Senador que morreu por Covid-19 não pode ter órgãos doados

Major Olímpio foi um dentre os 2.659 mortos em 24 horas. Família quer fazer doação de órgãos, mas procedimento não é recomendado

O senador Major Olímpio (PSL), de 58 anos, durante sessão do Senado Federal, em Brasília (Foto: Divulgação/Senado Federal)
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Mais um senador da República vira número nas estatísticas da pandemia no Brasil. Major Olímpio (PSL-SP) foi um dentre os 2.659 brasileiros que não resistiram à Covid-19 nas últimas 24 horas. A morte do senador – o terceiro desde o início da pandemia – nesta quinta-feira (18/3), chamou a atenção não apenas para a gravidade deste momento trágico da pandemia, mas pelo interesse da família em doar os órgãos do parlamentar.

Ao comunicar a morte cerebral pelo Twitter, a equipe do senador informou que “por lei a família terá que aguardar 12 horas para confirmar o óbito e está verificando quais órgãos serão doados”. Porém, uma  nota técnica do Ministério da Saúde informa que pacientes infectados pelo novo coronavírus não podem ser doadores de órgãos após declarada a morte cerebral. Isso porque existe o risco de a Covid-19 ser passada para o receptor do órgão doado.

O MS aponta “contra-indicação absoluta para doação de órgãos e tecidos” de doadores que morreram com a Covid-19 ativa, com teste para Sars-CoV-2 positivo ou com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS). A única exceção possível é para os pacientes considerados “curados” ou “recuperados” da Covid-19. Caso o ex-paciente morra após 28 dias de recuperação da doença, ainda haverá uma “contra-indicação relativa” para a liberação dos órgãos. Neste caso, o processo pode ser validado após análise da equipe do transplante.

Números recordes de mortes pelo 20º dia consecutivo

Major Olímpio tinha apenas 58 anos, era saudável e morreu devido às complicações da infecção, após 16 dias internado em um hospital público de São Paulo. Foi o terceiro senador a morrer de Covid-19 no Brasil – os outros foram Arolde de Oliveira (PSC-RJ), aos 83 anos, e José Maranhão (MDB-PB), aos 87, ambos no ano passado.

As 2.659 novas mortes por Covid-19 em todo o país nas últimas 24 horas representam a terceira maior marca desde março de 2020. O recorde de mortes em um só dia foi verificado na terça-feira (16), com 2.798 vítimas. E isso sem contabilizar os dados do Rio Grande do Norte, único estado que não enviou números atualizados.

O país registrou também a mais alta média de mortes por Covid-19 em toda a pandemia pelo 20º dia consecutivo. Nos últimos sete dias, a média foi de 2.096 óbitos diários causados pela doença. No total, 287.795 pessoas morreram em decorrência da Covid desde março de 2020. O levantamento é do consórcio de veículos de imprensa, com base nos dados fornecidos pelas secretarias estaduais de saúde.

Pandemia faz transplante de córnea desabar: queda de 210% 

Relatório da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos) mostra que, até setembro de 2019, 10.995 brasileiros passaram pela cirurgia.  No mesmo período de 2020, último dado da associação, foram realizados 4.807 transplantes de córnea no país, uma redução de 210% em relação ao ano anterior.  Pior: segundo a ABTO, até o mês de setembro a fila de espera saltou de 10.825 em 2019 para 14.433 em 2020.

A pandemia pode aumentar ainda mais a deficiência visual por conta da menor captação de córnea pelos bancos de olhos. Um estudo divulgado no final de janeiro na publicação científica, JAMA Ophthalmology da Associação Médica Americana (AMA) mostra que em um grupo de 11 pessoas contaminadas pelo SARS-CoV-2 a córnea de 6 (55%) apresentou o RNA genômico do vírus. Quatro dessas mesmas córneas (67%) apresentaram RNA subgenômico.

“Por isso, a recomendação é evitar a captação para transplante de pessoas com Covid-19 ou recém contaminadas’, afirma o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier e membro do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia).

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Como se tornar um doador de órgãos

Para ser um doador, basta conversar com sua família sobre o seu desejo. No Brasil, as regras são estabelecidas pelo Sistema Nacional de Doação e Transplantes de Órgãos do Ministério da Saúde.

Há dois tipos de doador: o primeiro é o doador vivo. Pode ser qualquer pessoa que concorde com a doação, desde que não prejudique a sua própria saúde. O doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea ou parte do pulmão.

Pela lei, parentes até o quarto grau podem ser doadores. Não parentes, só serão doadores com autorização judicial, exceto os cônjuges, que são considerados não parentes e podem doar após avaliação clínica criteriosa, sem ser necessária autorização judicial.

O segundo tipo é o doador falecido. São pacientes com diagnóstico de morte encefálica, geralmente vítimas de catástrofes cerebrais, como traumatismo craniano ou AVC (acidente vascular cerebral). O diagnóstico de morte encefálica é realizado com todo rigor técnico por médicos especialistas que não tem relacionamento com as equipes de transplante.

Os órgãos doados vão para pacientes que necessitam de um transplante e estão aguardando em lista única, definida pela Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada estado, e controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes. No entanto, no Brasil a doação somente é concretizada com a autorização familiar. As normatizações brasileiras sobre transplante de órgão figuram entre as melhores no mundo servindo de modelo para outros países.

Com Assessorias

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