Retinopatia afeta uma em cada quatro pessoas com diabetes

André Marques estrela campanha que incentiva ida regular ao oftalmologista para evitar doença que pode levar à cegueira

André Marques, ao lado de da influencer diabética Aline, chegou a temer a doença (Foto: Divulgação)
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Em 2013, André Marques começou a perceber a vista embaçada. Era um dos sintomas da diabetes, doença adquirida por conta da obesidade. Seis anos depois e muitos quilos a menos graças a uma cirurgia bariátrica e mudanças de hábitos, o ator e apresentador estrela a campanha ‘De Olho na Diabetes’, que chama a atenção para uma grave complicação da doença crônica que aumenta as taxas de açúcar no sangue: a retinopatia diabética, considerada a maior causa de cegueira no mundo em pessoas em idade produtiva devido à falta de controle do diabetes.

A visão embaçada, negligenciada por muitos, pode ser um dos primeiros sinais de diabetes. Isso porque níveis alterados de açúcar no sangue podem formar uma espécie de fluido, borrando a visão. Por isso não há como falar de diabetes, sem lembrar da importância de prestar atenção à saúde dos olhos. “A retinopatia é uma das principais complicações microvasculares e pode causar cegueira, se não diagnosticada e tratada a tempo, independentemente da idade”, explica o oftalmologista especialista em Retina, Rafael Andrade.

Segundo pesquisa realizada em 2014 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo,  77,2% dos indivíduos com diabetes tipo 2 não aderem ao tratamento no país, o que ocasiona sérias complicações, entre elas a retinopatia diabética, que afeta 40% dos brasileiros com a condição. O estudo Dr. Barometer, envolvendo 41 países, publicado em 2017, constatou no Brasil que 91% dos entrevistados com diagnóstico de retinopatia disseram que não conseguem realizar as atividades cotidianas, como dirigir, trabalhar e concluir tarefas básicas em casa.

Realizado com a colaboração de especialistas da Federação Internacional sobre o Envelhecimento (IFA), da Federação Internacional de Diabetes (IDF) e da Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira (IAPB), o estudo Dr. Barometer ainda mostrou que 28% dos respondentes do estudo nunca discutiram complicações oculares com o médico ou só o fizeram após os primeiros sintomas.

De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, a diabetes pode aumentar em até 25 vezes o risco de perda definitiva da visão. A boa notícia é que 88,7% dos diabéticos no país fazem tratamento medicamentoso para controlar a doença, segundo levantamento realizado pelo especialista. A má é que 47% dos brasileiros entre 25 e 65 anos só consultam um oftalmologista quando sentem alguma dificuldade para enxergar.

Para o médico oftalmologista João Guilherme Oliveira de Moraes, especialista em retina e vítreo e idealizador do Retina do Bem, projeto de combate à retinopatia diabética, além da falta de conhecimento, o grande problema é que a doença é assintomática, o que faz com que muitos casos sejam diagnosticados tarde demais: “A retinopatia diabética é uma doença que não apresenta sintomas específicos e a grande maioria dos pacientes com diabetes nem sabe desse risco”, destaca.

Todos os problemas de retina causados pelo diabetes são chamados de retinopatia, podendo apresentar entre os sinais: visão embaçada, flashes de luz no campo de visão, perda repentina de visão e manchas na visão. “Cerca de uma em cada quatro pessoas com diabetes têm retinopatia em algum momento da vida. Novamente, o controle constante do diabetes é fundamental para evitar qualquer complicação com a saúde dos olhos”, ressalta Marcio Krakauer, médico da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP).

Campanha ‘De Olho no Diabetes’

Para sensibilizar a população sobre a importância do diagnóstico precoce da retinopatia diabética, as associações de pacientes ADJ Diabetes Brasil e a Retina Brasil, junto com o Clube do Diabetes, selaram parceria com a Novartis para realizar a campanha De Olho no Diabetes. Além de sensibilizar as pessoas sobre os riscos da doença, o objetivo é educar as pessoas para que mudem seus hábitos e consigam controlar as taxas de glicemia e incentivar a visita ao oftalmologista regularmente, para realizar os exames preventivos de visão.

