Coronafobia, a nova vilã da saúde mental: como encarar o medo de adoecer?

Novo termo traduz o medo e a ansiedade diante do coronavírus, tanto em contraí-lo, quanto em disseminá-lo. Ouvimos especialistas a respeito

Coronofobia é como se chama a nova síndrome do medo causada pela pandemia (Foto: Divulgação)
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O coronavírus continua trazendo muitos problemas nesses 15 meses de pandemia – o número de mortes por conta do vírus, juntamente com o medo da população mundial, continua crescendo. Medo e ansiedade talvez tenham sido as palavras mais usadas no mundo desde o ano passado, quando a pandemia mudou a forma como todos vivemos, trabalhamos e nos relacionamos em sociedade. Mais recentemente, um estudo da National Library of Medicine analisou 500 casos de ansiedade e depressão e revelou que todos estavam ligados à pandemia. 

De fato, o medo de contrair o vírus da Covid-19 tem feito com que pessoas se sintam inseguras em todo e qualquer lugar. Desde o anúncio oficial da pandemia, em março de 2020, o país vem registrando um crescimento de transtornos de ansiedade, estresse e depressão. A procura por serviços de terapia on-line, segundo pesquisa do Google Trends, cresceu 88% apenas na primeira semana da quarentena no Brasil.

Essa aflição, quando excessiva, ganha um novo nome: Coronofobia ou Coronafobia. O termo foi cunhado no final de 2020 e traduz o medo e a ansiedade diante do coronavírus, tanto em contraí-lo, quanto em disseminá-lo. Também serve para designar o impacto psicológico e os prejuízos funcionais provocados nas pessoas pela Covid-19.

Segundo a psiquiatra Raquel Heep, professora de Saúde Mental no curso de Medicina da Universidade Positivo, quem tem essa fobia não percebe e acredita que o seu comportamento está correto e os outros é que estão errados, causando um sofrimento muito grande para a pessoa.

É importante ressaltar que esse tipo de ansiedade não é saudável, fugindo dos padrões de incertezas que todos nós temos. É normal ter um certo grau de ansiedade, mas essa preocupação excessiva traz prejuízos físicos e funcionais. É claro que lavar as mãos, usar álcool em gel, máscara e manter o distanciamento social são atitudes necessárias, mas quem sofre com a coronofobia possui comportamentos como lavar as mãos a ponto de machucá-las e usar máscara dentro de casa, ou até mesmo para dormir. São pessoas que não saem de casa mesmo quando necessário”, aponta.

Pessoas com coronofobia também dão muita importância a sintomas que não são preocupantes e acabam até mesmo se automedicando, podendo gerar crises de pânico e problemas físicos. “Esse segundo ciclo da pandemia trouxe mais inseguranças a todos nós, mas temos que nos manter esperançosos e não deixar que toda essa situação nos traga ainda mais prejuízos”, salienta.

Para o psicólogo especialista em Crises e Emergências Alexandre Garrett, a quarentena prolongada, o número elevado de mortes e a possibilidade de uma terceira onda continuam provocando alterações diversas na saúde mental e emocional das pessoas. Esse medo, luto e pânico coletivos levaram os especialistas em saúde mental a criarem um novo termo, o coronofobia”.

Psicólogo Alexandre Garrett (foto: Divulgação)

Garrett conta que, diante de uma realidade catastrófica, o medo se exacerba. “O risco presente de adoecer ou perder o emprego nos faz não enxergar boas perspectivas no futuro. É como se a vida estivesse suspensa por um tempo indeterminado, impedindo que a gente sonhe e planeje um futuro melhor, mas o ser humano é extremamente resiliente e consegue se adaptar às mais diversas situações”, observa

A coronafobia, que nada mais é que a fobia provocada pela pandemia, está presente na vida de milhares de brasileiros. “Essa constante sensação de perigo provoca inúmeros transtornos e esse relato tem sido muito comum nos consultórios de psicólogos e psiquiatras e também nos setores de Recursos Humanos das empresas. Rapidamente uma rede de apoio foi formada para atender esses pacientes e melhorar a qualidade de vida deles”, completa Garrett.

O especialista em Crises e Emergências diz que precisamos tentar lidar com a realidade de uma forma serena para enfrentar os medos e continuar a viver e a trabalhar. 

