A cada 10 infectados pelo novo coronavírus, um morre no Rio de Janeiro

Estudo da Fiocruz mostra de taxa de letalidade na cidade do Rio é de 10,7 contra média mundial de 3,3

O Cristo Redentor voltou a receber visitantes a partir deste sábado com novas regras sanitárias (Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil)
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Em 26 de agosto, cinco meses e 22 dias após o registro do primeiro caso de um paciente infectado por Covid-19, o município do Rio de Janeiro apresentava uma das maiores taxas de letalidade não apenas do Brasil, mas do mundo: 10,7 %. Isso significa dizer que, na média, a cada nove pacientes infectados por Covid-19 na cidade, um vai morrer. Para efeito de comparação, a taxa de letalidade do Brasil é de apenas 3,7%, compatível com a taxa mundial, de 3,3%. Ou seja, a cidade do Rio de Janeiro está com um índice de infectados mortos quase três vezes maior do que as médias brasileira e mundial.

A taxa de letalidade representa a proporção de infectados que chega a óbito – ou seja, pacientes que morrem vítima da Covid-19, em relação ao total de infectados. Ela é um instrumento importante para o monitoramento e estudo de epidemias. Segundo o sanitarista Christovam Barcellos, vice-diretor do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz), uma taxa muito alta é um forte indicador de duas situações: a subnotificação de casos pode estar muito alta e/ou o atendimento à saúde pode não estar dando conta do total de casos graves. 

Essa taxa carioca está muito acima de um valor aceitável. Ela pode ser fruto da soma dos dois fatores: a subnotificação, junto com a precarização do atendimento à saúde na esfera pública. A subnotificação é grande em vários estados e no Rio de Janeiro não é diferente. Sabemos de vários casos de pessoas que ficaram com medo de ir aos serviços de saúde e não entraram nas estatísticas. E o Rio não vem fazendo testes, a testagem não faz parte da política municipal de saúde. Por outro lado, acompanhamos pelo noticiário uma tentativa de desmonte do sistema de saúde pública do município nos últimos dois anos, e isso certamente afetou a atenção primária e de vigilância em saúde”, explica.

De acordo com dados disponíveis no sistema MonitoraCovid-19, o Rio de Janeiro é a capital brasileira com a maior taxa de letalidade. Comparando os números após 150 dias de epidemia em todas as capitais e no Distrito Federal, vemos que o Rio de Janeiro estava com 11,6%, muito acima da média das taxas de letalidade nas capitais, que é de cerca de 4%. Apenas três capitais estavam com a letalidade acima dos 7% no 150º dia de epidemia: Fortaleza (8,4%), Recife (7,7%) e Belém (7,2%). Em todo o mundo, a taxa de letalidade tendeu a cair ao longo da pandemia, tanto pelo aumento da capacidade de testagem, quanto pelo aperfeiçoamento de métodos de tratamento dos doentes graves.

Letalidade alta não apenas na capital

Na comparação com os estados (também no 150º dia de epidemia), observa-se que a letalidade no município do Rio está bem acima da média nacional. Com exceção dos estados de Rio de Janeiro (7,8%) e Pernambuco (6,6%), a letalidade nas demais unidades da Federação fica abaixo de 5% – ou seja, menos da metade da taxa da capital fluminense. No Estado de São Paulo, por exemplo, a letalidade era de 4,5% no 150º dia da epidemia.

No Estado do Rio de Janeiro, a taxa alta de 7,8% é puxada não apenas pelo município do Rio, mas também por outras cidades fluminenses importantes com letalidade bem alta e até maior do que a da capital – São João de Meriti (13,7%), Mesquita (13,6%), Nilópolis (13,5%), Petrópolis (11,5%), Nova Iguaçu (10,5%), Belford Roxo (9,5%) e Duque de Caxias (9,1%). No caso das cidades fluminenses, a taxa utilizada na comparação é a registrada no 130º dia, porque alguns municípios não chegaram ainda a 150 dias da epidemia. No 130º dia, o Rio de Janeiro tinha taxa de letalidade de 11,4%.

Outra comparação, usando como parâmetro os 20 países com maior incidência de Covid-19, mostra que o município do Rio está com uma taxa bem alta também em nível internacional. Apenas três nações – França (15,4%), Itália (14,5%) e Reino Unido (14,2%) – apresentam letalidade maior do que a do município do Rio no 150º dia da epidemia.  A taxa da capital fluminense é pouco maior que a da Espanha (11,4%), que ainda está sob forte pressão da epidemia, e é mais do que o dobro da letalidade de países como Estados Unidos (5,4%), Irã (5,1%), Alemanha (4,6%) e Índia (3,0%). 

A taxa de letalidade do município do Rio de Janeiro teve seu pico em 19 de maio, com dois meses e meio de epidemia, quando chegou a 14,7%. De lá para cá, registrou uma queda brusca ainda em 22 de maio, para 12,5%, e somente em 16 de junho ficou abaixo dos 12,0%. De lá para cá, manteve-se estacionada na faixa entre 11% e 12% e em 15 de agosto baixou um pouco, passando a oscilar um pouco abaixo de 11%. 

Museus, galerias, bibliotecas, parques e centros culturais são reabertos

O município do Rio de Janeiro passou nesta terça-feira (1º) para a Fase 6A do Plano de Retomada das Atividades Econômicas. Fica liberado o funcionamento dos museus, galerias de arte e de exposição, bibliotecas, parques de diversão e centro culturais, desde que mantenham as regras de ouro para impedir a propagação da Covid-19, como evitar aglomeração, garantir a higienização, o uso de máscaras e álcool em gel.

