As mentiras que os negacionistas contam sobre meio ambiente

Observatório do Clima, em parceria com climatologista e Facebook, lança série para derrubar fake news

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O Fakebook.eco – iniciativa do Observatório do Clima de combate à desinformação ambiental – lançou nesta segunda-feira (14/12) a série de vídeos “As mentiras que os negacionistas contam”. No projeto, alguns dos mitos mais frequentes relacionados ao aquecimento global são desmentidos de forma didática e com embasamento científico.

Trata-se de uma parceria com o climatologista Alexandre Costa, da Universidade Estadual do Ceará, responsável pelo canal O que você faria se soubesse o que eu sei? O primeiro episódio aborda a Amazônia. Costa desmonta falácias como a de que “As queimadas na Amazônia são naturais”, recorrente no repertório do presidente Jair Bolsonaro, de ministros e do vice-presidente Hamilton Mourão.

“A Amazônia não é o pulmão do mundo, por isso ela não tem importância sobre o clima global”, “Se derrubar a floresta, depois ela volta ao normal” e “A Amazônia existe porque chove” são outros mitos comentados neste primeiro episódio. Os próximos episódios da série vão abordar, em janeiro e fevereiro, mitos como “Os modelos climáticos não funcionam” e “O aquecimento global é um exagero dos ‘cientistas do IPCC'”.

Fakebook.eco é uma colaboração entre ativistas climáticos, jornalistas e cientistas, liderada pelo Observatório do Clima e com o apoio de OecoInfoamazoniaProjeto ColaboraDireto da Ciência e do blog de Alexandre Costa. Ele oferece refutações de falácias frequentes sobre diversos temas ambientais e também verificações em tempo quase real de informação ambiental no discurso de autoridades e nas redes sociais.

Skeptical Science é parceiro de conteúdo do Fakebook.eco e disponibiliza seu conteúdo em português para o site. O Skeptical Science foi criado pelo físico australiano John Cook, hoje professor na Universidade George Mason, nos EUA, como um esforço para aprimorar a comunicação da ciência do clima para o público e lutar contra o negacionismo.

Ele traz um amplo repositório de refutações das falácias, dos mitos e dos mal-entendidos mais comuns sobre a mudança do clima, em três níveis de aprofundamento – do básico ao avançado. O site é mantido por uma rede global de voluntários e já foi traduzido em 23 línguas, inclusive o português, por tradutores também voluntários.

Apresentador e roteirista dos vídeos, Costa criou em 2012 o blog O que você faria se soubesse o que eu sei? e há três anos mantém seu canal no Youtube para divulgação científica. Desde 2019, blog e canal integram um projeto de extensão da Universidade Estadual do Ceará.

Em 2020 fomos forçados a mudar o planejamento. Produzimos uma série especial sobre a pandemia, discutindo os paralelos com o aquecimento global, e agora temos a parceria com o Fakebook.eco”, diz o cientista.

Os vídeos são produzidos pela Imaginária, com montagem de Fred Mauro, direção de arte e ilustrações de Júlia Lima e direção geral de Gisela Moreau. Acesse o primeiro episódio também aqui. A plataforma Fakebook.eco está no Instagram, no Twitter e na web: http://fakebook.eco.br.

A maior taxa de desmatamento da Amazônia desde 2008

Dados preliminares do Inpe sobre o desmatamento na Amazônia apontam que a a taxa oficial de 2020, dada pelo sistema Prodes, é de 11.088 km2, a maior desde 2008. A alta é de 9,5% em relação ao ano passado. Levando-se em conta a média dos dez anos anteriores à posse de Jair Bolsonaro, o desmatamento cresceu 70%: de 2009 a 2018, a média apurada pelo Inpe foi de 6.500 km2 por ano.

A publicação da taxa oficializa que o Brasil descumpriu a meta da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), a lei nacional que preconizava uma redução da taxa a um máximo de 3.925 km2 em 2020. O país está 180% acima da meta, o que o põe numa posição de desvantagem para cumprir seu compromisso no Acordo de Paris (a NDC) a partir do início do ano que vem. Devido ao aumento do desmatamento, o Brasil deve ser o único grande emissor de gases de efeito estufa a ter aumento em suas emissões no ano em que a economia global parou por conta da pandemia.

