Câncer da próstata: cirurgias tiveram queda na pandemia

Segundo tipo de câncer que mais mata os homens tem mais chance de cura com diagnóstico precoce. Urologistas alertam para check-up masculino

Bruno Resende, do Vera Cruz Hospital, alerta para importância do check up masculino (Foto: Matheus Campos / Divulgação)
Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!

Uma pesquisa realizada pela SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), divulgada em julho deste ano, mostrou que a procura por cirurgias de câncer de próstata caiu 50% durante a pandemia do novo coronavírus. Ao todo, 90% dos 766 urologistas ouvidos confirmaram a queda nas operações eletivas. E mais da metade deles ratificou a mesma redução em cirurgias de emergência. Ainda segundo a entidade, 51% dos homens no Brasil nunca consultaram um urologista. 

Sã números que acendem o alerta para o Novembro Azul, mês de combate ao câncer de próstata. O médico urologista Ariê Carneiro, do Hospital Israelita Albert Einstein, afirma que muitas vezes a saúde do homem é negligenciada e sofre com os impactos do diagnóstico tardio do câncer de próstata durante a pandemia no tratamento dos pacientes.

Carlo Passerotti, coordenador do Centro Especializado em Urologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, alerta que alguns dos tumores de próstata podem crescer de forma rápida, espalhando-se para outros órgãos e podendo levar à morte. Dados da SBU mostram que 20% dos tumores de próstata são diagnosticados tardiamente e 25% dos pacientes morre em decorrência da doença. A grande maioria dos casos, no entanto, se desenvolve lentamente, levando de 10 a 12 para atingir 1 cm³.

Realizar check-up anualmente aumenta as chances da detecção precoce de tumores de próstata e impacta diretamente nas chances de cura dos pacientes, que chega a 90%, quando o câncer é descoberto nos estágios iniciais. “Exames de check-up oncológicos são importantes de serem feitos rotineiramente mesmo em tempos de pandemia”, ressalta Dr Passerotri.

Retardar ou deixar de realizar exames de check-up anualmente aumenta as chances de detecção da doença em estágio avançado. No entanto, a chegada da pandemia da Covid-19 e o isolamento social necessário para evitar a propagação do vírus respiratório podem ter retardado o diagnóstico precoce do tipo de câncer mais prevalente na população masculina.

Todas as cirurgias tiveram queda na pandemia

Já para Bruno Resende, urologista do Vera Cruz Hospital, os números da pesquisa da SBU não assustam por duas razões: todas as cirurgias tiveram queda no período da pandemia e, se invertido, um dos dados mostra a adesão masculina aos exames preventivos.

“O levantamento revela que 49% dos homens estão cuidando da sua saúde, o que é muito positivo, já que campanhas educativas como o Novembro Azul são muito recentes no Brasil”, afirma.

Com os consultórios trabalhando parcialmente, os pacientes tinham temor justificável do contágio pessoal e do potencial de transmissão da Covid-19 durante o isolamento.

“A expectativa de retorno à normalidade ainda é questionável. Mesmo assim, temos observado uma maior procura dos pacientes pela saúde geral. Também temos notado uma grande procura por bem-estar. Prova disto é que temas que antes eram relacionados às mulheres, como reposição hormonal, agora tem tido procura por homens”, explica.

A queda hormonal masculina hoje em dia é muito discutida pois está relacionada à queda da qualidade de vida. “O ideal é checar através de um exame simples de sangue e se comprovada a necessidade de reposição, ela pode ser feita com medicamento injetável e até gel ou creme”, explica.

Desânimo, ganho de peso, diminuição da massa muscular, problemas de memória, irritabilidade e queda no vigor sexual podem ser alguns dos sintomas da baixa testosterona, de acordo com o especialista.

