Como evitar acidentes com crianças e adolescentes nas férias

Especialistas falam sobre as principais causas de acidentes com crianças e adolescentes e orientam sobre cuidados dentro e fora de casa

Risco de queimaduras é ainda maior entre as crianças (Foto: Banco de Imagens)
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O período de férias escolares já está no fim – na semana que vem muitos estudantes já estarão de volta às aulas -, mas nunca é tarde para alertar para a prevenção aos acidentes na infância, uma das principais causas de morte de crianças e adolescentes de 1 a 14 anos no Brasil.

Os períodos de quarentena por conta do coronavírus provaram o que muita gente já sabia: estar com as crianças em casa o tempo inteiro significa se manter em um estado de alerta constante. E, nas férias, voltamos para essa postura de cuidado, afinal, os acidentes domésticos com crianças são mais comuns do que se imagina.

Nesta época de férias escolares, os casos de afogamentos, sufocações, queimaduras, quedas, entre outros acidentes tendem a aumentar. Os pequenos acabam mais vulneráveis a esses riscos, principalmente por ficarem a maior parte do tempo dentro de casa ou em áreas de lazer.

Por isso, no Dia do Pediatra (17/7), a Secretaria de Estado de Saúde (SES) do Rio de Janeiro divulgou um alerta aos responsáveis: a vigilância deve ser constante.

Levantamento da Subsecretaria de Vigilância e Atenção Primária à Saúde (SUBVAPS) mostra que as principais causas de acidente na infância são afogamentos, queimaduras e intoxicação acidental. Somente em 2021, foram registradas 411 internações por afogamentos e submersões acidentais, 84 por exposição à fumaça ou fogo, e 45 por intoxicação acidental.

A análise mostra que, na faixa de 0 a 4 anos, a principal causa de acidentes é o contato com uma fonte de calor ou com substâncias quentes, como ferro de passar roupa, água quente, panelas, etc. Entre 2015 e 2022, foram registradas 735 internações nessa faixa etária por esse tipo de acidente.

Envenenamento ou intoxicação acidental por exposição às substâncias nocivas vem em segundo lugar, com 190 registros, seguido pela exposição à fumaça, ao fogo e às chamas, com 152 casos. Os afogamentos e submersões acidentais registraram 106 notificações.

Na faixa etária de 5 a 9 anos, o contato com uma fonte de calor ou com substâncias quentes também é a principal causa de acidentes. Nos últimos sete anos, foram registradas 162 internações dessa natureza. No mesmo período, foram 144 casos de exposição à fumaça, ao fogo e às chamas, e 80 notificações de contato com animais e plantas venenosas. Os afogamentos e submersões acidentais vêm em quarto lugar, com 45 casos registrados.

Os riscos de acidentes diminuem à metade na faixa etária de 10 a 14 anos. Entre 2021 e 2022, foram registradas 344 internações por acidentes nessa faixa etária. A exposição à fumaça, ao fogo e às chamas é a principal causa entre esse público, com 98 registros; seguido pelo contato com uma fonte de calor ou com substâncias quentes, com 80 casos; e contato com animais e plantas venenosas, com 71 notificações.

“Em casa, verifique as telas nas janelas e varandas, se há tomadas expostas, piscinas sem coberturas e remédios, material de limpeza e plantas tóxicas ao alcance das crianças. Em parquinhos e áreas de lazer, é preciso ficar atento às condições de conservação dos brinquedos, aos espaços de brincadeiras e à circulação de veículos”, destacou a pediatra Maria Marta Monção, do Hospital Estadual Alberto Torres, uma das principais emergências da rede estadual de saúde.

Quedas matam 33  crianças por ano no Brasil

Principalmente depois que começam a engatinhar, por volta dos oito meses, as crianças adotam um comportamento explorador em que tudo é interessante, e, nisso, quedas, batidas e até a ingestão de pequenas peças podem acontecer.

Segundo dados do DataSUS, do Ministério da Saúde, apenas em 2013, um total de 753 crianças foram internadas por conta de “quedas de ou para fora de edifícios e estruturas”. Desde então, são registradas em torno de 33 mortes por ano por causas como essas.

Pensando nisso, um passo importantíssimo é adaptar o ambiente aos pequenos, evitando a exposição desnecessária a objetos potencialmente perigosos. Guardar acessórios e bijuterias em gavetas com travas de segurança, cobrir tomadas com protetores adequados, colocar grades nas camas e telas nas janelas são passos essenciais nesse processo.

Para papais e mamães que trabalham de casa, o ideal também é se atentar aos objetos de trabalho que podem ficar desatendidos, como tampas de canetas, tesouras, clipes de papel e as temidas baterias e pilhas, que costumam gerar boa parte dos acidentes domésticos com crianças pequenas e bebês. Os medicamentos, sejam de uso rotineiro ou pontual, devem também ficar bem longe do alcance.

“É importante prestar atenção aos cantos de portas, quinas de mesas e cadeiras e gavetas e portas de armário, porque as crianças podem se machucar com esses itens ao explorarem o ambiente desacompanhadas”, explica Fabiana Milan, da Alô Bebê.