“Nosso corpo fica em constante estado de alerta, mas temos duas opções: fugir ou enfrentar. Quando se tem inteligência emocional, é mais fácil enfrentar nossos medos. Uma dica importante é resgatar o prazer da vida. Isso não implica se arriscar em viagens ou saídas com os amigos. É possível fazer isso lendo um bom livro, que tem um efeito terapêutico, assistindo a filmes e séries, ouvindo músicas que tragam boas lembranças e conversando com os amigos e família por meio das tecnologias”, orienta.

Garrett conta que nomear as emoções é importante. E quando sabemos que não somos os únicos, há uma certa sensação de conforto. Por isso a terapia é uma ferramenta essencial para esse período”, completa.

Como agir nas crises de ansiedade

Nos momentos em que a ansiedade fica exacerbada, o primeiro passo é respirar fundo, por várias vezes, até sentir a situação estar controlada. “As emoções se fixam no nosso corpo. Respirar devolve o equilíbrio e ajuda a olhar para frente com mais clareza”, ensina.

Outra dica importante é fazer pausas para contemplar o horizonte ou a natureza, se houver acesso fácil a ela. “Ficamos com o olhar fixado nos computadores a maior parte do dia. Ao pararmos para olhar o horizonte, vem o descanso, isso acalma e ajuda a mudar o foco”, completa.

Criar metas curtas, fáceis de serem atingidas são uma boa forma de motivação. “Não podemos gerar um nível de estresse que nosso corpo não pode aguentar. Para isso, é fundamental encontrar novos confortos. Isso pode vir na meditação, nos livros, na realização de atividades físicas ou encontrar hobbies agradáveis”, ensina.

Para enfrentar a insônia, outro mal que a ansiedade provoca, o psicólogo diz que é preciso desconectar das telas por um período antes de ir para a cama. “O corpo precisa desligar para ter uma boa noite de sono. Esse descanso é imprescindível para melhorar a nossa saúde mental e emocional”, afirma.

Outro fator importante na busca do bem-estar físico e mental é manter uma alimentação saudável. “Isso serve para evitar que o corpo comece a incorporar esse sofrimento seja pelo emagrecimento ou pela obesidade, fatores que atrapalham o equilíbrio e o bem-estar das pessoas na vida moderna”, finaliza o especialista.

A professora recomenda que, quem identificar sinais de medo excessivo deve agendar uma avaliação com um profissional especializado em saúde mental, principalmente psicólogo ou psiquiatra, que vai avaliar a necessidade, ou não, de medicação para o controle da ansiedade.

Dicas para enfrentar a coronafobia:


– Fale sobre seus medos e emoções
– Respire fundo quando o medo e a ansiedade forem fortes
– Pratique exercícios físicos e cuide da alimentação
– Defina metas curtas e fáceis de serem atingidas, isso motiva
– Busque novas formas de conforto na leitura, filmes, séries e músicas
– Converse com as pessoas que você ama
– Saia da frente da tela e contemple o horizonte

Entenda a nova desordem médica que emergiu da pandemia

Por Rita de Cássia Salhani Ferrari*

Era dezembro de 2019 e surgiam as primeiras notícias sobre uma pneumonia de causa desconhecida que se espalhou rapidamente na China. Vimos e ouvimos sobre o ocorrido sem nos alarmar para o verdadeiro desastre que ele causaria em âmbito mundial. Dois meses depois, o assunto tomava maior proporção e a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciava que a COVID-19 causada por um tipo de coronavírus chamado SARS-CoV-2 se tratava de uma pandemia.

Em 10 meses, o mundo que conhecíamos até então mudou. E enquanto escrevo este artigo, são contabilizadas mais de 2,5 milhões de mortes em 192 países.  Mas para quem fica, além da dor que avassala aqueles que perderam parentes, amigos e colegas de trabalho, existe uma outra batalha que precisa ser driblada, e ela já tem nome: Coronafobia.

Mas, afinal, do que se trata o termo CORONAFOBIA e como se tornou nomenclatura oficial dos estados mentais relacionados às fobias? Em um estudo recente publicado em dezembro de 2020 pela US National Library of Medicine que analisou 500 casos de ansiedade e depressão, verificou que todos eles estavam ligados à pandemia. 

