Volta às aulas: como proteger as crianças do coronavírus nas escolas

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O Brasil tem quase 4 milhões de infectados, segundo as últimas atualizações do Ministério da Saúde. Apesar disso, alguns estados reabriram o comércio e estudam a volta às aulas nas redes públicas e privadas — com início ainda no segundo semestre deste ano. A discussão gera apreensão entre os pais, que temem que os filhos possam ser trazer o vírus da escola para casa. 

Com a volta às aulas inicialmente programada para acontecer na segunda-feira, dia 14 de setembro, na rede particular do Estado do Rio de Janeiro, os alunos do Ensino fundamental, do Ensino médio e da educação de jovens e adultos (EJA) terão que tomar medidas adicionais de prevenção e controle para evitar o contágio pelo Covid-19 no meio escolar.

As recomendações – uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), manutenção frequente dos aparelhos de ar-condicionado, distanciamento de um metro a um metro e meio e desinfecção e limpeza dos ambientes – fazem parte de manual elaborado pela Superintendência da Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde (SES). A publicação segue as normas da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A cartilha também orienta como atuar diante da ocorrência de algum caso suspeito de coronavírus na escola. Há também orientações para a distribuição das mesas e carteiras em salas. Elas devem ser dispostas junto das paredes e janelas, de acordo com a estrutura física das salas de aula, evitando que os alunos fiquem de frente uns para os outros. Os bebedouros, em que os alunos colocam a boca diretamente no jato d’água, deverão ser lacrados.


O manual reforça que o transporte escolar deve ficar com as janelas abertas para a renovação de ar. Os motoristas dos veículos, os professores e os orientadores educacionais devem exigir a utilização de máscaras e de álcool em gel, a higiene das mãos e a observação da conduta correta ao tossir e espirrar, além dos cuidados ao usar o refeitório e a biblioteca.

Para a subsecretária de Vigilância em Saúde (SVS), Cláudia Mello, a cartilha serve com uma guia para que as unidades possam funcionar com segurança na retomada das atividades escolares.


São recomendações importantes que abordam questões de higiene pessoal, chegada à escola, utilização de sanitários e limpeza e desinfeção das escolas. Na situação mais aguda, que é a identificação de um caso suspeito de coronavírus em ambiente escolar, o procedimento é promover o isolamento do paciente em área já previamente definida e informar a ocorrência à Vigilância Epidemiológica da região para providenciar a assistência. A vigilância deve ser constante e a responsabilidade compartilhada entre todos”, adverte Cláudia.


Saiba mais sobre o Manual
De acordo com o manual, a volta às aulas deve ocorrer de forma planejada e gradual, reduzindo ao máximo qualquer possível contato com o vírus. Para isso, as escolas devem adotar procedimentos de desinfecção e limpeza em seus ambientes, evitar aglomerações e não compartilhar entre os alunos talheres, pratos e copos.


Nas recomendações gerais, o manual reforça importância da higiene, especialmente entre os funcionários das cantinas e dos refeitórios, ao chegar à escola e após manusear dinheiro. O uso de máscaras é indicado para funcionários e alunos, e a troca das máscaras deve ocorrer a cada duas horas, bem como o uso de álcool em gel. Para renovação do ar, portas e janelas devem ser mantidas abertas.

Na biblioteca, o profissional responsável pelo setor deve usar luvas descartáveis para receber os livros. Uma vez usada, a publicação deve ficar em estantes separadas por um período de cinco dias, não podendo ser emprestada nem recolocada no acervo antes deste prazo.
Com relação à alimentação, deve ser elaborado um plano de distribuição de refeições que reduza o contato entre as pessoas, com novos horários de lanches e almoço das turmas, a fim de ser evitar aglomerações. Os profissionais que manipulam alimentos devem ser treinados com o propósito de evitar a propagação da doença.


Para aperfeiçoar as rotinas de limpeza, o manual de volta às aulas recomenda o uso frequente de detergente e de desinfetantes no chão e em paredes, maçanetas das portas, corrimãos, teclados e celulares. Já o uso de água e sabão é indicado para remoção de restos de alimentos, em locais com terra e outras superfícies.

