Fila de espera por leitos para Covid-19 zera, mas mortes aumentam no Rio

Taxa de ocupação é de 73% em leitos de enfermaria e 92% em leito de UTIs. Relatório da Fiocruz aponta queda de novos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave no estado

Leitos do Hospital de Campanha do Maracanã (Foto: Rogério Santana / SES)
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Depois de meses sobrecarregada, a rede de saúde do Estado do Rio está sem fila de leitos para vítimas da Covid-19 pela primeira vez. Há apenas oito pessoas aguardando uma vaga, o que é considerado um número de adequação do sistema, não uma fila.

A Secretaria de Estado de Saúde informou que, atualmente, a taxa de ocupação, considerando todas as unidades da rede estadual, é de 73% em leitos de enfermaria e 92% em leito de UTIs. Ao todo, 87 pacientes foram internados na rede estadual, nas 24 horas.

Já na cidade de Campos dos Goytacazes, no norte do estado, não há mais leitos livres. Pacientes graves com a covid-19 estão procurando a Defensoria Pública para conseguir atendimento.

Shoppings abriram quinta-feira no Estado do Rio, uma semana antes do previsto e após quase três meses fechados para conter o avanço da Covid-19. Quatro cidades reabriram o comércio no Sul do estado. Houve aglomeração de pessoas e lojas não essenciais funcionaram.

O novo coronavírus fez 54 vítimas em 24 horas em todo o Estado do Rio, segundo o painel da Secretaria Estadual de Saúde, divulgado nesta sexta-feira. Mais de 7,4 mil pessoas morreram desde o início da pandemia e há 2.009 casos novos confirmados. O total de pessoas infectadas é de 77.784.

São 50 cidades nas regiões dos Lagos, Serrana, Norte e Noroeste, Metropolitana e Baixada Litorânea com casos da doença. Até esta sexta, são 10.404‬ casos confirmados de Covid-19 nas cidades do interior e o número de mortes chega a 493.

Em todo o Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, são 41.828 mortes, sendo 909 registros incluídos em 24 horas. Ao todo, são 828.810 casos confirmados, contra 802.828 na quinta-feira, um aumento de 25.982 casos em 24 horas. Ainda de acordo com o ministério, há 421.919 pacientes em acompanhamento (51% dos confirmados) e 365.063 recuperados (44%).

 

Presidente comete crimes ao incitar pessoas a invadir hospitais

Na sua live de quinta-feira (11/6), o presidente Jair Bolsonaro incitou seus seguidores a entrar nos hospitais públicos e de campanha para filmar o atendimento a pacientes com a Covid-19. “Tem um hospital de campanha perto de você, tem um hospital público, arranja uma maneira de entrar e filmar. Muita gente tá fazendo isso, mas mais gente tem que fazer, para mostrar se os leitos estão ocupados ou não, se os gastos são compatíveis ou não”, afirmou, nas redes sociais.

A jurista e advogada criminalista mestre em Direito Penal, Jacqueline Valles, afirma que, ao incentivar que as pessoas se exponham a um grave risco invadindo hospitais, a fala do presidente pode ser enquadrada em três artigos do Código Penal. “A fala de Bolsonaro na live pode ser enquadrada nos crimes previstos nos artigos 268, 286 e 287 do Código Penal. Ao incentivar seus seguidores a invadirem hospitais, o presidente incita que as pessoas cometam crime contra a saúde pública e faz apologia ao crime”, completa a jurista.

Jacqueline Valles, advogada criminalista mestre em Direito Penal

O artigo 268 criminaliza a desobediência de determinação do poder público destinada a impedir a propagação de doença contagiosa. No artigo 286, está o delito de incitar, publicamente, a prática de crime. E o 287 abrange a apologia de crime ou criminoso.

Jacqueline explica que, diante da situação, cabe aos órgãos de fiscalização das autoridades, como a Procuradoria-Geral da República (PGR), investigar a conduta do presidente e, assim, evitar que novos crimes sejam cometidos. “Ele fala em mandar a ABIN e Polícia Federal investigar supostas denúncias. Mas é preciso dizer que não se pode incentivar as pessoas a cometerem crimes para fiscalizar, função essa que cabe a órgãos de Polícia Judiciária e do Ministério Público”, pontua.

Ataque a hospital de referência da Covid-19

O grupo que chutou portas e quebrou computadores no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, referência para tratamento de Covid-19 no município do Rio de Janeiro, reforça o temor de um novo problema no combate ao coronavírus no Brasil, menos de 24 horas depois de o presidente Jair Bolsonaro pedir que pessoas filmassem unidades de tratamento de vítimas da Covid-19. Bolsonaro assumiu, com a sugestão, o risco de incendiar os ânimos de cidadãos e levá-los a desconfiar da medicina.

A atribuição legal por um atestado de óbito é do médico. Dentro de uma UTI de tratamento de vítimas da Covid-19, essa triste burocracia tem ritmo acelerado. Há protocolos para o diagnóstico. A peculiaridade do raio de ação do novo coronavírus fez com que pacientes infartados, vítimas de embolia ou com pneumonia passassem a ser tratados como potenciais vítimas dele.

Muitos chegam à UTI, outros tantos não resistem, sem que se tenha o resultado do exame que atesta a existência do vírus. Esses não entram na estatística de infectados. Pulmões com “vidro fosco” (manchas vistas em tomografia), paradas cardíacas sem histórico de cardiopatia e tromboses também em pacientes sem passado de doenças ligadas à coagulação são, por protocolo, associados ao vírus durante o tratamento. Não para inflar números, como insinuou Bolsonaro. Mas para seguir determinações internacionais. Milhares de vidas foram salvas por esse protocolo.

Uma UTI preparada para receber esses pacientes tem normas rígidas de segurança e profissionais com qualidade técnica para avaliar o quadro individual de cada paciente. Há condições distintas nos setores público e privado. Mas não há dúvidas do tamanho do estrago do Covid-19. Colocar isso em xeque, como se houvesse um grande complô para inflar os números, é ignorar o esforço cotidiano que cientistas e médicos têm feito para mapear a repercussão do vírus no corpo humano. E para fazer reduzir a curva pandêmica, que apenas cresce.

Hospitais de campanha adiados mais uma vez

Os hospitais de campanha de São Gonçalo e Nova Iguaçu serão inaugurados na próxima semana, de acordo com o secretário estadual de Saúde. Fernando Ferry visitou o hospital de campanha de Nova Friburgo para vistoria e informou que os equipamentos e mobiliários chegarão na unidade ao longo da próxima semana.

Em apenas uma semana, as regras da quarentena mudaram três vezes devido a decisões judiciais com autorizações e proibições que confundiram a população. As aglomerações nas ruas aconteceram depois da Justiça voltar atrás e permitir os decretos da prefeitura e do governo do estado para a flexibilização desse isolamento.

Diante dos problemas de atraso na montagem dos hospitais de campanha e deficiência na gestão, o governador Wilson Witzel determinou, por meio do decreto 47.103/20, que a Secretaria de Estado de Saúde assuma a gestão dos hospitais de campanha.

O contrato e os termos aditivos realizados com a Organização Social Instituto de Atenção Básico à Saúde (Iabas) serão anulados e o governo vai requisitar todo o equipamento e mão-de-obra no combate à pandemia, assim como a conclusão das obras.

Com a intervenção, a Fundação Estadual de Saúde fica responsável por administrar os sete hospitais de campanha para enfrentamento da Covid-19: Maracanã, São Gonçalo, Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Nova Friburgo, Campos dos Goytacazes e Casimiro de Abreu.

Com Agências e Assessorias

 

 

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