Rio registra aumento das tentativas de suicídio entre meninas de 15 a 19 anos

Estado teve 7.395 tentativas de suicídio por intoxicação exógena no 1º semestre. Mulheres de 15 a 19 anos ocupam a terceira posição

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De janeiro de 2018 a junho de 2020 foram registrados 7.395 casos de tentativa de suicídio por intoxicação exógena em todo o Estado do Rio de Janeiro, 65,2% deles na Região Metropolitana. No primeiro semestre de 2020, foram notificados 1.571 casos, com redução de 12% em relação ao mesmo período de 2019. Mas a tendência dos últimos anos é de aumento.

A intoxicação exógena é o meio utilizado por mais da metade das tentativas de suicídio notificadas no país, segundo a Fiocruz. Com relação aos óbitos, a intoxicação é a segunda causa, com 18%, ficando atrás das mortes por enforcamento, que atingem 60% do total. Trata-se do aparecimento de sinais e sintomas devido ao contato com substâncias químicas que prejudicam o organismo das pessoas, podendo provocar danos graves e até a morte.

Em 2018, no Estado do Rio, foram registrados 2.497 casos de tentativa de suicídio por intoxicação exógena e, em 2019, foram 3.327 notificações. “Os dados de 2020 ainda estão em atualização permanente, significando que provavelmente ainda podem aumentar”, informou a Secretaria de Estado de Saúde (SES).

Para Eralda Ferreira, a coordenadora de Vigilância e Promoção da Saúde da Subsecretaria de Vigilância em Saúde (SVS) da SES-RJ, o levantamento reforça a necessidade de falar abertamente sobre o assunto.

Observando a série histórica desde 2018, percebemos uma leve tendência de aumento das tentativas de suicídio por intoxicação exógena, principalmente entre mulheres na faixa etária de 15 a 19 anos, que ocupam a terceira posição em número de casos. Em ambos os gêneros, a grande maioria das notificações,  cerca de 40%, ocorre na faixa etária de 20 a 34 anos, seguida do intervalo de 35 a 49 anos de idade”, detalha Eralda.  

Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (10/9), Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, alertando para este importante problema de saúde pública, que, apesar de afetar pessoas de todas as idades, gêneros e classes sociais, ainda é tabu. O levantamento foi realizado junto ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

Desde 2014, a violência autoprovocada (ou tentativa de suicídio) é um agravo de notificação compulsória. Eralda explica que o levantamento foi realizado a partir das fichas de notificação imediata de intoxicações exógenas intencionais, registradas como tentativa de suicídio.

Quando uma tentativa de suicídio, ou um caso consumado, chega à unidade de saúde, os profissionais devem notificá-lo em até 24 horas. Isso significa que a ficha de notificação compulsória imediata, contendo essas informações, deve ser enviada dentro deste prazo à Vigilância Epidemiológica.

Esse processo é fundamental para subsidiar políticas públicas de saúde e promover a atenção psicossocial e a proteção social. A notificação oportuna, feita no prazo de 24 horas, pode evitar desfechos fatais, proporcionando cuidado, acolhimento e suporte a quem precisa”, esclarece a coordenadora.

Setembro Amarelo, mês de prevenção

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma pessoa se suicida a cada 40 segundos em todo o mundo. No Brasil, Este é o mês de prevenção ao suicídio, o Setembro Amarelo. A psicóloga Karen Athié, superintendente de Atenção Psicossocial e Populações Vulneráveis da SES-RJ, lembra que,


Ainda assim, para muitos, o suicídio é uma bobagem. É importante saber que uma pessoa em risco de suicídio precisa realmente de ajuda, e que falar sobre o tema é imprescindível. Além do apoio pessoal, é necessário o encaminhamento urgente aos serviços e equipamentos da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)”, disse Karen.


O suicídio é um fenômeno com muitos fatores e não está ligado, necessariamente, a transtornos mentais. Karen ressalta que os contextos sociais e familiares também podem contribuir para a ideia ou tentativa de suicídio.

O suicídio está relacionado a disposições orgânico-psíquicas, mas não podemos ignorar os determinantes sociais da saúde. Condições socioeconômicas, problemas familiares, racismo, homofobia, bullying são componentes fundamentais do problema, que devem ser considerados nas ações de prevenção, sobretudo na atenção aos segmentos mais vulneráveis da população”, afirma.


A psicóloga informa que a Rede de Apoio Psicossocial faz um trabalho importante de acolhimento e atenção à crise, fundamental para a prevenção ao suicídio e a promoção da saúde.


 É preciso criar espaços de fala e escuta qualificada e garantir que as pessoas que precisam sejam acolhidas oportunamente e sem julgamentos. Uma ação imprescindível é ouvir a voz de quem está em sofrimento”, destaca a psicóloga.

Nesse sentido, a SES-RJ vem desenvolvendo diversas políticas para expansão e qualificação da RAPS, como os programas de cofinanciamento. “Um dos resultados é a presença de pelo menos um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) em 95% dos municípios fluminenses. Este ano, vamos repassar mais R$ 45,5 milhões para qualificar a RAPS, ampliar serviços e oferecer leitos de saúde mental em hospitais gerais”, ressalta a superintendente.


Como buscar ou oferecer ajuda

Além das unidades e profissionais de saúde, todas as pessoas podem contribuir com a prevenção ao suicídio, promovendo o cuidado no dia a dia com familiares, amigos e colegas de trabalho. Dentre os sinais de alerta para risco de planejamento ou tentativa de suicídio estão manifestações verbais de desejo de morrer e comentários sobre “sumir”, “desaparecer”, “dormir para sempre” ou “ser inútil”. Mudanças de comportamento ou busca por isolamento da família e amigos também fazem parte do quadro.


Diante dessas situações, a melhor conduta é ouvir as angústias da pessoa, conversar abertamente, sem julgamentos, e sugerir o apoio de profissionais de saúde. No Sistema Único de Saúde (SUS), a atenção às situações mais graves deve ser realizada nos CAPS, mas elas também podem ser acolhidas pelas unidades de atenção primária, para direcionamento aos serviços específicos. Em casos de risco iminente, deve-se acionar o Samu pelo 192.

Dados da Fiocruz

Entre 2007 e 2016, foram registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) 106.374 óbitos por suicídio. Em 2016, a taxa chegou a 5,8 por 100 mil habitantes, com a notificação de 11.433 mortes por essa causa.

Em 11 anos, dos 470.913 registros de intoxicação exógena, 46,7% (220.045) foram devido à tentativa de suicídio. Em 2017, o número registrado foi cinco vezes maior do que 2007, saiu de 7.735 para 36.279 notificações. O Sudeste concentrou quase metade (49%) das notificações seguido da região Sul, que concentra cerca de 25%. O Norte foi o que teve os menores índices, em torno de 2%.

As mulheres representaram quase 70% (153.745) do total de tentativas de suicídio por intoxicações exógenas nesses 11 anos. Sobre os agentes tóxicos utilizados, os medicamentos correspondem a 74,6% das tentativas entre as mulheres e 52,2% entre os homens. As intoxicações exógenas resultam em 4,7% de óbitos em homens e 1,7% nas mulheres.

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