Todos os procedimentos estéticos podem ser revertidos?

Cantor Lucas Lucco fez procedimento para reversão de harmonização facial. Mas cirurgiões plásticos alertam que nem sempre é possível recuperar aparência original

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Rosto simétrico, traços perfeitos e pele impecável. A procura pelos resultados estéticos “milagrosos” da harmonização facial tem feito com que o procedimento seja um dos mais populares do país. Mas também vem aumentando o número de pessoas que buscam reverter o processo, insatisfeitas com o resultado.

Recentemente, o cantor Lucas Lucco, em um programa do horário nobre, revelou que estava revertendo o processo de harmonização facial, realizado há um ano, pois não se reconhecia mais depois da intervenção. Alegou que se olhava no espelho e simplesmente não conseguia enxergar seus traços. O resultado se distanciou muito da sua fisionomia natural, o que fez com que as pessoas percebessem

“Você se olha e simplesmente não consegue enxergar mais seus traços. Isso é muito ruim. Abala muito a nossa autoestima e eu não gosto nem de olhar para minhas fotos do noivado, e é algo que vai ficar pra sempre”, relatou.

Procedimentos em jovens pode levar à perda de identidade

Segundo a dermatologista Hellisse Bastos, esta é uma reação que vem se tornando corriqueira em consultórios devido à popularidade do procedimento e ao grande número de profissionais que oferecem o serviço. Para ela, a harmonização está se tornando banalizada, o que faz com que muitas pessoas a adotem sem pensar muito.

“É uma intervenção que cai muito bem em peles com sinais de envelhecimento, preenchendo não só espaços causados pelo passar da idade, mas preservando a beleza individual de cada um. Porém, o que vemos não é essa estética sendo usada como prevenção ou melhoramento. São pacientes cada vez mais jovens que estão transformando seus rostos, o que contribui para a perda de identidade”, diz.

Para o biomédico especializado em Estética Avançada, Gabriel Magalhães (@drgabrielmagalhaes), ao procurar um consultório para realizar o procedimento, a pessoa deve ter o pensamento de melhorar e ressaltar os próprios traços e não se transformar em uma outra pessoa — quando as linhas do rosto são alteradas de maneira muito brusca, a pessoa tende a experimentar uma perda de identidade.

“Ela não se conhece dentro daquela face, podendo afetar até mesmo a saúde emocional. Por isso, o resultado não pode ser espelhado em um famoso ou até mesmo em um filtro de Instagram como vem acontecendo. Respeitar e ouvir a opinião clínica nesse momento também é muito importante, pois ele é o profissional capacitado para dizer o que cai bem ou não no seu caso”, aponta.

Cantor seguiu recomendação do profissional

No caso de Lucas Lucco, o procedimento foi feito pela sugestão de um profissional, que ofereceu o serviço ao cantor, que ao ponderar a facilidade do processo e o fato de já estar no consultório, decidiu fazê-lo de última hora, sem pensar necessariamente sobre as implicações que o processo culminaria.

“Eu estou aqui já na cadeira, pensei, ia ficar chato eu sair assim, indelicado, falar que não ia mais fazer, achei que ia ficar chato”, contou. Para o cantor, o bom procedimento é aquele que traz naturalidade, pois o desejo é que as pessoas não percebam.

Alinhar com o profissional foi outro ponto que ele ressaltou. “Se não tiver tudo muito alinhado, talvez o profissional coloque o gosto dele ali, pode não dar bom, que foi o meu caso. Agora estou podendo me olhar o espelho, e me sentindo bem, e ficou uma lição”, disse ele.

Popularização da cirurgia ajuda a aumentar casos de reversão

De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, a procura por intervenções estéticas cresceu 390%. O aumento não é uma surpresa, visto que quase metade dos brasileiros, 51%, tem alguma insatisfação relacionada ao corpo ou ao rosto conforme demonstrou uma pesquisa com mais de 14 mil pessoas com idade entre 21 a 75 anos. Dados apontam que o brasileiro fez 10,49% a mais de cirurgia plástica que o americano, sendo que a população dos EUA é 55% maior que o Brasil.