Nada disso é uma surpresa para quem acompanha o desmonte das políticas ambientais no Brasil desde janeiro de 2019. Os números do Prodes simplesmente mostram que o plano de Jair Bolsonaro deu certo. Eles refletem o resultado de um projeto bem-sucedido de aniquilação da capacidade do Estado Brasileiro e dos órgãos de fiscalização de cuidar de nossas florestas e combater o crime na Amazônia. É o preço da “passagem da boiada”.

Grileiros, garimpeiros, madeireiros ilegais e assassinos de índios praticando crimes na ponta sabem interpretar os sinais que vêm do Palácio do Planalto e, de forma inédita, do Ministério do Meio Ambiente. O desmatamento, embora tenha causas complexas, é antes de tudo movido a expectativas. Quando o Presidente da República diz que vai “tirar o Estado do cangote” dos predadores da floresta, a bandidagem avança em cima do patrimônio dos brasileiros. Quando ele e seus auxiliares vão além do discurso e começam a tomar medidas nesse sentido, o crime festeja.

E haja medidas.

Paralisação da cobrança de multas pelo Ibama, congelamento do Fundo Amazônia sob desculpas falsas, aparelhamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente, mordaça no Ibama e no ICMBio, perseguição e exonerações de agentes ambientais por fazer seu trabalho, atropelo de pareceres técnicos pelo presidente do Ibama para satisfazer bandidos e liberar madeira ilegal, envio de propostas ao Congresso para abrir terras indígenas ao esbulho e legalizar a grilagem, tentativa de legalizar o roubo de terras indígenas não homologadas, omissão criminosa em não gastar o dinheiro que existe para a fiscalização e as políticas ambientais, difamação a quem produz conhecimento técnico e científico e uma tentativa improvisada de militarizar a floresta. Tudo isso foi visto nos últimos 22 meses.

Esse conjunto de fatores determinou também o inédito fracasso em 2020 de uma cara e estabanada operação militar na Amazônia. Recrutando mais de 3.400 militares, a Operação Verde Brasil 2 falhou em conter tanto o desmatamento quanto as queimadas, que até novembro eram 20% mais numerosas na Amazônia do que o já escandaloso índice de 2019 (Leia aqui análise do OC sobre o plano do Conselho da Amazônia para a região).

“Desde sempre, quando o desmatamento sobe, a gente fica se perguntando o que deu errado nas tentativas de controle do crime ambiental. Desta vez, a gente sabe que a alta aconteceu porque deu tudo certo para o governo”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

Segundo ele, esse projeto de destruição tão bem executado custará caro ao Brasil. “Estamos perdendo acordos comerciais, transformando nosso soft power literalmente em fumaça e aumentando nosso isolamento internacional num momento em que o mundo entra num realinhamento crítico em relação ao combate à crise do clima”, prossegue. “Este governo funciona como uma máquina de produzir notícias vergonhosas para o país, especialmente na área ambiental. Bolsonaro é o maior sabotador da imagem do Brasil.”

Emissões do Brasil sobem 10% no primeiro ano de Bolsonaro

Puxado por alta do desmatamento na Amazônia, país lançou 2,175 bilhões de toneladas de CO2 no ar em 2019 e não deve cumprir meta da lei nacional para 2020, mostra SEEG.

As emissões brasileiras de gases de efeito estufa subiram 9,6% em 2019, o primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro. O dado é do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa) e foi divulgado dia 6 de novembro pelo Observatório do Clima. No ano passado, o país lançou na atmosfera 2,17 bilhões de toneladas brutas de dióxido de carbono equivalente (tCO2e), contra 1,98 bilhão em 2018.

O dado consolida a reversão da tendência de redução das emissões no Brasil, verificada entre 2004 e 2010, e sugere que o país não deverá cumprir a meta da PNMC (Política Nacional sobre Mudança do Clima) em 2020. “Estamos numa contramão perigosa. Desde 2010, ano de regulamentação da lei nacional de clima, o país elevou em 28% a quantidade de gases de efeito estufa que despeja no ar todos os anos, em vez de reduzi-la”, disse Tasso Azevedo, coordenador do SEEG. “No ritmo em que está e com os indicativos de que dispomos, o país não consegue cumprir a meta de 2020 e se afasta da de 2025.”

O crescimento das emissões no último ano foi puxado pelo desmatamento na Amazônia, que disparou no ano passado. A quantidade de gases de efeito estufa do setor de mudança de uso da terra subiu 23% em 2019, atingindo 968 milhões de tCO2e — contra 788 milhões em 2018. O desmatamento respondeu por 44% do total das emissões do país no ano passado. Desde a PNMC, as emissões por mudança de uso da terra cresceram 64% no Brasil, em que pese a meta da lei de reduzir o desmatamento na Amazônia em 80% em 2020 comparado à média entre 1996 e 2005.

