‘Após 13 dias na fila do transplante, uma família disse ‘sim’ para mim’

Juliana Amorim, 22 anos, é uma das 19 mil vidas salvas pelo programa estadual de Transplantes do RJ, que em 10 anos já bateu vários recordes

Juliana Amorim sofria desde pequena por causa de uma doença hepática e o transplante de fígado era a solução (Foto: Maurício Bazílio/SES-RJ)
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O Setembro Verde, dedicado ao incentivo à doação de órgãos, tem um significado especial para milhares de brasileiros que aguardam na fila de um transplante. Como a de Juliana Amorim, de 22 anos, viu sua vida mudar ao realizar um transplante hepático há um mês. Aos 15 anos, ela teve o diagnóstico de uma doença inflamatória intestinal. Mais tarde, em 2016, foi diagnosticada com uma doença rara no fígado, associada à doença inflamatória. Em 2020, a doença hepática progrediu de forma significativa, deixando-a muito debilitada. A saída era um transplante de fígado.

Após 13 dias na fila do transplante, uma família disse “sim” para mim. Hoje, apesar do pouco tempo de transplantada, tenho uma vida muito melhor. Minha disposição mudou, não me sinto mais cansada como antes. Sou muito grata a Deus e à família doadora, que, mesmo em meio à dor, compartilhou seu amor me permitindo viver novamente, dizendo “sim” não apenas para mim, mas para cada receptor.  Dizendo “sim” para nossas vidas, para nosso futuro e para todos que nos rodeiam”.

Caio Victor conta como foi o ‘sim’ da família para a doação de órgãos do irmão Juca, morto em 2019 num acidente de trânsito (Foto: Acervo de família)

A exemplo de muitos outros transplantados, a vida nova de Juliana dependeu da aprovação de uma família. Como a de Caio Victor, que autorizou a doação de órgãos de seu irmão caçula, João Lukas, de 19 anos, o Juca, que faleceu em 2019. Ele estava entrando na carreira militar e também fazia faculdade quando sofreu um acidente de trânsito ao atravessar a rua para voltar pra casa. Ele foi internado no Hospital Estadual Alberto Torres e, após sete dias, foi constatada sua morte cerebral.

Juca era nosso irmão mais novo, uma pessoa incrível e que tinha uma forma única de ver o mundo. Quando fomos atendidos pelo setor responsável por doações no hospital, minha família e eu percebemos que essa era uma forma de fazer a vontade dele. Então, optamos por doar todos os órgãos. O momento do “sim” foi acolhedor como um abraço. Até hoje, sinto extremo orgulho de saber que Juca proporcionou que outras pessoas pudessem viver”, contou Caio.

Programa estadual de transplantes do RJ faz 10 anos

Juliana é uma dentre as mais de 19 mil vidas que foram salvas graças ao Programa Estadual de Transplantes do Rio de Janeiro (PET-RJ), que completa uma década com muitos recordes a comemorar. O mais recente foi registrado entre janeiro e março deste ano: foi o melhor primeiro trimestre da história do programa, com 254 transplantes de órgãos sólidos. A marca supera em quase 54% o mesmo período do ano passado.

Em 2019, o programa recebia, em média, 5,1 doações de órgãos por milhão de habitantes. No primeiro trimestre de 2020, a média subiu para 22, e o Estado do Rio ficou em 5° lugar nessa categoria em âmbito nacional. Quando o programa foi criado, em 2010, o estado ocupava uma das últimas posições no ranking nacional de doadores de órgãos. No primeiro trimestre, alcançou o terceiro lugar, atrás apenas de São Paulo e Paraná.

O coordenador do PET-RJ, Sidney Pacheco, diz que, além da atuação de todos os profissionais, é fundamental para o sucesso do programa a ação das Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTTs) nas unidades hospitalares. Atualmente, o estado conta com quatro CIHDOTTs exclusivas, e está investindo na ampliação da estrutura.

 ‘O PET vem crescendo de maneira substancial nos últimos anos, e isso é resultado do excelente trabalho das equipes. Para manter esses bons resultados, atualmente estamos investindo na criação de mais 16 Comissões exclusivas’’, ressalta o coordenador

Pacheco explica a diferença que faz ter CIHDOTTs exclusivas nas unidades: ‘’Esses profissionais, além de serem responsáveis pela cobertura ampla dos potenciais doadores das unidades hospitalares, são constantemente capacitados para acolher as famílias com um atendimento humanizado, tornando o processo da doação de órgãos mais confiável e transparente”.

As Comissões Intra-hospitalares são formadas por equipes multiprofissionais da área de saúde, que têm a finalidade de organizar, nas unidades hospitalares, rotinas e protocolos que possibilitem o processo de doação de órgãos e tecidos para transplantes. Atualmente, o PET conta com quatro comissões exclusivas, que ficam localizadas nos Hospitais Estaduais Getúlio Vargas, Adão Pereira Nunes e Alberto Torres e no Hospital Municipal Albert Schweitzer.

Credencial para captação de pulmão

Após 15 anos sem possuir credencial para procedimentos de captação de pulmão no estado, o Instituto Nacional de Cardiologia (INC) foi credenciado pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), em maio deste ano. Desde 2017, o estado contava com a parceria entre as Centrais Estaduais de Transplante do Rio de Janeiro e São Paulo para este tipo de procedimento. Ao todo, foram 11 pulmões captados no Estado do Rio em três anos de parceria. Com este novo credenciamento, o estado passa a realizar este serviço de maneira independente.

Criado em 2010, o Programa Estadual de Transplantes já realizou cerca de 19 mil procedimentos nos últimos anos. O PET realiza captação e transplante de coração, fígado, rim, pâncreas, medula óssea, osso, pele, córnea e esclera (membrana que protege o globo ocular). A principal missão do PET é obter o “sim” das famílias para salvar vidas por meio da doação de órgãos.

Campanha Setembro Verde

Dados do Ministério da Saúde (MS) mostram que no Brasil, atualmente, existem mais de 40 mil pessoas na fila de espera para um órgão, ou seja, um estádio de futebol. De acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), a taxa de recusa de doação por parentes é de 43%, e a média mundial em torno de 25%.

Com a finalidade de conscientizar e alertar a população sobre a necessidade de doar os órgãos para salvar vidas e também chamar a atenção das pessoas sobre a importância da prevenção do câncer de intestino, o mês foi o escolhido para a realização da campanha “Setembro Verde”. 

Segundo a médica Sandra Vilaça, coordenadora da Unidade de Transplantes do Hospital Felício Rocho, as pessoas precisam confiar no sistema de saúde e manter o assunto sobre doação de órgãos presente no seu dia a dia.

Um doador pode salvar oito vidas.  Converse com seus amigos, com sua família sobre a doação, o processo de doação é regulamentado e seguro. Um doador pode doar um coração, dois pulmões, dois rins, um pâncreas, um intestino e um fígado. Doe órgãos, doe vidas”, ressalta.

Com Assessorias

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