A ação contribui na educação sobre a importância dos cuidados com a visão, e consequentemente, para o diagnóstico rápido de Retinopatia ou Edema Macular Diabético. Estrelada pelo apresentador André Marques, a campanha conta com depoimentos dos presidentes da ADJ Diabetes Brasil, Gilberto Casanova, e da Retina Brasil, Maria Júlia Araujo, além da influenciadora digital e autora do Portal Clube do Diabetes, Aline Peach.

São quatro vídeos que mostram a importância das pessoas com diabetes visitarem o oftalmologista especialista em retina pelo menos uma vez ao ano, para diagnosticar precocemente a retinopatia diabética e ter acesso ao tratamento. A iniciativa incluirá depoimentos de mais 11 influenciadores digitais com diabetes.

Um diferencial é que a campanha inclui em um só local, informações, notícias, serviços e atividades relacionadas à saúde ocular das pessoas com diabetes, além de oferecer uma plataforma de busca online de especialistas e centros de referência no diagnóstico, tratamento e acompanhamento de diabetes (endocrinologista) e em cuidados com a visão (oftalmologistas) desses pacientes, para que possam encontrar apoio perto de casa ou do trabalho, por meio de uma busca simples via CEP. Para mais informações sobre a campanha, acesse aqui.

MAIS SOBRE A DOENÇA

Exame de fundo de olho pode diagnosticar

A retinopatia diabética é causada pela alteração na permeabilidade dos vasos sanguíneos da retina em decorrência da hiperglicemia de médio a longo prazo. A doença afeta os vasos sanguíneos do olho e, se não diagnosticada e contida a tempo, deposita um material anormal nas paredes dos vasos da retina (fundo do olho), causando o estreitamento e até bloqueio dos mesmos, além do enfraquecimento de suas paredes, o que pode causar deformidades chamadas de microaneurismas. São esses microaneurismas que acabam rompendo e levando à hemorragia, o que pode causar a cegueira.

Por isso, o exame periódico de fundo de olho é tão importante para pacientes diabéticos. Quem tem diagnóstico de diabetes deve fazer exame oftalmológico anualmente.  Na consulta, o especialista percebe se o diabetes está causando alguma alteração na retina, antes dos primeiros sintomas, pelo exame de fundo de olho. É comum pessoas com tipo I ou II de diabetes terem retinopatia diabética. “No caso da retinopatia diabética os números podem chegar a 90% dos portadores de diabetes tipo 1 e 60% do tipo 2, em casos de pacientes com mais de 10 anos da doença”, completa o oftalmologista do Hospital Cema, Antônio Sérgio Franca Neves.

Quanto maior o tempo convivendo com o diabetes, até pessoas com glicemia bem controlada por medicamentos e dieta balanceada correm risco de contrair retinopatia.  “A retinopatia está diretamente ligada ao tempo de evolução do diabetes, mas certos cuidados podem prevenir ou retardar o surgimento da doença, tais como controlar o açúcar no sangue e a pressão sanguínea, não fumar e seguir dieta adequada”, completa o oftalmologista Hilton Medeiros, da Clínica de Olhos Dr. João Eugenio.

São dois tipos de retinopatia

A retinopatia diabética se apresenta de duas formas – a exsudativa ou proliferativa – e ambas podem causar perda parcial ou total da visão. O tipo mais comum da retinopatia é o não-proliferativo (exsudativa), que ocorre quando as hemorragias e as gorduras afetam a mácula, que é necessária para a visão central, usada para a leitura. Os vasos sanguíneos atrás do olho incham, formam bolsas e ficam bloqueados.