Contribuição crescente da agropecuária
“O aumento significativo nas emissões brasileiras foi capitaneado pelas elevadas taxas de devastação na Amazônia e pelo descaso com a política ambiental demonstrada no primeiro ano da administração Bolsonaro”, disse Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). “O aumento das emissões não somente impacta nossos compromissos internacionais como ameaça a reputação do nosso agronegócio.”

A agropecuária vem em segundo lugar, com 598,7 milhões de toneladas de CO2e em 2019, um aumento de 1% em relação às 592,3 milhões de toneladas emitidas em 2018. Somando-se as emissões de uso da terra e agropecuária, o SEEG conclui que a atividade rural — seja direta ou indiretamente, por meio do desmatamento, que é quase todo destinado à agropecuária — respondeu por 72% das emissões do Brasil no ano passado.


Isso significa que, após dez anos de política de clima, o Brasil ainda tem o mesmo tipo de curva de emissões de antes da adoção da política, e que as emissões no país seguem descoladas do PIB: elas cresceram quase dez vezes mais que o “pibinho” de 1,1% no ano passado. Isso se deve ao fato de o desmatamento ser uma atividade que não gera riqueza.

“Os resultados do SEEG agro mostram a crescente contribuição da agropecuária para as emissões nacionais. Esse cenário precisa ser revertido e, para isso, os sistemas de produção devem adotar as boas práticas de manejo e cuidar do solo, onde está concentrada a maior parte dos estoques de carbono. Um solo conservado produz mais e ainda estoca carbono, sendo, portanto, um dos recursos naturais mais importantes do Brasil”, afirma Renata Potenza, Coordenadora de Clima e Cadeias Agropecuárias do Imaflora. 

O setor de energia respondeu por 19% do total de emissões do Brasil. Elas tiveram um aumento discreto de 1% no ano passado, indo de 409,3 milhões para 413,6 milhões de tCO2e. Isso se deveu a um aumento no consumo de energia elétrica, que levou ao acionamento de termelétricas a gás mesmo num cenário de chuvas dentro da média para as hidrelétricas, e de um aumento no uso de diesel devido à recuperação do transporte de cargas, principal consumidor de combustíveis fósseis no país. A recuperação do etanol, cujo consumo retornou a níveis de antes da crise do setor em 2012, e o aumento paulatino do uso de biodiesel impediram um maior aumento das emissões de energia no ano passado.

“Na geração de eletricidade também houve aumento da demanda, o que causou uma elevação da geração por termelétricas fósseis, mas a geração hidrelétrica, eólica e solar teve um aumento ainda mais expressivo”, disse Felipe Barcellos, analista de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente. “Isso acabou por barrar o aumento das emissões do setor, que poderia ter sido maior.”

As emissões da indústria, que acompanham mais de perto o PIB e as dificuldades do setor, caíram 2% — de 101 milhões de tCO2e em 2018 para 99 milhões em 2019, e representaram no ano passado 5% das emissões do Brasil.

Por fim, o setor de resíduos teme um crescimento também discreto, de 1,3%, indo de 94,8 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2018 para 96,1 milhões em 2019. Apesar de responder por apenas 4% das emissões nacionais, o setor tem recebido enorme atenção do Ministério do Meio Ambiente, cujo ministro o considera “o principal problema ambiental brasileiro”. Foi o único setor beneficiado em 2020 com a retomada do Fundo Nacional de Mudança do Clima, sendo carimbado como destino dos R$ 580 milhões depositados no fundo em 2020, após sua paralisia completa por um ano e meio. “Historicamente o setor apresenta um crescimento significativo. No entanto, nos últimos anos é possível uma certa estabilidade das emissões. Isso indica um cenário de manutenção da situação atual, sem grandes avanços na gestão de resíduos e no cumprimento das metas climáticas setoriais”, disse Iris Coluna, assessora de Projetos do ICLEI — Governos Locais pela Sustentabilidade.

As emissões em 2019 colocam o Brasil na sexta posição entre os maiores poluidores climáticos do mundo – subindo para quinto lugar quando se exclui a União Europeia. As emissões per capita do Brasil também são maiores que a média mundial. Em 2019 cada cidadão brasileiro emitiu 10,4 toneladas brutas de CO2e, contra 7,1 da média mundial.

