Febre amarela cada vez mais perto: 55 casos e 25 mortes no Rio

Febre Amarela- vacinacao Vacina é a única forma efetiva de prevenção da doença (Foto Divulgação SES)
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Febre Amarela- vacinacao
Vacina é a única forma efetiva de prevenção da doença (Foto Divulgação SES)

O surto de febre amarela – que o Ministério da Saúde insiste em chamar de endemia – assusta cada vez mais quem vive em grandes metrópoles porque a cada dia que passa a doença está mais perto da gente. Somente nos primeiros dias deste ano, até esta quinta-feira (8 de fevereiro), já estavam confirmados 55 casos de febre amarela em humanos em 17 cidades do Estado do Rio de Janeiro, sendo 25 mortos, o que aponta um elevadíssimo índice de letalidade (quase 50%). Em todo o ano de 2017, foram 27 casos e 9 óbitos, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES). Em todo o Brasil, foram confirmados 353 casos e 98 óbitos no período de 1º julho de 2017 a 6 de fevereiro deste ano. No mesmo período do ano passado, foram confirmados 509 casos e 159 óbitos.

O primeiro registro este ano na Região Metropolitana do Rio foi confirmado em Maricá. A doença já chegou à Costa Verde: em Angra dos Reis, uma pessoa morreu e Mangaratiba registrou hoje o primeiro caso oficialmente. As cidades mais atingidas até o momento estão nas regiões Sul Fluminense e Serrana, onde há grande concentração de mata (veja abaixo). Valença registra o maior número de casos (16, com 6 óbitos), seguida de Teresópolis (7 casos e  4 óbitos) e Nova Friburgo (6 casos, com 3 óbitos). Na quarta-feira, a SES informou que apenas depois do Carnaval iria emitir novo boletim epidemiológico, mas nesta quinta, divulgou novo quadro, com mais cinco casos, sendo duas mortes.

Já havia aumentado também de um para cinco o número de cidades atingidas por epizootias (epidemia entre macacos). Além de Niterói, foram identificadas mortes de primatas por febre amarela nas cidades de Angra dos Reis (Ilha Grande), Barra Mansa, Valença e Miguel Pereira. Mas a cidade do Rio, que é cercada por florestas, algumas em áreas urbanas como a da Tijuca, onde há grande incidência de macacos, também corre o risco de sofrer com o surto? Afinal, o Aedes aegypti – o mesmo que transmite outras arboviroses como a dengue, a chikungunya e a zika – é o transmissor da febre amarela urbana. E por aqui o que não falta é esse minúsculo vilão.

Especialistas alertam  que este risco não está descartado. Porém, em nota oficial distribuída nesta terça-feira (6), o Ministério da Saúde informa que não há registro confirmado de febre amarela urbana no país e que todos os casos registrados no Brasil desde 1942 são silvestres, inclusive os atuais. Ou seja, a doença foi transmitida por vetores que existem em ambientes de mata (mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes). A nota esclarece que, além da espécie do mosquito envolvida, o que caracteriza a transmissão silvestre, os mosquitos transmitem o vírus e também se infectam a partir de um hospedeiro silvestre, no caso o macaco.

Casos de febre amarela silvestre em humanos no Estado do Rio de Janeiro (de 1 de janeiro a 8 de fevereiro de 2018)

 – 16 casos – Valença, sendo seis óbitos

– 7 casos – Teresópolis, sendo quatro óbitos

– 6 casos – Nova Friburgo, sendo três óbitos

– 5 casos – Sumidouro, sendo dois óbitos

– 4 casos – Angra dos Reis, sendo dois óbitos

– 3 casos – Cantagalo, sendo dois óbitos

– 2 casos – Rio das Flores, sendo dois óbitos

– 2 casos – Carmo, sendo um óbito

– 1 caso – Miguel Pereira, sendo um óbito

– 1 caso – Paraíba do Sul, sendo um óbito

– 1 caso – Engenheiro Paulo de Frontin, sendo um óbito

– 2 casos – Duas Barras

– 1 caso – Maricá

– 1 caso – Vassouras

– 1 caso – Paty do Alferes

– 1 caso – Petrópolis

– 1 caso- Mangaratiba

Número de localidades com casos confirmados de febre amarela em macacos:

 – 1 epizootia – Niterói

– 1 epizootia – Angra dos Reis (Ilha Grande)