Segundo ela, hoje, já existem no mercado acessórios que preparam a casa e protegem o bebê com esse comportamento curioso, tornando o espaço mais seguro para ele e menos preocupante para os pais.

Queimaduras são comuns no ambiente doméstico

Produtos de limpeza e outros químicos também devem estar guardados em um ambiente fora do alcance das crianças já que, segundo a cirurgiã plástica Tatiana Moura, as queimaduras são outro tipo de acidente comum no ambiente doméstico.

Sejam químicas (causadas por produtos como solventes ou soda cáustica) ou físicas (via correntes de baixa tensão, como os eletrodomésticos), essas queimaduras precisam de atendimento imediato e podem, muitas vezes, necessitar de uma cirurgia corretiva.

“O tratamento é feito na profundidade e extensão da queimadura. Os casos mais simples podem ser tratados apenas com troca de curativos e pomadas. Casos mais graves podem necessitar de cirurgias com enxertos (usa-se fatias finas de pele saudável do paciente que são transferidas para a área acometida) ou retalhos (transferência de pele e tecido irrigado por artérias para a área acometida). Existem várias técnicas que devem ser particularizadas para cada caso de queimadura”, explica a médica.

Caso a criança já tenha a capacidade de compreensão mais desenvolvida, outro passo importante é educá-la sobre possíveis riscos. Por exemplo, enquanto cozinham, os pais podem explicar sobre a periculosidade do fogão e de mexer com as chamas.

“Mais do que a repreensão, é importante que a criança entenda o porquê de não poder brincar com facas ou tesouras, por exemplo. Para ela, essas ferramentas são objeto de curiosidade – ela ainda não sabe para que servem e que podem ser perigosas”, explica Lory Buffara, consultora de enxoval da Mommys Concierge. “Por isso, além de manter esses objetos em locais que a criança não alcança, é vital ensinar para ela sobre os seus usos e porque não são um brinquedo.”

Os principais riscos de acidentes envolvendo crianças e adolescentes

Coordenadora da enfermaria pediátrica do HEAT, a pediatra falou sobre os principais riscos de acidentes envolvendo crianças e adolescentes e as formas de cuidados.

Quais as principais causas de acidentes em crianças de 0 a 4 anos?
Nas crianças pequenas, são mais comuns queimaduras com mamadeiras, água de banho e exposição ao sol. Deve-se observar sempre a temperatura da água antes de colocar a criança no banho. A exposição ao sol só deve ocorrer antes das 10h e após as 15h. Em caso de queimaduras, banhe a área atingida com água corrente fria, não aplique nenhuma substância química e leve a criança ao médico para ser avaliada.

É muito comum também acidentes com panelas quentes e eletrodomésticos?
Sim. As crianças de 1 a 6 são as mais expostas a esses tipos de queimaduras. Elas podem puxar as panelas do fogão. Por isso, é importante que os cabos das panelas estejam sempre virados para dentro do fogão. Crianças também gostam de puxar fios. Por isso, atenção às torradeiras, cafeteiras e outros eletrodomésticos, que devem estar em uma altura fora do alcance da criança.

Como proceder em caso de intoxicação com material de limpeza, plantas ou medicamentos?
Esses produtos devem estar sempre fora do alcance das crianças. Mas, se mesmo com todo o cuidado, houver ingestão desses produtos, a criança deve ser levada imediatamente a um serviço de saúde. Não se esqueça de levar a embalagem do produto ingerido para que o médico possa analisar com o centro de intoxicação que substância é aquela e qual o antídoto que deverá usar.

E nos casos de ingestão de pequenos objetos?
As crianças menores costumam levar tudo à boca e, dessa forma, podem acabar ingerindo pequenos objetos e se asfixiar. Os adultos devem lembrar de não deixar bico de chupeta, botões, pecinhas de brinquedos, moedas e outros objetos pequenos perto das crianças. Além disso, não ofereça a crianças menores pipoca, balas e chicletes. Em caso de asfixia, é preciso levar a criança imediatamente ao serviço de saúde.

Os choques elétricos também são um risco para as crianças e adolescentes?
Sim. Nesses casos, a primeira providência a se tomar é desligar a chave geral, soltar a criança do que está segurando e levá-la imediatamente ao atendimento médico.

Além desses que citamos, há outra causa recorrente de acidentes?
Temos visto muitos acidentes envolvendo animais. É prudente que pais e responsáveis ensinem as crianças a não acariciar animais estranhos, nem provocar ou atacar nenhum animal. Além disso, é importante que a criança que tem um animal em casa aprenda que não deve acordar um bicho que está dormindo nem se aproximar quando ele está se alimentando. Em casos de mordidas ou lesões causadas por animais, é preciso saber se o animal foi vacinado, lavar o ferimento apenas com água e procurar o quanto antes um serviço de saúde.

São muitos os riscos a que estão expostos, mas no geral qual é a principal recomendação para pais e responsáveis?
O mais importante é que pais e responsáveis mantenham atenção redobrada, principalmente nessa época de férias. Dependendo da idade, é importante ainda que a criança esteja sempre sob a supervisão de um adulto. Se acontecer algum acidente, procure imediatamente o socorro mais próximo.

Fonte: SES/RJ e Alô Bebê, com Redação

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