Além do corte no desmatamento, em 2020, a lei nacional de clima comprometia o Brasil a reduzir suas emissões em 36,8% a 38,9% ao final deste ano em relação à trajetória que se imaginava que elas fossem seguir quando a política foi aprovada. O cálculo da meta tem uma série de particularidades, mas já em 2019 o país perdeu seu limite mais ambicioso e tinha emissões exatamente coincidentes com o limite menos ambicioso. Estimativas do SEEG indicam que, mantida em 2020 a variação média das emissões dos últimos dez anos, o país ultrapassará em cerca de 9% o limite menos ambicioso da meta.

“O país já chega devendo em 2021, ano em que deveria ter início o cumprimento da NDC, nossa meta nacional no Acordo de Paris”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do OC. “Com um governo negacionista da mudança climática e que nem sequer entregou um plano de implementação da NDC até agora, nossa participação no Acordo de Paris se resume a uma assinatura num pedaço de papel. Isso terá consequências sérias para a inserção internacional do Brasil e para nosso comércio exterior nos próximos anos.”

Ministério do Meio Ambiente gastou apenas R$ 105 mil até agosto

O Ministério do Meio Ambiente gastou exatos R$ 105.409 nas ações orçamentárias diretas neste ano até 31 de agosto. É menos que um mês de salário de alguns juízes. É um décimo do valor que o ministro Ricardo Salles anunciou que gastaria com carros blindados para se deslocar em Brasília. É menos do que o valor de um automóvel Volkswagen T-Cross zero quilômetro.
 
Esse dinheiro, em tese, deveria ser usado para tocar toda a política ambiental federal a cargo do ministério, em ações como o combate à mudança do clima, a prevenção aos efeitos da desertificação, a política de proteção da biodiversidade e a promoção da qualidade ambiental urbana — que o ministro diz ser sua prioridade. O valor liquidado em oito meses equivale a 0,4% do orçamento autorizado para 2020.
 
“Ponderada a execução orçamentária, o projeto em curso é não fazer política ambiental, seja paralisando o que vinha sendo executado, seja não iniciando novos projetos que tenham a devida concretude”, afirma nota técnica do Observatório do Clima publicada nesta sexta-feira (11), que analisou o desempenho orçamentário da pasta.
 
A análise considerou apenas as chamadas ações “finalísticas”, ou seja, o que o ministério pode gastar de forma discricionária com programas que são a finalidade da pasta: proteger o meio ambiente. Não incluiu pagamento de salários, aposentadorias, aluguéis e outros gastos essencialmente administrativos, nem as autarquias do MMA – Ibama, Instituto Chico Mendes e Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
 
“Mesmo assim, o valor de execução é tão baixo que impressiona”, afirma Suely Araújo, especialista-sênior em Políticas Públicas do OC. “Os números indicam que não estamos longe do plano inicial de Jair Bolsonaro de extinguir o Ministério do Meio Ambiente, porque na prática a pasta está parada.”
 
Dos R$ 2,6 milhões autorizados para ações de educação ambiental, foram gastos R$ 4.300, ou 0,1%. As políticas para as metas do clima brasileiras — cujo plano de implementação deveria ser entregue à ONU neste ano — tiveram R$ 6.363 gastos, ou 2,5% dos R$ 253,4 mil autorizados. A agenda ambiental urbana, que o ministro diz ser “o principal problema ambiental do Brasil”, não tem essa importância atribuída e isso se reflete na execução de orçamento: recebeu R$ 12,1 milhões para gastar mas, até 31 de agosto, havia executado R$ 18,5 mil, ou 0,1%.
 
O levantamento do OC, a partir de dados do Siop (Sistema Integrado de Orçamento e Planejamento), sugere que no seu segundo ano de gestão Salles está trabalhando menos do que em 2019, ano de baixo empenho e baixa execução orçamentária (em média 11% do autorizado nas ações finalísticas).
 
E não é só o OC que está dizendo. Neste ano, a CGU (Controladoria-Geral da União) publicou um relatório apontando uma execução máxima de 14% nos programas do ministério em 2019. Segundo a controladoria, não foi nem sequer possível avaliar se os resultados apresentados pelo ministro da boiada foram satisfatórios, porque o ministério não tinha nem um planejamento para o ano.

O Observatório do Clima é uma rede formada em 2002, composta por 56 organizações não governamentais e movimentos sociais. Atua para o progresso do diálogo, das políticas públicas e processos de tomada de decisão sobre mudanças climáticas no país e globalmente. Site: www.observatoriodoclima.eco.br.

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