poder atrapalhar na concentração e produtividade da pessoa, podendo até levar a uma demissão.

Juliane Verdi Haddad – @julianeverdihaddadpsi

 

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