Dois anos vivendo sem o câncer de próstata

O produtor rural Oscar Frigeri, de 72 anos, descobriu o câncer de próstata em 2018, durante exames preventivos. O diagnóstico deixou o paciente preocupado já que, pouco tempo antes, o irmão caçula faleceu da doença. “Com a alteração no meu exame fiquei apavorado. Acho que pensei em morte por vários dias, mas nunca vou me esquecer das palavras dos médicos de que a cura era possível e tudo ia ficar bem”, relembra.

Já são dois anos vivendo sem o câncer e os cuidados só aumentaram. “Nunca fui de ir ao médico à toa, mas agora levo muito mais a sério a prevenção de tudo. Só no urologista vou duas vezes por ano”, reforça. A saudade do irmão deixa um alerta. “Homens, se cuidem. Meu irmão descobriu tardiamente e não sobreviveu. Comigo foi diferente. Cuidem da sua saúde”, reforça o agricultor, que incentivou os filhos a já procurarem o especialista.

Segundo Bruno Resende, urologista do Vera Cruz Hospital, a identificação precoce aumenta as chances de um tratamento eficaz. A maioria dos pacientes em estágio inicial não apresenta sintomas, a detecção precoce da doença torna-se mais difícil. “Logo, a recomendação é a realização do check-up anual, pois, apesar de mortal, o câncer da próstata tem até 90% de probabilidade de cura se for diagnosticado precocemente”, adiciona.

“O Novembro Azul é oportuno para sensibilizar os homens e os profissionais de saúde quanto às ações do autocuidado e cuidado. Quando um paciente procura um especialista para exames preventivos como os do câncer de próstata, cabe a esse profissional atuar de forma eficaz e garantir que a prevenção seja feita de forma completa”, diz.

O médico também defende a prevenção completa contra a doença. Adotar hábitos saudáveis, manter a prática de atividade física regular, ter uma alimentação balanceada, fazer controle do estresse, diminuir o consumo do tabaco e fazer uso moderado de bebidas alcoólicas são essenciais para diminuir agravos evitáveis e outros problemas como diabetes, colesterol e glicemia.

Segundo tipo de câncer que mais mata os homens

Um estudo do Instituto Nacional de Câncer (Inca) indica que o de próstata é o segundo tipo de câncer que mais mata os homens, atrás somente do de pele não-melanoma. De acordo com o Inca, aproximadamente 66 mil novos casos deverão ser registrados no Brasil em 2020.  De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), em 2018, 15.576 pacientes faleceram em decorrência da doença no país.

Para que exista uma chance de reduzir o número de casos da doença, é preciso que os homens busquem atendimento médico com mais frequência, o que é essencial para garantir um diagnóstico precoce. Encontrar o tumor em fase inicial aumenta as chances de tratamento e cura. A detecção normalmente é feita por meio do exame físico (toque retal) e de exames laboratoriais, para avaliar a dosagem do PSA (antígeno prostático específico), que indicam o aprofundamento da investigação com a realização de biópsias.

Check-up anual aumenta detecção precoce

Mas por que, mesmo com uma possibilidade de evitar a doença, o número de vítimas deste tipo de câncer aumenta? Historicamente, o público masculino tende a frequentar menos os consultórios para realização de exames preventivos, fazendo com que muitas doenças sejam detectadas em estágios avançados, o que dificulta o tratamento. É nesse contexto que surge o Novembro Azul, uma campanha que busca mobilizar as pessoas em torno da conscientização da população sobre o câncer de próstata.

“Existe uma resistência cultural muito grande do homem em procurar um diagnóstico, o que acredito ser o fator mais relevante. Outro ponto está totalmente relacionado com o exame de próstata, que é o toque retal”, observa Fernando Paragó, diretor corporativo Médico da Pró-Saúde, entidade filantrópica que gerencia 28 hospitais no Brasil, onde passam todos o meses mais de 1 milhão de pessoas.

