As aparências enganam: de olho nos rótulos de alimentos

30% dos produtos “livres de gordura trans” escondem pequenas quantidades do ingrediente. Anvisa abre consulta pública sobre rotulagem frontal de alimentos

Foto: Pixabay
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Será que você está realmente livre ao consumir os chamados alimentos “livres de gordura trans”? Um estudo diz que não. Pesquisadores do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde Pública da Universidade de São Paulo (Nupens/USP) e do Instituto de Defesa do Direito do Consumidor (Idec) analisaram rótulos de mais de 11 mil produtos comercializados no Brasil.

Eles compararam a parte da frente das embalagens, que geralmente alardeiam a ausência de gordura trans, com a tabela nutricional e lista de ingredientes, que ficam na parte de trás. O resultado? 30% dos produtos identificados como “livres de gordura trans” escondem pequenas quantidades do ingrediente em sua composição.

No Brasil, é obrigatório que os fabricantes informem na embalagem a quantidade de gordura trans presente nos alimentos. No entanto, se o produtor tiver menos de 0,2 grama do ingrediente por porção, a empresa pode declarar que a quantidade é zero.

Para acabar de vez com essas dúvidas, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) abriu na última segunda-feira (23) a consulta pública sobre rotulagem nutricional frontal de alimentos no País, conforme publicado no Diário Oficial da União. O objetivo desta fase, que vai até 6 de novembro, é receber contribuições, como dados e informações, e também a opinião dos consumidores, para ajudar na decisão final da agência sobre qual o modelo de rotulagem nutricional será adotado. Toda a população pode participar. Para isso, basta preencher o questionário disponível aqui.

Para o Idec, o modelo mais adequado é o que apresenta os nutrientes em formato de triângulos, que simboliza a noção de alerta de forma mais fácil para os consumidores.  Já o modelo proposto pela Anvisa é uma lupa, que será obrigatória nos rótulos dos alimentos embalados cujas quantidades de açúcares adicionados, gorduras ou sódio sejam iguais ou superiores aos limites definidos.

O Idec argumenta que falta apresentação da comprovação científica para a escolha do modelo de lupa e, por isso, aguarda que a agência divulgue a análise final de Impacto Regulatório dessa proposta.

Iremos questionar as evidências que levaram à decisão de escolha da lupa em vez dos triângulos, já que apresentamos inúmeras pesquisas de que esse é o modelo mais eficaz para informar o consumidor na hora da compra”, destaca Ana Paula Bortoletto, nutricionista do Idec.

Próximos passos

De acordo com a Anvisa, após o término da consulta, em 6 de novembro, será feita uma análise das contribuições e poderão ser “promovidos debates com órgãos, entidades e aqueles que tenham manifestado interesse no assunto, com o objetivo de fornecer mais subsídios para discussões técnicas e a deliberação final da Diretoria Colegiada”.

O prazo total para as empresas se adequarem totalmente será de 42 meses. A norma começa a valer após os 12 primeiros meses de sua publicação, mas os critérios para rotulagem serão mais brandos nos primeiros 30 meses.

Para o Idec, a agência avança na adoção de um modelo que destaca o conteúdo excessivo de nutrientes que são prejudiciais à saúde e que estão associados ao aumento acelerado das doenças crônicas não transmissíveis. “Ainda há espaço para muitas melhorias na proposta apresentada e no prazo muito extenso para que a norma passe a ser cumprida pelas empresas”, afirma Bortoletto. 

5 dicas para entender oS RÓTULOS DOS ALIMENTOS

O médico nutrólogo Guilherme Ferreira Mattos, de Belo Horizonte, alerta que não é apenas a quantidade de gordura trans que causa confusão nas pessoas. “A utilização de nomes científicos também prejudica o entendimento das informações, deixando o consumidor sem saber se aquele produto é nocivo ou não à saúde”, comenta. Ele dá algumas dicas para facilitar o trabalho de donas de casa e consumidores na hora de escolherem alimentos mais saudáveis:

  • Desconfie da parte da frente do rótulo

Muitos produtos destacam na parte da frente chamarizes como “fonte de fibras”, “rico em vitaminas” e “0% gordura trans”, mas uma leitura da tabela nutricional pode mostrar que o produto tem níveis de açúcar e sódio acima do recomendado.

  • Atenção à ordem dos ingredientes

A lista de ingredientes é formada em ordem decrescente. Por isso, fuja dos produtos em que açúcar e óleo apareçam em primeiro lugar. Além disso, se o alimento consta como integral, mas a farinha branca é o primeiro ingrediente, repense a sua compra.

  • Saiba quais são os sinônimos de açúcar

Sacarose, Frutose, Lactose, Glicose, Glucose, Dextrose, Maltodextrina, Mel, Agave, Xarope de milho… Ao ver essas substâncias nos rótulos, tenha em mente que elas são apenas açúcar. Portanto, fique atento às suas quantidades.

  • Quantidade por porção

Essa é uma informação muito importante nos rótulos. Isso porque os níveis de calorias ou gorduras não se referem ao produto inteiro, mas sim a uma pequena porção, cujo tamanho é definido em lei. Portanto, é prejudicial comer um pacote inteiro de biscoito só porque na embalagem está escrito que o produto tem pouco sódio ou açúcar.

  • Valor diário

A sigla VD% refere-se à quantidade de um determinado ingrediente, tomando-se como base uma dieta média de 2000 calorias. Se um produto tem em gorduras 80% valor diário, isso quer dizer que ele irá suprir quase toda a sua necessidade para um dia.

Da Redação, com Assessorias

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