Quando esses vasos ficam totalmente obstruídos e não levam mais oxigênio à retina trata-se da retinopatia proliferativa, muito mais grave. A retinopatia proliferativa urge quando a doença dos vasos sanguíneos da retina progride, ocasionando a proliferação de novos vasos anormais que são chamados “neovasos”. Estes novos vasos são extremamente frágeis e também podem sangrar, causando variados graus de destruição da retina e dificuldades de visão.

Segundo Rafael Andrade, a forma inicial é detectada quando os vasos do fundo do olho estão danificados, causando hemorragia e vazamento de líquido da retina, chamado de Edema Macular Diabético. A retinopatia proliferativa é diagnosticada quando os vasos da retina ou do nervo óptico não conseguem trazer nutrientes para o fundo do olho e, por consequência, há formação de vasos anormais, que causam o sangramento.

A doença afeta o sistema circulatório da retina, onde há células receptoras responsáveis por perceber a luz e por enviar imagens ao cérebro. Os danos a esses vasos provocam vazamento de fluido ou sangue, causando fibrose e desorganizando a retina. Com isso, o paciente enxergará imagens distorcidas ou borradas podendo perder parcialmente ou integralmente a visão.

“No primeiro caso, a hemorragia e a gordura afetam a mácula, que é a responsável pela visão central, usada para a leitura. Já no segundo caso, acontece a proliferação de novos vasos atípicos, os “neovasos”, os quais são extremamente frágeis e também podem causar hemorragia.  Além disso, esses “neovasos” podem atingir o interior do olho, podendo causar não só dificuldades de enxergar, como a destruição da retina”, esclarece João Guilherme Oliveira de Moraes.

A principal causa da retinopatia diabética é o diabetes mellitus; é ele que impede o nosso corpo de fazer o uso adequado dos alimentos, principalmente o açúcar, elevando seus níveis na corrente sanguínea. Quanto à prevenção, o médico lembra que não existem segredos: alimentação adequada, uso dos remédios prescritos, prática de exercícios físicos e consultas periódicas acompanhadas do exame de fundo de olho podem evitar maiores problemas.

Tratamento a laser e até cirurgia

Hoje, graças ao avanço da tecnologia, existem tratamentos capazes de interromper a progressão da doença, como a fotocoagulação por raio laser, que cauteriza as regiões afetadas, evitando o processo de hemorragia. Segundo Queiroz Neto, o tratamento para retinopatia diabética pode ser feito com aplicação de laser, medicamento dentro do olho e em alguns casos pela associação dessas duas terapias, o que evita a perda irreparável da visão em 90% dos pacientes.

Na fotocoagulação, mira-se o raio laser na retina para selar os vasos sanguíneos, reduzindo o edema macular. As pequenas cicatrizes resultantes da aplicação do laser reduzem a formação de vasos sanguíneos anormais e ajudam a manter a retina sobre o fundo do olho, evitando o seu descolamento”, explica o oftalmologista Hilton Medeiros, da Clínica de Olhos Dr. João Eugenio.

Ele afirma que a fotocoagulação a laser pode ser conjugada com a vitrectomia associada a injeções intravítreas, como o Lucentis que reduz o risco de cegueira em menos de 5%. Além do laser, injeta-se na cavidade vítrea o Lucentis, substância que inibe e regride os vasos em formação. “O Lucentis contém a substância ativa ranibizumabe, que é parte de um anticorpo. Como anticorpo, ele se liga seletivamente a uma proteína chamada fator de crescimento endotelial, inibindo e regredindo os vasos em formação”, comenta o especialista.

Em alguns casos, porém, pode ser necessária a realização de cirurgia de vitrectomia. “Quanto mais cedo é o diagnóstico, maior é a probabilidade de sucesso no tratamento. Apesar de não existir uma cura para a retinopatia diabética, ela pode ser controlada. Por isso, ter conhecimento sobre o assunto é o primeiro passo para a prevenção”, completa Dr. Moraes.

