É depressão ou distimia? Como identificar uma doença mental no trabalho

Depressão está presente na grande maioria dos casos de suicídio (Imagem de internet)
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O Brasil é o país mais deprimido da América Latina, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No país, nada menos que 5,8% da população sofrem da doença, sendo 7,7% das mulheres e 3,6% dos homens. Indicadores como esses estão também correlacionados, ainda que indiretamente, à alta taxa de suicídio no Brasil: uma morte a cada 45 minutos, de acordo com o Ministério da Saúde.

De acordo com o psiquiatra e psicanalista Mário Louzã, profissional parceiro Omint, é importante falar sobre transtornos mentais sem tabus para evitar que situações extremas, até então evitáveis, venham a acontecer. “Suicídio é algo que a OMS classifica de morte evitável. Uma pessoa que apresenta esse risco quase sempre dá indícios que está com esse tipo de pensamento e, portanto, numa situação de risco. Se pudermos intervir a tempo, evitamos tentativas que culmine num resultado letal”, comenta o especialista.

Louzã ainda acrescenta que campanhas como a Setembro Amarelo e a ampla divulgação das mídias são fundamentais para que se fale sobre os transtornos que possam levar a um final trágico e, portanto, evitá-lo. O especialista afirma que, no ambiente corporativo, há sinais que os colegas e superiores podem identificar e alertarem-se sobre a importância de oferecer apoio ao indivíduo.

Primeiramente, é importante diferenciar distimia de um cenário de risco. Distimia é a depressão crônica, leve a moderada, que dificilmente culmina numa situação extrema. É a pessoa que está permanentemente apática, silenciosa, com um estado de espírito permanentemente triste.

É diferente da pessoa que subitamente muda de humor, apresenta um sentimento de vazio e passa a apresentar pensamentos de pouca valia, do tipo ‘a vida não vale a pena’, ‘não tenho vontade de acordar no dia seguinte’ e afins.” Louzã afirma que, nessa fase, normalmente surge a ideação que atentar-se contra a própria vida como uma solução para os problemas.

Importância de posicionamento ativo do RH: a situação citada acima, de acordo com o especialista, já apresenta um cenário em que o departamento de Recursos Humanos da companhia deve agir ostensivamente para evitar situações como tratamento mal conduzido ou mesmo feito às escondidas, pedido de demissão e até atitudes deliberadas que a pessoa possa tomar. “Por esse motivo, é fundamental que o RH das companhias apresente condutas claras de acolhimento a colaboradores com transtorno.

Na maioria das vezes, o indivíduo que percebe em si mesmo alterações de humor e até mesmo a dificuldade em tocar tarefas do seu dia a dia tem vergonha e medo de encarar um diagnóstico de depressão. Ele tem receio de sofrer represálias, preconceitos, julgamentos, e, por isso, é primordial que ele tenha uma rede de apoio que o dê suporte e encoraje a buscar ajuda profissional”, alerta.

Afinal, qual o profissional a se procurar: psiquiatra, psicanalista ou psicólogo? 

De acordo com Louzã, nos quadros em que uma pessoa já apresenta risco de suicídio, o profissional indicado é o psiquiatra. “O psiquiatra tem formação médica e, por isso, pode prescrever medicações à pessoa e, se for o caso, até mesmo interna-la até que seu quadro melhore. O psicólogo ou o psicanalista pode atuar em outra fase, ou em quadros mais leves e até mesmo moderados. Enquanto isso, nos cenários mais críticos, o psiquiatra deve ser procurado o quanto antes”, afirma, ressaltando a importância de psicólogos e psicanalistas encaminharem ao psiquiatra os quadros que eles avaliarem mais delicados para que haja sucesso no tratamento.

A cada 45 minutos, um brasileiro tira a própria vida, o que coloca o país na oitava posição no ranking mundial de suicídios, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Doenças mentais como depressão e ansiedade, juntamente com a falta de uma rede de apoio e com mudanças na sociedade que a tornam cada vez menos solidária, são apontadas como principais fatores de risco. A maior incidência ocorre entre jovens na faixa etária entre 15 e 29 anos. Mas como reverter esse quadro alarmante quando a maioria das vítimas não tem sequer consciência de que está doente?

Um estudo do Ministério da Saúde indica que o risco de suicídio é reduzido em 14% em municípios com a presença de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Ações globais de prevenção, como o Setembro Amarelo, também desempenham papel importante no país. Setembro é considerado o mês mundial de prevenção do suicídio, e muitas empresas realizam campanhas internas de conscientização.

“Não é novidade que a depressão é o mal do século e tem aumentado cada vez mais. Assim como nas demais campanhas, como Outubro Rosa e Novembro Azul, a Mazars, que está sempre atenta com o seu papel social, abraça neste mês, a campanha do Setembro Amarelo, que visa a alertar as pessoas para os meios de tratamento possíveis e para os caminhos para buscar a ajuda”, diz Milena Bizzarri, diretora de RH da Mazars, auditoria e consultoria empresarial.

Com a finalidade de orientar os gestores sobre como pode ser a percepção de um líder junto à equipe e sensibilizá-los na identificação quando um funcionário não está bem, a Mazars vai promover uma palestra com um médico especializado. “Com gestores capacitados nos sinais comportamentais dos colaboradores e uma equipe de RH qualificada, é possível direcionar a pessoa que não está bem para a ajuda adequada”, declara Milena.