A Covid-19 provoca na população um aumento de sentimentos como medo e ansiedade.  Sendo que o medo e a insegurança, por exemplo, são alguns dos sentimentos mais presentes por conta da imprevisibilidade do comportamento do vírus em cada pessoa atingida. 

Mas não apenas isso. Estamos falando ainda da imprevisibilidade das questões socioeconômicas, da carreira e dos negócios. E todas as incertezas levaram a um aumento considerável dos transtornos psiquiátricos e emocionais desde que a pandemia começou e se tornou um evento traumático de proporções maiores do que os surtos de doenças anteriores dos últimos tempos.

Eventos traumáticos podem levar a fobias específicas, logo, o termo Coronafobia, criado ao final de 2020, trata-se de uma ansiedade grave causada pela condição pandêmica. É classificada como um medo extremo de contrair o vírus levando a sintomas excessivos de ordem física, psicológica e comportamental. 

Se um simples espirro ou tosse, por exemplo, suscitam uma preocupação irracional de ser Covid-19, isto pode estar relacionado à Coronafobia. Ou seja, é importante ficar atento para analisar se a ansiedade é desproporcional ao risco real prejudicando a qualidade de vida.

Alguns dos sintomas físicos são: palpitações, tremores, dificuldades para respirar e alterações de sono.  No âmbito emocional, os sintomas mais predominantes são tristeza, culpa, medo de perder o emprego ou medo de contaminar e levar ao óbito seus familiares.  Já entre os sintomas comportamentais mais frequentes estão o medo excessivo de encontrar pessoas, de tocar em superfícies, evitando locais públicos mesmo que sejam abertos, e ir repetidamente ao médico achando que está doente.

A preocupação com a saúde e a tomada de cuidados recomendadas pela OMS são altamente benéficos, mas, se houver uma preocupação irracional, levando a “comportamentos de controle”, como aferir a frequência cardíaca ou a temperatura muitas vezes ao dia, ou ir ao médico com frequência apenas para garantir que não está doente, pode ser sinal de que a ansiedade está fora de controle e é preciso procurar um profissional de saúde para diagnóstico e tratamento.

O Ministério da Saúde realizou uma pesquisa com 17.491 brasileiros com idade média de 38,3 anos, variando entre 18 e 92 anos, durante os meses de abril e maio de 2020, quando as mortes pelo novo coronavírus aumentaram. O levantamento revelou que 8 entre 10 brasileiros estavam sofrendo de algum transtorno de ansiedade.

Um outro estudo, que reuniu diversas universidades brasileiras, mostrou que o impacto negativo da pandemia na saúde mental da população brasileira evidenciou que os grupos mais afetados pela Coronafobia foram jovens mulheres, além de pessoas com diagnóstico prévio de algum distúrbio mental e dos grupos de alto risco para coronavírus.

Um dado que pode assustar é o fato de os jovens estarem presentes nos grupos mais afetados. Mas existe uma explicação possível: talvez, por terem de enfrentar a pausa nos estudos presenciais, o distanciamento físico de amigos, a falta de opções de lazer e entretenimento, e o medo de se tornar um transmissor da doença e assim, contaminar familiares pertencentes ao grupo de risco. Além disso, foi relatado também, nesse grupo, o início de problemas de sono durante a pandemia ou o agravamento desses quando preexistentes.

A pandemia por si só já nos assola com preocupações e sofrimentos reais. Mas, quando se está fora do controle, há como reverter esse cenário, portanto, para a Coronafobia, também chamada de “pandemia do medo” há tratamento, tanto cognitivo-comportamental, como por meio de medicamentos. Para quem busca qualidade de vida e prefere ter suporte da medicina alternativa, o uso de fitoterápicos, como a Passiflora incarnata associada a Crataegus rhipidophylla e Salix alba L, também pode ser um caminho. No entanto, qualquer um dos tratamentos acima deve ser prescrito por profissionais, que irão avaliar qual o tratamento de acordo com os sintomas e outros aspectos clínicos.

*Rita de Cássia Salhani Ferrari é médica formada pela Universidade Federal de São Paulo, com Fellowship no Geriatric Medicine Program na University of Pennsylvania responsável pelo departamento de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Marjan Farma.

Com Assessorias

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