Outras doenças que podem ser causadas pela diabetes

Além da retinopatia, a diabetes pode influenciar no aparecimento de catarata e olho seco. Pessoas com diabetes têm 40% mais chance de desenvolver glaucoma, que é a pressão elevada nos olhos, e 60% mais chance de desenvolver a catarata, que ocorre quando o cristalino (a lente clara do olho) fica opaco, bloqueando a luz.

A maioria das doenças oculares não apresenta sintomas logo no início, adverte Queiroz Neto.  “A hiperglicemia predispõe a alterações na retina. Por isso, requer diagnóstico precoce para manter a visão.  A falta de acompanhamento oftalmológico regular faz mais da metade dos diabéticos correr o risco de cegar”, pondera.

Catarata

Queiroz Neto explica que os depósitos de glicemia nas paredes do cristalino, lente interna do olho, somados às oscilações glicêmicas, comuns entre diabéticos, aumentam a formação de radicais livres, aquelas moléculas que em excesso danificam nossas células. Por isso, o diabetes dobra o risco de contrair catarata. Apontada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como a maior causa de cegueira tratável no mundo, a catarata responde por 49% dos casos de perda da visão entre brasileiros. Geralmente está associada ao envelhecimento e quanto mais avança maior a dificuldade de enxergar, até a completa cegueira.

O único tratamento é a cirurgia. A operação substitui o cristalino opaco por uma lente intraocular transparente. Deve ser feita antes da completa opacificação do cristalino, especialmente entre diabéticos. “Se a doença estiver muito avançada o oftalmologista não consegue enxergar as alterações na retina. Para quem tem diabetes isso pode significar a perda permanente da visão”, alerta Queiroz Neto.

Olho seco

Queiroz Neto afirma que o diabetes também provoca o maior ressecamento da lágrima, que tem a função de proteger a superfície dos olhos.  Os sintomas são vermelhidão, ardência, visão embaçada, coceira e maior sensibilidade à luz. A síndrome é sã mais frequente  nos períodos de seca. O tratamento padrão para olho seco, explica, é o uso de colírio lubrificante.

Mas não vale usar qualquer um porque as fórmulas variam para agir em uma ou mais camadas da lágrima: aquosa, proteica e lipídica. A dica do médico é procurar beber bastante água e incluir na alimentação fontes de ômega 3 encontrado na sardinha, bacalhau, salmão e semente de linhaça. “Aplicações de luz pulsada que estimulam a produção da camada lipídica e por isso diminuem a evaporação da lágrima, são a última palavra para eliminar o desconforto”, conclui.

Mutirão da Diabetes em Curitiba

Mutirão Retina do Bem em Curitiba – Foto Divulgação

Na capital paranaense, instituições privadas e entidades médicas, em parceria com a prefeitura, se uniram para conscientizar a população sobre o problema. O Retina do Bem 2019 e 7º Mutirão Diabetes Curitiba aconteceram no dia 9 de novembro, na Praça Ouvidor Pardinho, com cerca de 500 voluntários, sendo aproximadamente 60 médicos.  O principal objetivo do evento é realizar avaliação de fundo de olho em pacientes diabéticos que ainda passaram pelo exame esse ano.

Realizada pela Oftalmo Curitiba – Hospital da Visão e pelo Centro Paranaense de Oftalmologia (CPO), a ação conta com parceria da Prefeitura Municipal de Curitiba e apoio da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo (SBRV), da Associação Paranaense de Oftalmologia (APO), da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Podem fazer os exames: pessoas com diabetes, encaminhadas ou não pela Secretaria de Saúde de Curitiba, assim como a população em geral que deseja medir o nível da glicemia para saber se tem diabetes. Para mais informações: www.retinadobem.com.br e o www.campanhadiabetescuritiba.com.br.

Com Assessorias

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