Um estudo realizado pelo Centro de Referência da Saúde do Homem, órgão ligado ao governo paulista, aponta que 60% dos pacientes só procuram o urologista quando a doença está em estágio avançado. “A cultura machista traz duas questões principais. A primeira é de que o homem não busca proativamente nada relacionado a beleza ou saúde. E a segunda é especificamente sobre o exame de prevenção do câncer de próstata”, observa.

Por isso, ele acrescenta, “é importante abordarmos esse assunto, principalmente nas redes sociais, onde os homens verão outros que, voluntariamente, se propuseram a falar sobre o tema de forma aberta”.

A doença

A próstata é uma glândula que só o homem possui, localizada na parte baixa do abdômen. É um órgão pequeno, que tem a forma de maçã, situada logo abaixo da bexiga e à frente do reto (parte final do intestino grosso).

Seus fatores de riscos podem ser considerados: a idade, que faz com que os números aumentem significativamente após os 50 anos, fatores genéticos e ou excesso de gordura corporal.

A doença, quando em seu estado inicial, é silenciosa. Alguns pacientes não possuem sintomas e, quando apresentam, eles consistem em dificuldade para urinar ou necessidade de urinar mais vezes durante o dia e à noite. Em seu estado avançado, o câncer de próstata pode causar dor óssea, infecção generalizada ou insuficiência renal.

Assim como os ginecologistas são considerados os médicos das mulheres, os urologistas têm papel importante na saúde masculina. Para se ter uma ideia, pesquisa realizada pelo Instituto Lado a Lado pela Vida mostrou que 37% dos 2405 homens entrevistados acreditam que urologista é referência na saúde masculina. Apesar disso, 59% deles afirmaram não ter o hábito de marcar consultas com este profissional.

Números e dados


• Durante o auge da pandemia, as consultas preventivas com urologistas chegaram perto de 0 em hospitais públicos e privados. A situação ainda não se normalizou
• Com a redução de consultas preventivas e realização de exames, o diagnóstico do câncer de próstata acaba sendo mais tardio, o que impacta no tratamento
• De acordo com estudo realizado pelo Instituto Lado a Lado pela Vida com 2405 homens de todo o País, apesar de o urologista ter sido citado por 37% dos entrevistados como o médico do homem, 59% não têm o hábito de marcar consultas com este profissional
• 26% dos homens entrevistados na pesquisa dizem só procurar o médico quando se sentem mal, 9% a cada 2 ou 3 anos e 4% nunca vão ao médico.
• Entre usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), 45% dos homens nunca foram submetidos ao toque retal, exame importante para diagnóstico do câncer de próstata. Outros 16% nunca realizaram o exame PSA, que mede a quantidade de uma proteína (chamada Antígeno Prostático Específico) no sangue e em níveis altos pode indicar a doença.
• 43% dos homens não costumam fazer exames cardiológicos e 19% fazem a cada 2 ou 3 anos.
• 33% dos homens afirmam ter dor nas costas, 24% hipertensão e 22% obesidade
• Somente 30% dos entrevistados seguem todas as orientações médicas

Campanha nas redes sociais

Assim como no Outubro Rosa (que alerta sobre o câncer de mama), a campanha Novembro Azul 2020 é totalmente digital. O conteúdo é compartilhado nas redes sociais da entidade, como Facebook, Instagram e Youtube, ao longo do mês. Por meio de vídeos e posts, especialistas esclarecem dúvidas enviadas por homens de diversas regiões do país sobre a doença.

A estratégia tem motivo específico. Os usuários de redes sociais não param de crescer e a maioria acessa seus perfis pelo celular. O Brasil é o país que mais tem pessoas conectadas nas redes, entre vizinhos latino-americanos — conforme estudo realizado em 2019 pela ComScore, a gigante mundial que analisa dados da internet. Já o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que 98% dos acessos à internet são feitos pelo celular.

Com Assessorias

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!

You may like

In the news
Leia Mais
× Fale com o ViDA!