Respirador criado em universidade do Rio custa 10 vezes menos

Ventilador pulmonar desenvolvidos na Coppe tem custo unitário de R$ 8.500. Royal Phillips lança modelos para atendimento em casa

Estudantes da Coppe desenvolvem ventilador pulmonar mais barato para pacientes da Covid-19 (Foto: Divulgação)
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Desde que os primeiros casos da Covid-19 foram anunciados, o mundo entrou em uma corrida contra o tempo e pela vida. Pesquisadores, estudantes e cientistas passaram a se mobilizar para encontrar soluções que auxiliem no tratamento e que tragam a cura definitiva para este terror humanitário que já está se tornando o mal do século. Nessa luta ensandecida, a tecnologia é um diferencial entre a vida e a morte do paciente e tem beneficiado pessoas com sintomas acometidas pelo coronavírus.

Neste contexto, os respiradores se tornaram grandes aliados no tratamento da síndrome respiratória aguda grave (SRAG), presente em boa parte dos casos graves que exigem internação em UTI. Mas, infelizmente, esses equipamentos ainda são escassos especialmente na rede pública de saúde, e muito caros para a realidade brasileira.

Para driblar as dificuldades com a importação desses equipamentos e o alto custo – que inclusive deram margem a suspeitas de fraudes em compras que vêm sendo investigadas em diversos estados brasileiros – , muitas universidades entraram em campo para produzir inovações tecnológicas a custos mais acessíveis.

Uma delas é a Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde foi criado um aparelho que custa dez vezes menos que no mercado internacional. O ventilador de exceção (VExCo) desenvolvido pela Coordenação de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe-UFRJ) foi testado com sucesso em pacientes em estado grave internados no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), no Rio de Janeiro, uma das cidades com maior índice de contágio e mortes no Brasil. 

O desenvolvimento do produto, com custo unitário de R$ 8,5 mil, só foi possível com a colaboração de instituições públicas e privadas que apostaram no projeto. “Este valor é muito inferior ao preço dos ventiladores mecânicos disponíveis no mercado, que chegam a ultrapassar 100 mil reais por unidade”, compara Jurandir Nadal, chefe do Laboratório de Engenharia Pulmonar e Cardiovascular da Coppe/UFRJ. Segundo ele, a doação não considera custo de impostos e de mão de obra, pois todo o desenvolvimento vem sendo feito por voluntários.

Como funciona o ventilador pulmonar

O ventilador de exceção pulmonar é um aparelho que ajuda o paciente a respirar, quando seus pulmões sofrem com algum tipo de acometimento, como uma pneumonia. Além do modo de Ventilação Controlada à Pressão (PCV), que requer a sedação profunda do paciente, com a paralisação da atividade respiratória, os pesquisadores da Coppe/UFRJ testaram modalidades que não requerem a sedação profunda do paciente, como a PCV-AC (assistido-controlada) e a CPAP (ventilação com pressão positiva contínua das vias aéreas).

A grande diferença é que o modo PCV-AC utiliza um nível de sedação menor, no qual a ventilação por pressão é fornecida ao paciente quando ele tenta inspirar voluntariamente, respeitando o ritmo fisiológico. O modo CPAP consiste apenas em fornecer o ar rico em oxigênio, mantendo a pressão sempre positiva e deixando todo o controle da ventilação para o paciente”, esclarece Nadal.

Além disso, foi testado um novo método de controle da concentração de oxigênio do ar inspirado, o que permitiu economizar peças e reduzir as dimensões do VExCO. “Essas versatilidades representam uma evolução tecnológica do equipamento, tornando sua aplicação mais eficaz e facilitando a suspensão da ventilação no final do tratamento”, explica o professor do Programa de Engenharia Biomédica da Coppe.

Campanha para produzir ventiladores para hospitais públicos

A expectativa dos criadores é de que os ventiladores VExCO possam reforçar a capacidade de atendimento das unidades públicas de atendimento à saúde, em particular do Rio de Janeiro. Para isso, outros recursos financeiros serão necessários para atender à crescente demanda pelo equipamento. No intuito de reduzir essa lacuna, a Fundação Coppetec, criada pela Coppe para gerenciar projetos e recursos destinados a Ciência, Tecnologia e Inovação, está realizando uma campanha específica de doações para a produção dos ventiladores, por meio de um fundo criado para esta finalidade.