Na área de educação, podem voltar presencialmente os cursos de profissionalização e capacitação, que segundo a Superintendência de Inovação, Pesquisa e Educação da Subsecretaria de Vigilância Sanitária do município, são oferecidos por empresas ou por instituições com intuito de preparar os profissionais de determinadas atividades. Já para as creches, como ainda há uma contestação jurídica, fica mantida a suspensão.

A prefeitura permitiu ainda o funcionamento das casas de festas infantis, com restrição de um terço da capacidade. A justificativa para a liberação é que esses locais têm um número menor de frequentadores, ao contrário das casas de festas para adultos, que continuam com o acesso proibido e vão ficar para a fase posterior. Também foram reabertos os espaços kids (para crianças) dos shoppings. Como critério de segurança, esses estabelecimentos terão que afixar na entrada qual é a sua capacidade e qual a limitação naquele dia de acordo com o critério de um terço.

Para os bares, lanchonetes e restaurantes não houve alteração e continua permitido o funcionamento sem música ao vivo e mantida a estrutura dos quatro micropolos, nas áreas de maior concentração de frequentadores. 

O comércio permanece com o horário de funcionamento depois de 11h e nos fins de semana com início às 9h. Os ambulantes também continuam podendo trabalhar e os salões de beleza somente com os agendamentos, assim como academias, sendo que as aulas de hidroginásticas ainda estão suspensas, uma vez que o público predominante é de gestantes e idosos.

Na área de saúde, os atendimentos eletivos foram retomados e a previsão é de que as cirurgias de cataratas voltem agora em setembro. Ainda não foi dessa vez que foram liberados os cinemas, teatros e arenas culturais.

A Prefeitura do Rio decidiu separar em A e B as próximas fases de abertura econômica. Não é a primeira vez em que há divisão das etapas. Já tinha ocorrido na Fase 3, e o motivo é que nessas duas fases estão concentrados um número maior de atividades, que, na análise da administração municipal, poderiam provocar um impacto maior nas curvas de contaminação. A Fase 6B está prevista para o dia 1º de outubro.

A série de fases no Plano de Retomada das Atividades Econômicas termina com a 6B. A partir daí, a prefeitura decidiu que começará, em princípio no dia 1º de novembro, o período conservador, que vai seguir até o ano que vem, quando espera já existir a vacina contra a covid-19 ou uma situação de maior equilíbrio em relação à doença.

Nessa etapa, a mudança das fases terá um período de avaliação mais extenso, por concentrar um número maior de liberações que precisam ser acompanhadas por mais tempo, por isso, será de 30 dias e não mais de 15 dias como vinha sendo até então.

museu de arte moderna do Rio de Janeiro
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – Divulgação/Riotur

Praias são uma preocupação para a prefeitura

Banhistas enchem praia em domingo de temperatura acima de 30º no Rio de Janeiro
Banhistas enchem praia em domingo de temperatura acima de 30º no Rio de Janeiro – Fernando Frazão/Agência Brasil

A prefeitura reconheceu que as praias e os bares têm sido um problema para a fiscalização, e a aglomeração de frequentadores nesses locais preocupa. Neste fim de semana praias das zonas sul e oeste tiveram grande concentração de banhistas e de desrespeito às regras de proteção para evitar a propagação da doença. 

Apesar da permanência na areia não estar liberada pela prefeitura, muita gente não levou em consideração e o que se viu foram muitas barracas, venda de bebida alcoólica pelos ambulantes e falta de uso de máscaras, além de jogos como a altinha. Tudo isso está proibido.

O município reiterou o pedido de colaboração por parte da população e reafirmou que ainda não é hora para essas aglomerações, porque a doença não foi superada. A Secretaria municipal de Saúde alertou que esse movimento pode provocar o aumento de vítimas e de internações pela covid-19. A prefeitura quer evitar que o patamar da doença na capital volte ao de maio, quando chegaram a ser realizados 10 mil sepultamentos, o que nunca tinha ocorrido no Rio de Janeiro. A intenção é deixar no passado esse momento classificado pelo município como de “desesperança”.

Parâmetros

A prefeitura informou que houve uma série de reuniões desde a semana passada entre a equipe da prefeitura e o comitê científico para definir essa nova etapa. Foram analisados os dados sobre o número de óbitos e de ocupação nos hospitais. 

A prefeitura reconheceu que houve a alta de casos que vem sendo registrada pela imprensa, mas afirmou que esse crescimento foi causado pela mudança de metodologia de inclusão do Ministério da Saúde, que fez com que dos aproximadamente 1 mil óbitos inconclusivos, pelo menos 700 fossem colocados como confirmados. Se incluem aí também os parâmetros como diagnósticos por imagem sem exame positivo e outros critérios como pessoas da mesma família com resultado positivo, que passaram a ser considerados como caso da doença.

Ainda conforme a Superintendência de Inovação, Pesquisa e Educação a interpretação desses dados levou à conclusão de que a capital ainda se encontra em nível de estabilidade quanto ao número de óbitos. Os indicadores de síndrome gripal e de internações, que, segundo a superintendência, tiveram discreto aumento, também estão sendo avaliados, mas podem ser absorvidos pelo sistema de saúde do município. A superintendência reforçou que a rede está preparada para permitir a retomada das atividades econômicas.

Com Agência Fiocruz e Agência Brasil

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