– 1 epizootia – Barra Mansa

– 1 epizootia- Valença

– 1 epizootia – Miguel Pereira

Número de casos no país avança e Ministério nega febre amarela urbana

O Ministério da Saúde atualizou na quarta-feira (7) as informações repassadas pelas secretarias estaduais de saúde sobre a situação da febre amarela no país. No período de monitoramento (de 1º de julho/2017 a 6 de janeiro de 2018), foram confirmados 353 casos de febre amarela no país, sendo que 98 vieram a óbito. Ao todo, foram notificados 1.286 casos suspeitos, sendo que 510 foram descartados e 423 permanecem em investigação, neste período. No ano passado, de julho de 2016 até 6 janeiro de 2017, eram 509 casos confirmados e 159 óbitos confirmados. Os informes de febre amarela seguem, desde o ano passado, a sazonalidade da doença, que acontece, em sua maioria, no verão. Dessa forma, o período para a análise considera de 1º de julho a 30 de junho de cada ano.

O Ministério da Saúde voltou a informar que não há registro confirmado de febre amarela urbana no país. A nota rebate informações veiculadas pela imprensa sobre o primeiro caso de febre amarela autóctone (infectado dentro do município) em São Bernardo do Campo (SP), no ABC Paulista.  A prefeitura do município confirmou na segunda-feira (5) o caso de de um homem de 35 anos que não havia tomado a vacina e também não esteve fora da cidade nos últimos meses. De acordo com o Ministério da Saúde, “deve ser observado que o paciente mora na região urbana, e possivelmente trabalha na área rural”.

Uma equipe da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo está investigando, o que inclui o histórico do paciente e captura de mosquitos para identificar a forma de transmissão na região.  Ainda de acordo com a nota, “qualquer afirmação antes da conclusão do trabalho é precipitada”. E lembra que a cidade é uma das 77 dos três estados do país (São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia) incluídas na campanha de fracionamento da vacina de febre amarela.

Probabilidade de tipo urbano é baixíssima, diz Ministério

O Ministério ainda assegura que “a probabilidade da transmissão urbana no Brasil é baixíssima por uma série de fatores”:

  • todas as investigações dos casos conduzidas até o momento indicam exposição a áreas de matas;
  • em todos os locais onde ocorreram casos humanos, também ocorreram casos em macacos;
  • todas as ações de vigilância entomológica, com capturas de vetores urbanos e silvestres, não encontraram presença do vírus em mosquitos do gênero Aedes;
  • já há um programa nacionalmente estabelecido de controle do Aedes aegypti em função de outras arboviroses (dengue, zika, chikungunya), que consegue manter níveis de infestação abaixo daquilo que os estudos consideram necessário para sustentar uma transmissão urbana de febre amarela.
  • Além disso, há boas coberturas vacinais nas áreas de recomendação de vacina e uma vigilância muito sensível para detectar precocemente a circulação do vírus em novas áreas para adotar a vacinação oportunamente”.

 

Campanha da dose fracionada

A campanha de fracionamento da vacina contra a febre amarela começou no dia 25 de janeiro nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. A campanha de vacinação no estado da Bahia começa no dia 19 de fevereiro. Para auxiliar os estados e municípios na realização da campanha, o Ministério da Saúde vai encaminhar aos estados R$ 54 milhões. Desse total, já foram repassados R$ 15,8 milhões para São Paulo; R$ 30 milhões para Rio de Janeiro, e está em trâmite a portaria que autorizará o repasse no valor de R$ 8,2 milhões para a Bahia.

A adoção do fracionamento das vacinas é uma medida preventiva e recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) quando há aumento de epizootias e casos de febre amarela silvestre de forma intensa, com risco de expansão da doença em cidades com elevado índice populacional. A dose fracionada tem apresentado a mesma proteção que a dose padrão. Estudos em andamento já demonstraram proteção por pelo menos oito anos e novas pesquisas continuarão a avaliar a proteção posterior a esse período.