Até o momento, foram recebidas 851 doações que somam cerca de R$ 1,3 milhões, incluindo a do Itaú-Unibanco, por meio da Fundação Itaú de Esportes e Cultura, no valor de um milhão de reais. Para garantir a transparência na gestão dos recursos, a Fundação vem publicando em seu site as doações recebidas e os gastos devidos. (Veja no fim do texto como doar).

Marca cria equipamento para atendimento doméstico

Outra iniciativa para o desenvolvimento de ventiladores mecânicos veio da Royal Phillips, que se especializou em tecnologia da saúde. A empresa desenvolveu três novos modelos de ventiladores mecânicos invasivos e não invasivos, com o objetivo de “melhorar a vida de três bilhões de pessoas por ano, até 2030”, afirma André Toledo, gerente geral e diretor científico da área de Health Systems da Philips do Brasil. 

Os aparelhos Respironics E30, Respironics V60 e o Trilogy EVO auxiliam médicos e equipe clínica a atenderem os pacientes nas mais variadas condições, desde quadros clínicos mais simples até os mais importantes, e ainda contribuem para diversos tipos de tratamentos de insuficiência respiratória causada pelo novo coronavírus.

Além de apoiar as necessidades do paciente e dos profissionais de saúde nos hospitais e clínicas médicas, os equipamentos foram desenvolvidos para atendimento na casa do paciente. “O Trilogy EVO auxilia na sobrecarga das UTIs, atendendo a todos os níveis de tratamentos, desde os mais leves aos mais graves, graças à flexibilidade dos circuitos e aos modos de volume e de pressão e monitorização que permitem um cuidado adaptável”, pontua Toledo.

A tecnologia desenvolvida ajusta automaticamente o ventilador para alcançar o volume pretendido, enquanto se ajusta proativamente à menor pressão para manter as vias respiratórias superiores abertas. Já para maximizar o conforto, a frequência de reserva automática atrasa a respiração da máquina até que o paciente exale o ar dos pulmões.

A empresa também pensou nos profissionais de saúde. Para isso, em um dos modelos de aparelhos, é possível adaptar um filtro bacteriológico/viral para minimizar a exposição de profissionais de saúde tanto quando usado de forma invasiva, quanto não invasiva. “Essa configuração tem eficiência maior que 99,99% para filtrar a dispersão do gás que é forçado a sair pela porta exalatória”, complementa o diretor.

Todas as soluções possuem alarmes visuais e sonoros que fornecem informações terapêuticas relevantes. O valor do equipamento não foi divulgado pela empresa, nem como pode ser adquirido. Para mais informações sobre as iniciativas globais da Philips para enfrentar a Covid-19, acesse aqui.

Como doar para o Ventilador de Exceção

Juntamente com outras instituições de pesquisas do país, os pesquisadores da Coppe/UFRJ contaram com recursos da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e da Associação Brasileira de Engenharia e Ciências Mecânicas (ABCM) no desenvolvimento do ventilador de exceção.

Empresas como Petrobras e Whirlpool também apoiaram a iniciativa, ofertando conhecimento industrial e gestão de projetos de inovação tecnológica. Para reforçar o caixa, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou a destinação de R$ 5 milhões de seu Fundo Especial ao desenvolvimento do projeto, por meio de projeto de lei sancionado pelo governador Wilson Witzel.

Qualquer pessoa física ou jurídica pode doar. As doações devem ser feitas em nome da Fundação Coppetec – CNPJ: 72.060.999/0001-75 – Banco do Brasil: 001 / Agência: 2234-9 / Conta: 55.622-X. Para transferências de outros bancos ou via terminais, o dígito “X” deve ser substituído por “0” (zero).  Para obter o recibo da Coppetec, é necessário enviar cópia digital ou foto do comprovante para o e-mail doador.respirador@coppetec.ufrj.br. Mais informações no site da Coppe.

Com Assessorias

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