Devido a fatores como idade e entendimento quanto à dimensão da pandemia, as crianças podem apresentar maiores dificuldades para se adequar às novas regras de higiene e convívio, explica o biomédico Gabriel Magalhães. Porém, segundo o especialista, a melhor forma de instruir os pequenos é de forma simples e direta.

A comunicação deve ser baseada em como se proteger da doença, por isso, ressaltar o número de mortos, por exemplo, pode gerar pânico na criança. “Os pais podem informar que é um vírus que se propaga pelo ar, como tantas outras doenças que já são comuns ao cotidiano deles. Porém, essa precisa de alguns cuidados a mais, como o uso de máscara e álcool em gel”, elucida Gabriel.

Os pais precisam ressaltar a importância do uso da máscara durante toda a permanência no ambiente escolar, tirando-a apenas se precisar comer ou beber água, porém sempre distante dos colegas. Mascaras lúdicas, com desenhos ou personagens que a criança goste, ajudam a não haver resistência para usá-las, recomenda o biomédico.

Outro ponto é quanto a cumprimentar os colegas. As crianças devem estar cientes de que não é permitido abraçar, beijar ou tocar os amigos da escola. “Os pais devem ainda orientar as crianças quanto a higiene respiratória. Dessa forma, ensine-as a cobrir a boca com a dobra do cotovelo ao tossir ou espirrar ou ainda com o lenço de papel, que deve ser descartado na lixeira mais próxima”, orienta.

Para ensinar as crianças a manter o distanciamento correto, os pais podem pedir para que ela estenda o braço e explicar que aquele é o espaço de segurança entre ele e o amigo. “Assim, sempre que interagir, a criança vai assimilar que o espaço de distanciamento é de um braço. Isso traduz de forma lúdica as unidades de medidas que estamos cansados de ouvir e que podem ser confusas para eles”, explica.

Higiene: lavar as mãos corretamente sempre

Lavar as mãos é uma das medidas mais eficazes para a prevenção da Covid-19. Por isso, crianças precisam entender tanto a importância quanto a forma certa de higienização. “Os pais podem orientar que é preciso cantar parabéns duas vezes ao lavar as mãos, o que os ajuda a assimilar o tempo. Da mesma forma os movimentos, orientando-os a lavar os pulsos, o espaço entre os dedos e também as palmas das mãos”, orienta.

Outra forma divertida é mostrando a limpeza eficiente com o auxílio de uma tinta guache. A criança suja as mãos com a tinta e deve lavá-las de olhos vendados, da forma que o responsável ensinou previamente. Segundo o biomédico, desta forma, o ensino vira uma brincadeira, na qual o objetivo é deixar as mãos limpas mesmo sem conseguir vê-las.

Outro ponto é quanto a chegada em casa. Tirar os sapatos, lavar as mãos e tomar banho devem ser prioridade ao chegar no conforto do lar. “A criança deve fazer dessas medidas, um hábito”, diz Gabriel Magalhães.

Saber comunicar

Outro ponto é ensinar a criança a comunicar possíveis sintomas, tais quais febre, tosse e dificuldade para respirar. “É importante também, educar as crianças quanto a empatia. Saber consolar alguém que está doente mesmo de longe, por meio de ligações, por exemplo. Isso pode diminuir o sentimento de angústia que muitos vêm sentindo”, argumenta.

Qual deve ser o contato das crianças com o álcool em gel?

Com a pandemia do coronavírus o uso do álcool em gel se tornou um hábito comum na vida dos brasileiros. Utilizado para higienização e prevenção, ele está por todos os lados, seja em casa, na rua ou no trabalho. Sendo assim, é sempre bom lembrar que o álcool é uma substância química que deve ser tratada com cuidado, em especial quando exposta às crianças. 

Segundo a Nota Técnica 12/2020 da Anvisa, de janeiro a abril deste ano foram registrados 108 casos de intoxicação pelo produto, enquanto em 2019 foram registrados 17, e em 2018, 15 casos. Desses 108 casos, 88 deles envolveram o público infantil. Isso mostra o quão importante é nos atentarmos às crianças durante a aplicação, principalmente ao contato das mãozinhas dos pequenos com os olhos. 