A executiva ainda acrescenta que para muitas pessoas o assunto depressão ainda é um tabu. “Seja por desconhecimento, seja por vergonha, elas não procuram o tratamento adequado e ignoram o grande perigo que podem sofrer. É preciso alertar para o fato de que depressão não é frescura nem preguiça. É uma doença séria e devastadora. Como empresa, é nossa responsabilidade ajudar a desmistificar esse assunto e mostrar para os nossos colaboradores que a desinformação sobre o tema colabora para consequências graves”, afirma Milena.

Outro ponto observado pela diretora de RH da Mazars é que nos últimos seis meses, devido à percepção e sensibilidade junto aos colaboradores, foi possível notar que existia depressão no quadro de profissionais da empresa. “Percebemos que as causas são multifatoriais, podem ser em função de relacionamentos, do trabalho, de transtornos de ansiedade e humor, entre outros”, pontua Milena. “Essas causas impactam tanto na vida pessoal quanto na profissional, e a empresa pode ter um papel importante na identificação de comportamentos que indiquem que a pessoa precisa de ajuda”.

Quando a campanha Setembro Amarelo foi abordada na Mazars em 2018, percebeu-se que os colaboradores se sentiram acolhidos. “Em alguns momentos os profissionais sentiram que a empresa é um refúgio”, finaliza Milena.

Setembro Amarelo e a saúde mental dos trabalhadores

Ruslan Stuchi*

A Organização Mundial de Saúde (OMS) revela que até 2020 a depressão será a doença mais incapacitante do mundo. A depressão é um tema delicado e torna-se mais complexo quando é discutido no ambiente de trabalho. É notório que o país enfrenta dificuldades em diversos campos, seja na questão social, na questão econômica ou educacional.

O ambiente de trabalho é um local competitivo, que demanda dos trabalhadores qualidades exclusivas para que possam competir pela manutenção do seu emprego. As altas demandas acabam comprometendo a saúde mental de muitos trabalhadores, principalmente em um cenário de milhões de desempregados e a escassez de vagas profissionais.

Além das demandas internas das instituições, os trabalhadores têm de dar conta de uma cobrança social que vêm dos meios de comunicação, os quais obrigam o sucesso profissional e pessoal, de modo que as pessoas tendem a se sentir pressionadas e influenciadas em busca de perfeição nas atividades que exercem.

No campo da Justiça, o trabalhador que está sofrendo com doenças psiquiátricas, e incapacitado ao labor de forma total, poderá socorrer-se ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a fim de almejar o benefício de auxílio-doença até que melhore seu quadro e possa retornar ao trabalho. Sendo assim, é necessário ter um laudo médico atestando tais doenças e, se possível, a incapacidade.

A controvérsia em questão na Justiça brasileira é sobre as causas e o local onde as doenças psiquiátricas são adquiridas. A intenção é verificar se foi contraída em ambiente profissional. Entre as principais questões sobre o tema estão: qual a culpa da empresa em relação a esta doença? É um problema as questões genéticas da pessoa ou trata-se de um problema social?

Tais dúvidas são necessárias para apurar se a doença é do trabalho ou não e se existe a responsabilidade civil da empresa. Sabemos, em grosso modo, que as doenças psiquiátricas estão mais ligadas a fatores genéticos, hereditários e sociais e que no trabalho podem ser desencadeadas ou agravadas mesmo sem culpa da empresa.

Contudo, existem várias situações que a culpa é da empresa como, por exemplo: exposição ao ridículo, trabalho com jornadas excessivas, gritos e berros do superior. Também são consideráveis fatos oriundos ao trabalho: assalto, roubo e diversas situações que podem ocorrer no ambiente de trabalho que demonstrem a gravidade do caso e que a doença foi desencadeada por causa do seu trabalho.

A fim de elucidar melhor o caso, vale mencionar um cliente do nosso escritório, que autorizou a publicidade do seu caso. O Sr. M.A.S atuava como agente fiscalizador de radar móvel e tinha que ficar parado ao lado do equipamento para o desempenho de sua função.

Por conta disto, recebia xingamentos, gritos, ameaças e até objetos foram arremessados contra o trabalhador. Passou por situações extremas como, por exemplo, ser abordado por pessoas armadas com a ordem de desativação do radar. Diante destas atitudes da sociedade, começou a ter medo de exercer a sua função e desenvolveu síndromes e abalos psicológicos que o levaram a ser afastado do trabalho.

Ocorre que a empresa, ao fazer este afastamento, relacionou a sua doença como previdenciária, sem relação com o trabalho. Após seu retorno do afastamento, desligou-o da empresa. Ingressamos com uma ação contra o INSS para reconhecer que a doença foi do trabalho. A decisão foi positiva e garantiu mais tempo de recuperação para o trabalhador, com direito a receber um benefício previdenciário para cuidar de sua saúde.

Também entramos com ação trabalhista contra a empresa para, após a cessação do benefício, efetuar a reintegração dele ao trabalho, possivelmente em outra função. A reintegração é um direito garantido, pois todo empregado acidentado ou com doença relacionada ao trabalho, ao ser afastado, tem estabilidade de no mínimo doze meses quando retornar às suas atividades. O trabalhador não pode ser dispensado sem justa causa ao adquirir uma doença no trabalho.

Por fim, aproveitando a campanha do Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio, é importante consignar a campanha no ambiente corporativo, de modo que os trabalhadores consigam encontrar meios de cuidados com a própria vida, adotando práticas mais saudáveis cotidianamente. As empresas devem adotar políticas voltadas à saúde mental de seus colaboradores.

* Ruslan Stuchi é especialista em Direito do Trabalho e sócio do escritório Stuchi Advogados

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