Alcoolismo pode levar a transtorno bipolar, esquizofrenia e demência

Psiquiatra explica danos causados ao cérebro pelo uso constante de álcool neste Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo e Outras Drogas

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No dia 20 de fevereiro o país chama a atenção para as consequências geradas pelo uso excessivo do álcool e drogas. O Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo foi criado pelo Ministério da Saúde para conscientizar a população brasileira sobre os riscos da dependência química.

De acordo com o Relatório Mundial sobre Drogas 2020, cerca de 269 milhões de pessoas usaram drogas no mundo em 2018, o que representa um aumento de 30% em comparação com dez anos atrás. Além disso, conforme o relatório, mais de 35 milhões de pessoas sofrem de transtornos associados ao uso dessas substâncias.

“A dependência química é um tipo de transtorno psiquiátrico que deve ser tratada e controlada simultaneamente como doença e como problema social”, explica Patrícia Costa, clínica médica do Hospital Anchieta de Brasília. “O uso abusivo do álcool, a longo prazo, pode causar perda de memória, doenças hepáticas como cirrose, desnutrição, deficiência de vitaminas, distúrbios neurológicos e até câncer, enquanto as drogas causam séria dificuldade de concentração, danos mentais e cerebrais”, alerta.

Patrícia lembra também que o uso abusivo de drogas lícitas, como os psicotrópicos, é comum e preocupante. “Trata-se de medicamentos de uso controlado e que só podem ser vendidos com receita médica, entretanto, os dependentes conseguem adquirir de forma irregular. Além do mais, também causam dependência física e psicológica, trazendo sérios danos à saúde e ao cérebro”, pontua.

O psiquiatra Estevão Scotti, vice-diretor clínico da CSSR, alerta que a dependência de substâncias como maconha, cocaína ou o próprio álcool pode desencadear transtornos psiquiátricos mais complexos, como transtorno bipolar, esquizofrenia e até a demência. Segundo ele, o álcool e outras drogas podem causar efeitos a curto prazo relativos à intoxicação e dependendo da frequência do uso e da quantidade pode levar a pessoa a uma dependência dessas substâncias.

Ao longo do tempo a pessoa torna-se dependente, seja da cocaína, maconha ou do próprio álcool. O próprio uso dessas substâncias pode deflagrar alguns transtornos psiquiátricos, como a esquizofrenia ou transtorno bipolar. No caso do álcool, o paciente pode evoluir para um quadro de demência causado pelo uso crônico dessa substância. O diagnóstico é clínico evolutivo, de acordo com a história clínica do paciente e com a biografia”, explica o médico.

O isolamento social contribuiu para o aumento nos casos de alcoolismo e das drogas?
Com certeza o isolamento social e pandemia aumentaram as recaídas ou piora do quadro dos pacientes com dependência química, muito em função da perda da rede de apoio do paciente. Os grupos de NA e AA, que ajudam as pessoas a se manter na abstinência foram interrompidos no início da pandemia e depois continuaram online.

Muitas pessoas não conseguiram se adaptar a essa nova modalidade e ficaram por um período sem atendimento. E o fator estressor de estar confinado levou muitas pessoas a uma recaída no uso da substância. Certamente o isolamento e confinamento foram fatores agravantes para os pacientes.

. Como ajudar uma pessoa a combater o alcoolismo e o vício em drogas?
É muito importante fazer o diagnóstico precoce para o paciente adquirir uma consciência de morbidade, o mais cedo possível e decidir se tratar. Na dependência química é fundamental que o paciente decida iniciar um tratamento, tenha a consciência da doença e procure ajuda. Isso é um caminho longo, um caminho árduo. Isso engloba tanto a dependência ao álcool quanto das outras drogas.

. Campanhas de prevenção, principalmente entre os jovens, podem ser medidas importantes para estimular a conscientização?

O tratamento, nesse caso, é multidisciplinar, sendo primeiro realizado um tratamento medicamentoso para evitar a crise de abstinência e iniciar uma reabilitação. A psicoterapia é fundamental. Nesse caso,  a abordagem com os grupos de mútuo ajuda, como o Alcoólicos Anônimos (AA) e NA são fundamentais, até mesmo um apoio espiritual ou religioso também podem ajudar. Trata-se de um trabalho conjunto de psiquiatras, psicólogos e demais profissionais  da área de saúde mental. Nos grupos de mútuo ajuda a figura do conselheiro é muito importante também e, sobretudo, a ajuda entre os pares.

. A pessoa que sofre de dependência química pode ter somente um vício?

Raramente a dependência química vem isolada, pois muitas vezes tem uma comorbidade, ou seja, uma associação entre a dependência química com algum outro transtorno psiquiátrico, como ansiedade, depressão, transtorno bipolar e transtorno de personalidade. Então, o paciente dependente químico torna-se mais complexo e deve ser visto de uma forma mais abrangente. A abordagem psiquiátrica se torna mais relevante, pois tem que ser tratados dois ou mais transtornos.

Tratamento inclui ajuda psicológica e apoio familiar

Conforme a especialista, a campanha do dia 20 de fevereiro serve não apenas para desestimular o uso de álcool e de drogas, mas também para deixar claro que, uma vez dependente, há tratamento e a recuperação pode ser plena. “O primeiro passo para o tratamento é o doente reconhecer que é alcoólatra ou dependente químico. Depois, procurar ajuda psicológica e médica”, esclarece.

Ela complementa: “psicólogos e psiquiatras aplicam técnicas cognitivas e comportamentais para auxiliar na manutenção da mudança e retirada da droga. Intervenções específicas, com a finalidade de identificar situações de alto risco, também podem ser necessárias para melhor lidar com as reações cognitivas e emocionais associadas”.

A clínica geral ressalta também a importância do apoio familiar nesses casos. “Os familiares do paciente precisam estar alinhados com os médicos e psicólogos, para que se estabeleça uma relação de confiança e de aceitação do tratamento, o que garantirá o sucesso da recuperação”, conclui.

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