“Os mais procurados são os chamados minimamente invasivos, que podem ser feitos em consultório e sem necessidade de anestesia geral ou internação, o que diminui os gastos médicos quando em comparação com cirurgias plásticas, além de ter uma recuperação mais rápida”, aponta Gabriel.

O aumento da discussão sobre o assunto, assim como a divulgação dos procedimentos na internet tem culminado na maior aceitação e procura desses tratamentos pelo público geral. Essa “facilidade” também contribui para um crescimento no número de pessoas insatisfeitas e que buscam a reversão.

Outro fator apontado pelo biomédico é a não pesquisa pelo profissional adequado ao desejo do paciente, assim como expectativas irreais quanto a intervenção. Por mais tranquila que seja, ela requer um planejamento, alerta.

Apesar de ser uma intervenção feita em consultório sem necessidade de cirurgia, aspectos como médico escolhido, realismo quanto ao procedimento e local onde será realizado devem ser levados em consideração.

Abdominoplastia não tem reversão

No caso de intervenções como a harmonização facial, a retirada do ácido hialurônico é possível em quase 100%. “Para isso o profissional aplica uma enzima chamada hialuronidase, por meio de agulhas ou cânulas, e dissolve as moléculas do ácido, provoca a eliminação praticamente imediata, do produto. Apesar de poder causar um inchaço no primeiro momento, o volume diminui expressivamente em ate 48 horas”, aponta.

“O ácido hialurônico ministrado para fins estéticos deve ser usado com parcimônia, pois a transformação do rosto com traços que não são próprios do paciente culminam nessa perda de identidade, podendo haver até mesmo consequências psicológicas. O resultado não deve ser espelhado em outra pessoa, em um famoso, mas no seu rosto e seus traços”, alerta Hellisse Bastos.

Mas nem todos os procedimentos estéticos podem ser revertidos.  A abdominoplastia é um exemplo de cirurgia que não tem reversão. Por isso, é muito importante que todos os procedimentos estéticos sejam realizados de maneira consciente pelo paciente e pelo médico.

“Pacientes que foram submetidos ao exagero, às vezes por erro do profissional médico, com resultado não desejado e pouco natural aos olhos de quem vê, procuram as clínicas para naturalizar o resultado artificial que obteve com determinado tratamento”, pontua o cirurgião Roberto Chacur, especialista no combate às celulites.

Por isso, é importante alertar que a primeira consulta médica precisa ser muito detalhada, para que o especialista observe o comportamento, o modo de pensar e a “tribo” em que esse paciente está inserido. O conceito de beleza e o objetivo de cada paciente variam muito conforme o grupo do qual ele faz parte.

“A pessoa deve pensar acerca do motivo pelo qual quer fazê-lo, se ele faz sentido na construção de identidade que a pessoas deseja, assim como em qual profissional ele vai ser realizado. É importante ressaltar que cada médico, biomédico, dermatologista e afins tem uma forma de trabalhar e uma visão sobres os procedimentos, por isso a importância de ir em vários profissionais e escolher aquele que pondere seu desejo com os conhecidos técnicos do que fica melhor”, recomenda.

PMMA, usada em pessoas com HIV, pode causar complicações

Além de faces que se distanciam cada vez mais dos traços originais da pessoa, há inclusive profissionais que estão usando PMMA, uma substância não absorvível, liberada pela Anvisa para casos de lipodistrofia, causada pelo Aids, mas que em uma pessoa comum pode causar complicações em qualquer etapa da vida, até mesmo de 10 a 20 anos após ter sido realizado o procedimento.

Como é produto não absorvível, torna a reversão do procedimento possível apenas com cirurgia. “Quanto há vontade de optar pela harmonização, além de pesquisar um médico capacitado e a forma como trabalha, respeitando traços, é preciso estar atento ao material utilizado”, alerta a dermatologista.

Com Assessorias

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