O doutor André Borba, oftalmologista especialista em oculoplástica pela Universidade da Califórnia, alerta sobre os riscos do contato do álcool em gel com o globo ocular. “Por ser uma substância química, o álcool, independentemente de sua forma, causa queimaduras nas córneas quando em contato com os olhos. A gravidade das queimaduras varia de acordo com o grau de exposição, mas pode sim, em casos mais sérios, causar cegueira”, explica. Além disso, este tipo de lesão ocular é grave e deixa sequelas. “Muitas vezes há necessidade de tratamento clínico prolongado, ou até de uma cirurgia, como o transplante de córnea”, complementa. 

Aí vem a pergunta: como podemos nos prevenir de algo tão comum no nosso dia a dia? A principal dica é integrar ao cotidiano o hábito de lavar as mãos, já que o álcool em gel, de acordo com a OMS, deve ser usado como uma medida preventiva quando não se tem acesso a água e sabão. Para as crianças é muito mais indicado do que o produto químico, reduzindo os riscos de acidentes. Mas, no caso do uso do álcool em gel é sempre importante um responsável estar de olho e se atentar para que as mãos não sejam levadas ao rosto até que o produto esteja seco.

É importante existir diálogo com os pequenos. Explicar a situação que vivemos de uma forma didática e acessível à faixa etária, tem reflexos significativos. “Educar as crianças sobre a forma correta de lavar as mãos e se prevenir é tão importante para a redução de casos do vírus quanto os adultos. No caso de volta às aulas, como pode acontecer logo por exemplo, é essencial”, comenta Borba. “Vale lembrar também que se um acidente com o álcool em gel ocorrer, os olhos devem ser banhados com água em abundância e a criança deve ser levada imediatamente ao pronto atendimento de oftalmologia, para tratamento das lesões provocadas”, destaca o especialista.

Atividade física na escola com segurança

A discussão sobre a volta às aulas no País, mesmo sem uma vacina contra o Covid-19 aprovada, traz à tona o debate sobre medidas de segurança que reduzam o risco de contaminação pelo novo coronavírus. Entre as atividades que merecem atenção, segundo a cardiologista infantil e médica do exercício e esporte do Hospital Edmundo Vasconcelos, Silvana Vertematti, está a prática de exercícios, comumente realizada em grupos nas aulas de educação física ou no recreio.

A médica explica que as crianças têm protagonismo na transmissão de infecções virais, e mesmo que no caso específico do novo coronavírus ainda existam dúvidas sobre isso, é preciso muita atenção e supervisão para minimizar os riscos no ambiente escolar. “Considerando todos os fatores que envolvem o convívio social e transmissão viral entre crianças e adolescentes, é necessário cuidado, principalmente entre os menores que são um grupo de mais difícil controle de hábitos. Por isso, frisamos a importância da supervisão da escola, especialmente nestes momentos de maior liberdade e contato”, conta.

Uma das principais medidas a ser adotada nas atividades é o distanciamento social, desestimulando práticas em grupos, principalmente em ambientes fechados. Silvana lembra que é recomendado manter o afastamento de um a dois metros entre os alunos e, em casos de dinâmicas como caminhadas e corridas, ampliar a distância dados os efeitos aerodinâmicos.

As adaptações vão além e, assim como já implantado no cotidiano de quem tem que ir à rua, o uso da máscara deve ser reforçado durante a prática de atividade física nas escolas, assim como a lavagem frequente e correta das mãos e a desinfecção das superfícies dos materiais esportivos. “Essas recomendações estão alinhadas com as indicadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria. É preciso reforçar os cuidados de higiene, pois são fatores essenciais no controle da infecção”, salienta a especialista.

Outro fator que deve ser lembrado na retomada às aulas é a intensidade dos exercícios sugeridos, por influenciar diretamente na saúde das crianças. “É sabido que atividades físicas de intensidade muito elevada podem desencadear imunossupressão, principalmente nas crianças que tiveram o condicionamento físico desfavorecido durante o isolamento social. Por isso, indicamos práticas moderadas que favorecem o organismo de uma forma geral sem extenuá-lo”, reforça.

Com Assessorias

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