O Ministério da Saúde, no ano de 2017 até o momento, encaminhou às Unidades da Federação o quantitativo de aproximadamente 58,9 milhões de doses da vacina. Para os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia foram enviados cerca de 49,8 milhões de doses, com objetivo de intensificar as estratégias de vacinação, sendo 19,7 milhões (SP), 10,7 milhões (MG), 12 milhões (RJ), 3,7 milhões (ES) e 3,7 milhões (BA).
Distribuição dos casos de febre amarela notificados: 1º/7/2017 a 6/02/2018

UF (LPI)*NotificadosDescartadosEm InvestigaçãoConfirmadosÓbitos
AC101
AP220
AM523
PA24159
RO853
RR220
TO1266
AL211
BA221012
CE220
MA110
PE101
PI312
RN110
SE101
DF33191311
GO311615
MT101
MS541
ES644222
MG3581168515744
RJ40333412
SP60724220416141
PR321418
RS15411
SC13211
Total1.28651042335398

Dados preliminares e sujeitos à revisão
*LPI – Local Provável de Infecção

Vacina é meio mais eficaz para combater a doença

Apesar de ser transmitido pelos mosquitos nas áreas rurais, potencialmente o vírus da febre amarela pode ser transmitido nas áreas urbanas pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo que prolifera outras arboviroses como a dengue, a chikungunya e a zika, alerta o infectologista Alberto Chebabo, integrante do corpo clínico do laboratório Lâmina. Ele ressalta que a medida mais importante para proteger a população da patologia é tomar a vacina da febre amarela.

“Embora não exista ciclo urbano da doença registrado nas últimas décadas, é sempre necessário combater o mosquito com potencial de transmissão nas cidades, eliminando seus meios de reprodução, que se localizam geralmente em objetos que contenham água parada, como pneus, vasos e caixas-d’água. Além disso, para que as pessoas consigam se proteger também do mosquito nas áreas silvestres, é necessário o uso de repelente e roupa que cubra a pele o máximo possível”, afirma Dr Chebabo.

Quem pode se vacinar? Conheça as faixas etárias indicadas e condições restritivas

Segundo o Ministério da Saúde, nas áreas de recomendação de vacina a imunização por via subcutânea, ou vacinação, é indicada para todos os bebês a partir dos 9 meses, que pode ser antecipada para os 6 meses caso haja surto da doença na região. A vacina é feita em dose única. A vacinação é contraindicada para pessoas que apresentem quadro de alergia severa aos componentes do ovo, crianças que ainda não completaram 6 meses e para mães que estejam amamentando crianças menores de 6 meses.

Gestantes também não devem ser imunizadas, mas, em caso de alerta de epidemia ou necessidade de viajar para áreas endêmicas, é importante consultar a opinião de um especialista ou médico de confiança antes de tomar a dose. Idosos com mais de 60 anos e que nunca foram vacinados também devem consultar o médico antes de procurar pela imunização.

Como saber se uma pessoa está infectada? Sintomas mais comuns da doença

Mesmo considerada pelos especialistas como uma doença perigosa, que pode evoluir para uma forma mais grave em alguns casos, a maioria das pessoas infectadas apresenta pouco ou nenhum sintoma e o quadro evolui para a cura em pouco tempo. Segundo o dr. Chebabo, essa doença pode ser confundida com várias doenças comuns devido aos sintomas parecidos, como cansaço, febre alta, dor de cabeça, vômitos, náuseas e dores musculares, que podem durar até quatro dias.

A maioria das pessoas apresenta apenas esse quadro e, quando ele termina, o paciente adquire imunidade contra o vírus caso venha a ser picado novamente. Mas, em alguns casos, a pessoa infectada pode sofrer quadros hemorrágicos, insuficiência hepática e renal, cansaço intenso e a chamada icterícia, quando a pele e os olhos ficam amarelos – dando origem ao nome da doença.

Não existe uma forma de tratamento específica para os sintomas comuns da febre amarela, já que a grande maioria das pessoas infectadas apresenta remissão total da doença depois dos primeiros sintomas. Caso haja suspeita de que a doença evoluiu para seu estado mais grave, é imprescindível que o paciente procure um serviço de saúde para que o diagnóstico seja feito de forma eficaz e o tratamento possa ser iniciado o mais rápido possível.

Pesquisadores da Fiocruz tiram dúvidas

Rivaldo Venâncio, coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Ricardo Lourenço, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do Instituto Oswaldo Cruz e André Siqueihttps esclarecem dúvidas sobre febre amarela pelo Facebook – Confira! 

Da Redação, com Assessorias

Post atualizado às 20h55 de 08 de fevereiro de 2018

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